Por Umberto Martins, no site da CTB:
O Brasil, sob o desgoverno de Jair Bolsonaro, vive hoje o que se pode chamar de pior dos mundos. Além do genocídio traduzido em quase 590 mil mortes por Covid-19 até o momento, a economia caiu no pântano da estagflação por obra e graça da política neoliberal comandada por Paulo Guedes, associada às bravatas golpistas do presidente.
Os economistas denominam de estagflação a combinação patológica e inusual de inflação com recessão ou estagnação da produção. No mais das vezes a alta generalizada e assimétrica dos preços das mercadorias está associada a um aumento da demanda e, por extensão, do consumo, fator que pressiona o mercado estimulando a especulação e a elevação dos preços.
Mas a economia brasileira amargou uma forte recessão no ano passado, quando o PIB encolheu 4,1%. E ainda não se recuperou. Está estagnada. O consumo é modesto, a fome avança e não se pode falar em inflação de demanda. Seria de se esperar em tais condições a emergência de uma deflação, que ao contrário da inflação é definida como uma valorização relativa da moeda e uma redução dos preços das mercadorias.
Restauração neoliberal
A estagflação não é um fenômeno novo. Foi observada nos Estados Unidos e em vários países capitalistas no rastro da crise do padrão dólar nos anos 70 do século passado. Já no Brasil ocorreu durante a febre inflacionária que acompanhou a chamada crise da dívida externa e atravessou as décadas de 1980 e 1990 (até o Plano Real).
Os graves problemas que perturbam a economia brasileira têm muito a ver com a política de restauração neoliberal imposta ao nosso povo pelo golpe de 2016 e radicalizada pela dupla Jair Bolsonaro e Paulo Guedes.
A estagnação econômica, que condena mais de 20 milhões ao desemprego, decorre do regime fiscal consagrado pela EC 95, que estabeleceu o congelamento de gastos e investimentos públicos por 20 anos. Foi aprovada no governo Temer e transformada em dogma por Paulo Guedes para justificar a privatização e destruição de serviços públicos essenciais.
Também contribuíram para agravar a situação, e a penúria do nosso povo, as reformas trabalhista e previdenciária, a terceirização irrestrita, as privatizações, o estímulo presidencial à violência contra camponeses, indígenas, quilombolas, o entreguismo e a subordinação da política externa brasileira aos desígnios de Washington.
Política antinacional
Os especialistas apontam mais de uma causa para a preocupante aceleração da inflação no Brasil em meio à pandemia e à anemia econômica, com destaque para a depreciação cambial, a crise hídrica e a política de preços da Petrobras para os combustíveis.
A gasolina só chegou a R$ 7,00 o litro porque a direção da estatal decidiu reajustar automaticamente os preços de acordo com as oscilações do mercado internacional de óleo e do câmbio. Isto poderia ser evitado, uma vez que o país hoje já não depende como antigamente da importação de petróleo.
Tal política, iniciada por Parente Frota ainda no governo Temer, serve exclusivamente aos interesses de acionistas privados, sobretudo dos EUA. Foi criticada inclusive pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na terça-feira (14). Ele afirmou que a estatal reajusta os preços dos combustíveis mais rápido do que outros países e acrescentou que nunca houve tantos choques de inflação em período tão curto no Brasil.
Já a instabilidade cambial e a alta do dólar devem muito ao líder da extrema direita brasileira, cuja principal atividade parece ser a produção diuturna de crises políticas e institucionais, a guerra aos governadores contra o isolamento social, as ameaças golpistas contra ministros do STF, além da corrupção deslavada no Ministério da Saúde.
A Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) avalia em seu relatório anual publicado nesta quarta-feira (15) que o real se desvalorizou mais rapidamente frente ao dólar, ao euro e outras moedas por causa da crise política no país.
Além do desemprego em massa, o desgoverno Bolsonaro promove uma carestia dolorosa para o povo brasileiro. A inflação para os mais pobres já acumula 10,63% em 12 meses, segundo pesquisa divulgada nesta quarta-feira pelo Ipea. O índice é significativamente superior à média e indica que a alta dos preços está aprofundando as desigualdades sociais e a fome, que já atormenta mais de 20 milhões de brasileiros e brasileiras.
As perspectivas não são nada boas. As previsões para o PIB deste e do próximo ano vêm sendo revisadas para baixo. Sob o desgoverno de Jair Bolsonaro, complemente indiferente ao sofrimento popular, a única tendência visível é de agravamento da crise. Daí a necessidade de afastá-lo da Presidência, o quanto antes melhor.
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