Charge: Pelicano |
Pela enésima vez, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, com um coronel a tiracolo, levantou suspeitas sobre as urnas eletrônicas, em audiência no Senado. Já é uma anomalia o general ir à casa legislativa falar de um assunto do qual nada entende, e a dupla ainda vai lá reforçar o trololó golpista.
Peroraram sobre “vulnerabilidade” das urnas, “ameaça interna”, “código malicioso” e tiveram a petulância de propor uma votação paralela com cédulas de papel. A única “ameaça interna” a eleições limpas, livres e seguras neste país são golpistas como Bolsonaro, o general, o coronel e os que apoiam essas sandices. Como disse o deputado Alexandre Padilha (PT-SP), em entrevista ao ICL Notícias, votação paralela é “milicianização das eleições”.
A sombra golpista que os herdeiros dos porões projetam sobre o país só é possível porque o Brasil fez uma transição incompleta da ditadura para a democracia. Diferentemente de outros países da América Latina, aqui os crimes dos militares foram varridos para debaixo do tapete da Lei de Anistia. Assassinato, tortura e estupro nas prisões foram perdoados e o país seguiu em frente, como se fosse normal tocar a vida sem se olhar no espelho e ver a monstruosidade refletida.
A covardia do estupro nos porões é a mesma do anestesista que dopa mulheres para violentá-las na hora do parto. É a mesma do general da pandemia que atrasou a compra de vacinas, empurrando centenas de milhares para a morte. É a mesma dos filhotes da ditadura que agora querem estuprar o processo eleitoral e a democracia. Covardes! Mil vezes covardes!
Como disse com assustadora franqueza John Bolton, ex-assessor do governo Trump, em entrevista à CCN americana, planejar golpes “dá muito trabalho”. Militares e civis bolsonaristas que o digam. Os elementos estão aí para quem quiser ver: população armada, estímulo à violência, estado de emergência fabricado e ataque às urnas. Vamos assistir a tudo calados e inertes?
* Publicado originalmente na Folha de S.Paulo em 16/07/2022.
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