O jornalista Alexandre Garcia ficou contrariado quando seu colega da CNN Rafael Colombo fez uma pergunta simples, mas que lhe soou como uma provocação. O assunto era a ameaça de decreto feita pelo presidente na última quinta contra as medidas de lockdown adotadas por governadores e prefeitos. Alinhado ao bolsonarismo até o osso, Garcia disse que o presidente estava apenas garantindo o cumprimento do artigo 5º da Constituição, que garante o direito de ir e vir dos brasileiros. Colombo observou então que esse mesmo artigo da Constituição garante também o direito à vida e devolveu a palavra para Garcia. O jornalista se calou, ficou em silêncio por 13 segundos, aparentemente em forma de protesto. Ao final da pausa dramática, emendou “eu não estou sendo entrevistado” e “não sei se volto amanhã”.
Alexandre Garcia tem se dedicado na defesa dos ideais reacionários e golpistas do bolsonarismo. Na grande imprensa, é uma das principais vozes que disseminaram mentiras durante a pandemia. Após se aposentar da Globo, se mostrou um negacionista de primeira linha – chegou a reproduzir ao vivo na CNN um tweet de agradecimento a Bolsonaro feito por uma médica cotada para o Ministério da Saúde, mas vejam só, a conta era falsa, e ele foi constrangedoramente corrigido por um colega da CNN ao vivo.
Os crimes de atentado à saúde pública comandados pelo presidente da República encontram respaldo nos comentários diários do jornalista na TV em rede nacional. Garcia é contra todas as principais medidas recomendadas pelos órgãos internacionais da saúde para o enfrentamento do vírus: é contra o lockdown, contra o isolamento horizontal, defende a tese da imunização de rebanho e o tratamento precoce com medicações comprovadamente ineficazes. São recomendações que salvam vidas, mas o jornalista parece ter uma agenda a cumprir. Se no passado atuou como porta-voz do ditador João Figueiredo, hoje ele atua como porta-voz de Bolsonaro e de seu negacionismo genocida.
Mas o cerco está se fechando. O YouTube tem removido vídeos com conteúdo negacionista, e uma CPI foi instaurada para investigar os crimes cometidos pelo governo federal durante a pandemia. Temendo as consequências da CPI e um possível banimento do YouTube, Alexandre Garcia passou a deletar por conta própria parte de seus vídeos do Youtube - a plataforma já havia removido um em abril -, numa clara tentativa de encobrir possíveis crimes de atentado à saúde pública.
Segundo levantamento do jornalista Guilherme Felitti, da Novelo Data, que trabalha com análise de dados, Garcia apagou mais da metade dos vídeos que tinha no YouTube. Foram mais de 500 vídeos ocultados. Veja alguns dos títulos dos vídeos que Garcia fez sumir da plataforma: “Máscara, isolamento, fechamento – providências científicas, administrativas ou políticas?”, “O absurdo de fechar Búzios”, “Pode a covid restringir nossas liberdades?”, “O marketing que naturalizou uma vacina” e “O isolamento fez mais mal que o vírus”. É curioso notar que o apagamento começou justamente três dias após a instauração da CPI da Covid no Senado.
Essa corrida para ocultar possíveis crimes depois da instauração da CPI da Covid tem sido uma tática padrão do bolsonarismo. O ministro da Saúde Marcelo Queiroga, às vésperas da CPI, varreu do site do Ministério da Saúde todo conteúdo relacionado à cloroquina. Outra jornalista que também tem apagado vídeos é a Leda Nagle, que atua com afinco em favor do negacionismo bolsonarista. Ela já ocultou do público 50 vídeos, quase todos contendo entrevistas com médicos picaretas que difundem falsas informações sobre a pandemia.
Além deles, veículos como o jornal a Gazeta do Povo, que se transformou num panfleto do nível de um Terça Livre, teve seu vídeo removido pelo YouTube por difundir informações mentirosas sobre o coronavírus. Uma rádio local de Camaquã, interior do Rio Grande do Sul, também deletou um vídeo em que Jair Bolsonaro telefonava para a rádio para defender uma médica demitida por descumprir os protocolos de um hospital da cidade ao fazer uma nebulização com hidroxicloroquina em pacientes com covid-19. A prática resultou em três pacientes mortos.
O negacionismo também vem sendo fortemente disseminado diariamente pela rádio Jovem Pan, que hoje atua com força no YouTube com uma série de vídeos em que médicos negacionistas são entrevistados. Em um deles, um neurologista minimiza os impactos da doença e afirma a mentira que o Brasil registrou quatro vezes mais mortes por HIV do que por covid em 2020.
Depois que Alexandre Garcia se calou ao vivo na CNN, o jornalista Maurício Stycer telefonou para entrevistá-lo a respeito do episódio. Ele desconversou e disse que foi “avisado de que não tinha mais tempo para falar”, algo bem diferente do que se viu na TV. Stycer aproveitou para questioná-lo sobre os vídeos que ele apagou do seu canal, mas recebeu uma resposta evasiva, sem sentido: “Não foi pra mim, não. Foi o Google no mundo inteiro”. Logo em seguida, um novo silêncio no telefonema. A ligação misteriosamente caiu após a incômoda pergunta. Stycer tentou falar de novo com ele, mas não conseguiu. Eu não posso provar, mas tenho a plena convicção de que o jornalista desligou na cara de Stycer.
Numa era em que a desinformação domina as redes sociais, o jornalismo profissional se torna ainda mais importante. O problema é quando veículos profissionais de jornalismo abrem essas janelas para a desinformação. As mentiras difundidas durante uma pandemia têm um peso diferente das mamadeiras de piroca idealizadas por Carluxo durante a eleição. São mentiras que resultam em mortos. Em uma pandemia que já matou quase meio milhão de brasileiros, a informação confiável, baseada em fatos e estudos, salva vidas.
O negacionismo também vem sendo fortemente disseminado diariamente pela rádio Jovem Pan, que hoje atua com força no YouTube com uma série de vídeos em que médicos negacionistas são entrevistados. Em um deles, um neurologista minimiza os impactos da doença e afirma a mentira que o Brasil registrou quatro vezes mais mortes por HIV do que por covid em 2020.
Depois que Alexandre Garcia se calou ao vivo na CNN, o jornalista Maurício Stycer telefonou para entrevistá-lo a respeito do episódio. Ele desconversou e disse que foi “avisado de que não tinha mais tempo para falar”, algo bem diferente do que se viu na TV. Stycer aproveitou para questioná-lo sobre os vídeos que ele apagou do seu canal, mas recebeu uma resposta evasiva, sem sentido: “Não foi pra mim, não. Foi o Google no mundo inteiro”. Logo em seguida, um novo silêncio no telefonema. A ligação misteriosamente caiu após a incômoda pergunta. Stycer tentou falar de novo com ele, mas não conseguiu. Eu não posso provar, mas tenho a plena convicção de que o jornalista desligou na cara de Stycer.
Numa era em que a desinformação domina as redes sociais, o jornalismo profissional se torna ainda mais importante. O problema é quando veículos profissionais de jornalismo abrem essas janelas para a desinformação. As mentiras difundidas durante uma pandemia têm um peso diferente das mamadeiras de piroca idealizadas por Carluxo durante a eleição. São mentiras que resultam em mortos. Em uma pandemia que já matou quase meio milhão de brasileiros, a informação confiável, baseada em fatos e estudos, salva vidas.
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