Foto: Antônio David/Secom-PB |
Um Brasil miserável e primário exportador é funcional para os ricos destas terras e seus sócios externos.
Podemos ter surtos de crescimento do PIB e nos tornarmos um caso de sucesso global com uma população faminta.
É o modelo perseguido desde os anos 1990, quando o papel absolutamente central do Estado como planejador e indutor da economia foi abandonado em favor de um modelo que pede o fortalecimento de uma burguesia compradora e intermediária de interesses externos.
O Estado foi demonizado desde então, não para que deixasse a economia funcionar, mas para que sua agenda fosse mudada.
Para uma economia extrativista e primário exportadora, poderíamos transformar uma empresa sofisticada e atuante em diversos ramos industriais, como a Vale, em uma mineradora.
Na mesma perspectiva, a Petrobrás se tornaria viável como furadora de poços, sem a etapa industrial do refino, e nada impede que as empresas de energia sejam vendidas na bacia das almas.
Todas podem assim deixar de ser companhias estratégicas para o desenvolvimento e serem transformadas em monopólios privados, cuja única função seria atender ao mercado externo, na maioria dos casos, e gerar gordos dividendos aos acionistas.
O abandono do nacional-desenvolvimentismo há quatro décadas oculta uma mudança de projeto de país. Nós temos um claro e definido, e Paulo Guedes e seus antecessores Malan, Palocci, Levy e outros o construíram à risca.
Trata-se de aprofundar o caráter dependente, com mercado interno mínimo, desigualdade social e concentração de renda extremas.
Com isso nos tornamos estruturalmente periféricos, com uma elite econômica-financeira opulenta. É algo perfeitamente viável e pode nos propiciar altas consideráveis no PIB.
O Peru cresceu a taxas espantosas na primeira década do século e era tido como caso de sucesso.
Um novo governo democrático digno desse nome deveria ter como meta enterrar a Era neoliberal, como contraponto ao enterro da Era Vargas, propagado por FHC, em 1994.
E ter claro: a única rota de superação é mudar radicalmente o papel e a centralidade do Estado como organizador econômico.
É algo complicado e que enfrentará resistências pesadas. Seria quase como fazer uma revolução. Mas – parafraseando a Sra. Thatcher, com sinal trocado – não há alternativa, se almejamos ter um Brasil menos injusto e desigual.
* Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.
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