sábado, 8 de janeiro de 2022

Brasil-4: amplitude e combatividade na luta

Guerra (1952), Portinari
Por Altamiro Borges


Em função dos crimes de responsabilidade cometidos em sua gestão, Jair Bolsonaro já deveria ter sofrido impeachment – o que agora parece mais distante. Há mais de 130 pedidos nesse sentido que só não avançam devido aos acordos – recheados de cargos públicos e emendas parlamentares – firmados com Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados e cacique do Centrão.

Caso o impeachment ou outras surpresas não ocorram e as regras democráticas não sejam novamente estupradas, o ultradireitista tende a sofrer fragorosa derrota nas eleições presidenciais de 2022. A mídia até especulou que ele poderia desistir da sua reeleição para evitar o vexame. Em ambos os casos, de impeachment ou derrota nas urnas, o presidente e seus três filhotes correm o risco de ir para a cadeia.

A fera acuada, porém, é perigosa. O capitão tem no DNA o fascismo e nunca escondeu o seu desejo de promover um autogolpe e impor uma ditadura sanguinária no Brasil. Depois do vexatório desfile de tanques em Brasília, usado para intimidar o parlamento no dia da apreciação do voto impresso, ele fez um novo ensaio golpista nos atos milionários do 7 de setembro. Ambos, porém, deram zebra e acabaram isolando ainda mais o presidente.

O valentão teve de assinar uma “carta de arrego” e dar telefonemas acovardados a ministros do STF. Mas o recuo pode ser apenas temporário. A exemplo do ídolo Donald Trump, com sua ação terrorista no Capitólio dos EUA, o fascista nativo não desistirá do poder – até para salvar sua pele e de seus filhotes. Para isso, ele conta com o apoio das milícias, de falsos pastores e de fanáticos bolsominions.

Seu laranjal ainda tem como pilares de sustentação o “partido dos generais” – que hoje se locupleta com mais de 6 mil cargos e com vultuosos “soldos” – e setores da “elite” burguesa, favorecida com a “boiada passando” contra as leis trabalhistas, o meio ambiente, as privatizações e outras benesses. Não dá para se iludir. A luta em defesa da democracia e pelos direitos dos trabalhadores será encarniçada nos próximos meses. Exigirá muita combatividade, espírito unitário e inteligência política.

A resistência do sindicalismo

Apesar de todas as dificuldades decorrentes dos violentos golpes do capital contra o trabalho, o sindicalismo brasileiro tem demonstrado compromisso com a classe trabalhadora e muita capacidade de resistência. Na luta contra o fascismo, as centrais sindicais se uniram em torno da bandeira do Fora Bolsonaro e, junto com os movimentos sociais, organizaram desde junho de 2021 sete expressivos protestos em centenas de cidades brasileiras.

No enfrentamento à pandemia da Covid-19, elas promoveram campanhas de solidariedade e exigiram “vacina para todos”, auxílio emergencial de R$ 600 e planos de geração de emprego e renda. No combate aos retrocessos neoliberais, os sindicatos conseguiram barrar a minirreforma trabalhista no Senado e estão mobilizados e unidos na luta contra a reforma administrativa, a “PEC das rachadinhas”.

A mobilização também prossegue contra as privatizações da Eletrobras, dos Correios e de outras estatais estratégicas para o desenvolvimento nacional. Os tempos ainda são de trevas fascistizantes e neoliberais, mas ventos favoráveis à luta dos povos já sopram com mais força.

* Texto elaborado como contribuição para o 10º Congresso do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema).

** Continua. No próximo bloco, um balanço da conjuntura em São Paulo.

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