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Há dois aspectos salientes na conjuntura política latino-americana neste início de ano.
1) Em 2021 houve um acúmulo de lutas políticas e sociais, o que enriquece a experiência dos povos e forças políticas progressistas. Não farei aqui um inventário dessas múltiplas lutas, mas assinalar duas campanhas populares que se destacaram pela força da mobilização, o caráter de massas, a combatividade e o elevado grau de politização. Uma delas foi a jornada de lutas dos colombianos nos meses de abril e maio, um verdadeiro levante popular de mais de 50 dias, duramente reprimido pelo governo de extrema direita de Iván Duque. Apesar de toda a brutalidade das forças policiais, o movimento conquistou vitórias políticas, entre as quais a tramitação no Congresso Nacional de um caderno de reivindicações de direitos humanos, civis e sociais, que se constituirão nas linhas programáticas da luta política das forças de esquerda em 2022.
A outra grande campanha popular latino-americana de 2021 foi a Marcha pela Pátria na Bolívia, que neutralizou e derrotou mais uma intentona golpista da extrema direita do país andino. De todos os cantos do país, marcharam a La Paz centenas de milhares de bolivianos das camadas populares, o que resultou no recuo, ainda que temporário, dos golpistas. Temporário porque certamente estes não vão desistir. Mas a experiência recente, como as jornadas de luta contra o governo golpista de Jeanine Añez, mostra o poder de mobilização do governo boliviano e do MAS – Movimento ao Socialismo, um partido político cuja força deitou profundas raízes no povo e constitui uma garantia da continuidade das transformações políticas, econômicas e sociais no país que levam à consolidação do Estado democrático-popular e plurinacional.
2) Igualmente, as forças progressistas latino-americanas conquistaram importantes vitórias eleitorais em países como Nicarágua, Honduras, Peru, Chile e Venezuela.
Na Nicarágua, a reeleição de Daniel Ortega por ampla maioria derrotou as manobras intervencionistas do governo Biden, que alegou fraude e anunciou novas sanções. A Frente Sandinista de Libertação Nacional sai consolidada de mais este embate.
Honduras foi palco de uma luta que resgatou a democracia, 12 anos depois da destituição de Manuel Zelaya da presidência da República.
Um professor de escola primária, representante do “Peru profundo”, venceu as eleições presidenciais por uma legenda de esquerda, com um programa de transformações em um país marcado pela opressão nacional e social dilacerado pelo domínio neoliberal e ofensivas continuadas das classes dominantes para liquidar a soberania do país.
No Chile, Gabriel Boric, o candidato da coalizão “Apruebo Dignidad” (Frente Ampla e Partido Comunista), venceu o pleito presidencial com votação consagradora, derrotando de maneira contundente seu adversário da extrema direita. Ecos das jornadas de 2019, quando uma rebelião popular disse não ao neoliberalismo e aos resquícios da ditadura.
Enquanto isso, na pátria do Libertador Simon Bolívar, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) conquistou em eleições regionais 20 dos 23 governadores do país, além da Prefeitura de Caracas, uma das mais importantes. Uma eleição que contou com a participação de forças oposicionistas e o acompanhamento de observadores internacionais que confirmaram a legitimidade dos procedimentos adotados pelo Conselho Nacional Eleitoral. Mais uma vitória do Chavismo, mais um episódio da acumulação de forças da Revolução Bolivariana e do complexo processo de edificação do socialismo do século 21 com peculiaridades venezuelanas.
Em Cuba, a lucidez, a firmeza, a força da Revolução e a unidade do povo em torno do governo e do Partido Comunista derrotaram as intentonas de guerra híbrida do imperialismo estadunidense e seus agentes internos.
As lutas sociais e os embates eleitorais refletem uma crescente polarização entre as aspirações populares e as políticas conservadoras e neoliberais, as correntes democráticas e as de extrema direita. Esta polarização tende a permanecer como o epicentro da luta política e ideológica, mesmo nos cenários em que a esquerda vence. Sobre isso é necessário desfazer as ilusões de que vitórias eleitorais das forças progressistas tendem a amenizar o quadro político, promover distensões, dissuadir conflitos, alcançar por geração espontânea a estabilidade e promover a conciliação nacional.
Em 2022, a tendência é de polarização ainda maior se as forças progressistas triunfarem nas eleições presidenciais na Colômbia e no Brasil.
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