Por Bepe Damasco, em seu blog:
Se for uma estratégia, é de difícil entendimento para o comum dos mortais. Indicado pelo governo para a presidência do Banco Central no auge das críticas que o presidente Lula fazia à gestão de Roberto Campos Neto, Gabriel Galípolo trazia a esperança de novos ventos na condução da política monetária do país.
Até agora, porém, tanto seus votos no Copom (duas altas seguidas dos juros depois de ter seu nome confirmado em sabatina do Senado) como suas declarações públicas sugerem que não há praticamente diferenças entre o atual presidente do BC, a alguns dias de terminar o mandato, e o que logo assumirá o cargo.
O que mais chama a atenção é a assinatura de Galípolo, atual diretor de Política Monetária, em atas explicativas das subidas injustificadas dos juros, que são exemplos acabados de visão tecnocrática e radicalmente neoliberal da economia, desprezando variáveis essenciais, como produção, crescimento econômico e emprego.
A nota sobre a decisão de ontem, que aumentou a Taxa Selic para 12,25%, um ponto percentual a mais, é uma pérola em termos falta de compromisso com o desenvolvimento do país, pois já avisa que elevações no mesmo patamar se darão nas próximas duas reuniões do Copom.
Ou seja, Roberto Campos Neto conseguiu invadir a gestão do seu sucessor, provavelmente com sua anuência, cravando sua estaca de política monetária contracionista no mandato do seu substituto.
Em sua cegueira pró-mercado financeiro, o BC finge que não vê que não temos inflação por demanda que justifique subida dos juros. Ignora também o pacote de corte de gastos do governo e o encaminhamento da conclusão da votação da reforma tributária no Senado.
O BC se lixa para o fato de que cada ponto percentual de aumento da Taxa Selic impacta em mais R$ 50 bilhões a dívida pública. Os engravatados do banco são insensíveis, como todo neoliberal que se preze, às consequências da alta dos juros para a vida das pessoas, já que ao inibir investimentos traz prejuízos à geração de emprego e renda.
Alguns dirão que o alinhamento de Galípolo às teses do mercado deve-se a uma estratégia combinada com o presidente Lula e o ministro Haddad, para promover mudanças graduais ao longo de seu mandato à frente do BC. Tomara.
Por enquanto, torcendo para estar equivocado, tenho a sensação de que o governo Lula-3 pode estar repetindo erros de governos petistas anteriores, como nas indicações de ministros do Supremo e de procuradores-gerais da República.
Há alguns dias, ao ser questionado por que o BC não atuava no mercado para conter a alta do dólar, como já fizera dezenas de vezes no governo Bolsonaro, Campos Neto respondeu da forma mais tecnocrática e incompreensível possível: "Não há disfuncionalidade no mercado que justifique no momento a intervenção."
No dia seguinte, Galípolo, bateu na mesma tecla da ausência de "disfuncionalidade".
Para bom entendedor, basta.
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