domingo, 9 de janeiro de 2022

SP-1: Tucanistão e a decadência de São Paulo

Os despejados (1934), Portinari
Por Altamiro Borges

O Estado de São Paulo, que já foi conhecido como a “locomotiva do Brasil”, atualmente é chamado pejorativamente de “tucanistão”. Desde janeiro de 1995, quando Mario Covas tomou posse como governador, o PSDB manda e desmanda na principal unidade da federação – revezando-se no poder com Geraldo Alckmin, José Serra e, hoje, João Doria.

Nesse longo período de 26 anos, São Paulo empacou e colecionou dados alarmantes sobre baixo crescimento econômico, quebradeira de empresas, desindustrialização, desemprego e informalidade, miséria social, redução do papel indutor do Estado, entre outras várias chagas. Os tais “modernizadores tucanos”, adeptos do receituário neoliberal, mostraram-se incompetentes e afundaram São Paulo.

Com uma população que representa 22% dos 211 milhões de brasileiros e uma extensão de 2,9% do território nacional, o Estado ainda possui o maior PIB per capita do país, mas 1/3 da sua força de trabalho recebe até meio salário mínimo e a economia sofre declínio acelerado ano após ano. Em um extremo, a residual minoria dos ricaços da Faria Lima, dos rentistas e do agronegócio; no outro extremo, os milhões de excluídos e de jovens sem perspectiva.

Pandemia e o discurso marqueteiro de Doria

A pandemia da Covid-19, que teve o seu primeiro registro de óbito em março de 2020 na capital paulista, só agravou esse cenário devastador. Apesar do discurso marqueteiro do governador João Doria, as medidas de isolamento social e de amparo aos mais necessitados foram tímidas.

Graças ao Instituto Butantan, que o novato tucano planejava privatizar no início da sua gestão, a parceira com a indústria chinesa Sinovac resultou na vacina, a Coronavac, que já salvou milhões de vidas no Brasil. Mas esse mérito não pode ser usurpado oportunisticamente pelo gestor do PSDB e nem pode esconder os graves erros cometidos nesta pandemia.

Segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC), no ano passado, 20 mil lojas foram à falência em São Paulo. Diante do genocídio protagonizado por Jair Bolsonaro, que reduziu o valor do auxílio emergencial e empurrou milhões de trabalhadores para os transportes lotados e para as concentrações públicas, João Doria anunciou o seu “Bolsa do Povo” prometendo R$ 1 bilhão em ajuda às famílias mais necessitadas.

Na prática, porém, era mais uma peça de publicidade. Cerca de R$ 600 milhões provinham de programas sociais já existentes e outros R$ 400 milhões foram realocados da área da educação, sobretudo do Centro Paula Souza. A miséria tomou conta das ruas da capital e dos centros urbanos no interior, elevando o número de moradores de rua e despejados.

BolsoDoria não engana mais a população

Apesar de todo o esforço e gastos marqueteiros, o governador do PSDB não conseguiu ludibriar a população paulista. Pesquisa Datafolha divulgada em setembro último mostra que apenas 8% dos moradores de São Paulo afirmam “sempre confiar nas declarações de João Doria” – índice pior dos que ainda acreditam no genocida Jair Bolsonaro (que é de apenas 15%).

Segundo a sondagem, 48% dizem acreditar “às vezes” no gestor paulista, enquanto 44% nunca dão credibilidade às falas do tucano. A mesma pesquisa apontou que a reprovação do seu governo atinge 38% no Estado, enquanto somente 24% o aprovam e 38% consideram a gestão regular.

A total desconfiança é plenamente justificável, já que João Doria mentiu inúmeras vezes durante a pandemia e, inclusive, adotou posturas elitistas que indignaram a sociedade – como quando viajou a passeio para Miami, nos EUA, ou foi flagrado sem máscara tomando sol na piscina de um luxuoso hotel no Rio de Janeiro.

Antes do novo coronavírus, o velhaco tucano já havia demonstrado todo o seu oportunismo político ao descumprir a promessa de exercer a função de prefeito da capital paulista por quatro anos (ficou no cargo por apenas um ano e três meses) e ao trair seu criador, o ex-governador Geraldo Alckmin, e vestir a camiseta do “BolsoDoria” na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes em 2018.

Vaidoso, ambicioso e desleal, o ricaço João Doria sempre foi um carreirista, com suas posições de direita e totalmente avessas ao povo. Ele é um típico representante da oligarquia paulista, ávida e sem escrúpulos. Por razões eleitoreiras, ele hoje faz oposição ao “capetão” Jair Bolsonaro, mas tem o fascismo no seu DNA.

* Texto elaborado como contribuição para o 10º Congresso do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema).

** Continua...

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