terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ciro Gomes propõe enfrentar a mídia

Reproduzo entrevista concedida ao jornalista João Peres, publicada na Rede Brasil Atual:

Ciro Gomes está de volta à vida eleitoral? Difícil dizer. O deputado federal assegura que será um cabo eleitoral de Dilma Rousseff na disputa do segundo turno, mas evita entrar em detalhes.

Em se tratando do ex-ministro da Integração Nacional, a única certeza é de que surpresas não são exceção. Em entrevista à Rede Brasil Atual, Gomes garante que não guarda nenhum ressentimento de ter sido preterido pelo presidente Lula na disputa ao Planalto, mas admite ter sentido uma grande tristeza que, garante, já passou.

O deputado, que ficou uma temporada fora do país para curar as mágoas, esteve nesta segunda-feira (4) na reunião que reuniu parte importante da base aliada ao governo na discussão dos rumos da campanha do segundo turno. O ex-ministro mostrou que há uma característica sua que não muda: a língua afiada. Confira a entrevista:

Qual será seu papel no segundo turno na campanha de Dilma?

Sou cabo eleitoral no Ceará.

E no resto do Brasil? O senhor é uma personalidade de projeção nacional.

Estou 100% à disposição para participar desse debate porque o Brasil está acima de tudo. Todo mundo sabe que fiquei muito triste por ver frustrada minha justa intenção de participar desse debate, mas para mim está tudo superado e o mais importante é ajudar o povo brasileiro a ver com serenidade qual o melhor caminho para o país. E estou seguro que o melhor caminho é a Dilma.

Dilma deixou muito marcado o tom de comparação entre os dois governos (FHC e Lula). E que agora é hora de enfatizar essa comparação. É esse o caminho?

Esse é um dos caminhos, mas é preciso também compreender porque 20% dos brasileiros, tudo gente boa, da melhor intenção, tudo gente progressista, trabalhadora, amada, porque não veio conosco no primeiro turno. Por que foi com a Marina? O que a Marina interpretou? Acho que uma certa frouxidão do PSDB acabou sendo replicada por certa frouxidão do PT, e tem uma parte de nós, brasileiros, que não gostamos dessa frouxidão.

Sei disso porque uma parte dessas pessoas já votou comigo em outras ocasiões. É classe média, estudante, jovens, gente preocupada com alguma intransigência. Não é de intolerância que estou falando, mas de intransigência em matéria de comportamento político.

Uma das questões que se tocou aqui é sobre quanto os boatos espalhados na reta final tiraram votos de Dilma. Esses boatos, ao serem disseminados por parte da imprensa, foram importantes nisso?

Perifericamente. Boato só prospera onde há perplexidades, vácuos, vazios. Como essa questão do aborto. É complexa, é delicada. Interagem com esse assunto questões religiosas, questões morais, éticas, sanitárias, emocionais, psicológicas. Questões terríveis.

E os políticos, por regra, detêm um oportunismo muito rasteiro a respeito deste assunto. Acho que esse é o vácuo. Quando você tem um vácuo e não tem clareza, o boato acaba prosperando mais do que devia.

E, claro, há o papel de uma parte da imprensa brasileira. E isso não é novidade, não temos que nos assustar com isso. Quem se enganou foi quem imaginou que haveria essa cordialidade que eu sempre soube que não haveria. Uma parte da imprensa brasileira tem preferência, o que é legítimo.

Apenas deveríamos ajudar o eleitor brasileiro a saber que a Veja é reacionária. É direito do povo brasileiro saber que a Veja é reacionária. A Veja deve existir, deve fazer o que bem entender. Se passar da conta, temos um sistema democrático que garante reparos no Judiciário, mas nada de ir contra a imprensa. A imprensa é sagrada para nós, democratas.

A Veja passou da conta no primeiro turno?

A Veja? A Veja passa da conta. Vive a serviço do que há de mais espúrio na sociedade brasileira. É isso que a gente deve explicar para as pessoas. Que a Veja tenha longa vida, mas que todos fiquem sabendo que a Veja não é uma observadora neutra da vida brasileira: ela está a serviço dos interesses internacionais, da privataria, da escória brasileira. Isso sempre foi. Desde que a turma de melhor nível saiu, virou isso (referindo-se a jornalistas mais antigos). Um instrumento de achaque.

Para a campanha de Dilma, como é melhor lidar com essa contra-informação?

Falar com o povo. Sincera e humildemente. Falar com o povo. Enfrentar. Isso sou eu que estou falando. Essa cordialidade só ajuda àquelas pessoas que têm as ferramentas clandestinas de mentir contra a vontade popular.

Resta algum ressentimento por ter sido preterido nessa disputa?

Não. Não tive ressentimento em momento algum. Tive muita tristeza, que é mais amargo do que ressentimento. Mas já passou.

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Marina... você se pintou?

Reproduzo artigo de Maurício Abdalla, professor de filosofia da UFES, publicado no sítio da Adital:

"Marina, morena Marina, você se pintou" - diz a canção de Caymmi. Mas é provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica e socialmente comprometida com o "grito da Terra e o grito dos pobres", como diz Leonardo Boff.

Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a escolhas partidárias?

Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha não era para ser sua.

Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as "famiglias" que controlam a informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.

Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua candidata. Mas "os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz". Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.

Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. "Azul tucano". Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.

Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de propagar a "vitória da Marina". Não aceite esse presente de grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela se dirige.

"Marina, você faça tudo, mas faça o favor": não deixe que a pintem de azul tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você "tanto faz". Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem "esse rosto que o povo gosta, que gosta e é só dele".

Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas, Serra o é de nossos mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. "Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu".

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"Os votos de Marina vão se dispersar"

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

Conversei ontem com o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas Francisco Fonseca. O assunto: o segundo turno e o fator Marina Silva. Gravei com ele uma entrevista para o “Jornal da Record”. Mas, na TV, ainda mais em matérias rápidas feitas para o mesmo dia, aproveitamos sempre trechos muito pequenos de entrevistas que, muitas vezes, são riquíssimas. Então, descrevo aqui a análise de Francisco sobre a eleição.

1) A votação de Marina não foi assim tão “surpreendente”; segundo ele, só surpreendeu porque jornalistas e analistas, no Brasil, tem o hábito de transformar pesquisa em oráculo; pesquisas, segundo ele, erram muito porque não apreendem movimentos menos aparentes, e não captam a cristalização dos votos que, no Brasil, se dá (em amplos setores) somente 24 horas antes da eleiçãoi.

2) O professor lembra que em países como a França existem restrições à divulgação das pesquisas nos últimos dias da campanha (no Brasil, e aí sou eu que digo, as restrições vem só de candidatos como Richinha, agora eleito, e que barrou várias pesquisas no Paraná).

3) Francisco Fonseca acha que a imprensa está sobrevalorizando o papel de Marina Silva no segundo turno. O eleitorado de Marina é muito heterogêneo: ela teve apoio de jovens ambientalistas, de gente mais à esquerda descepcionada com o PT, e na reta final ganhou também muitos votos conservadores - de quem se deixou levar por esse tema do aborto. Por isso, diz o professor, “os votos de Marina devem se dispersar em três segmentos: uma parte vai para brancos e nulos (é o povo da terceira via, mais jovem, que realmente não quer PT nem PSDB), outra parte vai para o Serra e outra ainda para a Dilma”.

4) “Ainda que esses votos sigam numa proporção maior para Serra, não seriam suficientes para que o candidato tucano virasse a eleição”.

5) Perguntei ao professor se Serra não poderia tirar votos da própria Dilma, ou seja: se a petista não poderia continuar “sangrando”. Ele disse que, historicamente, é muito dificl reduzir os votos de um candidato entre o primeiro e o segundo turno. “O que aconteceu com Alckmin em 2006 foi uma anomalia, e ainda assim ele teve uma redução muito pequena. Serra precisaria ganhar muitos leitores de Dilma, e ainda conquistar três quartos do eleitorado de Marina, acho muito dificil que isso aconteça”.

Bem, essa é a análise do professor Francisco.

Agora, os números.

Dilma ficou a 3,1% da vitoria em primeiro turno. Teve 46,9%. Em números de votos: 47,6 milhões de votos, num total de 101 milhões de votos válidos.

Ela precisa conter a sangria vinda dos boatos religiosos. Se essa contenção for bem sucedida, bastaria a Dilma conquistar mais 3 milhões de votos para vencer.

Pesquisas mostram que o eleitorado de Marina estaria dividido sobre o segundo turno: cerca de 50% preferem Serra (principalmente em São Paulo e no Rio), 20% votariam branco ou nulo porque não topam PT nem PSDB. E 30% preferem Dilma aos tucanos (é o eleitorado mais progressista, que já votou no PT no passado, decepcionou-se, mas não quer a volta dos tucanos).

Ou seja: dos 20 milhões de votos que foram para Marina no primeiro turno, Dilma poderia ter cerca de 6 milhões de votos. Há que se levar em conta ainda 1 milhão de votos dados para a esquerda (Plinio e outros). Esse colchão de 7 milhões de votos levaria Dilma para perto de 54 milhões de votos.

Serra, que teve 33 milhões de votos no primeiro turno, poderia chegar a 43 milhões se consquistasse mesmo metade do eleitorado de Marina. A dúvida é: Serra será capaz de convencer também os marinistas que não querem saber de tucanos e petistas (cerca de 4 milhões, ou 20% do eleitorado de Marina no primeiro turno)? Se conseguir trazer esse votos, ele se aproximaria mais de Dilma, ainda que a candidata do PT siga como favorita.

Na melhor das hipóteses para Serra, o jogo do segundo turno começaria assim:

- Dilma – 54 milhões de votos (cerca de 54% dos validos)

- Serra – 46 milhões de votos (cerca de 46% dos válidos).

As primeiras pesquisas devem mostrar mais ou menos esse quadro, talvez com Serra mais perto dos 40%.

Qual a estratégia possível para Serra? Conquistar 0 máximo que puder dos eleitores de Marina, e ainda sangrar Dilma (especialmente nos setores populares e na classe C – mais suscetível, ao que parece, à boataria religiosa). Como faria isso? Aprofundando o terrorismo religioso, aumentando as dúvidas sobre Dilma.

O problema para Serra é que, se fizer isso, ele pode perder eleitores da classe média urbana – que votou em Marina mas que não apóia o fundamentalismo religioso. Se caminhar muito pra direita, Serra perde o voto de “centro” que votou em Marina, e que poderia virar voto nulo.

A saída para Serra: terceirizar o terrorismo e posar de bonzinho nos debates. Deve ser esse o caminho dele. Pode dar certo? No limite, até pode. Mas é muito difícil.

E Dilma?

Dilma só não pode errar muito. Errar é demorar para captar os boatos e as imagens que se disseminam pela internet e pelas ruas (o comando da campanha não deu atenção devida a esse fator no primeiro turno). Errar é começar o segundo turno cercada de políticos pesos pesados do Brasil inteiro, mas na hora de falar para o público ter à mão um microfone que não funciona. Ninguém entendia o que Dilma falava! Errar, por fim, é dar entrevista para o “JN” mal maquiada, mal ajambrada e cansada – como Dilma fez ontem.

O resumo da ópera é o seguinte: Dilma segue como franca favorita. O bombardeio midiático tirou um pouco de votos, mas isso não foi o importante. O grave foi que a campanha terrorista (e menosprezada pelo comando lulista, apesar do que dizíamos aqui nos blogs) religiosa conseguiu levantar dúvidas sobre o perfil pessoal da candidata. Isso é um fato.

Serra obteve do eleitorado o benefício da dúvida - ainda que usando métodos horríveis, e contando com a ajuda de Marina e com a falta de reação do PT.

Apesar disso tudo, Dilma tem Lula. Lula é a vitória. Lula precisa aparecer mais. A comparação de Lula com FHC é fatal para Serra. E foi pouco usada no primeiro turno. Lula só não pode ser professoral, e dizer ”eu sei o que é melhor pra vocês, votem na Dilma”. Não pode dizer que partido da oposição “precisa ser extirpado”. Não. Ninguém quer oposição extirpada. Dilma e Lula podem (e devem, na opinião desse humilde blogueiro) derrotar a oposição. Mas não extirpá-la.

Lula precisa convencer, com humildade, o eleitorado que tem enorme simpatia por ele. Brasileiro gosta de humildade associada à firmeza; Lula sabe muito bem como fazer isso.

O PT só não pode achar que já ganhou, nem menosprezar adversário – como digo aqui há 3 meses. Isso deu no “Maracanazo” em 1950. Derrota de Dilma nessa eleição só ocorre se houver um Maracanazo” – uma pane geral na campanha.

Tudo conspira a favor de Dilma, apesar dos erros cometidos na reta final do primeiro turno. E não vejo do lado tucano um Giggia avançando pela ponta direita pra marcar 2 a 1.

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Aborto é armadilha da direita

Por Altamiro Borges

Nas manchetes dos jornalões e nos monólogos da televisão, a direita tenta forçar a candidatura Dilma Rousseff a discutir unicamente o tema do aborto. A mídia evita tratar dos grandes temas nacionais, das diferenças abissais de projetos entre os dois concorrentes no segundo turno, e se esforça para impor uma pauta carregada de ignorância, preconceitos e dogmas religiosos.

A armadilha é visível. Na campanha, Dilma tratou o tema como uma questão de saúde pública, evitando visões simplistas. Já o demotucano Serra até poderia ser mais facilmente prejudicado pelos preconceitos. Como ministro da Saúde de FHC, ele liberou o uso da “pílula do dia seguinte”. Em 1998, ele também foi demonizado pela cúpula da Igreja Católica por normatizar a realização do aborto nos casos previstos em lei. Agora, ele simplesmente foi poupado pela direita e sua mídia.

A demonização de Dilma

Entre as baixarias da campanha da direita, muitos avaliam que este tema foi um dos responsáveis pelas surpresas nos últimos dias do primeiro turno – queda de Dilma Rousseff, identificada com as lutas feministas, e crescimento de Marina Silva, evangélica e conservadora. Serra, blindado pela mídia, acabou se beneficiando da polêmica travada entre as duas candidatas mulheres.

O jogo sujo foi pesado. A Regional Sul da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que contempla São Paulo, divulgou documentonas missas em que “recomenda encarecidamente” que não se vote em Dilma por ser “contra a vida”. Pela internet, um culto da Igreja Batista de Curitiba, visto por quase 3 milhões de pessoas, mostra cenas fortes de fetos mortos e despedaçados e o pastor pedindo que não se vote na petista, que “defende o aborto e o casamento gay”.

Campanha fascista de boataria

O impacto desta boataria foi corrosivo. Marcelo Déda, reeleito em Sergipe, garante que “a queda de Dilma e o crescimento de Marina no final se deveu ao recrudescimento do fundamentalismo religioso. É o efeito do púlpito nas igrejas”. No mesmo rumo, Eduardo Campos, reeleito em Pernambuco, afirma que “nos últimos 15 dias, especialmente, houve uma campanha fascista de boataria”. O senador Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, lembra que “o pastor pode ter dificuldade para conseguir votos dos fiéis. Para tirar voto, o efeito é inverso”.

Apesar de vários alertas – o blogueiro Rodrigo Vianna foi um dos primeiros a advertir sobre os estragos nas bases católicas e evangélicas –, a comando de campanha de Dilma, sempre muito hermético, não percebeu o efeito nefasto da onda de boatos. Agora, finalmente ele reconhece que subestimou o tema. “Foi uma campanha perversa, com inverdades sobre o que penso, o que digo. Vamos fazer um movimento no sentido de esclarecer com muita tranqüilidade nossas posições... A gente percebeu tarde, mas percebeu”, explica a candidata.

Da cegueira ao exagero

O comando de campanha afirma agora que a reconquista destes votos passou a ser prioridade no segundo turno. Ou seja, de um extremo ao outro – da cegueira ao exagero. De fato, é necessário esclarecer a sociedade, principalmente os setores religiosos mais conservadoras. Mas este não é o principal tema da campanha, nem sequer para os movimentos feministas mais lúcidos. Deve-se evitar a armadilha imposta pela direita. O que está em debate na sucessão é o futuro do Brasil.

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E agora, Marina?

Reproduzo artigo de Mair Pena Neto, publicado no sítio Direto da Redação:

Nas primeiras eleições presidenciais pós-ditadura, em 1989, quando perdeu para Lula o direito de disputar o segundo turno contra Collor, Brizola, apesar do enfrentamento direto que teve com o petista na primeira fase do processo, não hesitou sobre que lado tomar. Foi quando cunhou a frase de que seria fascinante fazer a elite engolir o “sapo barbudo” e apoiou Lula, transferindo alguns dos milhões de votos que teve no primeiro turno.

Em um momento crucial para o país, que elegia seu primeiro presidente após 25 anos de ditadura, não havia meio termo. Ou se estava ao lado da candidatura das forças populares, naquele segundo turno, representadas por Lula, ou se estava com as elites e o “filhote da ditadura”, como Brizola, em mais uma de suas históricas tiradas, classificou Fernando Collor. Em toda a sua trajetória política, Brizola jamais teve dúvidas ideológicas. Principalmente, no momento das grandes decisões para a vida do país.

Agora, o Brasil volta a viver uma situação de encruzilhada. O segundo turno das eleições presidenciais terá o caráter plebiscitário que Lula quis apresentar desde o início. O que estará em jogo são dois projetos antagônicos. Um, representado por Dilma Rousseff, baseado no fortalecimento do Estado e na sua capacidade de promover o crescimento com redução das desigualdades. O outro, personificado por José Serra, pró-mercado, privatista, que entende o Estado apenas como gerente e não vê sentido em programas sociais de grande alcance, como o Bolsa Família.

Novamente, não há meio termo ou terceira via. Ou é um ou é outro. É nesta hora que se pergunta se Marina Silva, responsável por levar a eleição ao segundo turno, terá a grandeza de Brizola, se irá se aproximar da direita, ou, pior ainda, se amiudará politicamente e tomará a posição conveniente e covarde da neutralidade.

Marina também está numa encruzilhada. Sua votação acima do esperado e não captada em sua verdadeira dimensão por nenhum instituto de pesquisa a alçou a um novo patamar político. E nesta nova condição, ela precisa tomar partido na completa acepção do termo.

A partir de sua decisão tomaremos conhecimento de quem é a Marina que sai dessas eleições. Se a seringueira forjada pela luta de Chico Mendes, a ex-militante histórica do PT e ex-ministra do governo Lula, que sempre participou das lutas populares ao lado das forças da esquerda, ou uma evangélica conservadora, apoiada num confuso discurso ambientalista, com mais aceitação no empresariado do que na população.

Marina, não há dúvidas, foi a maior beneficiária da sucessão de “escândalos” midiáticos e da exploração eleitoral nas últimas semanas de campanha da fé das pessoas, através da disseminação em púlpitos e pela internet de temores envolvendo aborto e união de homossexuais, onda que aproveitou sem maiores questionamentos.

Com o segundo turno, tem a oportunidade de mostrar que é bem mais do que isso e se posicionar no espectro político que sempre defendeu, comprometido com um Brasil socialmente mais justo. A neutralidade nesse momento é uma não tomada de posição e será entendida como preocupação exclusiva com um projeto político pessoal, em detrimento do que é melhor para o povo brasileiro.

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