Charge: Miguel Paiva |
Carregando uma rejeição que oscila entre 50 e 60% dos brasileiros, que o acham ruim ou péssimo, uma conta de mais de 660 mil mortos da pandemia, uma inflação que só se equipara aos números de quase 30 anos atrás, Jair Bolsonaro não se acanha em atropelar as regras da democracia, agitar suas hordas pelo fechamento do Supremo Tribunal Federal e a volta do AI-5.
É pouco ou alguém quer mais para entender que uma improvável, mas possível, recondução do atual presidente não é a porta aberta, mas escancarada, para a implantação de um regime cujo níveis de autoritarismo faça o que temos hoje parecer uma Suécia?
Se a classe média brasileira não tivesse se deixado soterrar tanto pelo monturo de ódio que se lhe despejou em cima, nem sequer haveria esta ameaça e, em consequência, outras candidaturas poderiam existir de fato e não serem apenas as sombras diversionistas que mal sobrevivem no cenário político.
O seu discurso moralista abriu caminho para que Jair Bolsonaro pusesse sob suas asas toda a máquina corrompida da politicagem, do compadrio e da apropriação política do dinheiro público.
A tal ponto que, hoje, o Estadão contabiliza Simone Tebet como simples barreira para que o bolsonarismo não leve a sigla do MDB e, igual, só a teimosia de João Doria impede, ao menos até agora, que a estrutura do PSDB adira ao atual presidente.
Não, a polarização não é a natureza da democracia e é absolutamente legítimo e produtivo que as visões de mundo e as práticas de governo disputem a consciência popular.
Mas nos momentos agudos, em que esta própria essência está ameaçada, ela torna-se indispensável como o contraveneno salvador.
Quem, de alguma forma, mesmo a mais indireta, contribuir para que a derrota de Jair Bolsonaro não seja expressiva ao ponto de bloquear seus planos golpistas, acaba por lhe dar a corda com que ele pretende enforcar as nossas liberdades.
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