Foto: Ricardo Stuckert |
Caro amigo Geraldinho, não nos vemos há vários anos, e eu gostaria de relembrar-lhe alguns momentos de sua vida política que pude testemunhar ou partilhar, talvez como tentativa de reparo para algumas críticas que companheiros(as) lhe dirigiram nas últimas semanas. É apenas por Justiça que lhe escrevo de forma pública, repetindo algumas informações que tenho fornecido nas redes sociais.
Por termos nascido em cidades vizinhas, eu em Taubaté, onde você cursou Medicina, e você em Pindamonhangaba, a 40 quilômetros de distância, nos conhecemos quando eu era secretário do DM do então MDB, e dirigia a Juventude do MDB. Você já era prefeito de PInda, aos 22 anos ou um pouco mais, depois de ter sido vereador aos 18, o mais jovem do Brasil, então. Nossa convivência era apenas partidária, e foi-se estreitando ao longo dos anos.
Era muito difícil ser prefeito no interior, pela oposição: em São Paulo era preciso resistir ao autoritarismo e ameaças dos militares (e Pinda sedia o 12o Batalhão de Engenharia) e, ao mesmo tempo, as tentativas ofertas do governador Paulo Maluf, que oferecia simplesmente "tudo" (dinheiro, bolsa de estudos para filhos no exterior, automóveis, enfim) para que os nossos aderissem 'a Arena, o partido da ditadura. Parece-me que apenas 9 prefeitos ficaram no MDB, num total de mais de 400 municípios.
Sua conduta permaneceu firme quando deputado estadual. Em 1982, surgiu em Taubaté outro deputado, Ary Kara José, direitista e suspeito de muita corrupção. Aparelhou o Estado, só ele nomeava ou demitia no serviço público. Nomeou sociólogo para a estatal de Energia, e delegada não-formada em Direito! Vi na casa dele promotores e delegados de Polícia, por ordem de Ary, levantarem-se da cadeira para eu sentar, e ficarem em pé, depois de amaciarem o assento para um mero repórter...
Num comício que ajudei a apresentar, Ary falou antes de você e mandou seus "assessores" vindos de suas fazendas em Mato Grosso, mandou desligarem o som para ninguém te ouvir. Fui eu que comecei a repetir suas frases naquele sistema de assembleia estudantil, você falava e a gente ia amplificando em círculos cada vez maiores.
Como deputado federal você continuou coerente, como político conservador e moderado que é. Eu o preferiria mais a esquerda, claro, mas não posso dizer que você era um "direitista", quando tínhamos no partido um Roberto Cardoso Alves, um José Camargo, um Samir Achôa.
Ainda o acompanhei como vice-governador de Covas. Aqui há um ponto importante: alguns exaltados e equivocados companheiros, neste 2022, afirmam temer que você dê um golpe em Lula. Oras, você poderia ter dado "uma rasteira" em Mário Covas, nas várias vezes em que você assumiu interinamente e ele estava política e fisicamente fragilizado. E você foi extremamente leal e discreto, apesar dos conselhos dos oportunistas de sempre. Isso é História e ninguém pode ignorar, ou dirá bobagens, motivadas por maldade.
Entendo que você tenha apoiado o impeachment sem crime de Dilma Rousseff seguindo seu partido (disciplina é fundamental, ou partido vira balcão de negócios) e logicamente, seguindo uma onda de opinião pública manipulada. Isso não te faz um golpista. Nada fez em proveito próprio e quando teve oportunidades contra Covas, não traiu a legalidade e a lealdade que cabe a todo companheiro de chapa. Tenho certeza que você jamais se arrependerá disso, porque hoje podemos calar algumas calúnias.
Só o vi uma vez desde que tornou-se governador. Posso apontar erros nas suas gestões, estou muito à sua esquerda, passei pelo PSB (que fundei em Taubaté) e há dois anos filiei-me ao PT, do qual nunca estive distante.
Correndo riscos de ser mal entendido (não, eu não quero emprego público e nem sou puxa-saco de ninguém), deixo aqui meu testemunho, muito resumido, augurando-lhe um belo futuro junto a Lula, outro mestre como Mário Covas. O momento exige grandeza, e você e Boulos tiveram a visão altiva de se unirem numa "frente" divergente, mas com princípios comuns - a defesa da Democracia contra a pior ameaça, explícita, desde 1964.
Boa campanha, boas lutas em Brasília, sei que conquistará a confiança de todos em poucos meses.
* Antonio Barbosa Filho, jornalista/escritor, autor de "Audálio, deputado", e coordenador do Centro Barão de Itararé no Vale do Paraíba e Litoral Norte.
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