terça-feira, 27 de abril de 2021

Holywood descobriu a crise do capitalismo

Por Simão Zygband, no site Construir Resistência:


O ganhador do Oscar de 2020, o filme Nomadland, da diretora Chloé Zhao e estrelado com tradicional brilhantismo por Frances McDormand (que também ganhou a estatueta como melhor atriz) retrata a situação precária de milhares de cidadãos norte-americanos de um Estados Unidos já não tão mais profundo.

Entre os filmes psicológicos ou de dramas familiares, Holywood e a indústria cinematográfica mundial já realiza há alguns anos filmes que demonstram uma crise cada vez mais acentuada do capitalismo, como já previa o filósofo e pensador Karl Marx em sua obra O Capital, cujo primeiro volume foi publicado em setembro de 1867.

Quem acompanha o cinema internacional já se depara há anos com obras recentes que abordam, cada vez mais, a deterioração do sistema capitalista. No ano passado, por exemplo, o grande ganhador do Oscar foi o filme Parasita, do diretor coeano Bom Joon-ho, que mostra as contradições de classe social que enfrenta a família Ki-taek e seus opulentos empregadores.

Mas a temática da crise do capitalismo e das contradições da luta de classe muito bem apontadas por Karl Marx em O Capital tem sido tema recorrente na cinematografia mundial. Até mesmo o cinema inglês aponta com muita propriedade, em dois filmes contemporâneos, como as relações de trabalho vão se esgarçando neste mundo moderno do capitalismo, tomado impiedosamente pelas ideias do neoliberalismo, onde o trabalhador não tem vez.

Mesmo em países onde supostamente as condições de trabalho são melhores e foram berços da revolução industrial, como a Inglaterra, os problemas com os trabalhadores se acentuam.
Em Eu, Daniel Blake, de 2016, o diretor Ken Loach traz a história de um trabalhador que, após uma parada cardíaca, se afasta do trabalho e busca o auxílio financeiro do governo. Ele esbarra na extrema burocracia, praticamente intransponível para um cidadão que está prestes a se aposentar e não conhece os caminhos do atendimento previdenciário digital.

Em outro filme de sua autoria, Você não estava aqui, Ken Loach retoma a temática do quanto o neoliberalismo (a face mais cruel do atual capitalismo) transformou os prestadores de serviços em escravos contemporâneos. Iludido com o discurso de que você é um empreendedor, Rick Turner e sua família acabam enfrentando uma situação financeira crítica. Ele utiliza todos os seus recursos (e de sua esposa) para adquirir uma van para efetuar entregas para uma grande franquia. No final, o protagonista percebe que caiu numa armadilha, está sempre endividado e devendo para a empresa e, quando sofre um acidente, não possui nenhuma salvaguarda, sendo obrigado a trabalhar totalmente arrebentado, para não ampliar suas dívidas.

A menina de ouro

Um dos primeiros filmes a abordar, ainda que indiretamente, a questão do fim do sonho americano foi do diretor Clint Eastwood no também premiado filme de Holywood, A menina de Ouro. Ele mostra a história de um veterano treinador de boxe que treina a garçonete Maggie Fitzgerald, até transformá-la em uma grande campeã, acumulando muitos prêmios e dinheiro.

Quando alcança fama e consegue bons recursos com suas vitórias, aparece a família de Maggie, hospitalizada em estado grave por uma crueldade que uma de suas adversárias, numa artimanha suja sobre o ringue, acaba lhe quebrando o pescoço e a deixando tetraplégica.

A família da menina de ouro, que também vivia em condições precárias morando em trailers (como em Nomadland) em região remota dos EUA, quer obrigar que ela transfira seus recursos para eles.

Abandonados pelo sistema

Quanto a Nomadland, o grande vencedor do Oscar de 2020, trata-se do já recorrente tema da crise cada vez mais profunda do capitalismo prevista no século retrasado por Karl Marx, que mostra uma população abandonada pelo sistema, sem direito a aposentadoria e que é obrigada a viver em trailers, circulando pelos EUA atrás de um trabalho temporário, e cujo convívio social se dá somente nos acampamentos (estacionamentos) por locais onde vão se conhecendo e mantendo relações eventuais. A própria Fern (Frances McDormand) trabalha pesado para conseguir sustento, inclusive em uma durísima pedreira que, anos depois, também fecha com a crise.

Enfim, justiça para o ganhador do Oscar (e a conquista de melhor direção) e para Anthony Hopkins (O Pai) como melhor ator e Frances MacDormand (melhor atriz).

Vale a pena ver bons filmes e excelentes atores.

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