terça-feira, 17 de dezembro de 2024

O teste de sobrevivência de Braga Netto

Por Moisés Mendes, em seu blog:

O general Braga Netto não conta com uma só defesa incisiva, categórica e incondicional que o console na condição de golpista encarcerado. Todas as figuras públicas que o defendem fazem volteios para dizer que ele deveria estar em liberdade.

Há manifestações protocolares, noticiadas sem destaque por não terem nem o componente de uma certa indignação. São defesas sem vitalidade, como as que partiram de Bolsonaro e de Hamilton Mourão.

Todos seguem a mesma linha de que é uma prisão injusta, o que não diz nada. E alguns até admitem, como Mourão, que um grupo de generais pode ter sonhado com o golpe, mas apenas como delírio, e esse pessoal todo era da reserva.

O senador Mourão até desqualificou os colegas, ao falar do que teria sido uma tentativa de golpe tabajara. Jornalistas que dão suporte às ideias e ações da direita, da velha e da nova, reforçam que a articulação envolvia só gente de pijama. E poderíamos ter então um golpe culposo, mas sem dolo.

Uma dúvida sumária a partir de agora, considerando-se as reações e um possível suporte de comparsas à situação de Braga Netto, é esta: que estragos acontecerão na sequência que possam mexer com o rumo das investigações e alterar a retórica frouxa dos que fingem defendê-lo?

Braga Netto é uma bomba que pode se implodir a qualquer momento? Qual a disposição do general em se livrar de parte da carga que deveria ser carregada por outros, para tentar atenuar suas culpas? Quem mais Braga Netto vai puxar para a cadeia?

O general é uma explosão possível, pelo temperamento que os colegas conhecem. E é também muito mais do que um arquivo. É o cabeça, o mais respeitável dos fardados e civis entre todos os golpistas.

Foi o primeiro em tudo da sua geração, teve uma formação que poucos tiveram, é talentoso e conheceu os corredores, as cozinhas e os subterrâneos da política e do poder, desde o momento em que comandou a intervenção de 2018 no Rio.

Sabe do que a maioria nunca pensou saber. Ouviu coisas de Bolsonaro que nenhum outro deve ter ouvido. Mostrou a cara, como naquele vídeo do ‘não percam a fé’, de 18 de novembro, como alguém que acreditava no êxito do que estava fazendo e se dispunha a correr riscos.

Braga Netto pode ir muito além das informações do leva e traz de Mauro Cid. Pode contar o que o coronel ajudante de ordens nem sabe direito.

E sabe como foi organizada e transcorreu a reunião de 12 de novembro de 2022 em que os assassinatos de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes teriam sido tramados. Tudo dentro da sua casa.

Uma informação de Braga Netto, uma só, pode desatar nós decisivos para a compreensão da estrutura do golpe e do envolvimento de Bolsonaro, incluindo os financiadores do plano. Mas até quando o general vai aguentar?

Quanto irá durar sua prisão preventiva, sabendo-se que a calibragem desse tempo depende de fatores aleatórios e sempre questionáveis. São até agora 64 as prisões preventivas de bolsonaristas determinadas por Moraes, todas com prazos de duração variados.

Braga Netto pode ser mantido encarcerado por quantos meses? A prisão o submete ao teste de resiliência que, por treinamento, os militares são obrigados a aguentar. Colegas que estavam dentro ou fora do golpe devem saber quanto tempo ele aguenta.

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