Uma das marcas da campanha presidencial de José Serra deverá ser a da dissimulação – para ser mais direto, da mentira. O candidato não tem como defender abertamente o programa neoliberal de desmonte do estado, da nação e do trabalho. Além de esconder seu programa, Serra está sem discurso. O chavão udenista da “ética” sucumbiu com a prisão do “vice-careca” Arruda no DF e com as denúncias de corrupção contra Yeda Crusius. Neste cenário, só resta mesmo a mentira.
Essa tática já está em pleno uso. No programa de rádio e TV do PSDB, o embusteiro apareceu na maior caradura afirmando ser o criador do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e do seguro-desemprego. No sítio oficial da campanha, a mentira está estampada no título: “Emenda de Serra criou o FAT e tirou o seguro-desemprego do papel”. Em seu discurso na convenção do PTB, em 12 de junho, ele voltou a se jactar destes feitos. “Tenho orgulho de ter iniciado esse processo”.
“Expediente para alavancar a candidatura”
Uma mentira repetida várias vezes pode virar “verdade”, já ensinava Goebbels, o marqueteiro de Hitler. Como adverte o deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT-SP), em entrevista ao blog Viomundo, “nem o FAT nem o seguro-desemprego são criações do Serra... Ele não pode usar a mentira como expediente para se promover e alavancar sua candidatura, pois ele vai perder mais credibilidade. Ainda mais hoje em dia que, graças à internet, tudo é descoberto rapidamente”.
Uma rápida pesquisa nos anais do Congresso Nacional confirma o embuste do demotucano. O autor do projeto de lei que criou o FAT foi o ex-deputado federal Jorge Uequed (PMDB-RS). O PL de número 991 foi apresentado em 11 de outubro de 1988. Já o projeto de José Serra sobre o tema foi apresentado sete meses depois, em 5 de maio de 1989, e recebeu o número 2250. Na sessão de 13 de dezembro de 1989, ele foi considerado prejudicado pelo plenário da Câmara dos Deputados devido à aprovação do projeto de Jorge Uequed.
Sarney desmente o tucano
Já no que se refere ao seguro-desemprego, José Serra volta a mentir. Na campanha presidencial de 2002, ele já havia difundido esta falsa versão. Na ocasião, numa entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o senador José Sarney desmentiu o candidato de chofre. “Não sei de onde ele tirou que criou o seguro-desemprego. O seguro foi criado no meu governo. Na época, ele era secretário de Econômica e Planejamento do governador Franco Montoro”.
Como apurou o blog Viomundo, Sarney disse a mais pura verdade – e Serra, novamente, mentiu. “O seguro-desemprego foi criado em 1986, quando Sarney ocupava a presidência da República. Fo instituído junto com o Plano Cruzado pelo decreto-lei 2.284, de 10 de março de 1986. Passou a ser concedido aos trabalhadores após a sua regulamentação, que ocorreu 40 dias depois, pelo decreto 92.608, de 30 de abril do mesmo ano”.
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terça-feira, 6 de julho de 2010
segunda-feira, 5 de julho de 2010
A velha mídia está derretendo
Reproduzo artigo de Antonio Lassance, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicado no sítio Carta Maior:
Como um iceberg a navegar em águas quentes e turbulentas, a velha mídia está derretendo. O mundo está mudando, o Brasil é outro e os brasileiros desenvolvem, aceleradamente, novos hábitos de informação.
Um retrato desse processo pode ser visto na recente pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom-P.R.), destinada a descobrir o que o brasileiro lê, ouve, vê e como analisa os fatos e forma sua opinião.
A pesquisa revelou as dimensões que o iceberg ainda preserva. A televisão e o radio permanecem como os meios de comunicação mais comuns aos brasileiros. A TV é assistida por 96,6% da população brasileira, e o rádio, por expressivos 80,3%. Os jornais e revistas ficam bem atrás. Cerca de 46% costumam ler jornais, e menos de 35%, revistas. Perto de apenas 11,5% são leitores diários dos jornais tradicionais.
Quanto à internet, os resultados, da forma como estão apresentados, preferiram escolher o lado cheio do copo. Avalia-se que a internet no Brasil segue a tendência de crescimento mundial e já é utilizada por 46,1% da população brasileira. No entanto, é preciso uma avaliação sobre o lado vazio do copo, ou seja, a constatação de que os 53,9% de pessoas que não têm qualquer acesso à internet ainda revelam um quadro de exclusão digital que precisa ser superado. Ponto para o Programa Nacional da Banda Larga, que representa a chance de uma mudança estrutural e definitiva na forma como os brasileiros se informam e comunicam-se.
A internet tem devorado a TV e o rádio com grande apetite. Os conectados já gastam, em média, mais tempo navegando do que em frente à TV ou ao rádio. Esse avanço relaciona-se não apenas a um novo hábito, mas ao crescimento da renda nacional e à incorporação de contingentes populacionais pobres à classe média, que passaram a ter condições de adquirir um computador conectado.
O processo em curso não levará ao desaparecimento da TV, do rádio e da mídia impressa. O que está havendo é que as velhas mídias estão sendo canibalizadas pela internet, que tornou-se a mídia das mídias, uma plataforma capaz de integrar os mais diversos meios e oferecer ao público alternativas flexíveis e novas opções de entretenimento, comunicação pessoal e “autocomunicação de massa”, como diz o espanhol Manuel Castells.
Ainda usando a analogia do iceberg, a internet tem o poder de diluir, para engolir, a velha mídia.
A pesquisa da Secom-P.R. dá uma boa pista sobre o grande sucesso das plataformas eletrônicas das redes sociais. A formação de opinião entre os brasileiros se dá, em grande medida, na interlocução com amigos (70,9%), família (57,7%), colegas de trabalho (27,3%) e de escola (6,9%), o namorado ou namorada (2,5%), a igreja (1,9%), os movimentos sociais (1,8%) e os sindicatos (0,8%). Alerta para movimentos sociais, sindicatos e igrejas: seu “sex appeal” anda mais baixo que o das (os) namoradas (os).
Estes números confirmam estudos de longa data que afirmam que as redes sociais influem mais na formação da opinião do que os meios de comunicação. Por isso, uma informação muitas vezes bombardeada pela mídia demora a cair nas graças ou desgraças da opinião pública: ela depende do filtro excercido pela rede de relações sociais que envolve a vida de qualquer pessoa. Explica também por que algo que a imprensa bombardeia como negativo pode ser visto pela maioria como positivo. A alta popularidade do governo Lula, diante do longo e pesado cerco midiático, talvez seja o exemplo mais retumbante.
Em suma, o povo não engole tudo o que se despeja sobre ele: mastiga, deglute, digere e muitas vezes cospe conteúdos que não se encaixam em seus valores, sua percepção da realidade e diante de informações que ele consegue por meios próprios e muito mais confiáveis.
É aqui que mora o perigo para a velha mídia. Sua credibilidade está descendo ladeira abaixo. Segundo a citada pesquisa, quase 60% das pessoas acham que as notícias veiculadas pela imprensa são tendenciosas.
Um dado ainda mais grave: 8 em cada 10 brasileiros acreditam muito pouco ou não acreditam no que a imprensa veicula. Quanto maior o nível de renda e de escolaridade do brasileiro (que é o rumo da atual trajetória do país), maior o senso crítico em relação ao que a mídia veicula - ou “inocula”.
A velha mídia está se tornando cada vez mais salgada para o povo. Em dois sentidos: ela pode estar exagerando em conteúdos cada vez mais difíceis de engolir, e as pessoas estão cada vez menos dispostas a comprar conteúdos que podem conseguir de graça, de forma mais simples, e por canais diretos, mais interativos, confiáveis, simpáticos e prazerosos. Num momento em que tudo o que parece sólido se desmancha... na água, quem quiser sobreviver vai ter que trocar as lições de moral pelas explicações didáticas; vai ter que demitir os pit bulls e contratar mais explicadores, humoristas e chargistas. Terá que abandonar o cargo, em que se autoempossou, de superego da República.
Do contrário, obstinados na defesa de seus próprios interesses e na descarga ideológica coletiva de suas raivas particulares, alguns dos mais tradicionais veículos de comunicação serão vítimas de seu próprio veneno. Ao exagerarem no sal, apenas contribuirão para acelerar o processo de derretimento do impávido colosso iceberg que já não está em terra firme.
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Como um iceberg a navegar em águas quentes e turbulentas, a velha mídia está derretendo. O mundo está mudando, o Brasil é outro e os brasileiros desenvolvem, aceleradamente, novos hábitos de informação.
Um retrato desse processo pode ser visto na recente pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom-P.R.), destinada a descobrir o que o brasileiro lê, ouve, vê e como analisa os fatos e forma sua opinião.
A pesquisa revelou as dimensões que o iceberg ainda preserva. A televisão e o radio permanecem como os meios de comunicação mais comuns aos brasileiros. A TV é assistida por 96,6% da população brasileira, e o rádio, por expressivos 80,3%. Os jornais e revistas ficam bem atrás. Cerca de 46% costumam ler jornais, e menos de 35%, revistas. Perto de apenas 11,5% são leitores diários dos jornais tradicionais.
Quanto à internet, os resultados, da forma como estão apresentados, preferiram escolher o lado cheio do copo. Avalia-se que a internet no Brasil segue a tendência de crescimento mundial e já é utilizada por 46,1% da população brasileira. No entanto, é preciso uma avaliação sobre o lado vazio do copo, ou seja, a constatação de que os 53,9% de pessoas que não têm qualquer acesso à internet ainda revelam um quadro de exclusão digital que precisa ser superado. Ponto para o Programa Nacional da Banda Larga, que representa a chance de uma mudança estrutural e definitiva na forma como os brasileiros se informam e comunicam-se.
A internet tem devorado a TV e o rádio com grande apetite. Os conectados já gastam, em média, mais tempo navegando do que em frente à TV ou ao rádio. Esse avanço relaciona-se não apenas a um novo hábito, mas ao crescimento da renda nacional e à incorporação de contingentes populacionais pobres à classe média, que passaram a ter condições de adquirir um computador conectado.
O processo em curso não levará ao desaparecimento da TV, do rádio e da mídia impressa. O que está havendo é que as velhas mídias estão sendo canibalizadas pela internet, que tornou-se a mídia das mídias, uma plataforma capaz de integrar os mais diversos meios e oferecer ao público alternativas flexíveis e novas opções de entretenimento, comunicação pessoal e “autocomunicação de massa”, como diz o espanhol Manuel Castells.
Ainda usando a analogia do iceberg, a internet tem o poder de diluir, para engolir, a velha mídia.
A pesquisa da Secom-P.R. dá uma boa pista sobre o grande sucesso das plataformas eletrônicas das redes sociais. A formação de opinião entre os brasileiros se dá, em grande medida, na interlocução com amigos (70,9%), família (57,7%), colegas de trabalho (27,3%) e de escola (6,9%), o namorado ou namorada (2,5%), a igreja (1,9%), os movimentos sociais (1,8%) e os sindicatos (0,8%). Alerta para movimentos sociais, sindicatos e igrejas: seu “sex appeal” anda mais baixo que o das (os) namoradas (os).
Estes números confirmam estudos de longa data que afirmam que as redes sociais influem mais na formação da opinião do que os meios de comunicação. Por isso, uma informação muitas vezes bombardeada pela mídia demora a cair nas graças ou desgraças da opinião pública: ela depende do filtro excercido pela rede de relações sociais que envolve a vida de qualquer pessoa. Explica também por que algo que a imprensa bombardeia como negativo pode ser visto pela maioria como positivo. A alta popularidade do governo Lula, diante do longo e pesado cerco midiático, talvez seja o exemplo mais retumbante.
Em suma, o povo não engole tudo o que se despeja sobre ele: mastiga, deglute, digere e muitas vezes cospe conteúdos que não se encaixam em seus valores, sua percepção da realidade e diante de informações que ele consegue por meios próprios e muito mais confiáveis.
É aqui que mora o perigo para a velha mídia. Sua credibilidade está descendo ladeira abaixo. Segundo a citada pesquisa, quase 60% das pessoas acham que as notícias veiculadas pela imprensa são tendenciosas.
Um dado ainda mais grave: 8 em cada 10 brasileiros acreditam muito pouco ou não acreditam no que a imprensa veicula. Quanto maior o nível de renda e de escolaridade do brasileiro (que é o rumo da atual trajetória do país), maior o senso crítico em relação ao que a mídia veicula - ou “inocula”.
A velha mídia está se tornando cada vez mais salgada para o povo. Em dois sentidos: ela pode estar exagerando em conteúdos cada vez mais difíceis de engolir, e as pessoas estão cada vez menos dispostas a comprar conteúdos que podem conseguir de graça, de forma mais simples, e por canais diretos, mais interativos, confiáveis, simpáticos e prazerosos. Num momento em que tudo o que parece sólido se desmancha... na água, quem quiser sobreviver vai ter que trocar as lições de moral pelas explicações didáticas; vai ter que demitir os pit bulls e contratar mais explicadores, humoristas e chargistas. Terá que abandonar o cargo, em que se autoempossou, de superego da República.
Do contrário, obstinados na defesa de seus próprios interesses e na descarga ideológica coletiva de suas raivas particulares, alguns dos mais tradicionais veículos de comunicação serão vítimas de seu próprio veneno. Ao exagerarem no sal, apenas contribuirão para acelerar o processo de derretimento do impávido colosso iceberg que já não está em terra firme.
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A mídia é o partido do capital
Reproduzo entrevista concedida ao jornal O Piquete, editado pelo Sindicato dos Bancários de Vitória da Conquista (BA):
O filósofo italiano Antonio Gramsci teorizou que nos momentos de crise das instituições burguesas, a imprensa ocuparia o lugar do partido das classes dominantes. Altamiro Borges, jornalista e autor do livro A Ditadura da Mídia, confirma essa tese e aponta que, nesses momentos, a mídia transforma-se num verdadeiro “partido do capital”.
Essa prática tem sido corrente em Vitória Conquista, quando setores da mídia local têm transformado o ato de informar e o debate de idéias, tão essenciais à cidadania, em espaços de manipulação e utilização político-partidária dos meios de comunicação.
Em entrevista concedida ao Piquete Bancário, Altamiro Borges esclareceu como a grande imprensa perde o seu papel e assume essa visão político-partidária.
Os interlocutores da mídia comercial, em muitas ocasiões, transformam-se em verdadeiros representantes do partido do capital. Como o senhor avalia esse processo?
Este processo é antigo. Antes de se constituir como mídia, a imprensa já atuava como partido político, desestabilizando governos e promovendo golpes. Na história ficaram conhecidos os casos de Getúlio Vargas, levado ao suicídio por pressão da imprensa, e de João Goulart, derrubado por uma conspiração militar-civil que teve papel ativo da imprensa.
Na fase mais recente, a mídia fabricou candidatos – como o tal “caçador de marajás” -, defendeu o modelo neoliberal, destrutivo e regressivo de FHC e tentou derrubar o presidente Lula no famoso caso do “mensalão”, em 2005/2006. A grande mídia sempre atuou politicamente, defendendo os interesses dos poderosos. Ela exerce um duplo poder – econômico e ideológico -, manipulando informações e deformando comportamentos.
Em suas palestras, o senhor aponta que na Venezuela e na Bolívia o povo venceu a mídia. Há possibilidades dessa realidade se repetir no Brasil?
Na Venezuela, o golpe de abril de 2002 foi patrocinado por dois jornalões e por três emissoras de televisão. Eles clamaram pelo golpe, instigaram a violência nas ruas, mentiram descaradamente sobre o presidente eleito, Hugo Chávez, que tachou a conspiração de “golpe midiático” e tomou várias medidas para democratizar a comunicação e estimular meios alternativos e comunitários. Já na Bolívia, 86% das notícias dos jornais, revistas, rádios e televisões foram contrárias à candidatura de Evo Morales, inclusive com ataques preconceituosos. Em ambos os casos, o povo não se iludiu e derrotou a ditadura midiática.
No Brasil, a mídia não dá sossego para o presidente Lula. Ela apostou no impeachment em 2006 e hoje está completamente vinculada à candidatura demotucana de José Serra. Com o resultado das pesquisas recentes, que confirma o crescimento da candidatura de Dilma Rousseff, a mídia tende para baixaria. Acho que esta será a campanha mais suja da história recente do país.
O senhor também discute, em seu livro, a questão da criminalização dos movimentos sociais pela mídia comercial. Como ocorre essa criminalização?
Desde sua origem, a imprensa burguesa foi inimiga das lutas dos trabalhadores. Ela foi contra a revolta dos escravos, contra a luta de Canudos, contra as greves lideradas pelos anarquistas no início do século passado e sempre se posicionou contra os direitos dos trabalhadores. Atualmente, usa os mesmos argumentos dos senhores de escravos para se contrapor à redução da jornada de trabalho – diz que a economia vai afundar, que a medida estimula a preguiça e outros besteiras preconceituosas.
Esta criminalização é feita com requintes de manipulação. Toda a greve é tratada como “congestionamento de trânsito” e transtornos para a sociedade. Todos os direitos são encarados como privilégios. A grande mídia tem nojo dos trabalhadores e rejeita suas lutas e seus direitos.
Em meio às práticas antidemocráticas de setores da grande imprensa, qual deve ser o papel da imprensa ligada aos movimentos sociais?
A imprensa popular, principalmente a sindical, tem um papel fundamental nos dias de hoje e precisa denunciar as manipulações da mídia patronal, ajudando a estimular a consciência crítica dos trabalhadores. Para isto, precisa ser cada vez mais fortalecida e não pode ser encarada como um gasto, mas sim como um investimento na conscientização dos trabalhadores, na luta de idéias na sociedade.
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O filósofo italiano Antonio Gramsci teorizou que nos momentos de crise das instituições burguesas, a imprensa ocuparia o lugar do partido das classes dominantes. Altamiro Borges, jornalista e autor do livro A Ditadura da Mídia, confirma essa tese e aponta que, nesses momentos, a mídia transforma-se num verdadeiro “partido do capital”.
Essa prática tem sido corrente em Vitória Conquista, quando setores da mídia local têm transformado o ato de informar e o debate de idéias, tão essenciais à cidadania, em espaços de manipulação e utilização político-partidária dos meios de comunicação.
Em entrevista concedida ao Piquete Bancário, Altamiro Borges esclareceu como a grande imprensa perde o seu papel e assume essa visão político-partidária.
Os interlocutores da mídia comercial, em muitas ocasiões, transformam-se em verdadeiros representantes do partido do capital. Como o senhor avalia esse processo?
Este processo é antigo. Antes de se constituir como mídia, a imprensa já atuava como partido político, desestabilizando governos e promovendo golpes. Na história ficaram conhecidos os casos de Getúlio Vargas, levado ao suicídio por pressão da imprensa, e de João Goulart, derrubado por uma conspiração militar-civil que teve papel ativo da imprensa.
Na fase mais recente, a mídia fabricou candidatos – como o tal “caçador de marajás” -, defendeu o modelo neoliberal, destrutivo e regressivo de FHC e tentou derrubar o presidente Lula no famoso caso do “mensalão”, em 2005/2006. A grande mídia sempre atuou politicamente, defendendo os interesses dos poderosos. Ela exerce um duplo poder – econômico e ideológico -, manipulando informações e deformando comportamentos.
Em suas palestras, o senhor aponta que na Venezuela e na Bolívia o povo venceu a mídia. Há possibilidades dessa realidade se repetir no Brasil?
Na Venezuela, o golpe de abril de 2002 foi patrocinado por dois jornalões e por três emissoras de televisão. Eles clamaram pelo golpe, instigaram a violência nas ruas, mentiram descaradamente sobre o presidente eleito, Hugo Chávez, que tachou a conspiração de “golpe midiático” e tomou várias medidas para democratizar a comunicação e estimular meios alternativos e comunitários. Já na Bolívia, 86% das notícias dos jornais, revistas, rádios e televisões foram contrárias à candidatura de Evo Morales, inclusive com ataques preconceituosos. Em ambos os casos, o povo não se iludiu e derrotou a ditadura midiática.
No Brasil, a mídia não dá sossego para o presidente Lula. Ela apostou no impeachment em 2006 e hoje está completamente vinculada à candidatura demotucana de José Serra. Com o resultado das pesquisas recentes, que confirma o crescimento da candidatura de Dilma Rousseff, a mídia tende para baixaria. Acho que esta será a campanha mais suja da história recente do país.
O senhor também discute, em seu livro, a questão da criminalização dos movimentos sociais pela mídia comercial. Como ocorre essa criminalização?
Desde sua origem, a imprensa burguesa foi inimiga das lutas dos trabalhadores. Ela foi contra a revolta dos escravos, contra a luta de Canudos, contra as greves lideradas pelos anarquistas no início do século passado e sempre se posicionou contra os direitos dos trabalhadores. Atualmente, usa os mesmos argumentos dos senhores de escravos para se contrapor à redução da jornada de trabalho – diz que a economia vai afundar, que a medida estimula a preguiça e outros besteiras preconceituosas.
Esta criminalização é feita com requintes de manipulação. Toda a greve é tratada como “congestionamento de trânsito” e transtornos para a sociedade. Todos os direitos são encarados como privilégios. A grande mídia tem nojo dos trabalhadores e rejeita suas lutas e seus direitos.
Em meio às práticas antidemocráticas de setores da grande imprensa, qual deve ser o papel da imprensa ligada aos movimentos sociais?
A imprensa popular, principalmente a sindical, tem um papel fundamental nos dias de hoje e precisa denunciar as manipulações da mídia patronal, ajudando a estimular a consciência crítica dos trabalhadores. Para isto, precisa ser cada vez mais fortalecida e não pode ser encarada como um gasto, mas sim como um investimento na conscientização dos trabalhadores, na luta de idéias na sociedade.
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Galvão Bueno será linchado no aeroporto?
Como já alertou o jornalista Eliakim Araújo, que conhece os bastidores da televisão brasileira, a “Globo é vingativa”. Ela até agora não perdoou o fato do técnico Dunga ter vetado as entrevistas exclusivas para a emissora e de ter adotado normas disciplinares para garantir a concentração dos jogadores. No retorno da seleção ao Brasil, só faltou este império midiático, com todos os seus tentáculos – TV aberta e fechada, jornal, rádio e revista – estimular o linchamento de Dunga.
A rádio CBN, do poderoso grupo, alardeou que a chegada de parte do time no aeroporto do Rio de Janeiro foi caótica, com agressões aos jogadores e ao técnico. Stanley Burburinho, em matéria no blog Viomundo, desmentiu a versão terrorista. “Eu estava lá e não houve confusão nenhuma, a não ser a causada pela própria imprensa na ânsia de entrevistas os jogadores”. Já o Fantástico, da TV Globo, destilou novos venenos editorializados contra Dunga, com vários adjetivos.
Data e local do retorno
Na mídia altamente concentrada e manipuladora não há espaço para o contraditório. Todos estão contra Dunga – a TV Globo simplesmente expressa o sentimento do povo brasileiro. Nem sequer a manifestação de respeito ao técnico, ocorrida no aeroporto de Porto Alegre, teve destaque nos inúmeros programas da emissora sobre a Copa do Mundo. A pesquisa de opinião, divulgada na véspera do jogo contra a Alemanha, que deu quase 70% de aprovação ao técnico, também não mereceu qualquer realce. A Rede Globo é contra; portanto, o povo é contra. Ponto final.
Para evitar cair no ridículo e no total descrédito, a Rede Globo deveria tentar ser um pouco mais equilibrada – menos rancorosa e arrogante. Na Copa do Mundo da África do Sul, ela já não foi consenso na cobertura. Através da internet, milhares de pessoas participaram da campanha “Cala boca Galvão” e do movimento “diasemglobo”. Apesar da incitação, Dunga não foi linchado nos aeroportos – para tristeza dos repórteres do império global. E bom não fazer o mesmo teste com Galvão Bueno, evitando divulgar o horário e o local do seu retorno ao Brasil.
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A rádio CBN, do poderoso grupo, alardeou que a chegada de parte do time no aeroporto do Rio de Janeiro foi caótica, com agressões aos jogadores e ao técnico. Stanley Burburinho, em matéria no blog Viomundo, desmentiu a versão terrorista. “Eu estava lá e não houve confusão nenhuma, a não ser a causada pela própria imprensa na ânsia de entrevistas os jogadores”. Já o Fantástico, da TV Globo, destilou novos venenos editorializados contra Dunga, com vários adjetivos.
Data e local do retorno
Na mídia altamente concentrada e manipuladora não há espaço para o contraditório. Todos estão contra Dunga – a TV Globo simplesmente expressa o sentimento do povo brasileiro. Nem sequer a manifestação de respeito ao técnico, ocorrida no aeroporto de Porto Alegre, teve destaque nos inúmeros programas da emissora sobre a Copa do Mundo. A pesquisa de opinião, divulgada na véspera do jogo contra a Alemanha, que deu quase 70% de aprovação ao técnico, também não mereceu qualquer realce. A Rede Globo é contra; portanto, o povo é contra. Ponto final.
Para evitar cair no ridículo e no total descrédito, a Rede Globo deveria tentar ser um pouco mais equilibrada – menos rancorosa e arrogante. Na Copa do Mundo da África do Sul, ela já não foi consenso na cobertura. Através da internet, milhares de pessoas participaram da campanha “Cala boca Galvão” e do movimento “diasemglobo”. Apesar da incitação, Dunga não foi linchado nos aeroportos – para tristeza dos repórteres do império global. E bom não fazer o mesmo teste com Galvão Bueno, evitando divulgar o horário e o local do seu retorno ao Brasil.
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Mídia é colonizada até no futebol
No início da Copa do Mundo, alguns comentaristas da mídia colonizada, principalmente da Rede Globo, pareciam torcedores dos EUA. Galvão Bueno, sempre ele, fez rasgados elogios à pujança do time ianque e à determinação e “patriotismo” de seus jogadores. Puro servilismo. A babação, porém, durou pouco, já que a equipe logo foi desclassificada. Agora, no final da Copa na África, os mesmos comentaristas elogiam a “eficiência” do futebol europeu e debocham das seleções da América Latina – até lembram o José Serra afirmando que o Mercosul é “inútil”.
O servilismo da mídia colonizada se expressa até no futebol. Ela venera o “primeiro mundo”, seu paraíso de consumo, e menospreza os povos do “terceiro mundo”. Esta opção ficou patente antes mesmo do início das partidas. Várias reportagens destacaram o caos existente na África do Sul e alertaram para o risco da violência, dos “atos terroristas”. Nada disto ocorreu até agora. A alegria do sofrido povo sul-africano contagiou multidões e obrigou a mídia a mudar o tom.
Racismo e direitismo
Este servilismo chega a produzir cenas deprimentes, de explícito racismo. A emissora Sportv, da poderosa Rede Globo, humilhou os vizinhos do Paraguai após a sua desclassificação. Num texto carregado de preconceitos, um repórter desqualificou o país como “paraíso obscuro do mundo” e zombou até da fisionomia dos paraguaios, da sua gastronomia e da sua música. A agressão gerou protestos da imprensa local, que destacou o orgulho do seu povo com a campanha da seleção.
No mesmo rumo, a mídia brasileira estimulou os piores instintos contra os argentinos. Ela tentou, de todas as formas, ridicularizar o técnico Maradona. Uma comentarista da GloboNews chegou a afirmar que, além de culpado pela “derrota humilhante diante da Alemanha”, ele seria criticado por suas opções políticas, “de apoiar a presidente Cristina Kirchner e o regime cubano”. Haja servilismo, de uma mídia que parece uma sucursal rastaqüera do império estadunidense.
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O servilismo da mídia colonizada se expressa até no futebol. Ela venera o “primeiro mundo”, seu paraíso de consumo, e menospreza os povos do “terceiro mundo”. Esta opção ficou patente antes mesmo do início das partidas. Várias reportagens destacaram o caos existente na África do Sul e alertaram para o risco da violência, dos “atos terroristas”. Nada disto ocorreu até agora. A alegria do sofrido povo sul-africano contagiou multidões e obrigou a mídia a mudar o tom.
Racismo e direitismo
Este servilismo chega a produzir cenas deprimentes, de explícito racismo. A emissora Sportv, da poderosa Rede Globo, humilhou os vizinhos do Paraguai após a sua desclassificação. Num texto carregado de preconceitos, um repórter desqualificou o país como “paraíso obscuro do mundo” e zombou até da fisionomia dos paraguaios, da sua gastronomia e da sua música. A agressão gerou protestos da imprensa local, que destacou o orgulho do seu povo com a campanha da seleção.
No mesmo rumo, a mídia brasileira estimulou os piores instintos contra os argentinos. Ela tentou, de todas as formas, ridicularizar o técnico Maradona. Uma comentarista da GloboNews chegou a afirmar que, além de culpado pela “derrota humilhante diante da Alemanha”, ele seria criticado por suas opções políticas, “de apoiar a presidente Cristina Kirchner e o regime cubano”. Haja servilismo, de uma mídia que parece uma sucursal rastaqüera do império estadunidense.
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domingo, 4 de julho de 2010
O Globo cria fantasmas
Reproduzo artigo de Laurindo Lalo Leal Filho, publicado no sítio Carta Maior:
O programa da oposição para o horário eleitoral obrigatório no rádio e na TV que vai ao ar de 17 de agosto até 30 de setembro já tem os ingredientes necessários para criar a versão Regina Duarte 2010. Quem os criou foi O Globo, em seu editorial do dia 1º de julho. O medo difuso da atriz em relação a um possível governo Lula é, na nova versão, mais concreto: a candidata da situação, se eleita, importaria para o Brasil o “modelo chavista” de governo.
O Globo não consegue nem ser original ao levantar essa hipótese. Há pouco mais de um ano esses mesmos argumentos foram usados para derrubar, com um golpe de Estado, o presidente Manoel Zelaya de Honduras. Com sua histórica tradição golpista o jornal carioca oferece de bandeja à oposição os elementos necessários para que, nos programas eleitorais, ela possa assustar os eleitores, como tentou, sem sucesso, a atriz global em 2002.
O mote inspirador do editorial foi uma das respostas dadas pela candidata Dilma Roussef no programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo. Ela simplesmente defendeu a necessidade de uma reforma política no Brasil, tema que há muito tempo faz parte do debate nacional na sociedade e no Parlamento. Curiosa é a posição de jornais como o Globo sempre sequiosos de denunciar falcatruas envolvendo parlamentares e administradores públicos, condenando-os junto à sociedade, sem nunca chegar às raízes desse problema, fincadas justamente no sistema político em vigor no pais. Sua modernização é urgente, como salientou a candidata.
O jornal ataca, por exemplo, o financiamento público de campanha, um dos temas centrais de uma possível reforma política. Sem se dar ao trabalho de lembrar que esta é uma das principais distorções do processo eleitoral brasileiro, o qual reserva aos mais afortunados – no sentido literal do termo – o direito de acesso a cargos eletivos com muito mais facilidade que os demais. Ou seja cria cidadãos de primeira e segunda classe. Mas como os representantes do Globo nos parlamentos fazem parte do primeiro grupo, não interessa ao jornal defender o princípio básico de que os direitos políticos são iguais para todos.
O editorial é pródigo em referências negativas aos governos democráticos e populares da América Latina. Além de Hugo Chávez, cita os presidentes Rafael Correa, do Equador e Evo Morales da Bolívia, como inspiradores da candidata petista. Somando-se tudo isso às declarações beligerantes do candidato da oposição ao presidente boliviano é possível fazer algumas conjecturas sobre o que veremos nos programas demo-tucanos de rádio e TV. A esta altura, inspiradas pelo editorial de O Globo, as equipes de produção desses partidos já devem estar revirando arquivos em busca de imagens de manifestações de rua em Caracas, Quito e La Paz. Elas serão cuidadosamente editadas para assustar, especialmente a classe média brasileira, com a “bagunça” existente nos países onde reformas políticas – ainda que distintas das propostas para o Brasil – foram implantadas.
Claro que diante da solidez da candidatura Dilma essas imagens não deverão causar grandes estragos à campanha. O perigo maior está na persistência desses arautos do golpismo em tentar, há várias gerações e por todas as vias, obstruir o processo de aprofundamento da democracia no país. Para enfrentá-los vitórias eleitorais talvez não sejam suficientes. É necessário que venham acompanhadas de reformas políticas capazes de trazer para o centro das decisões nacionais amplas camadas da população, hoje chamadas a se manifestar apenas no momento do voto.
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O programa da oposição para o horário eleitoral obrigatório no rádio e na TV que vai ao ar de 17 de agosto até 30 de setembro já tem os ingredientes necessários para criar a versão Regina Duarte 2010. Quem os criou foi O Globo, em seu editorial do dia 1º de julho. O medo difuso da atriz em relação a um possível governo Lula é, na nova versão, mais concreto: a candidata da situação, se eleita, importaria para o Brasil o “modelo chavista” de governo.
O Globo não consegue nem ser original ao levantar essa hipótese. Há pouco mais de um ano esses mesmos argumentos foram usados para derrubar, com um golpe de Estado, o presidente Manoel Zelaya de Honduras. Com sua histórica tradição golpista o jornal carioca oferece de bandeja à oposição os elementos necessários para que, nos programas eleitorais, ela possa assustar os eleitores, como tentou, sem sucesso, a atriz global em 2002.
O mote inspirador do editorial foi uma das respostas dadas pela candidata Dilma Roussef no programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo. Ela simplesmente defendeu a necessidade de uma reforma política no Brasil, tema que há muito tempo faz parte do debate nacional na sociedade e no Parlamento. Curiosa é a posição de jornais como o Globo sempre sequiosos de denunciar falcatruas envolvendo parlamentares e administradores públicos, condenando-os junto à sociedade, sem nunca chegar às raízes desse problema, fincadas justamente no sistema político em vigor no pais. Sua modernização é urgente, como salientou a candidata.
O jornal ataca, por exemplo, o financiamento público de campanha, um dos temas centrais de uma possível reforma política. Sem se dar ao trabalho de lembrar que esta é uma das principais distorções do processo eleitoral brasileiro, o qual reserva aos mais afortunados – no sentido literal do termo – o direito de acesso a cargos eletivos com muito mais facilidade que os demais. Ou seja cria cidadãos de primeira e segunda classe. Mas como os representantes do Globo nos parlamentos fazem parte do primeiro grupo, não interessa ao jornal defender o princípio básico de que os direitos políticos são iguais para todos.
O editorial é pródigo em referências negativas aos governos democráticos e populares da América Latina. Além de Hugo Chávez, cita os presidentes Rafael Correa, do Equador e Evo Morales da Bolívia, como inspiradores da candidata petista. Somando-se tudo isso às declarações beligerantes do candidato da oposição ao presidente boliviano é possível fazer algumas conjecturas sobre o que veremos nos programas demo-tucanos de rádio e TV. A esta altura, inspiradas pelo editorial de O Globo, as equipes de produção desses partidos já devem estar revirando arquivos em busca de imagens de manifestações de rua em Caracas, Quito e La Paz. Elas serão cuidadosamente editadas para assustar, especialmente a classe média brasileira, com a “bagunça” existente nos países onde reformas políticas – ainda que distintas das propostas para o Brasil – foram implantadas.
Claro que diante da solidez da candidatura Dilma essas imagens não deverão causar grandes estragos à campanha. O perigo maior está na persistência desses arautos do golpismo em tentar, há várias gerações e por todas as vias, obstruir o processo de aprofundamento da democracia no país. Para enfrentá-los vitórias eleitorais talvez não sejam suficientes. É necessário que venham acompanhadas de reformas políticas capazes de trazer para o centro das decisões nacionais amplas camadas da população, hoje chamadas a se manifestar apenas no momento do voto.
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Fim da pré-campanha e vexame midiático
Reproduzo artigo de Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi, publicado no Correio Braziliense:
Quem tinha razão era Magalhães Pinto, velha raposa política e ex-governador de Minas Gerais. A política é mesmo como nuvem. Uma hora, você olha e vê uma coisa. Olha de novo e ela já mudou.
Se estivesse vivo, seria o que ele diria sobre o período da campanha presidencial que agora se encerra. Do início de abril, quando se desincompatibilizaram os principais candidatos, ao fim de junho, quando começa a reta final da sucessão, tudo ficou diferente.
A entrada em campo de Serra era aguardada há meses. É verdade que ele teve que disputar, até dezembro, o posto de candidato com Aécio, ainda que não se preocupasse muito com as aspirações do mineiro. Estava convencido de que o PSDB terminaria por lhe entregar a vaga.
De qualquer maneira, o fato é que, desde quando Aécio saiu do páreo, nada mais restava em seu caminho. Com a candidatura assegurada, teve amplo tempo para se preparar, montar sua estratégia, organizar sua equipe. Ainda que continuasse, de janeiro a março, com suas obrigações de governo, pôde pensar com calma no que faria quando saísse do Palácio dos Bandeirantes.
Com algum retardo (que ajudou a manter o suspense sobre sua decisão até a véspera do prazo fatal), ele finalmente renunciou ao cargo de governador e virou candidato. Juntou-se a Dilma que, dias antes, havia deixado o ministério.
Entre o começo de abril e meados de maio, Serra viveu seus melhores 45 dias desde quando iniciou sua jornada em busca da Presidência. Quem tiver alguma memória se lembrará do que andaram dizendo seus correligionários e publicaram aqueles que por ele torcem na imprensa carioca e paulista.
Era como se estivesse ali começando para valer a sucessão, com um goleador nato, em momento inspirado, mostrando seu melhor futebol. Para eles, Serra fazia um gol atrás do outro, com postura serena, palavras sempre bem escolhidas, hábeis manobras.
Pelo que se lia nesses jornais, enquanto Serra conquistava novos apoios, Dilma perdia os dela. Era apenas questão de tempo até que as pesquisas assinalassem seu crescimento. Enquanto não vinham, as colunas estavam cheias de especulações sobre "pesquisas internas", que já o mostrariam bem à frente da adversária.
Se era esse o tom da cobertura a respeito do candidato tucano, via-se o inverso no que era publicado sobre a petista. Parecia que uma desastrada havia entrado em campo, cometendo um erro depois do outro. Precipitação, amadorismo, inabilidade, incompetência, era isso que se falava dela e de sua campanha. Chegaram a dizer que Lula andava nervoso, agitado, irritadiço.
As nuvens, no entanto, mudaram. Se o sol parecia brilhar para Serra até o meio de maio, a chuva desabou de lá para cá. Viu-se que a falta de traquejo eleitoral não prejudicava Dilma. Ela cresceu nas pesquisas, suas alianças se confirmaram, outras surgiram. Gorou a esperança de que a propaganda partidária de PSDB, DEM, PPS e PTB, somadas, mudassem o panorama. Na maioria dos estados, alegrias para o governo, decepções para a oposição. Lula já não franzia mais a testa. Quando junho chegou ao fim, ele era só sorrisos.
Ficou, no entanto, para o apagar das luzes da "pré-campanha", o pior momento. O episódio da escolha do companheiro de chapa de Serra tem tudo para entrar para a história.
Desde a quarta-feira, quando Índio da Costa foi confirmado, já se falou tanto que é até cruel insistir no assunto. Qualquer argumento em favor de seu nome chega a ser risível, desde o potencial de seus 40 anos atraírem a juventude e provocarem a reversão do voto no Sudeste, à densidade de sua biografia de "ficha limpa".
Mas resta uma pergunta: por mais que as pessoas se julguem imortais, um candidato a presidente não tem a obrigação de raciocinar com a hipótese de vir a faltar, por qualquer motivo? Não foi, talvez, pensando assim que Collor escolheu Itamar, que Fernando Henrique convidou Marco Maciel, que Lula optou por José Alencar?
Goste-se ou não de Michel Temer, nem seus inimigos negam que tem experiência e qualificações para, se imperativo, substituir Dilma. E Índio da Costa?
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Quem tinha razão era Magalhães Pinto, velha raposa política e ex-governador de Minas Gerais. A política é mesmo como nuvem. Uma hora, você olha e vê uma coisa. Olha de novo e ela já mudou.
Se estivesse vivo, seria o que ele diria sobre o período da campanha presidencial que agora se encerra. Do início de abril, quando se desincompatibilizaram os principais candidatos, ao fim de junho, quando começa a reta final da sucessão, tudo ficou diferente.
A entrada em campo de Serra era aguardada há meses. É verdade que ele teve que disputar, até dezembro, o posto de candidato com Aécio, ainda que não se preocupasse muito com as aspirações do mineiro. Estava convencido de que o PSDB terminaria por lhe entregar a vaga.
De qualquer maneira, o fato é que, desde quando Aécio saiu do páreo, nada mais restava em seu caminho. Com a candidatura assegurada, teve amplo tempo para se preparar, montar sua estratégia, organizar sua equipe. Ainda que continuasse, de janeiro a março, com suas obrigações de governo, pôde pensar com calma no que faria quando saísse do Palácio dos Bandeirantes.
Com algum retardo (que ajudou a manter o suspense sobre sua decisão até a véspera do prazo fatal), ele finalmente renunciou ao cargo de governador e virou candidato. Juntou-se a Dilma que, dias antes, havia deixado o ministério.
Entre o começo de abril e meados de maio, Serra viveu seus melhores 45 dias desde quando iniciou sua jornada em busca da Presidência. Quem tiver alguma memória se lembrará do que andaram dizendo seus correligionários e publicaram aqueles que por ele torcem na imprensa carioca e paulista.
Era como se estivesse ali começando para valer a sucessão, com um goleador nato, em momento inspirado, mostrando seu melhor futebol. Para eles, Serra fazia um gol atrás do outro, com postura serena, palavras sempre bem escolhidas, hábeis manobras.
Pelo que se lia nesses jornais, enquanto Serra conquistava novos apoios, Dilma perdia os dela. Era apenas questão de tempo até que as pesquisas assinalassem seu crescimento. Enquanto não vinham, as colunas estavam cheias de especulações sobre "pesquisas internas", que já o mostrariam bem à frente da adversária.
Se era esse o tom da cobertura a respeito do candidato tucano, via-se o inverso no que era publicado sobre a petista. Parecia que uma desastrada havia entrado em campo, cometendo um erro depois do outro. Precipitação, amadorismo, inabilidade, incompetência, era isso que se falava dela e de sua campanha. Chegaram a dizer que Lula andava nervoso, agitado, irritadiço.
As nuvens, no entanto, mudaram. Se o sol parecia brilhar para Serra até o meio de maio, a chuva desabou de lá para cá. Viu-se que a falta de traquejo eleitoral não prejudicava Dilma. Ela cresceu nas pesquisas, suas alianças se confirmaram, outras surgiram. Gorou a esperança de que a propaganda partidária de PSDB, DEM, PPS e PTB, somadas, mudassem o panorama. Na maioria dos estados, alegrias para o governo, decepções para a oposição. Lula já não franzia mais a testa. Quando junho chegou ao fim, ele era só sorrisos.
Ficou, no entanto, para o apagar das luzes da "pré-campanha", o pior momento. O episódio da escolha do companheiro de chapa de Serra tem tudo para entrar para a história.
Desde a quarta-feira, quando Índio da Costa foi confirmado, já se falou tanto que é até cruel insistir no assunto. Qualquer argumento em favor de seu nome chega a ser risível, desde o potencial de seus 40 anos atraírem a juventude e provocarem a reversão do voto no Sudeste, à densidade de sua biografia de "ficha limpa".
Mas resta uma pergunta: por mais que as pessoas se julguem imortais, um candidato a presidente não tem a obrigação de raciocinar com a hipótese de vir a faltar, por qualquer motivo? Não foi, talvez, pensando assim que Collor escolheu Itamar, que Fernando Henrique convidou Marco Maciel, que Lula optou por José Alencar?
Goste-se ou não de Michel Temer, nem seus inimigos negam que tem experiência e qualificações para, se imperativo, substituir Dilma. E Índio da Costa?
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Bancos lavaram dinheiro do narcotráfico
Reproduzo artigo de David Brooks, publicado no jornal La Jornada e traduzido por Katarina Peixoto para o sítio Carta Maior:
Alguns dos principais bancos e financeiras estadunidenses, entre eles Wells Fargo, Bank of América, Citigroup, American Express e Western Union lucraram durante anos com a lavagem de dinheiro oriundo do narcotráfico e só pagam multas mínimas, sem que nenhum executivo seja encarcerado quando as autoridades conseguem detectar o negócio ilícito.
Em múltiplos casos fiscalizados durante os últimos anos, estes bancos estadunidenses confessaram não ter cumprido as leis e regulamentos federais para controlar a lavagem de dinheiro, ao participarem das transferências de bilhões de dólares em fundos ilícitos provenientes do narcotráfico mexicano.
Esse é o caso do Wachovia Corp, antes o sexto banco do país, comprado pelo Wells Fargo em 2008 e agora o banco com mais sucursais nos Estados Unidos. O Wells Fargo admitiu perante um tribunal que o Wachovia não vigiou nem informou sobre as atividades suspeitas de lavagem de dinheiro por narcotraficantes, incluindo quantias para a compra de pelo menos quatro aviões nos Estados Unidos, que transportaram um total de 22 toneladas de cocaína. O outro banco envolvido na transferência de fundos com os quais se comprou um desses aviões – um DC-9 que em seguida foi confiscado no México com toneladas de cocaína – foi o Bank of America, reportou o Bloomberg News.
Tudo isso foi revelado num acordo judicial do banco com procuradores federais, em março de 2010. Nos documentos judiciais do caso lidos pelo La Jornada, Wachovia admitiu que não fez o suficiente para detectar fundos ilícitos sob sua administração, na casa de mais de 378,4 bilhões de dólares, em seus negócios com casas de câmbio mexicanas, entre maio de 2004 e maio de 2007.
Desse total, Wachovia processou ao menos 373,6 bilhões em transferências eletrônicas, mais 4,7 bilhões em traslados de dinheiro em espécie e outros 47 bilhões em depósitos de cheques internacionais. Nem todos esses fundos estão vinculados ao narcotráfico, mas segundo as investigações do Departamento de Justiça bilhões não foram sujeitos à fiscalização exigida pela lei, e centenas de bilhões de dólares desses fundos estavam diretamente ligados ao narcotráfico.
Wachovia, violação recorde
Pelo volume total de fundos que não estiveram sujeitos à fiscalização antilavagem de dinheiro, o caso do Wachovia se tornou a maior violação da Lei de Sigilo Bancário na história. Essa lei obriga os bancos a reportarem às autoridades toda transferência de fundos em espécie em valores acima de 10 mil dólares, assim como a informar sobre atividade suspeita de lavagem de dinheiro.
O procurador federal no caso, Jeffrey Sloman, declarou em março, ao anunciar o acordo com Wells Fargo: “A desatenção flagrante de nossas leis bancárias por Wachovia permitiu uma virtual carta branca aos cartéis internacionais de cocaína para financiar suas operações, ao lavarem ao menos 110 milhões de dólares em lucros com a droga”.
Não é que ninguém tenha notado. O próprio banco admitiu perante o Tribunal que já desde 2004 o Wachovia reconheceu o risco. Mas apesar das advertências permaneceu no negócio, segundo os documentos lidos por La Jornada.
Esse negócio era a administração e traslado de fundos de pelo menos 22 casas de câmbio no México que tinham contas no Wachovia. Um exemplo citado nos documentos é o da Casa de Câmbio Puebla S/A, cujos gerentes criaram empresas fictícias para os cartéis e, segundo o Departamento de Justiça, conseguiram lavar uns 720 milhões de dólares, por meio de bancos estadunidenses.
De fato, foi o caso da Casa de Câmbio Puebla que detonou esta investigação das autoridades federais. Desde 2005 algunas transferências de fundos do Wachovia já estavam sob investigação, em suas sucursais em Miami, a partir do México, por meio de casas de câmbio, e estes fundos eram utilizados para comprar aviões destinados ao narcotráfico, informam os documentos judiciais do caso.
Por outro lado, durante esse período o diretor da unidade antilavagem de dinheiro de Wachovia em Londres, Martin Woods, suspeitava que narcotraficantes utilizavam o banco para mover quantias. Ele informou a seus chefes, que lhe ordenaram a deixar o assunto de lado, e por isso renunciou ao seu postos reportou a Bloomberg. Woods disse a essa agência que “é a lavagem de dinheiro dos cartéis pelos bancos que financia a tragédia...Se não se vê a correlação entre a lavagem de dinheiro pelos bancos e as 22 mil pessoas assassinadas no México não se entende o que está em jogo”.
Depois de ser acusado de violar a lei, Wells Fargo, agora dono do Wachovia, comprometeu-se num tribunal federal de Miami a reformar seus sistemas de vigilância. Pagou 160 milhões de dólares em multa e, caso cumpra suas promessas feitas às autoridades federais, estas deixarão os encargos contra o banco em março de 2011.
Esta prática é comum nestes casos e se chama acordo de fiscalização diferida. Por meio dele um banco paga uma multa, coopera com a investigação e se compromete a não violar a lei, mais.
Nenhum empregado recusou a propina
Em sua reportagem a Bloomberg enumera vários outros casos em que bancos pagaram multas e mudaram suas práticas, mas não enfrentaram nenhuma consequência penal importante por suas ações. É o caso da American Express Bank International de Miami, que pagou multas em 1994 e em 2007, do Bank of America, cujas sucursais em Oklahoma City foram utilizadas para comprar aviões para narcotraficantes, bem como as contas em suas sucursais de Atlanta, Chicago e Brownsville, Texas; e também há casos documentados sob investigação sobre o uso de sucursais no México de bancos estrangeiros como o Citigroup, HSBC e Santander.
Outro caso é o do Western Union, que no começo deste ano pagou 94 milhões de dólares para encerrar uma investigação criminal e civil do procurador geral do Arizona, depois que numa operação agentes à paisana da polícia estadual, disfarçados de narcotraficantes, conseguiram subornar, em várias ocasiões, empregados da empresa para trasladar dinheiro de maneira ilícita. Em 20 escritórios diferentes do Western Union, nenhum empregado jamais recusou a propina para permitirem envios de quantias atribuídas a laranjas.
Calcula-se que quase 30 bilhões de dólares em dinheiro vivo se mova de um lado a outro da fronteira mexicana com os Estados Unidos. E uma parte desses recursos é depositada em bancos de ambos os países e em bancos internacionais, a partir dos quais os fundos podem ser trasladados por todo o sistema financeiro internacional.
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Alguns dos principais bancos e financeiras estadunidenses, entre eles Wells Fargo, Bank of América, Citigroup, American Express e Western Union lucraram durante anos com a lavagem de dinheiro oriundo do narcotráfico e só pagam multas mínimas, sem que nenhum executivo seja encarcerado quando as autoridades conseguem detectar o negócio ilícito.
Em múltiplos casos fiscalizados durante os últimos anos, estes bancos estadunidenses confessaram não ter cumprido as leis e regulamentos federais para controlar a lavagem de dinheiro, ao participarem das transferências de bilhões de dólares em fundos ilícitos provenientes do narcotráfico mexicano.
Esse é o caso do Wachovia Corp, antes o sexto banco do país, comprado pelo Wells Fargo em 2008 e agora o banco com mais sucursais nos Estados Unidos. O Wells Fargo admitiu perante um tribunal que o Wachovia não vigiou nem informou sobre as atividades suspeitas de lavagem de dinheiro por narcotraficantes, incluindo quantias para a compra de pelo menos quatro aviões nos Estados Unidos, que transportaram um total de 22 toneladas de cocaína. O outro banco envolvido na transferência de fundos com os quais se comprou um desses aviões – um DC-9 que em seguida foi confiscado no México com toneladas de cocaína – foi o Bank of America, reportou o Bloomberg News.
Tudo isso foi revelado num acordo judicial do banco com procuradores federais, em março de 2010. Nos documentos judiciais do caso lidos pelo La Jornada, Wachovia admitiu que não fez o suficiente para detectar fundos ilícitos sob sua administração, na casa de mais de 378,4 bilhões de dólares, em seus negócios com casas de câmbio mexicanas, entre maio de 2004 e maio de 2007.
Desse total, Wachovia processou ao menos 373,6 bilhões em transferências eletrônicas, mais 4,7 bilhões em traslados de dinheiro em espécie e outros 47 bilhões em depósitos de cheques internacionais. Nem todos esses fundos estão vinculados ao narcotráfico, mas segundo as investigações do Departamento de Justiça bilhões não foram sujeitos à fiscalização exigida pela lei, e centenas de bilhões de dólares desses fundos estavam diretamente ligados ao narcotráfico.
Wachovia, violação recorde
Pelo volume total de fundos que não estiveram sujeitos à fiscalização antilavagem de dinheiro, o caso do Wachovia se tornou a maior violação da Lei de Sigilo Bancário na história. Essa lei obriga os bancos a reportarem às autoridades toda transferência de fundos em espécie em valores acima de 10 mil dólares, assim como a informar sobre atividade suspeita de lavagem de dinheiro.
O procurador federal no caso, Jeffrey Sloman, declarou em março, ao anunciar o acordo com Wells Fargo: “A desatenção flagrante de nossas leis bancárias por Wachovia permitiu uma virtual carta branca aos cartéis internacionais de cocaína para financiar suas operações, ao lavarem ao menos 110 milhões de dólares em lucros com a droga”.
Não é que ninguém tenha notado. O próprio banco admitiu perante o Tribunal que já desde 2004 o Wachovia reconheceu o risco. Mas apesar das advertências permaneceu no negócio, segundo os documentos lidos por La Jornada.
Esse negócio era a administração e traslado de fundos de pelo menos 22 casas de câmbio no México que tinham contas no Wachovia. Um exemplo citado nos documentos é o da Casa de Câmbio Puebla S/A, cujos gerentes criaram empresas fictícias para os cartéis e, segundo o Departamento de Justiça, conseguiram lavar uns 720 milhões de dólares, por meio de bancos estadunidenses.
De fato, foi o caso da Casa de Câmbio Puebla que detonou esta investigação das autoridades federais. Desde 2005 algunas transferências de fundos do Wachovia já estavam sob investigação, em suas sucursais em Miami, a partir do México, por meio de casas de câmbio, e estes fundos eram utilizados para comprar aviões destinados ao narcotráfico, informam os documentos judiciais do caso.
Por outro lado, durante esse período o diretor da unidade antilavagem de dinheiro de Wachovia em Londres, Martin Woods, suspeitava que narcotraficantes utilizavam o banco para mover quantias. Ele informou a seus chefes, que lhe ordenaram a deixar o assunto de lado, e por isso renunciou ao seu postos reportou a Bloomberg. Woods disse a essa agência que “é a lavagem de dinheiro dos cartéis pelos bancos que financia a tragédia...Se não se vê a correlação entre a lavagem de dinheiro pelos bancos e as 22 mil pessoas assassinadas no México não se entende o que está em jogo”.
Depois de ser acusado de violar a lei, Wells Fargo, agora dono do Wachovia, comprometeu-se num tribunal federal de Miami a reformar seus sistemas de vigilância. Pagou 160 milhões de dólares em multa e, caso cumpra suas promessas feitas às autoridades federais, estas deixarão os encargos contra o banco em março de 2011.
Esta prática é comum nestes casos e se chama acordo de fiscalização diferida. Por meio dele um banco paga uma multa, coopera com a investigação e se compromete a não violar a lei, mais.
Nenhum empregado recusou a propina
Em sua reportagem a Bloomberg enumera vários outros casos em que bancos pagaram multas e mudaram suas práticas, mas não enfrentaram nenhuma consequência penal importante por suas ações. É o caso da American Express Bank International de Miami, que pagou multas em 1994 e em 2007, do Bank of America, cujas sucursais em Oklahoma City foram utilizadas para comprar aviões para narcotraficantes, bem como as contas em suas sucursais de Atlanta, Chicago e Brownsville, Texas; e também há casos documentados sob investigação sobre o uso de sucursais no México de bancos estrangeiros como o Citigroup, HSBC e Santander.
Outro caso é o do Western Union, que no começo deste ano pagou 94 milhões de dólares para encerrar uma investigação criminal e civil do procurador geral do Arizona, depois que numa operação agentes à paisana da polícia estadual, disfarçados de narcotraficantes, conseguiram subornar, em várias ocasiões, empregados da empresa para trasladar dinheiro de maneira ilícita. Em 20 escritórios diferentes do Western Union, nenhum empregado jamais recusou a propina para permitirem envios de quantias atribuídas a laranjas.
Calcula-se que quase 30 bilhões de dólares em dinheiro vivo se mova de um lado a outro da fronteira mexicana com os Estados Unidos. E uma parte desses recursos é depositada em bancos de ambos os países e em bancos internacionais, a partir dos quais os fundos podem ser trasladados por todo o sistema financeiro internacional.
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Os neojornalistas estão chegando
Reproduzo artigo de Muniz Sodré, publicado no Observatório da Imprensa:
Em sua coluna semanal do Globo (20/6/2010), Caetano Veloso comentava sobre um amigo jornalista para quem o convite feito a celebridades para escrever em jornais é uma tentativa furada de enfrentar a crise da palavra impressa no mercado. O jornalista estaria "sentindo saudades de um suposto tempo em que jornais eram feitos por jornalistas".
Assim, de um jeito muito casual, o ator-compositor-escritor – personagem ativo na vida pública brasileira e agora colunista de jornal – pôs em poucas palavras um aspecto candente da crise do jornalismo. Mas seu adjetivo "suposto" vai ainda mais além, ao insinuar que apenas teria havido um tempo em que jornais eram feitos por jornalistas.
Na realidade, há muito tempo os jornais são feitos por um tipo de profissional a que se convencionou chamar de jornalista. Não que outro tipo de identidade autoral não pudesse ser reivindicada na produção do conteúdo jornalístico (cronistas e articulistas, principalmente), mas a modernização da velha "publicística" consolidou-se como "jornalismo", com um agente de produção específico, embora ficando sempre claro que essa profissionalização era tão só uma das várias atividades no interior da esfera pública.
Liberdade de expressão
Nunca foi pacífica a consolidação dessa atividade, assim como nunca foi homogêneo o seu percurso prestigioso do jornalismo na Europa: houve períodos em que o jornal diário não gozava da boa consideração que mais tarde lhe veio atribuir o espírito liberal. Enquanto Friedrich Hegel (1770-1831) pôde ver na leitura matinal dos jornais "a prece do homem moderno", Honoré de Balzac (1799-1850) mostrou-se abertamente cáustico para com essa ela – "se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la" –, embora assumisse paradoxalmente a condição de panfletário: "O verdadeiro panfleto é obra do mais alto talento, se todavia não for o grito do gênio."
Mas as contradições e os confrontos se davam sempre no interior de um movimento histórico de esclarecimento da cidadania e de luta pela liberdade de expressão. Num livro recente (A Narração do Fato, Editora Vozes), reiteramos longamente que até mesmo em seus instantes panfletários ou em seus manifestos típicos do publicismo (o jornal artesanalmente produzido, mas politicamente definido como tribune aggrandie, na formulação de Benjamin Constant), a imprensa queria de algum modo esclarecer um público, ora trazendo à luz o que se ocultava nos desvãos do poder como "segredos de Estado", ora tentando fazer passar uma ideia ou uma causa como indutoras de modernização e progresso.
Jornais e jornalistas não são meras e episódicas categorias editoriais, mas instrumentos ideológicos na luta pela consolidação ideológica de uma classe social em sua definitiva emergência histórica, a classe burguesa. Emergindo na passagem do Estado absoluto ao Estado de direito, como porta-voz dos direitos (civis) que inauguram a modernidade da cidadania, a imprensa traz consigo a novidade da liberdade de expressão e mais, toda uma retórica a serviço da legitimação ideológica de si mesma e, numa dimensão prático-profissional, a serviço da narração fragmentária da atualidade.
Apuradores de fatos e ficcionistas
Assim, perpassada pelo compromisso histórico para com a ética do liberalismo, a ideologia jornalística nos repete há dois séculos, por um lado, que cabe à imprensa assegurar ao cidadão a representatividade de sua palavra, de seus pensamentos particulares, garantindo a sua liberdade civil de exprimir-se publicamente. Esta função, que é a virtude intrínseca do jornalismo, lastreia eticamente o pacto comercial implícito na relação entre os meios de comunicação e a sua comunidade receptora. Seja no suporte escrito ou eletrônico, o dever do jornalista para com o público-leitor é noticiar uma verdade, reconhecida como tal pelo senso comum, desde que o enunciado corresponda a um fato, selecionado por regras hierárquicas de importância. A profissionalização específica consolidou-se dentro desse contexto.
Mas as coisas vêm mudando, e aceleradamente. Já não é nenhuma novidade dizer que a era eletrônica, com a internet à frente, pôs em crise a identidade corporativa do profissional de imprensa. Blogs e twitters estão aí para demonstrar que qualquer indivíduo, munido de computador e devidamente "antenado", é, no mínimo, um "protojornalista", isto é, uma fonte de informação ou de opinião conversível em discurso social. O jornalismo sempre implicou essa condição: uma voz reconhecida como discurso social por se investir da autoridade de um testemunho (histor, em grego) quanto ao fato social, ainda que o testemunho fosse indireto.
Sabemos dos percalços históricos para o reconhecimento social desse discurso – a longa transformação do publicismo opinativo e panfletário em jornalismo como comunicação supostamente objetiva e imparcial dos fatos. E como essa função social sempre conviveu com o espírito literário (escritores-jornalistas, cronistas etc.), os jornais abrigavam tradicionalmente intelectuais oriundos do mundo das Letras ou da Academia stricto sensu. Nas redações, os apuradores de fatos sempre estiveram lado a lado com ficcionistas e cultores do encantamento retórico. O termo "jornalismo" recobre semanticamente essa cumplicidade.
A migração do besteirol
Algo mudou, entretanto, como já salientamos, e o mal-estar de agora não é apenas semântico. É isso o que deixa transparecer, quase como um sintoma, a frase do compositor-colunista sobre o "tempo em que jornal era feito por jornalista". Então não é mais? Ainda é, sim, basta fazer o cômputo corporativo. Mas o sensível compositor intui que tempo é algo que também se compõe, como as notas na partitura. Isto é, há um tempo que se inventa ou que se constrói socialmente.
A frase caetana sinaliza um tempo em gestação, em que a identidade corporativa do profissional de imprensa vem sendo fortemente abalada por uma série de fatores. Há o fator tecnológico, a internet. Mas há também, especialmente aqui entre nós, um novo tipo de reconhecimento do entertainer (músico, ator, compositor, cantor etc.) como intelectual com voz socialmente autorizada como pública. É esta, muito provavelmente, a razão para o recrutamento desses entertainers como colunistas em jornais do Rio e São Paulo.
Ainda é cedo para saber se o leitor vai sair ganhando alguma coisa com isso, algo intelectualmente mais elevado ou mais tocado por discursos de alta comunicabilidade. Os resultados de uma primeira avaliação não se mostram ainda muito promissores. Quanto maior o grau de celebrização do entertainer, menor, ao que tudo indica, seu compromisso com a clareza ou com a determinação objetiva de alguma coisa. É possível que isso não tenha mais nenhuma importância ou que importe mais a imagem valorizada do que a validade histórica dos enunciados.
Colada à celebridade midiática, a imagem é viral e, em sua progressão metastática, relativiza a semântica e o sentido. No contexto de massa (sim, massa ainda é conceito operativo, com interatividade cibernética e tudo), vale pouco o que se diz, vale muito quem diz.
A censura implícita nas ações de danos morais – estas mesmas que fazem o modismo judiciário do final do último século para cá e que perturbam o trânsito da expressão pública – nos impede de dar nome aos bois.
Charme pessoal à parte, multiplicam-se os indícios de que o besteirol possa estar migrando das ribaltas para o jornal.
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Em sua coluna semanal do Globo (20/6/2010), Caetano Veloso comentava sobre um amigo jornalista para quem o convite feito a celebridades para escrever em jornais é uma tentativa furada de enfrentar a crise da palavra impressa no mercado. O jornalista estaria "sentindo saudades de um suposto tempo em que jornais eram feitos por jornalistas".
Assim, de um jeito muito casual, o ator-compositor-escritor – personagem ativo na vida pública brasileira e agora colunista de jornal – pôs em poucas palavras um aspecto candente da crise do jornalismo. Mas seu adjetivo "suposto" vai ainda mais além, ao insinuar que apenas teria havido um tempo em que jornais eram feitos por jornalistas.
Na realidade, há muito tempo os jornais são feitos por um tipo de profissional a que se convencionou chamar de jornalista. Não que outro tipo de identidade autoral não pudesse ser reivindicada na produção do conteúdo jornalístico (cronistas e articulistas, principalmente), mas a modernização da velha "publicística" consolidou-se como "jornalismo", com um agente de produção específico, embora ficando sempre claro que essa profissionalização era tão só uma das várias atividades no interior da esfera pública.
Liberdade de expressão
Nunca foi pacífica a consolidação dessa atividade, assim como nunca foi homogêneo o seu percurso prestigioso do jornalismo na Europa: houve períodos em que o jornal diário não gozava da boa consideração que mais tarde lhe veio atribuir o espírito liberal. Enquanto Friedrich Hegel (1770-1831) pôde ver na leitura matinal dos jornais "a prece do homem moderno", Honoré de Balzac (1799-1850) mostrou-se abertamente cáustico para com essa ela – "se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la" –, embora assumisse paradoxalmente a condição de panfletário: "O verdadeiro panfleto é obra do mais alto talento, se todavia não for o grito do gênio."
Mas as contradições e os confrontos se davam sempre no interior de um movimento histórico de esclarecimento da cidadania e de luta pela liberdade de expressão. Num livro recente (A Narração do Fato, Editora Vozes), reiteramos longamente que até mesmo em seus instantes panfletários ou em seus manifestos típicos do publicismo (o jornal artesanalmente produzido, mas politicamente definido como tribune aggrandie, na formulação de Benjamin Constant), a imprensa queria de algum modo esclarecer um público, ora trazendo à luz o que se ocultava nos desvãos do poder como "segredos de Estado", ora tentando fazer passar uma ideia ou uma causa como indutoras de modernização e progresso.
Jornais e jornalistas não são meras e episódicas categorias editoriais, mas instrumentos ideológicos na luta pela consolidação ideológica de uma classe social em sua definitiva emergência histórica, a classe burguesa. Emergindo na passagem do Estado absoluto ao Estado de direito, como porta-voz dos direitos (civis) que inauguram a modernidade da cidadania, a imprensa traz consigo a novidade da liberdade de expressão e mais, toda uma retórica a serviço da legitimação ideológica de si mesma e, numa dimensão prático-profissional, a serviço da narração fragmentária da atualidade.
Apuradores de fatos e ficcionistas
Assim, perpassada pelo compromisso histórico para com a ética do liberalismo, a ideologia jornalística nos repete há dois séculos, por um lado, que cabe à imprensa assegurar ao cidadão a representatividade de sua palavra, de seus pensamentos particulares, garantindo a sua liberdade civil de exprimir-se publicamente. Esta função, que é a virtude intrínseca do jornalismo, lastreia eticamente o pacto comercial implícito na relação entre os meios de comunicação e a sua comunidade receptora. Seja no suporte escrito ou eletrônico, o dever do jornalista para com o público-leitor é noticiar uma verdade, reconhecida como tal pelo senso comum, desde que o enunciado corresponda a um fato, selecionado por regras hierárquicas de importância. A profissionalização específica consolidou-se dentro desse contexto.
Mas as coisas vêm mudando, e aceleradamente. Já não é nenhuma novidade dizer que a era eletrônica, com a internet à frente, pôs em crise a identidade corporativa do profissional de imprensa. Blogs e twitters estão aí para demonstrar que qualquer indivíduo, munido de computador e devidamente "antenado", é, no mínimo, um "protojornalista", isto é, uma fonte de informação ou de opinião conversível em discurso social. O jornalismo sempre implicou essa condição: uma voz reconhecida como discurso social por se investir da autoridade de um testemunho (histor, em grego) quanto ao fato social, ainda que o testemunho fosse indireto.
Sabemos dos percalços históricos para o reconhecimento social desse discurso – a longa transformação do publicismo opinativo e panfletário em jornalismo como comunicação supostamente objetiva e imparcial dos fatos. E como essa função social sempre conviveu com o espírito literário (escritores-jornalistas, cronistas etc.), os jornais abrigavam tradicionalmente intelectuais oriundos do mundo das Letras ou da Academia stricto sensu. Nas redações, os apuradores de fatos sempre estiveram lado a lado com ficcionistas e cultores do encantamento retórico. O termo "jornalismo" recobre semanticamente essa cumplicidade.
A migração do besteirol
Algo mudou, entretanto, como já salientamos, e o mal-estar de agora não é apenas semântico. É isso o que deixa transparecer, quase como um sintoma, a frase do compositor-colunista sobre o "tempo em que jornal era feito por jornalista". Então não é mais? Ainda é, sim, basta fazer o cômputo corporativo. Mas o sensível compositor intui que tempo é algo que também se compõe, como as notas na partitura. Isto é, há um tempo que se inventa ou que se constrói socialmente.
A frase caetana sinaliza um tempo em gestação, em que a identidade corporativa do profissional de imprensa vem sendo fortemente abalada por uma série de fatores. Há o fator tecnológico, a internet. Mas há também, especialmente aqui entre nós, um novo tipo de reconhecimento do entertainer (músico, ator, compositor, cantor etc.) como intelectual com voz socialmente autorizada como pública. É esta, muito provavelmente, a razão para o recrutamento desses entertainers como colunistas em jornais do Rio e São Paulo.
Ainda é cedo para saber se o leitor vai sair ganhando alguma coisa com isso, algo intelectualmente mais elevado ou mais tocado por discursos de alta comunicabilidade. Os resultados de uma primeira avaliação não se mostram ainda muito promissores. Quanto maior o grau de celebrização do entertainer, menor, ao que tudo indica, seu compromisso com a clareza ou com a determinação objetiva de alguma coisa. É possível que isso não tenha mais nenhuma importância ou que importe mais a imagem valorizada do que a validade histórica dos enunciados.
Colada à celebridade midiática, a imagem é viral e, em sua progressão metastática, relativiza a semântica e o sentido. No contexto de massa (sim, massa ainda é conceito operativo, com interatividade cibernética e tudo), vale pouco o que se diz, vale muito quem diz.
A censura implícita nas ações de danos morais – estas mesmas que fazem o modismo judiciário do final do último século para cá e que perturbam o trânsito da expressão pública – nos impede de dar nome aos bois.
Charme pessoal à parte, multiplicam-se os indícios de que o besteirol possa estar migrando das ribaltas para o jornal.
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São Paulo regride ao velho agrarismo
Reproduzo artigo de Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicado no sítio Adital:
A estabilidade monetária alcançada a partir do Plano Real, em 1994, abriu nova perspectiva para que o estado de São Paulo voltasse a protagonizar novo ciclo de expansão econômica e social, já que respondia por quase 37% da população ocupada não pobre do país.
Para isso, contudo, deveria impulsionar, em bases inovadoras, a sua estrutura produtiva, especialmente industrial, com a finalidade de potencializar o avanço das fontes contemporâneas de riqueza, cada vez mais presentes no interior do setor terciário da economia.
Esse processo de modernização constituiria peça fundamental na promoção e difusão do conhecimento, ou seja, a educação, as tecnologias de informação e comunicação e o trabalho imaterial como o esteio central da geração da riqueza e do bem-estar social.
Paralelamente, o esforço governamental voltado à expansão e integração da infraestrutura urbana e social poderia estimular decisivamente a economia de serviços para o crescente atendimento da demanda interna e externa. As decisões governamentais que poderiam operar como faróis a iluminar o futuro foram sendo transformadas em lanternas de freio a clarear o passado.
Pelas informações geradas pelo IBGE para a contabilidade dos estados brasileiros, verifica-se o retrocesso paulista na fase recente da estabilidade monetária alcançada pelo país. O setor industrial paulista regrediu de 43% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional em 1996 para menos de 35% em 2007.
No mesmo sentido, o setor da construção civil teve sua participação relativa diminuída de 37% para 27% no mesmo período de tempo, assim como no caso do setor produtor e distribuidor de eletricidade e gás, de água e esgoto e de limpeza (de 45% para 27%); do comércio (de 41% para 33%); da administração pública (de 21% para 19%); e de serviços (de 35% para 34%).
Apesar dessas quedas relativas na participação econômica do Estado de São Paulo na produção nacional, percebe-se que houve crescimento do peso paulista em outros setores, não necessariamente estimulantes em termos da construção exitosa do seu futuro.
O setor da agropecuária ampliou sua participação de 8,6%, em 1996, para 11,7%, em 2007, e o de intermediação financeira teve ampliação de 49,9% para 51,4% no mesmo período de tempo. Mesmo reconhecendo a importância dos setores agropecuários e financeiros, sabe-se que eles não são suficientes para contribuir decisivamente na construção de uma sociedade superior.
O que se verifica, inclusive, são sinais de decadência, com a queda da importância relativa de São Paulo na economia nacional, de quase 36% em 1996 para 33% em 2007, e a queda da importância paulista no conjunto da população brasileira não pobre, de 37% para menos de 32%. Ademais, observa-se que as escolhas governamentais mais recentes apostam mais no passado do que no futuro.
Em geral, a trajetória do desenvolvimento capitalista tem sido a evolução da sociedade agrária para a sociedade urbano-industrial, e desta para a pós-industrial. No caso paulista, entretanto, constata-se a sinalização de interrupção na passagem da sociedade industrial para o pós-industrial, com importante retorno ao velho agrarismo.
O setor agropecuário gera riqueza empregando cada vez menos mão de obra, enquanto a intermediação financeira opera com crescente tecnologia de informação poupadora de força de trabalho, o que compromete o futuro de inclusão e coesão social paulista.
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A estabilidade monetária alcançada a partir do Plano Real, em 1994, abriu nova perspectiva para que o estado de São Paulo voltasse a protagonizar novo ciclo de expansão econômica e social, já que respondia por quase 37% da população ocupada não pobre do país.
Para isso, contudo, deveria impulsionar, em bases inovadoras, a sua estrutura produtiva, especialmente industrial, com a finalidade de potencializar o avanço das fontes contemporâneas de riqueza, cada vez mais presentes no interior do setor terciário da economia.
Esse processo de modernização constituiria peça fundamental na promoção e difusão do conhecimento, ou seja, a educação, as tecnologias de informação e comunicação e o trabalho imaterial como o esteio central da geração da riqueza e do bem-estar social.
Paralelamente, o esforço governamental voltado à expansão e integração da infraestrutura urbana e social poderia estimular decisivamente a economia de serviços para o crescente atendimento da demanda interna e externa. As decisões governamentais que poderiam operar como faróis a iluminar o futuro foram sendo transformadas em lanternas de freio a clarear o passado.
Pelas informações geradas pelo IBGE para a contabilidade dos estados brasileiros, verifica-se o retrocesso paulista na fase recente da estabilidade monetária alcançada pelo país. O setor industrial paulista regrediu de 43% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional em 1996 para menos de 35% em 2007.
No mesmo sentido, o setor da construção civil teve sua participação relativa diminuída de 37% para 27% no mesmo período de tempo, assim como no caso do setor produtor e distribuidor de eletricidade e gás, de água e esgoto e de limpeza (de 45% para 27%); do comércio (de 41% para 33%); da administração pública (de 21% para 19%); e de serviços (de 35% para 34%).
Apesar dessas quedas relativas na participação econômica do Estado de São Paulo na produção nacional, percebe-se que houve crescimento do peso paulista em outros setores, não necessariamente estimulantes em termos da construção exitosa do seu futuro.
O setor da agropecuária ampliou sua participação de 8,6%, em 1996, para 11,7%, em 2007, e o de intermediação financeira teve ampliação de 49,9% para 51,4% no mesmo período de tempo. Mesmo reconhecendo a importância dos setores agropecuários e financeiros, sabe-se que eles não são suficientes para contribuir decisivamente na construção de uma sociedade superior.
O que se verifica, inclusive, são sinais de decadência, com a queda da importância relativa de São Paulo na economia nacional, de quase 36% em 1996 para 33% em 2007, e a queda da importância paulista no conjunto da população brasileira não pobre, de 37% para menos de 32%. Ademais, observa-se que as escolhas governamentais mais recentes apostam mais no passado do que no futuro.
Em geral, a trajetória do desenvolvimento capitalista tem sido a evolução da sociedade agrária para a sociedade urbano-industrial, e desta para a pós-industrial. No caso paulista, entretanto, constata-se a sinalização de interrupção na passagem da sociedade industrial para o pós-industrial, com importante retorno ao velho agrarismo.
O setor agropecuário gera riqueza empregando cada vez menos mão de obra, enquanto a intermediação financeira opera com crescente tecnologia de informação poupadora de força de trabalho, o que compromete o futuro de inclusão e coesão social paulista.
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Um vice improvisado para José Serra
Reproduzo editorial do sítio Vermelho:
A novela do vice do candidato oposicionista José Serra (PSDB) chegou ao fim dando a nítida impressão de improvisação e falta de alternativa. A tentativa tucana de impor uma chapa puro sangue, com o senador paranense Álvaro Dias, foi o estopim da mais recente crise na campanha de Serra, e o DEM quase rachou o núcleo da aliança da direita, formada justamente por estes dois partidos.
Depois de muita conversa entre os cardeais dos dois partidos, a solução saiu com a grife do ex-prefeito carioca Cesar Maia: o desconhecido deputado federal Índio da Costa (DEM-RJ). Foi uma decisão arriscada mas a pergunta é: havia outra? Um sinal claro das dificuldades foi o comentário do jornalista Merval Pereira, que não morre de simpatias por Lula ou Dilma. Em sua coluna em O Globo ele chamou a escolha de "jogada marqueteira" pois a história de Índio Costa "não tem a menor consistência para alçá-lo ao segundo posto mais importante na hierarquia política do país". E, além disso, é suspeito de envolvimento em irregularidades investigadas pela CPI da Merenda Escolar da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.
Por uns minutinhos a mais na televisão, o PSDB e José Serra renderam-se às imposições do DEM, partido que vive um declínio acelerado (carcomindo, como se dizia antigamente). E que precisa de um cargo visível, como a vice-presidência da República, para tentar uma sobrevida disfarçado de "novo", "força jovem" e imagens semelhantes. É preciso saber se os políticos de sua base, os muitos prefeitos que ainda controlam pelo país afora, vão aderir ao arranjo feito em hotéis de luxo de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, ou seguir seu lendário instinto de sobrevivência política, deixando a coligação nacional demo-tucana à deriva.
Além da sensação de improvisação logo no começo oficial da campanha eleitoral, José Serra vai também deixando às claras sua cara e seu programa. Na sabatina de quinta feira (dia 1), no templo dos latifundiários, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), ele atacou o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) com as garras dos conservadores e da direita. É movimento "que se diz de reforma agrária para na verdade usar a ideia da reforma agrária para uma mudança de natureza revolucionária socialista no Brasil", disse.
Palavras que soaram docemente, com certeza, aos ouvidos atentos daqueles que estavam no auditório da entidade dirigida pela senadora Katia Abreu (DEM-GO) e que reúne a nata dos grandes monopolistas da propriedade da terra.
Pois é, com um vice que conheceu durante o jogo do Brasil contra a Coréia do Norte, e com o qual acumula apenas uns quinze minutos de conversa, e investindo contra um movimento social como o MST, Serra está mesmo em dificuldades, agravadas pelas sucessivas pesquisas de opinião que revelam uma perda de consistência de sua candidatura inimaginável há poucas semanas.
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A novela do vice do candidato oposicionista José Serra (PSDB) chegou ao fim dando a nítida impressão de improvisação e falta de alternativa. A tentativa tucana de impor uma chapa puro sangue, com o senador paranense Álvaro Dias, foi o estopim da mais recente crise na campanha de Serra, e o DEM quase rachou o núcleo da aliança da direita, formada justamente por estes dois partidos.
Depois de muita conversa entre os cardeais dos dois partidos, a solução saiu com a grife do ex-prefeito carioca Cesar Maia: o desconhecido deputado federal Índio da Costa (DEM-RJ). Foi uma decisão arriscada mas a pergunta é: havia outra? Um sinal claro das dificuldades foi o comentário do jornalista Merval Pereira, que não morre de simpatias por Lula ou Dilma. Em sua coluna em O Globo ele chamou a escolha de "jogada marqueteira" pois a história de Índio Costa "não tem a menor consistência para alçá-lo ao segundo posto mais importante na hierarquia política do país". E, além disso, é suspeito de envolvimento em irregularidades investigadas pela CPI da Merenda Escolar da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.
Por uns minutinhos a mais na televisão, o PSDB e José Serra renderam-se às imposições do DEM, partido que vive um declínio acelerado (carcomindo, como se dizia antigamente). E que precisa de um cargo visível, como a vice-presidência da República, para tentar uma sobrevida disfarçado de "novo", "força jovem" e imagens semelhantes. É preciso saber se os políticos de sua base, os muitos prefeitos que ainda controlam pelo país afora, vão aderir ao arranjo feito em hotéis de luxo de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, ou seguir seu lendário instinto de sobrevivência política, deixando a coligação nacional demo-tucana à deriva.
Além da sensação de improvisação logo no começo oficial da campanha eleitoral, José Serra vai também deixando às claras sua cara e seu programa. Na sabatina de quinta feira (dia 1), no templo dos latifundiários, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), ele atacou o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) com as garras dos conservadores e da direita. É movimento "que se diz de reforma agrária para na verdade usar a ideia da reforma agrária para uma mudança de natureza revolucionária socialista no Brasil", disse.
Palavras que soaram docemente, com certeza, aos ouvidos atentos daqueles que estavam no auditório da entidade dirigida pela senadora Katia Abreu (DEM-GO) e que reúne a nata dos grandes monopolistas da propriedade da terra.
Pois é, com um vice que conheceu durante o jogo do Brasil contra a Coréia do Norte, e com o qual acumula apenas uns quinze minutos de conversa, e investindo contra um movimento social como o MST, Serra está mesmo em dificuldades, agravadas pelas sucessivas pesquisas de opinião que revelam uma perda de consistência de sua candidatura inimaginável há poucas semanas.
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sábado, 3 de julho de 2010
Natureza do caos na campanha de Serra
Reproduzo editorial do sítio Carta Maior:
Do jeito que a coisa vai, a candidatura de José Serra (PSDB) à presidência da República não precisa de adversários. O fogo amigo, as indecisões e trapalhadas que se avolumaram nos últimos dias estão atingindo a fronteira do surreal. O episódio da escolha do vice na chapa de Serra já ingressou nas páginas do anedotário da política nacional. Quem achava que já tinha visto tudo com as reações iradas de aliados de Serra contra a escolha de Álvaro Dias (PSDB-PR) deve ter ficado sem ar nesta quarta-feira com o anúncio de que o deputado paranaense não seria mais o candidato a vice, mas sim o deputado Índio da Costa (DEM-RJ). Quem? – foi uma pergunta muito repetida logo após o anúncio do nome. Logo começaram a surgir informações sobre o vice de Serra.
E, nova surpresa, as mais duras críticas vieram da vereadora Andréa Gouvêa Vieira (PSDB-RJ), que detonou a indicação do deputado do DEM para a chapa presidencial de Serra. Ex-colega de Índio da Costa na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Andréa Gouvêa resumiu: escolheram um “ficha suja” para ser vice de Serra. A vereadora foi relatora de uma CPI na Câmara do Rio que investigou irregularidades nos contratos de merenda escolar na cidade na época em que Índio ocupou a Secretaria de Administração (2001-2006). No relatório da CPI, Andréa Gouvêa apontou indícios de formação de cartel e de direcionamento de licitação e pediu a quebra do sigilo fiscal dos envolvidos ao Ministério Público Estadual. “O que eu penso do candidato Índio da Costa está refletido neste relatório da CPI. Houve direcionamento no resultado da merenda escolar. A conduta dele não é uma conduta de Ficha Limpa”.
Mas os problemas envolvendo a composição da chapa de José Serra não se resumem à biografia política do deputado Índio da Costa. A lambança ocorrida nos últimos dias foi mais um capítulo na acidentada trajetória do candidato que afirma ter se preparado a vida inteira para ser presidente da República. A julgar pelos últimos acontecimentos envolvendo sua campanha, essa preparação parece estar repleta de lacunas. Não é só o fato de que Serra tenha declarado publicamente que desejava ter ao seu lado na chapa o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e, após uma indicação atropelada de Álvaro Dias, rechaçada pelo DEM, tenha se contentado com o nome de um deputado desconhecido no cenário nacional e contestado no cenário estadual do Rio. A questão mais importante aqui não reside nos nomes, mas sim no método de escolha de um nome para o segundo cargo político mais importante do país e na qualidade da articulação política. E tanto o método quanto a qualidade da articulação foram marcados pela falta de preparo, pela truculência e pelo desrespeito aos próprios aliados. Essas não são exatamente virtudes de alguém que se preparou a vida inteira para a presidência da República.
É sintomático que algumas das declarações mais duras dirigidas ao ex-governador paulista tenham partido de aliados seus. “O poder do Serra de desorganizar as coisas é fora do comum. O Álvaro Dias não acrescenta nada e desagrega muito”, escreveu o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO) no twitter, logo após ter ficado sabendo, pela imprensa, da indicação de Dias para ser vice de Serra. “O DEM não poderia saber da indicação do vice pela imprensa. Que tipo de parceria é esta?”, acrescentou o deputado Felipe Maia (DEM-RN). Fiel ao seu estilo,o ex-deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, respondeu, também pelo twitter: “O DEM é uma merda”. Em meio a esse tiroteio, a campanha de Serra sofreu outro revés. No dia 30 de junho, o Partido Social Cristão (PSC) rompeu o acordo que havi feito com o PSDB e anunciou o apoio formal à candidatura da petista Dilma Rousseff á presidência da República. A direção do PSC apontou duas razões para a mudança: a posição da maioria dos deputados pró-Dilma e o fato de que o nome do partido ofertado para ser vice de Serra, o senador Mão Santa, sequer ter sido levado em consideração pelo candidato.
A truculência apontada pelos próprios aliados do PSDB na condução da campanha de Serra talvez não seja meramente um traço de personalidade individual e/ou institucional. A fulanização e a cultura do espetáculo e da fofoca que caracterizam boa parte da cobertura política na imprensa brasileira ocultam um fato que teima em ficar aparecendo: há algo chamado programa ou agenda política envolvido em uma campanha eleitoral. No caso da eleição presidencial brasileira, há, em linhas gerais, dois projetos em disputa. O projeto do atual governo, que conta com mais de 75% de aprovação popular, segundo as últimas pesquisas. E o projeto da oposição capitaneada pelo PSDB que representa o retorno ao projeto implementado durante os dois governos FHC. O desempenho presente do atual governo e as comparações com os números daquele período são amplamente desfavoráveis ao candidato Serra, razão pela qual ele procura fugir dessa recordação. Mas, ao fazer isso, o tucano e seus aliados ficam sem referência programática visível. Essa ausência ajuda a explicar um pouco o caos que marcou a campanha serrista nos últimos dias.
Não se trata exatamente de ausência de programa. Serra e o PSDB têm um programa político e ele pode ser visto na maneira como governam estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Serra e o PSDB têm uma visão de política externa e ela pode ser vista nas declarações do candidato contra o Mercosul, contra a Bolívia e em defesa da retomada da idéia da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) com os Estados Unidos. O discurso do PSDB propondo o corte de gastos públicos também aponta para uma agenda que é aquela que vem sendo imposta agora pelo FMI a diversos países europeus. No entanto, diante do êxito das políticas do governo Lula, interna e externamente, não há espaço político para que Serra defenda essas idéias de claro e transparente. Essa é uma das causas políticas reais das incríveis dificuldades políticas da candidatura tucana. Falta espaço de debate político, sobra truculência e desencontro.
Esse cenário, obviamente, favorece a candidatura de Dilma Rousseff, que já ultrapassou Serra nas pesquisas e abriu uma vantagem de cinco pontos. A principal vantagem de Dilma, na verdade, é a existência de um programa ancorado em políticas que vem sendo implementadas (e aprovadas) pela população. Do outro lado, o que Serra está oferecendo? Até aqui a promessa de que se preparou a vida inteira para ser presidente e uma sucessão de trapalhadas na condução da própria campanha. Considerando esse contexto, a candidatura Dilma parece ter dois potenciais adversários principais: a soberba, acreditar que a eleição já está ganha e passar a cometer erros em função disso; uma possível truculência do campo adversário que, diante deste quadro desfavorável e do desejo expresso do candidato (“Agora, trata-se, sobretudo, de vencer”, repete Serra), pode partir para o vale-tudo, deixando definitivamente a política de lado.
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Do jeito que a coisa vai, a candidatura de José Serra (PSDB) à presidência da República não precisa de adversários. O fogo amigo, as indecisões e trapalhadas que se avolumaram nos últimos dias estão atingindo a fronteira do surreal. O episódio da escolha do vice na chapa de Serra já ingressou nas páginas do anedotário da política nacional. Quem achava que já tinha visto tudo com as reações iradas de aliados de Serra contra a escolha de Álvaro Dias (PSDB-PR) deve ter ficado sem ar nesta quarta-feira com o anúncio de que o deputado paranaense não seria mais o candidato a vice, mas sim o deputado Índio da Costa (DEM-RJ). Quem? – foi uma pergunta muito repetida logo após o anúncio do nome. Logo começaram a surgir informações sobre o vice de Serra.
E, nova surpresa, as mais duras críticas vieram da vereadora Andréa Gouvêa Vieira (PSDB-RJ), que detonou a indicação do deputado do DEM para a chapa presidencial de Serra. Ex-colega de Índio da Costa na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Andréa Gouvêa resumiu: escolheram um “ficha suja” para ser vice de Serra. A vereadora foi relatora de uma CPI na Câmara do Rio que investigou irregularidades nos contratos de merenda escolar na cidade na época em que Índio ocupou a Secretaria de Administração (2001-2006). No relatório da CPI, Andréa Gouvêa apontou indícios de formação de cartel e de direcionamento de licitação e pediu a quebra do sigilo fiscal dos envolvidos ao Ministério Público Estadual. “O que eu penso do candidato Índio da Costa está refletido neste relatório da CPI. Houve direcionamento no resultado da merenda escolar. A conduta dele não é uma conduta de Ficha Limpa”.
Mas os problemas envolvendo a composição da chapa de José Serra não se resumem à biografia política do deputado Índio da Costa. A lambança ocorrida nos últimos dias foi mais um capítulo na acidentada trajetória do candidato que afirma ter se preparado a vida inteira para ser presidente da República. A julgar pelos últimos acontecimentos envolvendo sua campanha, essa preparação parece estar repleta de lacunas. Não é só o fato de que Serra tenha declarado publicamente que desejava ter ao seu lado na chapa o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e, após uma indicação atropelada de Álvaro Dias, rechaçada pelo DEM, tenha se contentado com o nome de um deputado desconhecido no cenário nacional e contestado no cenário estadual do Rio. A questão mais importante aqui não reside nos nomes, mas sim no método de escolha de um nome para o segundo cargo político mais importante do país e na qualidade da articulação política. E tanto o método quanto a qualidade da articulação foram marcados pela falta de preparo, pela truculência e pelo desrespeito aos próprios aliados. Essas não são exatamente virtudes de alguém que se preparou a vida inteira para a presidência da República.
É sintomático que algumas das declarações mais duras dirigidas ao ex-governador paulista tenham partido de aliados seus. “O poder do Serra de desorganizar as coisas é fora do comum. O Álvaro Dias não acrescenta nada e desagrega muito”, escreveu o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO) no twitter, logo após ter ficado sabendo, pela imprensa, da indicação de Dias para ser vice de Serra. “O DEM não poderia saber da indicação do vice pela imprensa. Que tipo de parceria é esta?”, acrescentou o deputado Felipe Maia (DEM-RN). Fiel ao seu estilo,o ex-deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, respondeu, também pelo twitter: “O DEM é uma merda”. Em meio a esse tiroteio, a campanha de Serra sofreu outro revés. No dia 30 de junho, o Partido Social Cristão (PSC) rompeu o acordo que havi feito com o PSDB e anunciou o apoio formal à candidatura da petista Dilma Rousseff á presidência da República. A direção do PSC apontou duas razões para a mudança: a posição da maioria dos deputados pró-Dilma e o fato de que o nome do partido ofertado para ser vice de Serra, o senador Mão Santa, sequer ter sido levado em consideração pelo candidato.
A truculência apontada pelos próprios aliados do PSDB na condução da campanha de Serra talvez não seja meramente um traço de personalidade individual e/ou institucional. A fulanização e a cultura do espetáculo e da fofoca que caracterizam boa parte da cobertura política na imprensa brasileira ocultam um fato que teima em ficar aparecendo: há algo chamado programa ou agenda política envolvido em uma campanha eleitoral. No caso da eleição presidencial brasileira, há, em linhas gerais, dois projetos em disputa. O projeto do atual governo, que conta com mais de 75% de aprovação popular, segundo as últimas pesquisas. E o projeto da oposição capitaneada pelo PSDB que representa o retorno ao projeto implementado durante os dois governos FHC. O desempenho presente do atual governo e as comparações com os números daquele período são amplamente desfavoráveis ao candidato Serra, razão pela qual ele procura fugir dessa recordação. Mas, ao fazer isso, o tucano e seus aliados ficam sem referência programática visível. Essa ausência ajuda a explicar um pouco o caos que marcou a campanha serrista nos últimos dias.
Não se trata exatamente de ausência de programa. Serra e o PSDB têm um programa político e ele pode ser visto na maneira como governam estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Serra e o PSDB têm uma visão de política externa e ela pode ser vista nas declarações do candidato contra o Mercosul, contra a Bolívia e em defesa da retomada da idéia da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) com os Estados Unidos. O discurso do PSDB propondo o corte de gastos públicos também aponta para uma agenda que é aquela que vem sendo imposta agora pelo FMI a diversos países europeus. No entanto, diante do êxito das políticas do governo Lula, interna e externamente, não há espaço político para que Serra defenda essas idéias de claro e transparente. Essa é uma das causas políticas reais das incríveis dificuldades políticas da candidatura tucana. Falta espaço de debate político, sobra truculência e desencontro.
Esse cenário, obviamente, favorece a candidatura de Dilma Rousseff, que já ultrapassou Serra nas pesquisas e abriu uma vantagem de cinco pontos. A principal vantagem de Dilma, na verdade, é a existência de um programa ancorado em políticas que vem sendo implementadas (e aprovadas) pela população. Do outro lado, o que Serra está oferecendo? Até aqui a promessa de que se preparou a vida inteira para ser presidente e uma sucessão de trapalhadas na condução da própria campanha. Considerando esse contexto, a candidatura Dilma parece ter dois potenciais adversários principais: a soberba, acreditar que a eleição já está ganha e passar a cometer erros em função disso; uma possível truculência do campo adversário que, diante deste quadro desfavorável e do desejo expresso do candidato (“Agora, trata-se, sobretudo, de vencer”, repete Serra), pode partir para o vale-tudo, deixando definitivamente a política de lado.
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Espelho distorceu imagem do PSDB
Reproduzo artigo de Maria Inês Nassif, publicado no jornal Valor Econômico:
Um velho amigo jornalista, o José Roberto de Alencar e Silva, resolveu ser setorista de paraíso há uns anos e de forma pouco leal: um cara que nunca teve saúde, convenhamos que não podia simplesmente ter se livrado da pouca que tinha sem preparar muito bem seu séquito de irmãos, irmãos tortos, amigos, ex-mulheres, namoradas, ex-namoradas, que continuam irredutivelmente órfãos dele. Pois bem, Alencar tinha um humor invejável e um texto maravilhoso, usados especialmente quando as situações eram muito ruins.
Para contar histórias de “furos” – fantásticos, inacreditáveis, cujo script era sempre um “causo” comprido de narrador mineiro -, o Zezão escreveu o “Sorte e Arte”. Botava a sorte na frente da arte, para não parecer que se achava com mais arte do que sorte – coisa antipática esta, de achar que você é tão Deus do “furo” que ele chega à sua mão trazido pela sua genialidade, sem que nada se tenha interposto entre ela e o pedaço de papel que vai estar na banca amanhã, e depois de amanhã sabe-se lá que volta vai dar para cumprir uma outra função muito distante daquela de informar distintos leitores que os tempos são bicudos mas que as coisas podem melhorar – ou piorar, vai saber.
Nesses três últimos dias que o DEM e o PSDB se separaram mais uma vez (eles racharam em 2002, lembram-se?) fiquei pensando no Zezão. Será que ele atribuiria o fracasso da aliança do DEM com José Serra à falta de sorte, ou à falta de arte, do próprio Serra, na impossibilidade de atribuir a um jornalista a sorte ou a arte de dar um furo sobre o azar da aliança oposicionista? Acho que, na cabeça do Zé (o meu amigo), a avaliação seria a de que faltou inteligência, tato; sobrou uma certa arrogância; passou pela frente também um espelho daqueles de parque de diversões, que mostra pessoas e coisas muito maiores do que elas são. Se o Zé (o Alencar) não tivesse tido a infeliz ideia de ver se tem alguma notícia relevante no céu, acho que ele iria ficar pasmo com a falta de sorte e a falta de arte dos personagens das notícias aqui do nosso pedaço.
Aqui conversando com o Zé (Alencar, bem entendido), o que mais me intriga é o espelho de aumento. Quando puxaram o tapete do DEM, lançando pelo twitter do Roberto Jefferson (PTB-RJ) – vejam só, do Roberto Jefferson – o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) para vice de Serra, o PSDB agiu como se o DEM não tivesse qualquer opção a não ser estar com ele, em qualquer circunstância. Isto é, que o ex-PFL era tão destituído de sorte e de arte que tinha mesmo era de comer o prato feito, e de sobremesa a observação do miniblog de Jefferson, de que “o DEM é um partido de m…”
Daí, a realidade, que não depende nem de sorte, nem de arte, em algum momento aparece. O DEM elegeu 65 deputados em 2006. O PSDB elegeu 66. Os dois têm direito rigorosamente ao mesmo tempo de propaganda eleitoral gratuita que o outro. O PTB, que agiu com toda a desenvoltura a que está acostumado Jefferson, carrega para a coligação 22 deputados. O tempo de televisão e rádio é proporcional à bancada eleita em 2006. Seria uma arte conseguir, por meio dessa aritmética esquisita onde os 66 do PSDB passaram a valer muito mais do que os 65 do DEM, uma aliança em torno de uma chapa puro sangue com Álvaro Dias, o senador do Paraná cujo irmão, Osmar, é do PDT e vai se coligar com a candidata do PT, Dilma Rousseff. Seria também uma baita sorte. Não foi nem uma coisa, nem outra. Nem azar foi. O espelhão do circo deu ao PSDB uma ideia muito maior do que a que tinha sobre si mesmo. O Serra agiu por impulso. E a candidatura de Dias durou alguma coisa próxima a três dias.
Pois bem, o Zé que infelizmente não está aqui veria também o lado do DEM. Como o espelho deles não os diminuiu; como o partido tem consciência de que ele e o PSDB estão em situações muito ruim (ninguém pode se gabar nem um pouquinho do outro); como não lhes sobrou muita alternativa senão brigar pela vice – e olha, tem gente que nem queria brigar nada, bastava continuar do lado do Serra -, o DEM deu a volta por cima e conseguiu um vice. Sem qualquer uso de sorte ou arte. No grito, simplesmente. Se tivesse feito arte, o resultado teria que ser melhor do que um Índio da Costa (DEM-RJ). Mas daí é pedir muito: é torcer para o dono da bola, José Serra, ser um artista, e para a bola, por pura sorte, ser depositada nos pés do time. É pedir demais.
Ainda mais sabendo que o candidato Serra agiu sem sorte, e sem arte, em 2002, com situações, aliás, tão favoráveis a ele, que um pouquinho de arte teria ajudado muito. No mês de junho de 2002, quando os partidos se preparavam para fazer as convenções que oficializariam os candidatos a presidente, Serra foi o alvo de uma campanha de correligionários, destinada a tirá-lo da disputa. Os fiéis aliados do mercado financeiro e do mundo da economia, que vinham de uma lua de mel com Fernando Henrique Cardoso, armaram um “balão de ensaio” para tirá-lo do páreo. O balão é um boato que você espalha na mídia para ver se cola junto ao eleitor e junto ao partido. Se colar, vira fato. Serra, que já havia passado por cima de uma candidatura do então PFL, a de Roseana Sarney (MA), e comprado uma briga feia com Tasso Jereissati para ser o candidato de seu partido à Presidência, bancou sua pretensão. O balão furou. Sem nenhuma sorte, e sem nenhuma arte.
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Um velho amigo jornalista, o José Roberto de Alencar e Silva, resolveu ser setorista de paraíso há uns anos e de forma pouco leal: um cara que nunca teve saúde, convenhamos que não podia simplesmente ter se livrado da pouca que tinha sem preparar muito bem seu séquito de irmãos, irmãos tortos, amigos, ex-mulheres, namoradas, ex-namoradas, que continuam irredutivelmente órfãos dele. Pois bem, Alencar tinha um humor invejável e um texto maravilhoso, usados especialmente quando as situações eram muito ruins.
Para contar histórias de “furos” – fantásticos, inacreditáveis, cujo script era sempre um “causo” comprido de narrador mineiro -, o Zezão escreveu o “Sorte e Arte”. Botava a sorte na frente da arte, para não parecer que se achava com mais arte do que sorte – coisa antipática esta, de achar que você é tão Deus do “furo” que ele chega à sua mão trazido pela sua genialidade, sem que nada se tenha interposto entre ela e o pedaço de papel que vai estar na banca amanhã, e depois de amanhã sabe-se lá que volta vai dar para cumprir uma outra função muito distante daquela de informar distintos leitores que os tempos são bicudos mas que as coisas podem melhorar – ou piorar, vai saber.
Nesses três últimos dias que o DEM e o PSDB se separaram mais uma vez (eles racharam em 2002, lembram-se?) fiquei pensando no Zezão. Será que ele atribuiria o fracasso da aliança do DEM com José Serra à falta de sorte, ou à falta de arte, do próprio Serra, na impossibilidade de atribuir a um jornalista a sorte ou a arte de dar um furo sobre o azar da aliança oposicionista? Acho que, na cabeça do Zé (o meu amigo), a avaliação seria a de que faltou inteligência, tato; sobrou uma certa arrogância; passou pela frente também um espelho daqueles de parque de diversões, que mostra pessoas e coisas muito maiores do que elas são. Se o Zé (o Alencar) não tivesse tido a infeliz ideia de ver se tem alguma notícia relevante no céu, acho que ele iria ficar pasmo com a falta de sorte e a falta de arte dos personagens das notícias aqui do nosso pedaço.
Aqui conversando com o Zé (Alencar, bem entendido), o que mais me intriga é o espelho de aumento. Quando puxaram o tapete do DEM, lançando pelo twitter do Roberto Jefferson (PTB-RJ) – vejam só, do Roberto Jefferson – o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) para vice de Serra, o PSDB agiu como se o DEM não tivesse qualquer opção a não ser estar com ele, em qualquer circunstância. Isto é, que o ex-PFL era tão destituído de sorte e de arte que tinha mesmo era de comer o prato feito, e de sobremesa a observação do miniblog de Jefferson, de que “o DEM é um partido de m…”
Daí, a realidade, que não depende nem de sorte, nem de arte, em algum momento aparece. O DEM elegeu 65 deputados em 2006. O PSDB elegeu 66. Os dois têm direito rigorosamente ao mesmo tempo de propaganda eleitoral gratuita que o outro. O PTB, que agiu com toda a desenvoltura a que está acostumado Jefferson, carrega para a coligação 22 deputados. O tempo de televisão e rádio é proporcional à bancada eleita em 2006. Seria uma arte conseguir, por meio dessa aritmética esquisita onde os 66 do PSDB passaram a valer muito mais do que os 65 do DEM, uma aliança em torno de uma chapa puro sangue com Álvaro Dias, o senador do Paraná cujo irmão, Osmar, é do PDT e vai se coligar com a candidata do PT, Dilma Rousseff. Seria também uma baita sorte. Não foi nem uma coisa, nem outra. Nem azar foi. O espelhão do circo deu ao PSDB uma ideia muito maior do que a que tinha sobre si mesmo. O Serra agiu por impulso. E a candidatura de Dias durou alguma coisa próxima a três dias.
Pois bem, o Zé que infelizmente não está aqui veria também o lado do DEM. Como o espelho deles não os diminuiu; como o partido tem consciência de que ele e o PSDB estão em situações muito ruim (ninguém pode se gabar nem um pouquinho do outro); como não lhes sobrou muita alternativa senão brigar pela vice – e olha, tem gente que nem queria brigar nada, bastava continuar do lado do Serra -, o DEM deu a volta por cima e conseguiu um vice. Sem qualquer uso de sorte ou arte. No grito, simplesmente. Se tivesse feito arte, o resultado teria que ser melhor do que um Índio da Costa (DEM-RJ). Mas daí é pedir muito: é torcer para o dono da bola, José Serra, ser um artista, e para a bola, por pura sorte, ser depositada nos pés do time. É pedir demais.
Ainda mais sabendo que o candidato Serra agiu sem sorte, e sem arte, em 2002, com situações, aliás, tão favoráveis a ele, que um pouquinho de arte teria ajudado muito. No mês de junho de 2002, quando os partidos se preparavam para fazer as convenções que oficializariam os candidatos a presidente, Serra foi o alvo de uma campanha de correligionários, destinada a tirá-lo da disputa. Os fiéis aliados do mercado financeiro e do mundo da economia, que vinham de uma lua de mel com Fernando Henrique Cardoso, armaram um “balão de ensaio” para tirá-lo do páreo. O balão é um boato que você espalha na mídia para ver se cola junto ao eleitor e junto ao partido. Se colar, vira fato. Serra, que já havia passado por cima de uma candidatura do então PFL, a de Roseana Sarney (MA), e comprado uma briga feia com Tasso Jereissati para ser o candidato de seu partido à Presidência, bancou sua pretensão. O balão furou. Sem nenhuma sorte, e sem nenhuma arte.
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Mino Carta explicita apoio a Dilma
Reproduzo artigo de Mino Carta, publicado na revista CartaCapital:
Por que apoiamos Dilma?
Resposta simples: porque escolhemos a candidatura melhor. Guerrilheira, há quem diga, para definir Dilma Rousseff. Negativamente, está claro. A verdade factual é outra, talvez a jovem Dilma tenha pensado em pegar em armas, mas nunca chegou a tanto. A questão também é outra: CartaCapital respeita, louva e admira quem se opôs à ditadura e, portanto, enfrentou riscos vertiginosos, desde a censura e a prisão sem mandado, quando não o sequestro por janízaros à paisana, até a tortura e a morte.
O cidadão e a cidadã que se precipitam naquela definição da candidata de Lula ou não perdem a oportunidade de exibir sua ignorância da história do País, ou têm saudades da ditadura. Quem sabe estivessem na Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade há 46 anos, ou apreciem organizar manifestação similar nos dias de hoje.
De todo modo, não é apenas por causa deste destemido passado de Dilma Rousseff que CartaCapital declara aqui e agora apoio à sua candidatura. Vale acentuar que neste mesmo espaço previmos a escolha do presidente da República ainda antes da sua reeleição, quando José Dirceu saiu da chefia da Casa Civil e a então ministra de Minas e Energia o substituiu.
E aqui, em ocasiões diversas, esclareceu-se o porquê da previsão: a competência, a seriedade, a personalidade e a lealdade a Lula daquela que viria a ser candidata. Essas inegáveis qualidades foram ainda mais evidentes na Casa Civil, onde os alcances do titular naturalmente se expandem.
E pesam sobre a decisão de CartaCapital. Em Dilma Rousseff enxergamos sem a necessidade de binóculo a continuidade de um governo vitorioso e do governante mais popular da história do Brasil. Com largos méritos, que em parte transcendem a nítida e decisiva identificação entre o presidente e seu povo. Ninguém como Lula soube valer-se das potencialidades gigantescas do País e vulgarizá-las com a retórica mais adequada, sem esquecer um suave toque de senso de humor sempre que as circunstâncias o permitissem.
Sem ter ofendido e perseguido os privilegiados, a despeito dos vaticínios de alguns entre eles, e da mídia praticamente em peso, quanto às consequências de um governo que profetizaram milenarista, Lula deixa a Presidência com o País a atingir índices de crescimento quase chineses e a diminuição do abismo que separa minoria de maioria. Dono de uma política exterior de todo independente e de um prestígio internacional sem precedentes. Neste final de mandato, vinga o talento de um estrategista político finíssimo. E a eleição caminha para o plebiscito que a oposição se achava em condições de evitar.
Escolha certa, precisa, calculada, a de Lula ao ungir Dilma e ao propor o confronto com o governo tucano que o precedeu e do qual José Serra se torna, queira ou não, o herdeiro. Carregar o PSDB é arrastar uma bola de ferro amarrada ao tornozelo, coisa de presidiário. Aí estão os tucanos, novos intérpretes do pensamento udenista.
Seria ofender a inteligência e as evidências sustentar que o ex-governador paulista partilha daquelas ideias. Não se livra, porém, da condição de tucano e como tal teria de atuar. Enredado na trama espessa da herança, e da imposição do plebiscito, vive um momento de confusão, instável entre formas díspares e até conflitantes ao conduzir a campanha, de sorte a cometer erros grosseiros e a comprometer sua fama de “preparado”, como insiste em afirmar seu candidato a vice, Índio da Costa. E não é que sonhavam com Aécio...
Reconhecemos em Dilma Rousseff a candidatura mais qualificada e entendemos como injunção deste momento, em que oficialmente o confronto se abre, a clara definição da nossa preferência. Nada inventamos: é da praxe da mídia mais desenvolvida do mundo tomar partido na ocasião certa, sem implicar postura ideológica ou partidária. Nunca deixamos, dentro da nossa visão, de apontar as falhas do governo Lula. Na política ambiental. Na política econômica, no que diz respeito, entre outros aspectos, aos juros manobrados pelo Banco Central. Na política social, que poderia ter sido bem mais ousada.
E fomos muito críticos quando se fez passivamente a vontade do ministro Nelson Jobim e do então presidente do STF Gilmar Mendes, ao exonerar o diretor da Abin, Paulo Lacerda, demitido por ter ousado apoiar a Operação Satiagraha, ao que tudo indica já enterrada, a esta altura, a favor do banqueiro Daniel Dantas. E quando o mesmo Jobim se arvorou a portavoz dos derradeiros saudosistas da ditadura e ganhou o beneplácito para confirmar a validade de uma Lei da Anistia que desrespeita os Direitos Humanos. E quando o então ministro da Justiça Tarso Genro aceitou a peroração de um grupelho de fanáticos do Apocalipse carentes de conhecimento histórico e deu início a um affair internacional desnecessário e amalucado, como o caso Battisti.
Hoje apoiamos a candidatura de Dilma Rousseff com a mesma disposição com que o fizemos em 2002 e em 2006 a favor de Lula. Apesar das críticas ao governo que não hesitamos em formular desde então, não nos arrependemos por essas escolhas. Temos certeza de que não nos arrependeremos agora.
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Por que apoiamos Dilma?
Resposta simples: porque escolhemos a candidatura melhor. Guerrilheira, há quem diga, para definir Dilma Rousseff. Negativamente, está claro. A verdade factual é outra, talvez a jovem Dilma tenha pensado em pegar em armas, mas nunca chegou a tanto. A questão também é outra: CartaCapital respeita, louva e admira quem se opôs à ditadura e, portanto, enfrentou riscos vertiginosos, desde a censura e a prisão sem mandado, quando não o sequestro por janízaros à paisana, até a tortura e a morte.
O cidadão e a cidadã que se precipitam naquela definição da candidata de Lula ou não perdem a oportunidade de exibir sua ignorância da história do País, ou têm saudades da ditadura. Quem sabe estivessem na Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade há 46 anos, ou apreciem organizar manifestação similar nos dias de hoje.
De todo modo, não é apenas por causa deste destemido passado de Dilma Rousseff que CartaCapital declara aqui e agora apoio à sua candidatura. Vale acentuar que neste mesmo espaço previmos a escolha do presidente da República ainda antes da sua reeleição, quando José Dirceu saiu da chefia da Casa Civil e a então ministra de Minas e Energia o substituiu.
E aqui, em ocasiões diversas, esclareceu-se o porquê da previsão: a competência, a seriedade, a personalidade e a lealdade a Lula daquela que viria a ser candidata. Essas inegáveis qualidades foram ainda mais evidentes na Casa Civil, onde os alcances do titular naturalmente se expandem.
E pesam sobre a decisão de CartaCapital. Em Dilma Rousseff enxergamos sem a necessidade de binóculo a continuidade de um governo vitorioso e do governante mais popular da história do Brasil. Com largos méritos, que em parte transcendem a nítida e decisiva identificação entre o presidente e seu povo. Ninguém como Lula soube valer-se das potencialidades gigantescas do País e vulgarizá-las com a retórica mais adequada, sem esquecer um suave toque de senso de humor sempre que as circunstâncias o permitissem.
Sem ter ofendido e perseguido os privilegiados, a despeito dos vaticínios de alguns entre eles, e da mídia praticamente em peso, quanto às consequências de um governo que profetizaram milenarista, Lula deixa a Presidência com o País a atingir índices de crescimento quase chineses e a diminuição do abismo que separa minoria de maioria. Dono de uma política exterior de todo independente e de um prestígio internacional sem precedentes. Neste final de mandato, vinga o talento de um estrategista político finíssimo. E a eleição caminha para o plebiscito que a oposição se achava em condições de evitar.
Escolha certa, precisa, calculada, a de Lula ao ungir Dilma e ao propor o confronto com o governo tucano que o precedeu e do qual José Serra se torna, queira ou não, o herdeiro. Carregar o PSDB é arrastar uma bola de ferro amarrada ao tornozelo, coisa de presidiário. Aí estão os tucanos, novos intérpretes do pensamento udenista.
Seria ofender a inteligência e as evidências sustentar que o ex-governador paulista partilha daquelas ideias. Não se livra, porém, da condição de tucano e como tal teria de atuar. Enredado na trama espessa da herança, e da imposição do plebiscito, vive um momento de confusão, instável entre formas díspares e até conflitantes ao conduzir a campanha, de sorte a cometer erros grosseiros e a comprometer sua fama de “preparado”, como insiste em afirmar seu candidato a vice, Índio da Costa. E não é que sonhavam com Aécio...
Reconhecemos em Dilma Rousseff a candidatura mais qualificada e entendemos como injunção deste momento, em que oficialmente o confronto se abre, a clara definição da nossa preferência. Nada inventamos: é da praxe da mídia mais desenvolvida do mundo tomar partido na ocasião certa, sem implicar postura ideológica ou partidária. Nunca deixamos, dentro da nossa visão, de apontar as falhas do governo Lula. Na política ambiental. Na política econômica, no que diz respeito, entre outros aspectos, aos juros manobrados pelo Banco Central. Na política social, que poderia ter sido bem mais ousada.
E fomos muito críticos quando se fez passivamente a vontade do ministro Nelson Jobim e do então presidente do STF Gilmar Mendes, ao exonerar o diretor da Abin, Paulo Lacerda, demitido por ter ousado apoiar a Operação Satiagraha, ao que tudo indica já enterrada, a esta altura, a favor do banqueiro Daniel Dantas. E quando o mesmo Jobim se arvorou a portavoz dos derradeiros saudosistas da ditadura e ganhou o beneplácito para confirmar a validade de uma Lei da Anistia que desrespeita os Direitos Humanos. E quando o então ministro da Justiça Tarso Genro aceitou a peroração de um grupelho de fanáticos do Apocalipse carentes de conhecimento histórico e deu início a um affair internacional desnecessário e amalucado, como o caso Battisti.
Hoje apoiamos a candidatura de Dilma Rousseff com a mesma disposição com que o fizemos em 2002 e em 2006 a favor de Lula. Apesar das críticas ao governo que não hesitamos em formular desde então, não nos arrependemos por essas escolhas. Temos certeza de que não nos arrependeremos agora.
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Prioridades e ações no pós-Confecom
Reproduzo artigo de Jacson Segundo, publicado no Observatório do Direito à Comunicação:
Uma das dificuldades para a implemetação das resoluções da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) é a extensa quantidade de propostas que foram aprovadas na plenária final do encontro nacional. As mais de 600 resoluções geraram um cenário de falta de foco e de priorização de temas e de ações. Para tentar minimizar esse problema, cerca de 50 pessoas de várias entidades nacionais e estaduais se reuniram em Brasília nesta quinta-feira (1) e escolheram aproximadamente 70 propostas consideradas prioritárias para a sociedade civil.
A ideia dos organizadores do seminário não foi de alterar ou retirar propostas e nem de bater o martelo sobre o que é mais ou menos importante na visão das organizações e movimentos sociais que participaram do processo da Confecom. O objetivo foi criar uma contribuição para que o movimento de comunicação debatesse prioridades. O documento final deve circular pela internet para avaliação dos que não puderam comparecer em Brasília neste seminário.
Com essas prioridades que foram sugeridas no seminário, pretende-se que as propostas escolhidas ganhem mais força que as outras e que, por consequencia, tenham mais condição de saírem do papel. Não deve ser uma tarefa fácil a curto prazo, já que o Parlamento vai andar a passos lentos por causa do calendário eleitoral este ano. Além disso, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, já afirmou que o papel deste governo seria apenas classificar as propostas.
As propostas elencadas como prioritárias foram selecionadas abarcando todos os temas tratados na Confecom. Elas devem ainda passar por uma sistematização e serão divulgadas a partir do próximo dia 19, por meio de uma videoconferência. “Essa é a nossa plataforma para a batalha eleitoral de 2010. É com ela que vamos tentar comprometer os candidatos”, disse o jornalista do Portal Vermelho e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges.
Propostas
Uma delas diz respeito ao financiamento e estímulo à produção independente e regional de conteúdos educativos. A ideia é mapear todos os fundos existentes em âmbito federal e local que tenham como objetivo o apoio a este tipo de produto de comunicação. E que as organizações sociais articulem a criação destes mecanismos onde eles não existam.
Outra prioridade seria a resolução que cria um sistema público de distribuição física de conteúdos produzidos pelas redes de comunicação e cultura, garantindo que a produção cultural financiada com dinheiro público seja exibida e distribuída de forma livre em creative commons.
Para a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), que foi uma das representantes da Câmara na Confecom, a eficácia dos encaminhamentos da Conferência vai depender do nível de mobilização e protagonismo da sociedade civil. Ela entende que o Plano Nacional de Banda Larga, por exemplo, foi acelerado pela pressão dos movimentos da área e da população.“Precisamos ampliar e preservar as conquistas”, afirma a deputada, que foi uma das proponentes do seminário.
Um estudo feito pelo deputado Paulo Henrique Lustosa (PMDB-CE) mostra que cerca de 35% das propostas aprovadas na Confecom implicam em alguma forma de ação legislativa no Congresso Nacional. Além disso, o relatório informa que, deste percentual, que representa 222 propostas, dois terços (148) já são motivo de alguma ação, como projetos de lei, em pelo menos uma das casas legislativas do país (Câmara e Senado).
Articulação
A priorização das propostas não foi o único resultado do seminário de Brasília. Também foi discutida a melhor forma do movimento de comunicação continuar organizado. Embora não tenha sido um consenso entre as entidades, a maioria decidiu manter e ampliar a Comissão Nacional Pró-Conferência (CNPC), articulação que surgiu para mobilizar a sociedade civil antes da Confecom.
A integrante do Conselho Federal de Psicologia e da coordenação executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Roseli Goffman, discordou da revitalização da CNPC. “Não é um momento em que há força política para nossas instituições comparecerem porque nós estamos disputando eleições nas nossas entidades”, opinou. Segundo ela, a estratégia do FNDC é revitalizar seus fóruns locais e criar novos onde não existirem.
Porém, dentro da próprio FNDC existem posições diferentes. O coordenador da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão (Fitert), Nascimento Silva, disse que o Fórum ainda não bateu o martelo sobre o assunto. “Temos que manter a CNPC do jeito que ela está”, afirmou.
As reuniões da CNPC devem acontecer mensalmente. Além disso, foram encaminhadas outras ações, como a manutenção de um diálogo mais próximo com as comissões estaduais e a tentativa de realizar um debate com os candidatos à Presidência da República.
Além de Luiza Erundina, pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, o seminário também contou com a co-realização da deputada Iriny Lopes (PT-ES), pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias, e de entidades da sociedade civil. O evento foi realizado na Câmara dos Deputados.
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Uma das dificuldades para a implemetação das resoluções da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) é a extensa quantidade de propostas que foram aprovadas na plenária final do encontro nacional. As mais de 600 resoluções geraram um cenário de falta de foco e de priorização de temas e de ações. Para tentar minimizar esse problema, cerca de 50 pessoas de várias entidades nacionais e estaduais se reuniram em Brasília nesta quinta-feira (1) e escolheram aproximadamente 70 propostas consideradas prioritárias para a sociedade civil.
A ideia dos organizadores do seminário não foi de alterar ou retirar propostas e nem de bater o martelo sobre o que é mais ou menos importante na visão das organizações e movimentos sociais que participaram do processo da Confecom. O objetivo foi criar uma contribuição para que o movimento de comunicação debatesse prioridades. O documento final deve circular pela internet para avaliação dos que não puderam comparecer em Brasília neste seminário.
Com essas prioridades que foram sugeridas no seminário, pretende-se que as propostas escolhidas ganhem mais força que as outras e que, por consequencia, tenham mais condição de saírem do papel. Não deve ser uma tarefa fácil a curto prazo, já que o Parlamento vai andar a passos lentos por causa do calendário eleitoral este ano. Além disso, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, já afirmou que o papel deste governo seria apenas classificar as propostas.
As propostas elencadas como prioritárias foram selecionadas abarcando todos os temas tratados na Confecom. Elas devem ainda passar por uma sistematização e serão divulgadas a partir do próximo dia 19, por meio de uma videoconferência. “Essa é a nossa plataforma para a batalha eleitoral de 2010. É com ela que vamos tentar comprometer os candidatos”, disse o jornalista do Portal Vermelho e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges.
Propostas
Uma delas diz respeito ao financiamento e estímulo à produção independente e regional de conteúdos educativos. A ideia é mapear todos os fundos existentes em âmbito federal e local que tenham como objetivo o apoio a este tipo de produto de comunicação. E que as organizações sociais articulem a criação destes mecanismos onde eles não existam.
Outra prioridade seria a resolução que cria um sistema público de distribuição física de conteúdos produzidos pelas redes de comunicação e cultura, garantindo que a produção cultural financiada com dinheiro público seja exibida e distribuída de forma livre em creative commons.
Para a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), que foi uma das representantes da Câmara na Confecom, a eficácia dos encaminhamentos da Conferência vai depender do nível de mobilização e protagonismo da sociedade civil. Ela entende que o Plano Nacional de Banda Larga, por exemplo, foi acelerado pela pressão dos movimentos da área e da população.“Precisamos ampliar e preservar as conquistas”, afirma a deputada, que foi uma das proponentes do seminário.
Um estudo feito pelo deputado Paulo Henrique Lustosa (PMDB-CE) mostra que cerca de 35% das propostas aprovadas na Confecom implicam em alguma forma de ação legislativa no Congresso Nacional. Além disso, o relatório informa que, deste percentual, que representa 222 propostas, dois terços (148) já são motivo de alguma ação, como projetos de lei, em pelo menos uma das casas legislativas do país (Câmara e Senado).
Articulação
A priorização das propostas não foi o único resultado do seminário de Brasília. Também foi discutida a melhor forma do movimento de comunicação continuar organizado. Embora não tenha sido um consenso entre as entidades, a maioria decidiu manter e ampliar a Comissão Nacional Pró-Conferência (CNPC), articulação que surgiu para mobilizar a sociedade civil antes da Confecom.
A integrante do Conselho Federal de Psicologia e da coordenação executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Roseli Goffman, discordou da revitalização da CNPC. “Não é um momento em que há força política para nossas instituições comparecerem porque nós estamos disputando eleições nas nossas entidades”, opinou. Segundo ela, a estratégia do FNDC é revitalizar seus fóruns locais e criar novos onde não existirem.
Porém, dentro da próprio FNDC existem posições diferentes. O coordenador da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão (Fitert), Nascimento Silva, disse que o Fórum ainda não bateu o martelo sobre o assunto. “Temos que manter a CNPC do jeito que ela está”, afirmou.
As reuniões da CNPC devem acontecer mensalmente. Além disso, foram encaminhadas outras ações, como a manutenção de um diálogo mais próximo com as comissões estaduais e a tentativa de realizar um debate com os candidatos à Presidência da República.
Além de Luiza Erundina, pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, o seminário também contou com a co-realização da deputada Iriny Lopes (PT-ES), pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias, e de entidades da sociedade civil. O evento foi realizado na Câmara dos Deputados.
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sexta-feira, 2 de julho de 2010
Outra pesquisa “conveniente” do Datafolha
Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:
A mais recente pesquisa Datafolha parece tão fora da curva quanto aquela anterior, que acompanhou o lançamento oficial da candidatura de José Serra. Então, graças a um repentino aumento da preferência entre eleitores do Sul, José Serra “abriu” vantagem de nove pontos sobre Dilma Rousseff.
Desta vez, quando três outros institutos registraram o avanço e a liderança de Dilma, o Datafolha produziu um empate técnico (Serra teria 39%, Dilma 38%) sem que houvesse uma justificativa factível para essa repentina mudança de rumo. Curiosamente, mais uma vez o crescimento de Serra se baseia num aumento da preferência de eleitores sulistas (no Sul, de acordo com o Datafolha, Serra passou de 38% a 50%). Será que os sulistas são mais suscetíveis à propaganda eleitoral do PSDB na TV?
Sabemos que existem diferenças de método entre os diversos institutos de pesquisa, que podem responder pelas diferenças entre Vox Populi, Sensus, Ibope e Datafolha. Sabemos, no entanto, que as pesquisas refletem tendências gerais do eleitorado e nada aconteceu nas últimas semanas que justifique uma reversão repentina das curvas de Serra e Dilma.
De qualquer forma, alguns detalhes me chamaram a atenção:
– Um dia antes da divulgação da pesquisa, já circulavam na internet as justificativas do PSDB para a repentina mudança no quadro eleitoral, como eu mesmo reproduzi, a partir do R7;
– O tracking do PSDB (levantamento diário feito a partir de pesquisa telefônico) não é confirmado pelo tracking do PT, pelo contrário, os números internos da campanha de Dilma apontam aumento na diferença entre os dois candidatos, com vantagem crescente da ex-ministra;
– Os números da Folha vieram acompanhados de “análises” que tem algo em comum: a sustenção do argumento conveniente para a campanha de Serra na atual conjuntura, aquele de que a campanha vai começar oficialmente com os dois candidatos zerados, empatados;
– Na mesma página que traz os resultados da pesquisa, uma coluna da Folha atribui o resultado, em parte, à decisão de Dilma Rousseff de evitar “alguns debates e sabatinas”. Em junho, 30% dos entrevistados disseram ter visto alguma entrevista com Serra; 25% disseram o mesmo em relação a Dilma. Isso não prova nada. E se o eleitor viu mais o Serra e não gostou? O que a coluna da Folha omite é que Dilma não aceitou o convite para participar de uma sabatina da Folha. Em outras palavras, o jornal está tentando dizer, sem dizê-lo, que Dilma perdeu votos ao não aceitar o convite do jornal. Como seria muito patético dizer isso abertamente, o jornal apenas sugere essa possibilidade.
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A mais recente pesquisa Datafolha parece tão fora da curva quanto aquela anterior, que acompanhou o lançamento oficial da candidatura de José Serra. Então, graças a um repentino aumento da preferência entre eleitores do Sul, José Serra “abriu” vantagem de nove pontos sobre Dilma Rousseff.
Desta vez, quando três outros institutos registraram o avanço e a liderança de Dilma, o Datafolha produziu um empate técnico (Serra teria 39%, Dilma 38%) sem que houvesse uma justificativa factível para essa repentina mudança de rumo. Curiosamente, mais uma vez o crescimento de Serra se baseia num aumento da preferência de eleitores sulistas (no Sul, de acordo com o Datafolha, Serra passou de 38% a 50%). Será que os sulistas são mais suscetíveis à propaganda eleitoral do PSDB na TV?
Sabemos que existem diferenças de método entre os diversos institutos de pesquisa, que podem responder pelas diferenças entre Vox Populi, Sensus, Ibope e Datafolha. Sabemos, no entanto, que as pesquisas refletem tendências gerais do eleitorado e nada aconteceu nas últimas semanas que justifique uma reversão repentina das curvas de Serra e Dilma.
De qualquer forma, alguns detalhes me chamaram a atenção:
– Um dia antes da divulgação da pesquisa, já circulavam na internet as justificativas do PSDB para a repentina mudança no quadro eleitoral, como eu mesmo reproduzi, a partir do R7;
– O tracking do PSDB (levantamento diário feito a partir de pesquisa telefônico) não é confirmado pelo tracking do PT, pelo contrário, os números internos da campanha de Dilma apontam aumento na diferença entre os dois candidatos, com vantagem crescente da ex-ministra;
– Os números da Folha vieram acompanhados de “análises” que tem algo em comum: a sustenção do argumento conveniente para a campanha de Serra na atual conjuntura, aquele de que a campanha vai começar oficialmente com os dois candidatos zerados, empatados;
– Na mesma página que traz os resultados da pesquisa, uma coluna da Folha atribui o resultado, em parte, à decisão de Dilma Rousseff de evitar “alguns debates e sabatinas”. Em junho, 30% dos entrevistados disseram ter visto alguma entrevista com Serra; 25% disseram o mesmo em relação a Dilma. Isso não prova nada. E se o eleitor viu mais o Serra e não gostou? O que a coluna da Folha omite é que Dilma não aceitou o convite para participar de uma sabatina da Folha. Em outras palavras, o jornal está tentando dizer, sem dizê-lo, que Dilma perdeu votos ao não aceitar o convite do jornal. Como seria muito patético dizer isso abertamente, o jornal apenas sugere essa possibilidade.
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Quem acredita ainda no Datafolha?
Reproduzo artigo do sociólogo Emir Sader, publicado no sítio Carta Maior:
O jornal que emprestou seus caros para a Operação Bandeirantes, disfarçada de jornalistas, levar a cabo prisões arbitrárias, fuzilamentos sumários de detidos, conduzir os sobreviventes para tortura, para a desaparição, para a morte.
O jornal que considerou a ditadura militar – o mais ditatorial dos regimes, de imposição do terror, o mais antidemocrático – como a salvação do país, pregou sua realização, saudou a ruptura da democracia e a deposição de um presidente legitimamente eleito pelos cidadãos, apoio a ditadura, ajudou a escondeu seus crimes e, mais recentemente, chamou-o de “ditabranda”.
O jornal que publicou uma ficha falsa da Dilma em manchete de primeira página de um domingo. Pego em flagrante, nunca corrigiu sua brutal manipulação.
Uma executiva do jornal declarou que, dada a fraqueza dos partidos da oposição, a imprensa assume o papel de partido da oposição. Isto é, o jornaleco virou boletim de um partido opositor, os jornalistas não são mais jornalistas, todos eles militantes desse partido opositor. A direção, que nunca foi eleita por ninguém, mas designada pela família, o Comitê Central desse partido. O seu diretor, escolhido por seu pai para sucedê-lo na direção da empresa familiar, presidente do partido.
Suas pesquisas são pesquisas internas dos tucanos, feitas por encomenda e atendendo às penúrias do candidato-colunista do jornal, que passeia pela redação do jornal como pela sua casa, dá broncas no que não gosta, nomeia empregados, como a chefe da sucursal de Brasília, nomeada por ele, porque tucana e porque casada com publicitário – ex funcionário da Globo – que codirige a campanha derrotada em 2002 e agora em 2010.
Quem acredita nas pesquisas do Databranda?
Quem compraria um jornal usado da família Frias?
Que lê o Diario Oficial dos Tucanos, com todos os editorais cheios de pluma tucana da página 2?
O povo não é tonto. Com tudo o que eles dizem, apenas 3% aceitam seus argumentos e rejeitam Lula.
Ou será 0%, na margem de erro?
A derrota de Serra e seu vice de ocasião é também a derrota da imprensa das oligarquias familiares, da imprensa mercantil, da imprensa mentirosa e manipuladora, a derrota dos Frias, dos Marinhos, dos Mesquitas, dos Civitas e dos seus associados regionais e internacionais.
Daí seu desespero, daí sua depressão, daí mentiras como essa pesquisa encomendada pelos tucanos e em que nem eles mesmos acreditam.
Otávio Frias Filho (que ocupa o cargo por ser filho de Otávio Frias pai), seus parentes e militantes do seu partido, não conseguem mais ditabrandar em nome do país.
Prêmio Corvo do semestre para Otávio Frias Filho e sua trupe!
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O jornal que emprestou seus caros para a Operação Bandeirantes, disfarçada de jornalistas, levar a cabo prisões arbitrárias, fuzilamentos sumários de detidos, conduzir os sobreviventes para tortura, para a desaparição, para a morte.
O jornal que considerou a ditadura militar – o mais ditatorial dos regimes, de imposição do terror, o mais antidemocrático – como a salvação do país, pregou sua realização, saudou a ruptura da democracia e a deposição de um presidente legitimamente eleito pelos cidadãos, apoio a ditadura, ajudou a escondeu seus crimes e, mais recentemente, chamou-o de “ditabranda”.
O jornal que publicou uma ficha falsa da Dilma em manchete de primeira página de um domingo. Pego em flagrante, nunca corrigiu sua brutal manipulação.
Uma executiva do jornal declarou que, dada a fraqueza dos partidos da oposição, a imprensa assume o papel de partido da oposição. Isto é, o jornaleco virou boletim de um partido opositor, os jornalistas não são mais jornalistas, todos eles militantes desse partido opositor. A direção, que nunca foi eleita por ninguém, mas designada pela família, o Comitê Central desse partido. O seu diretor, escolhido por seu pai para sucedê-lo na direção da empresa familiar, presidente do partido.
Suas pesquisas são pesquisas internas dos tucanos, feitas por encomenda e atendendo às penúrias do candidato-colunista do jornal, que passeia pela redação do jornal como pela sua casa, dá broncas no que não gosta, nomeia empregados, como a chefe da sucursal de Brasília, nomeada por ele, porque tucana e porque casada com publicitário – ex funcionário da Globo – que codirige a campanha derrotada em 2002 e agora em 2010.
Quem acredita nas pesquisas do Databranda?
Quem compraria um jornal usado da família Frias?
Que lê o Diario Oficial dos Tucanos, com todos os editorais cheios de pluma tucana da página 2?
O povo não é tonto. Com tudo o que eles dizem, apenas 3% aceitam seus argumentos e rejeitam Lula.
Ou será 0%, na margem de erro?
A derrota de Serra e seu vice de ocasião é também a derrota da imprensa das oligarquias familiares, da imprensa mercantil, da imprensa mentirosa e manipuladora, a derrota dos Frias, dos Marinhos, dos Mesquitas, dos Civitas e dos seus associados regionais e internacionais.
Daí seu desespero, daí sua depressão, daí mentiras como essa pesquisa encomendada pelos tucanos e em que nem eles mesmos acreditam.
Otávio Frias Filho (que ocupa o cargo por ser filho de Otávio Frias pai), seus parentes e militantes do seu partido, não conseguem mais ditabrandar em nome do país.
Prêmio Corvo do semestre para Otávio Frias Filho e sua trupe!
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Comunicadores pela Reforma Agrária no Rio
Reproduzo artigo de Sheila Jacob, publicado no sítio do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC):
O auditório Barbosa Lima Sobrinho, da ABI, no Centro do Rio, ficou lotado para o lançamento, no Rio, da Rede de Comunicadores que apóiam a luta pela Reforma Agrária. Cerca de 150 pessoas assistiram ao debate do dia 30 de junho, que contou com a militante Marina dos Santos, da direção nacional do MST, e com o jornalista Paulo Henrique Amorim, do blog Conversa Afiada. Álvaro Neiva, do coletivo Intervozes, mediou o debate, que também teve a participação de Igor Felippe dos Santos, da assessoria de comunicação do MST.
Marina dos Santos apresentou dados atuais do campo brasileiro, principalmente em relação à concentração de terras e ao agronegócio. Tal modelo é atualmente defendido pela mídia comercial, que vem atacando os movimentos sociais e entidades que lutam por um outro projeto, baseado na agricultura familiar camponesa. Frente a esse quadro, o jornalista Paulo Henrique Amorim defendeu o uso potencial da internet para a criação, organização e o fortalecimento de veículos de mídia alternativos, capazes de mostrar fatos silenciados pela mídia comercial e combater a criminalização das lutas dos trabalhadores e dos movimentos sociais em geral, especialmente o MST.
Igor Felippe dos Santos recuperou o histórico da Rede de Comunicadores, criada por iniciativa da sociedade para reagir aos ataques feitos pela mídia burguesa contra o Movimento. Segundo ele, com essa rede pretende-se monitorar a criminalização das lutas e agilizar a defesa frente aos ataques à Reforma Agrária; apresentar informações, elementos e dados concretos sobre o campo; mostrar os benefícios da Reforma Agrária e os prejuízos causados pelos latifúndios e pelo agronegócio; e aglutinar materiais produzidos por todos aqueles que são contra a concentração de terras.
Situação do meio rural
Sobre a criminalização sistemática dos movimentos sociais por parte da chamada grande mídia, Marina dos Santos lembrou episódios recentes, como, por exemplo, a manifestação ocorrida na fazenda da Cutrale, em Iaras (SP). Como ela observou, a imprensa não divulgou as reais causas da manifestação, não denunciou a grilagem dos cartéis da laranja pela empresa Cutrale e nem falou da exploração dos trabalhadores naquela região.
Outro exemplo, mais recente, é a instalação da CPI do MST: “É vergonhoso, mas as informações divulgadas pela chamada grande mídia foram os fatos que serviram de base para a instalação das CPIs do MST, principalmente matérias da Veja, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo. Ou seja: os ruralistas plantam matérias, dizem o que querem e depois querem usar aquilo a seu favor”.
A militante citou dados alarmantes referentes ao campo que não são divulgados pela mídia comercial. O primeiro deles é a concentração de terras no Brasil: segundo pesquisa divulgada pelo IBGE no ano passado, 1% dos proprietários de terra controlam 46% das terras produtivas no Brasil, perdendo apenas para o Paraguai. Outros agravantes são a apropriação, pelas transnacionais, de terras destinadas à produção agrícola; e o aumento das sementes transgênicas – além da soja, há pressão hoje, exercida principalmente pela Bayer, para que se libere o arroz transgênico. O uso intensivo de agrotóxicos também preocupa: em 2008, o Brasil se transformou no maior consumidor de agrotóxicos do mundo, com um gasto anual de cerca de 7 bilhões de dólares em uma produção que gera contaminação dos alimentos, dos solos e outros prejuízos.
Contra esse modelo, os movimentos sociais do campo, principalmente os reunidos em torno da Via Campesina/Brasil, possuem algumas propostas políticas. Além da distribuição de terras, defendem a garantia de mecanismos para limitar o tamanho da propriedade privada no país; a regularização das terras quilombolas e indígenas; a mudança da matriz tecnológica para uma produção mais saudável, sem agrotóxicos; a garantia da soberania alimentar, trocando a monocultura de exportação por uma produção de qualidade e preço baixo, acessível a toda a população brasileira; e a erradicação do analfabetismo no campo.
Internet na luta contra o PIG
“Partilho desse movimento porque acredito que o melhor desinfetante é o sol. Meu objetivo é batalhar para abrir janelas. No caso específico dessa Rede, acho que nosso trabalho é tirar o MST do gueto, da sala de espera das delegacias, e colocá-lo no centro de debate da reforma agrária”. Assim deu início à sua fala o jornalista Paulo Henrique Amorim, lembrando que esse movimento de comunicadores nasceu da necessidade de se criarem caminhos de informação alternativa à criminalização do MST. Ele lembrou o caso recente da Petrobras, que ganhou a batalha contra a CPI devido à criação de um blog para combater as mentiras divulgadas pelo PIG - Partido da Imprensa Golpista. Assim como no caso do MST, a CPI da Petrobras foi instalada a partir de falsas denúncias de um veículo de mídia, nesse caso do jornal O Globo.
Uma das principais frentes de combate ao PIG é, segundo o jornalista, a internet, que já apresenta uma ampla ocupação por parte de diversas mídias alternativas, já que não há possibilidade de disputa dos meios comerciais. “A batalha da informação não será travada nem no PIG nem na Rede Globo, porque eles são irrecuperáveis”, afirmou. Para articular esse campo alternativo, surgiu a ideia de se realizar um Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que provavelmente será em Brasília. Outra importante campanha a ser feita é a luta pela implementação do Plano Nacional de Banda Larga. “Para mim, essa deve ser a tarefa prioritária: ampliar o acesso à internet, levando-a aos lugares mais remotos”, defendeu.
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O auditório Barbosa Lima Sobrinho, da ABI, no Centro do Rio, ficou lotado para o lançamento, no Rio, da Rede de Comunicadores que apóiam a luta pela Reforma Agrária. Cerca de 150 pessoas assistiram ao debate do dia 30 de junho, que contou com a militante Marina dos Santos, da direção nacional do MST, e com o jornalista Paulo Henrique Amorim, do blog Conversa Afiada. Álvaro Neiva, do coletivo Intervozes, mediou o debate, que também teve a participação de Igor Felippe dos Santos, da assessoria de comunicação do MST.
Marina dos Santos apresentou dados atuais do campo brasileiro, principalmente em relação à concentração de terras e ao agronegócio. Tal modelo é atualmente defendido pela mídia comercial, que vem atacando os movimentos sociais e entidades que lutam por um outro projeto, baseado na agricultura familiar camponesa. Frente a esse quadro, o jornalista Paulo Henrique Amorim defendeu o uso potencial da internet para a criação, organização e o fortalecimento de veículos de mídia alternativos, capazes de mostrar fatos silenciados pela mídia comercial e combater a criminalização das lutas dos trabalhadores e dos movimentos sociais em geral, especialmente o MST.
Igor Felippe dos Santos recuperou o histórico da Rede de Comunicadores, criada por iniciativa da sociedade para reagir aos ataques feitos pela mídia burguesa contra o Movimento. Segundo ele, com essa rede pretende-se monitorar a criminalização das lutas e agilizar a defesa frente aos ataques à Reforma Agrária; apresentar informações, elementos e dados concretos sobre o campo; mostrar os benefícios da Reforma Agrária e os prejuízos causados pelos latifúndios e pelo agronegócio; e aglutinar materiais produzidos por todos aqueles que são contra a concentração de terras.
Situação do meio rural
Sobre a criminalização sistemática dos movimentos sociais por parte da chamada grande mídia, Marina dos Santos lembrou episódios recentes, como, por exemplo, a manifestação ocorrida na fazenda da Cutrale, em Iaras (SP). Como ela observou, a imprensa não divulgou as reais causas da manifestação, não denunciou a grilagem dos cartéis da laranja pela empresa Cutrale e nem falou da exploração dos trabalhadores naquela região.
Outro exemplo, mais recente, é a instalação da CPI do MST: “É vergonhoso, mas as informações divulgadas pela chamada grande mídia foram os fatos que serviram de base para a instalação das CPIs do MST, principalmente matérias da Veja, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo. Ou seja: os ruralistas plantam matérias, dizem o que querem e depois querem usar aquilo a seu favor”.
A militante citou dados alarmantes referentes ao campo que não são divulgados pela mídia comercial. O primeiro deles é a concentração de terras no Brasil: segundo pesquisa divulgada pelo IBGE no ano passado, 1% dos proprietários de terra controlam 46% das terras produtivas no Brasil, perdendo apenas para o Paraguai. Outros agravantes são a apropriação, pelas transnacionais, de terras destinadas à produção agrícola; e o aumento das sementes transgênicas – além da soja, há pressão hoje, exercida principalmente pela Bayer, para que se libere o arroz transgênico. O uso intensivo de agrotóxicos também preocupa: em 2008, o Brasil se transformou no maior consumidor de agrotóxicos do mundo, com um gasto anual de cerca de 7 bilhões de dólares em uma produção que gera contaminação dos alimentos, dos solos e outros prejuízos.
Contra esse modelo, os movimentos sociais do campo, principalmente os reunidos em torno da Via Campesina/Brasil, possuem algumas propostas políticas. Além da distribuição de terras, defendem a garantia de mecanismos para limitar o tamanho da propriedade privada no país; a regularização das terras quilombolas e indígenas; a mudança da matriz tecnológica para uma produção mais saudável, sem agrotóxicos; a garantia da soberania alimentar, trocando a monocultura de exportação por uma produção de qualidade e preço baixo, acessível a toda a população brasileira; e a erradicação do analfabetismo no campo.
Internet na luta contra o PIG
“Partilho desse movimento porque acredito que o melhor desinfetante é o sol. Meu objetivo é batalhar para abrir janelas. No caso específico dessa Rede, acho que nosso trabalho é tirar o MST do gueto, da sala de espera das delegacias, e colocá-lo no centro de debate da reforma agrária”. Assim deu início à sua fala o jornalista Paulo Henrique Amorim, lembrando que esse movimento de comunicadores nasceu da necessidade de se criarem caminhos de informação alternativa à criminalização do MST. Ele lembrou o caso recente da Petrobras, que ganhou a batalha contra a CPI devido à criação de um blog para combater as mentiras divulgadas pelo PIG - Partido da Imprensa Golpista. Assim como no caso do MST, a CPI da Petrobras foi instalada a partir de falsas denúncias de um veículo de mídia, nesse caso do jornal O Globo.
Uma das principais frentes de combate ao PIG é, segundo o jornalista, a internet, que já apresenta uma ampla ocupação por parte de diversas mídias alternativas, já que não há possibilidade de disputa dos meios comerciais. “A batalha da informação não será travada nem no PIG nem na Rede Globo, porque eles são irrecuperáveis”, afirmou. Para articular esse campo alternativo, surgiu a ideia de se realizar um Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que provavelmente será em Brasília. Outra importante campanha a ser feita é a luta pela implementação do Plano Nacional de Banda Larga. “Para mim, essa deve ser a tarefa prioritária: ampliar o acesso à internet, levando-a aos lugares mais remotos”, defendeu.
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quinta-feira, 1 de julho de 2010
O Estadão chamou Lula de quadrúpede?
Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:
Em minhas longas viagens rumo à periferia de São Paulo, dentro de um carro de reportagem, em geral sirvo-me dos jornais lidos pelas equipes de gravação. Normalmente há sempre uma cópia do Agora ou dos jornaizinhos distribuídos de graça nos sinaleiros (é assim que se diz em Bauru). Hoje, porém, comprei o Estadão, jornal que sempre foi muito respeitado em casa, pela consistência ideológica: foi, é e sempre será um jornal reacionário.
Ao ler o editorial “A Noruega tropical de Lula”, no entanto, fui pego de surpresa. Muito bem escrito, com bons argumentos e até mesmo algumas pitadas de ironia e sarcasmo, características que o jornal chupou da imprensa britânica e que seriam muito benvindas em página tão austera, que leva o solene título de “Notas e Informações”.
Lá pelas tantas, no entanto, o jornal chama o presidente da República de quadrúpede (escolha você o que se encaixa melhor, se mula, jumento, cavalo, besta, jegue, burro ou muar): “Mas a megalomania se livra dos arreios quando, para justificar o seu intento de fazer pelos latino-americanos, caribenhos e africanos o que se vangloria de ter feito pelos brasileiros, Lula não deixa por menos: “Não podemos ser uma ilha de prosperidade cercada por um mar de pobreza e injustiça social”.”
Acho que o texto diz mais sobre o Estadão do que sobre Lula.
Do ódio de classe da elite brasileira em relação ao presidente da República já temos exemplos muito mais descarados. Quem se der ao trabalho de ler os jornais diariamente terá farto material para estudar este fenômeno explícito de preconceito.
A elite que se expressa através dos jornais, que os alimenta e através deles se retroalimenta, sempre acreditou ter o monopólio do idealismo (são os únicos que pensam no Brasil sem considerar primeiro seus próprios interesses políticos ou econômicos), do discurso (até que surgisse a internet, um paredão inabalável se erguia diante dos leitores) e da educação (eram, de fato, os únicos que tinham acesso à educação superior).
Era possível entender, portanto, que decidissem escrever um script para encaixar o sindicalista que se tornou presidente: tosco, intelectualmente limitado, grosseiro, à imagem e semelhança do penetra que não sabe se comportar na festa. A alguém assim, recomendava a etiqueta do andar de cima, se dedicava o desprezo das piadas sussuradas, quando muito.
Quando um jornal gasta tempo e miolos na elaborada tarefa de taxar de quadrúpede um penetra meramente desprezível, é indício de que ele fez muito mais do que arrombar a festa.
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Em minhas longas viagens rumo à periferia de São Paulo, dentro de um carro de reportagem, em geral sirvo-me dos jornais lidos pelas equipes de gravação. Normalmente há sempre uma cópia do Agora ou dos jornaizinhos distribuídos de graça nos sinaleiros (é assim que se diz em Bauru). Hoje, porém, comprei o Estadão, jornal que sempre foi muito respeitado em casa, pela consistência ideológica: foi, é e sempre será um jornal reacionário.
Ao ler o editorial “A Noruega tropical de Lula”, no entanto, fui pego de surpresa. Muito bem escrito, com bons argumentos e até mesmo algumas pitadas de ironia e sarcasmo, características que o jornal chupou da imprensa britânica e que seriam muito benvindas em página tão austera, que leva o solene título de “Notas e Informações”.
Lá pelas tantas, no entanto, o jornal chama o presidente da República de quadrúpede (escolha você o que se encaixa melhor, se mula, jumento, cavalo, besta, jegue, burro ou muar): “Mas a megalomania se livra dos arreios quando, para justificar o seu intento de fazer pelos latino-americanos, caribenhos e africanos o que se vangloria de ter feito pelos brasileiros, Lula não deixa por menos: “Não podemos ser uma ilha de prosperidade cercada por um mar de pobreza e injustiça social”.”
Acho que o texto diz mais sobre o Estadão do que sobre Lula.
Do ódio de classe da elite brasileira em relação ao presidente da República já temos exemplos muito mais descarados. Quem se der ao trabalho de ler os jornais diariamente terá farto material para estudar este fenômeno explícito de preconceito.
A elite que se expressa através dos jornais, que os alimenta e através deles se retroalimenta, sempre acreditou ter o monopólio do idealismo (são os únicos que pensam no Brasil sem considerar primeiro seus próprios interesses políticos ou econômicos), do discurso (até que surgisse a internet, um paredão inabalável se erguia diante dos leitores) e da educação (eram, de fato, os únicos que tinham acesso à educação superior).
Era possível entender, portanto, que decidissem escrever um script para encaixar o sindicalista que se tornou presidente: tosco, intelectualmente limitado, grosseiro, à imagem e semelhança do penetra que não sabe se comportar na festa. A alguém assim, recomendava a etiqueta do andar de cima, se dedicava o desprezo das piadas sussuradas, quando muito.
Quando um jornal gasta tempo e miolos na elaborada tarefa de taxar de quadrúpede um penetra meramente desprezível, é indício de que ele fez muito mais do que arrombar a festa.
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