Editorial do site Vermelho:
A virada de ano foi marcada por um sentimento de esperança para o povo brasileiro. Mesmo diante da crise explosiva pela qual o País passa, a chegada de 2022 nos faz iniciar a contagem regressiva: estamos no ano das eleições presidenciais que podem decretar o fim do governo Jair Bolsonaro. Primeiro e segundo turno estão marcados, respectivamente, para 2 e 30 de outubro. Se o pior presidente na História do Brasil não cair antes por vias como o impeachment ou a renúncia – hipóteses mais improváveis a esta altura –, poderá ser expelido do cargo, enfim, pelo voto.
Mas a esperança de derrotar o bolsonarismo e tirá-lo do poder deve ser acompanhada por reflexões. Neste 2022 em que, afora as eleições, se comemoram os 200 anos da Independência do Brasil, além do centenário da Semana de Arte Moderna e da fundação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), é tempo de avaliar o destino que queremos para o País. Há demandas de curto, médio e longo prazos, mas Bolsonaro, com seus erros, abusos e crimes – ora, com seu governo de destruição –, obriga-nos a enfrentá-las já.
Veja-se a pandemia de Covid-19, cujo controle no Brasil ainda é imprevisível, devido não apenas ao surgimento de variantes do novo coronavírus como a ômicron – mas, sobretudo, à negligência e ao negacionismo do governo. A nova cruzada de Bolsonaro é contra a vacinação em crianças de 5 a 11 anos, medida que é adotada em mais de 30 países e que, no Brasil, já foi autorizada pelo órgão federal competente, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Essa imunização é ainda mais emergencial por conta da volta às aulas, nas próximas semanas – volta já ameaçada por surtos gripais. À ômicron se soma o influenza H3N2 – e esses dois vírus, altamente contagiosos, podem provocar a saturação de nosso sistema de saúde.
Tudo indica, porém, que o grande calcanhar-de-Aquiles bolsonarista, nas eleições 2022, será a economia. Na vitrine com que Bolsonaro chega a seu último ano de governo, aparecem produtos como investimentos represados, desindustrialização, fuga de multinacionais, juros altos, inflação de dois dígitos, desemprego elevado e precarização recorde. A política econômica ultraliberal, liderada pelo ministro Paulo Guedes, fracassou, e a economia brasileira está estagnada.
Até mesmo um dos poucos avanços do governo nessa área – a redução da taxa básica de juros, a Selic, a 2% ao ano (nível mais baixo na história) – já é, como diz a música, “coisa da antiga”. Em dezembro passado, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou a meta anual da Selic para a 9,25% – e o mercado já cogita que os juros chegarão, neste ano, a 11,25%. Diante desse cenário, não é de estranhar que, na segunda-feira (3), a última edição do Boletim Focus, do Banco Central, tenha projetado um crescimento raquítico de 0,36% em 2022.
Bolsonaro ainda conseguiu transformar o Brasil num pária internacional. A imagem do País no exterior foi bem sintetizada por Ian Bremmer, CEO da Eurasia, a principal consultoria de risco político dos Estados Unidos. “É certamente verdade que Bolsonaro envergonhou o Brasil no cenário internacional”, declarou Bremmer, sem meias palavras, em entrevista à GloboNews exibida nesta semana.
Para essa opinião praticamente consensual, pesam os ataques bolsonaristas à democracia, a política predatória no meio ambiente, o alinhamento às pautas neoconservadoras da extrema-direita e, sobretudo, a negação da pandemia. Com Bolsonaro, o Brasil – que tem apenas 2,7% da população mundial – responde por 11,3% das mortes por Covid-19 no Planeta.
O vice-presidente e secretário de Relações Internacionais do PCdoB, Walter Sorrentino, cita também as “as desmoralizações do País” no conjunto de reuniões e encontros multilaterais. “As viagens de Bolsonaro ao exterior foram totalmente escapistas e diversionistas. Presidindo e sediando o BRICS, a posição do Brasil foi uma nulidade”, diz Walter. “O presidente e seu governo foram crescentemente isolados no plano político interno e externo. As políticas de frente ampla democrática contra a agenda da extrema-direita lograram, então, abalar a política do Itamaraty.”
Bolsonaro se isolou, mas seu legado de retrocessos não pode ser subestimado. Seja qual for o vencedor nas eleições, a missão do próximo presidente será complexa – o que torna ainda mais relevante a apresentação de uma candidatura programática e audaciosa, de salvação nacional, capaz de aglutinar amplos setores em contraponto ao fascismo representado por Bolsonaro. É, pois, mais do que uma sucessão presidencial convencional. Trata-se, sim, de um encontro marcado de cerca de 150 milhões de eleitores com o futuro do País.
Nesse sentido, as grandes efemérides de 2022 alentam nossa jornada. Os cem anos da Semana 22, a serem celebrados em fevereiro, jogam luzes nos feitos da cultura nacional, na originalidade brasileira, na força de nossos artistas e de suas obras geniais contra o atraso. O centenário do PCdoB, em março, mostra a relevância e a vitalidade das lutas do povo brasileiro, encarnadas por um partido que chega a “cem anos de amor e coragem pelo Brasil”. E o bicentenário da Independência, em setembro, evoca a permanente batalha por um País plenamente emancipado, soberano, forte e influente. Num ano tão decisivo para o Brasil, que inspirações como estas estimulem a mobilização!
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