domingo, 17 de outubro de 2010

Hora decisiva. Vamos à luta!

Reproduzo artigo enviado pelo amigo Beto Almeida, membro do conselho diretivo da Telesur:

A frágil democracia brasileira, que ainda precisa ser consolidada, está sendo alvo, uma vez mais, de um golpismo midiático comandado pelas forças conservadoras a serviço das oligarquias internacionais. Não se trata apenas de baixaria, de central de boatos, de retrocesso temático por uma característica da sociedade brasileira. Trata-se de uma agenda imposta, cuidadosamente escolhida, destinada a enfraquecer a candidatura de Dilma por ser representante de uma política de recuperação da soberania nacional, de valorização do trabalho e da produção e da integração dos povos da América Latina e do sul num novo equilíbrio mundial, sem vassalagem aos centros imperiais.

A agressividade da caudalosa ação midiática para demolir a imagem de Dilma Roussef, acusada de bandida, terrorista, assassina, incompetente, inexperiente, contrária aos valores da família, da ética, e da vida, é encontrada também em vários outros momentos de nossa história em que o Brasil estava, como agora, decidindo-se por um projeto político em que se afirma como Nação Soberana, contra o outro projeto, destinado a preservar os interesses sórdidos das oligarquias internacionais que vivem da rapina aos povos da periferia do mundo.

Foi exatamente assim, com esta mesma ferocidade, com o rancor mais faccioso, com argumentos fascistas, que as forças conservadoras lançaram-se na campanha histérica para tentar impedir, nos anos 50, que Vargas levasse adiante seu projeto de nacionalização do Petróleo e criação da Petrobrás, bem como da Vale do Rio Doce, do BNDES. “Não me acusam, me insultam; não combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes” [Trecho da Carta Testamento de Vargas].

Dilúvio de calúnias: supressão do debate democrático

Com todo este dilúvio de mentiras, calúnias e ofensas, pretendem impedir que a campanha eleitoral seja o palco democrático iluminado e claro para a comparação civilizada e sensata de propostas, dos projetos defendidos por um e outro candidato. Até grupamentos neonazistas foram convocados para esta fraude informativa. O que se quer é uma invisibilidade da verdadeira pauta democrática sobre os rumos do Brasil, com o que as propostas nem sequer são conhecidas em profundidade, obscurecidas e escondidas sob uma nuvem de desinformação, manipulação e falsificações sem qualquer limite, repetida em uníssono pelos grandes veículos de comunicação, rigorosamente controlados pelos magnatas do setor. Pretendem confundir o povo. É uma articulação que tem o alcance de um golpe midiático!

Como ocorria contra Vargas, quando a artilharia pesada dos meios de comunicação comandados pelo capital externo não admitia que o Brasil tivesse soberania sobre suas riquezas naturais nacionalizada. Para impedir que o governo varguista continuasse valorizando o trabalho, os direitos trabalhistas e avançasse na criação da Eletrobrás, já anunciada, desataram a venenosa campanha do “mar-de-lama no Catete”, organizando a deposição do Presidente da República, que optou por derrotar o golpe com um tiro no próprio coração.

A campanha midiática de então era, como agora, pautada em um moralismo histérico, rudimentar, anti-histórico, perigosamente fanático, descontextualizando fatos, usando abertamente de mentiras, invenções e meias verdades. Como nas medievais caça às bruxas... Mas, o objetivo é um só: impedir a discussão verdadeira e o objetiva dos problemas nacionais, dos problemas do nosso povo, confundí-lo, em favor dos interesses internacionais.

Agora, usando de outros ingredientes e das novas e velhas tecnologias de comunicação, estas mesmas forças imperiais, controladoras da grande mídia por meio do garrote dos anunciantes, quer impedir a continuidade de uma política que está livrando o país das imposições do FMI, reconstruindo a Telebrás, renacionalizando a Petrobrás, e, além disso, dotando o Brasil de uma estratégia nacional de defesa, indispensável num mundo marcado pelo intervencionismo dos fortes contra os fracos...

“Esse mar é meu, leva esse barco pra lá desse mar...”

Para que se tenha um exemplo claro do efeito causado por este dilúvio midiático para desviar e impedir a visão sobre fatos importantes, quase não foi divulgada a decisão recente do governo de ampliar sua fronteira marítima, incorporando mais 960 mil km2 a zona de soberania nacional do mar. A medida é de importância transcendental, sobretudo pela descoberta do pré-sal, mas também em razão do perigoso jogo de poder mundial em que nações imperialistas lançam-se com voracidade ilimitada, com o uso da força militar quando necessário, à rapina das riquezas naturais em qualquer parte do planeta onde imaginam ser possível tomar. Um fato de tal dimensão não é ainda, provavelmente, do conhecimento da grande maioria do povo brasileiro, mas, certamente, serviu para aguçar ainda mais o ódio nos malignos laboratórios imperiais contra a política implementada por Lula e que Dilma pretende continuar, com o apoio dos brasileiros.

Trata-se de uma decisão não isolada, mas vinculada ao conjunto de políticas desenvolvidas pelo governo. Vale dizer que Dilma Roussef, embora estivesse presa, nos anos 70, teve a sabedoria e a objetividade de apoiar a decisão do governo militar de então, de ampliar o mar territorial brasileiro para 200 milhas, medida que provocou o rechaço de várias potências imperiais. Será que os militares nacionalistas sabem disto?

Na atualidade, a nova expansão de nossa soberania sobre o mar está vinculada à recuperação da indústria naval – demolida pela era da privataria - ao apoio ao projeto do submarino nuclear, ao reequipamento da Marinha Brasileira - que também foi desarmada pelos privateiros amigos de FHC/Serra - e a decisão de ampliar o controle estatal sobre o petróleo, incluindo o pré-sal. Será que os militares preferem apoiar um candidato comprometido com o desarmamento unilateral do Brasil? Um candidato que participou da entrega da Embratel às mãos de uma empresa norte-americana, com o que informações estratégicas, inclusive de segurança nacional, passaram às mãos dos órgãos estrangeiros? Sem contar a possibilidade técnica real de promoverem um apagão satelital contra o Brasil?

Houvesse jornalismo independente hoje no Brasil seria boa pergunta se fazer ao Serra... O dilúvio midiático golpista quer evitar que estes temas sejam discutidos democraticamente, no que logra-se êxito já que todos os grandes veículos estão controlados pelos interesses internacionais, enquanto que as forças populares e progressistas ainda não organizaram, até hoje, um veículo de comunicação de expressão de massas, nacional, regular, com capacidade para fazer o contraditório e quebrar a monolítica linha editorial conservadora. Ainda não temos o nosso “Última Hora”.

Golpismo midiático

O golpismo midiático que se aplica agora contra a candidatura de Dilma Roussef foi também aplicado contra Jango. Os veículos de comunicação que pediam em editoriais histéricos a intervenção militar contra a suposta “república sindicalista”, chegaram a proclamar a “vacância da presidência da república”, quando Jango estava em território nacional e possuía a legitimidade que lhe fora dada pelos eleitores.

Não há razoabilidade contra o pensamento golpista. Serra utiliza-se desta linha facciosa de argumentação nos debates e em sua propaganda eleitoral. Perguntou a Dilma sobre a dívida da Santa Casa, parentando preocupação com exigüidade de recursos aplicados em saúde, como se não fora seu partido e as demais forças conservadoras os responsáveis pela extinção do CMPF, sangrando o orçamento da saúde de uma só vez, em cerca de 40 bilhões ano.

A mais recente privatização de Serra

Tenta excluir-se do time dos privateiros, mas o exemplo mais recente de sua vasta lista de internacionalização do patrimônio público, é a nefasta privatização da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista, promovida pelo Governo Serra, ocorrida em 2008. A estatal era avaliada em 16 bilhões de reais, e foi doada pela bagatela de 1,6 bilhão a uma empresa colombiana, controlada por acionistas norte-americanos.

Detalhe: em menos de um ano de operação, com alta radical e artificial de tarifas, redução de investimentos e dos serviços de operação, precarização dos serviços, apagões e demissão em massa, a empresa arrecadou quase um bilhão de reais em lucro, quase o valor obtido na venda. Gravíssimo: no edital de privatização desta empresa constou cláusula que impedia a participação de empresas estatais brasileiras, pois havia o interesse da paranaense Copel e da mineira Cemig na sua compra. Pelo edital, um estímulo à internacionalização.

Profissão: golpista

O único argumento que as ações golpistas temem e consideram é aquele que vem acompanhado pela presença de massas nas ruas! Vale lembrar que no episódio da chamada crise do mensalão, quando toda a orquestração midiática estava destinada a alcançar de Lula a renúncia à uma nova candidatura, ou até mesmo recorrer à alternativa do “impeachement”, o que fez esta gente recuar foi o anúncio do presidente de que iria defender seu mandato nas ruas. “Não vou suicidar como Vargas, não vou renunciar como Jânio, não vou sair do País como Jango, vou defender o mandato popular nas ruas!”, disse ele.

Foi isto o que levou a oposição conservadora a vacilar e a recuar de sua sanha golpista de então, sempre lembrando que todos os governos populares estão sempre na alça da mira do golpismo. É um golpismo permanente, uma conduta sistemática das oposições conservadoras. Queriam aplicar em Lula aquela fraseologia facciosa de Carlos Lacerda lançou contra Vargas. Dizia: “ele não pode ser candidato. Se for, não pode vencer as eleições. Se vencer não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar, teremos que derrubá-lo”. Ou seja, profissão, golpista. E tudo isto era apoiado pelos clarins da banda midiática da UDN, que chegaram a “noticiar” que no Brasil não existia petróleo a não ser na mente delirante de Vargas.

A força das ruas

Sendo assim, é chegada a hora de convocar novamente o povo a fazer história nas ruas. E com uma enorme onda unitária verde-amarela, não onda vermelha apenas. As eleições estão ameaçadas por um dilúvio midiático de falsificações e calúnias, mas com o sentido e o alcance de um golpe contra o exercício do direito democrático por meio do voto popular!

Reiteramos: não é apenas estilo torpe, fanatismo ou baixaria. Trata-se de uma intervenção planejada para demolir uma candidatura não por meio do debate de propostas e de idéias. Tentaram contra Evo Morales, taxando-o de “narcopresidente”! Contra Pepe Mujica no Uruguay, chamando-o de terrorista! Também contra Cristina Kirchner, igualmente chamada de bandoleira, terrorista e guerrilheira. Transmissões de rádio captadas mostravam mensagens militares orientando sua eliminação física. Agora, contra Rafael Correa, no Equador, nas mensagens de rádio captadas havia incentivos militares ao assassinato do presidente eleito, jamais perdoado pela recuperação da soberania sobre a Base de Manta, antes controlada por forças militares norte-americanas.

Toda esta agressividade midiática para demolir a imagem de Dilma indica que estas forças reacionárias controladas pelo capital externo interessado em abocanhar o petróleo Pré-Sal, não perdoaram Lula e a candidata pelas medidas de recuperação da soberania nacional, muito embora ainda haja tanto a caminhar. A operação midiática incluiu a valorização da candidatura Marina Silva para assegurar o segundo turno. Sobretudo, influenciando para que na proposta dos verdes incluam-se, por exemplo, pontos programáticos que afirmam ser indiferente se o capital é nacional ou internacional, desde que seja ecológico na aplicação. Será realmente indiferente, por exemplo, no petróleo Pré-Sal, que o capital seja nacional ou internacional?

Unidade, unidade, unidade

Embora havendo semelhanças com o golpe organizado contra Vargas, por sorte, há indicativos de que todas as forças progressistas caminham para uma unidade e para uma linha ação em defesa da continuidade, manutenção e aprofundamento das conquistas alcançadas pelo governo atual. Não se espera que haja, por exemplo, repetição do equívoco histórico cometido pelos comunistas que, no dia 24 de agosto de 1954, em manchete de seu jornal, o Tribuna Popular, reivindicavam a renúncia de Vargas, tal como exigia a direita nacional, teleguiada pelo grande capital internacional.

Morto Vargas, a explosão de fúria das massas não poupou sequer as instalações do jornal dos comunistas, bem como a Tribuna de Imprensa, O Globo e o consulado dos EUA. De tal sorte que, segundo relato dos próprios comunistas, a direção do PCB mandou recolher das bancas os exemplares do jornal que pedia a renúncia de Vargas em coro com as forças conservadoras. Na recente crise criada pela tentativa de golpe no Equador, um dos movimentos sociais mais importantes chegou a solicitar a renúncia de Rafael Correia, revelando perda de visão de conjunto sobre as ações permanentes do imperialismo para desestabilizar e inviabilizar qualquer governo que contrarie seus interesses vitais.

Há indicativos de que uma ampla frente popular está sendo forjada até mesmo pela compreensão de que esta campanha conservadora tem dimensões golpistas, levando à necessidade de alerta máximo das forças progressistas para a eventualidade de ter que prevenir e enfrentar novas ações desestabilizadoras, com muito maior truculência, que não podem ser descartadas. É da história. Isso por que, como visto, os interesses em jogo no processo eleitoral brasileiro são de uma dimensão infinitamente gigantesca, não apenas mais um simples pleito, e podem decidir ritmos e prazos do processo histórico de integração latinoamericana e sul-sul, com plena independência dos interesses e ações imperiais.

“Verás que um filho teu não foge à luta”

Devemos ter uma mobilização à altura dos direitos do povo brasileiro em seguir sua caminhada para um processo de emancipação. Só nas ruas, com responsabilidade, criatividade e argumentação inteligente poderemos alcançar os indecisos, os confusos, os milhões e milhões que se abstiveram de votar, os que ainda acham que todos os candidatos são iguais e fazer a comparação democrática e respeitosa dos projetos em jogo. Se não temos jornais, se todos os jornais são contra nós, temos que inventar formas de produzir publicações e levar informações claras e elucidativas sobre o que está em risco em função deste golpismo midiático.

É hora de honrar os millhões que se manifestaram em 1954 quando Vargas foi levado à morte e paralisaram o golpe que vinha. E hora de relembrar as lutas estudantis, de imbuir-se do espírito das Ligas Camponesas, de entoar novamente as trilhas e roteiros das Diretas Já. É hora de lembrar a Carta Testamento de Vargas, de cantar com toda a energia o verso do Hino Nacional que diz “Verás que um filho teu não foge à luta”. Ou, aquela linda canção de Gonzaguinha “E vamos à luta!”, com a qual termino:

“Eu acredito é na rapaziada,

Que vai em frente e segura o rojão.

Eu tenho fé é na fé da moçada

Que não foge da fera e enfrenta o leão

Eu vou à luta é com a juventude

Que não corre da raia em troco de nada

Eu vou no bloco dessa mocidade

Que não está na saudade e constrói a manhã desejada!

Gonzaguinha


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Porque há um silêncio que ensurdece

Reproduzo artigo enviado pelo amigo Démerson Dias. Discordo, no geral, da sua leitura sobre o governo Lula, mas penso que o texto ajuda a reflexão crítica num setor da esquerda brasileira:

E o venerável Cardeal disse que vê

Tanto espírito no feto

E nenhum no marginal

...

E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo

Diante da chacina

Caetano e Gil, “Haiti”



O processo eleitoral, neste segundo turno, transitava pela dúvida sobre quem seria o melhor gestor capitalista para o Brasil. Até que, alavancada pela vitória de Geraldo Alckmin no primeiro turno para o governo de São Paulo, ressurge com estardalhaço uma vetusta organização política fascista chamada Tradição, Família e Propriedade (TPF, entidade católica que figurou entre os que patrocinaram o golpe de 64).

O governo Lula é neoliberal, mas a TFP, talvez, depois dos skinheads, é o que há de mais fascista neste país. Trata-se de um setor que, de maneira geral, tinha sido derrotado por nós por ocasião da tênue reconstrução democrática.

Enquanto a discussão se dá entre o neoliberalismo condescendente de Lula e o neoliberalismo enrustido dos tucanos (ou o contrário, talvez), a opção é pelo tipo de algoz que preferimos. O estilo a la tucanato é de um algoz que tortura sem rodeios, a sangue frio. Já a plataforma lulista é a de um algoz “esclarecido”, que tortura um pouquinho e depois nos manda à enfermaria, para retomar a tortura mais tarde.

E isso não é um elogio a Lula; seu neoliberalismo é mais cruel, pois dá a nós, trabalhadores, apenas uma sobrevida, enquanto reserva, para o capital, condições nababescas. Como o capitalismo não existe sem suas contradições, o populismo de Lula nos preserva a possibilidade da esperança – não no governo, mas na insurgência, claro.

Em outras palavras, com Serra o povo paga pelo neoliberalismo e ainda morre à míngua; com Dilma, ele pode assistir na TV, durante o jantar, à espoliação de suas riquezas. E ainda comentar por torpedo, ou redes sociais, com os amigos.

Ocorre que por via oblíqua, ou desavisadamente, Lula acaba retificando, na prática, seu caráter de conciliador de classes. Como fosse um capricho da história a alguém que a renega, Lula abre a possibilidade de rompermos o ciclo machista no comando do país (isso não é o mesmo que nada entre nós), e acaba até por render homenagem aos lutadores do Brasil, quando indica a sua sucessão uma mulher que foi às armas contra a ditadura e reivindica esse passado (convenhamos, não no plano histórico, mas pessoalmente é mais do que fez Lula, que renega a esquerda).

A crise à direita é tamanha que somente uns poucos tolos conseguem erguer ilações machistas. O que vai doer mesmo, na própria carne, é que, em primeiro lugar, a direita não tolera os pobres – esses mesmos pobres que busca manipular por meio de seus funcionários fascistoides, invocando fantasmas e demônios para associá-los a Dilma. Há que se convir que a legitimidade do governo Lula é fruto de um assistencialismo turbinado e efetivo.

A segunda provocação é ainda mais intolerável, ao se invocar o passado guerrilheiro, alguns reacionários criminalizam “Estela” pelo assalto aos dólares de um corrupto contumaz paulista. Indagam pelo destino dos recursos nas mãos dos guerrilheiros, mas relevam sua origem (ou seja, há crimes que se toleram e outros que não, a depender de quem os comete). O ataque a Dilma vem se dando, portanto, pelas poucas virtudes existente dentro governo Lula.

O cerne da questão, contudo, não reside aí.

A plataforma que impulsiona a entrada da TFP nesse cenário é o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH). Lembremos que a maioria dos indicados por Lula ao STF endossou a anistia aos torturadores. Ou seja, o governo Lula é tímido em relação à questão dos direitos humanos.

Para os que legitimam as truculências e os assassinatos da ditadura, a ampliação de garantias contida no PNDH3 é inadmissível. Além de absurdo, é trágico criminalizar o aborto, na medida em que, entre os crimes cometidos, incluem-se estupros. Que legitimidade possuem os que acoitam estupradores para criminalizar o aborto?

Além disso, trata-se de um segmento que considera que o direito à propriedade de uns poucos tem primazia sobre o direito à existência digna dos demais.

O governo Lula não merece meu voto, mas a TFP não admite meu silêncio. Tanto esse passado deplorável ainda é atual que, quase 50 anos depois, ainda se confrontam sobreviventes: de um lado, da truculência reacionária; do outro, da luta contra a ditadura. Não vivi aquele momento e, se o tivesse vivido, não tenho certo até onde iria. Mas não tenho absolutamente nenhuma dúvida sobre o lado ao qual me alinharia.

Há concessões que não se fazem, mas há omissões que nos aproximam da conivência. Deixar de distinguir que as semelhanças entre Dilma e Serra estão num patamar distinto do arco reacionário, que busca voltar a se legitimar no Estado brasileiro a partir da candidatura tucana, é recusar as lições da história. Se todas as direitas fossem iguais, as esquerdas também o seriam. A opção pelo “quanto pior, melhor” é tão desumana quanto reacionária.

Tais setores já demonstraram que podem perfeitamente explorar, com requintes de crueldade, a incapacidade de coesão do campo progressista. Historicamente estavam fadados a serem apenas passado, até que um ligeiro solavanco os trouxe de volta à cena, novamente mandando às favas os escrúpulos da consciência.

Não se trata, portanto, de mero endosso à subordinação capitalista do atual governo, mas de perceber, justamente, que há tons de cinza nessa escala política que podem torná-la ainda mais tétrica. Subestimar adversários dessa estirpe já nos custou 30 anos de retrocesso e milhares de vidas. E é essa compreensão que nos distingue do totalitarismo.

Em resposta à TFP, voto na ex-guerrilheira. Dia 31, voto 13, contra o reascenso do campo fascista. A galopar, até enterrá-los no mar.

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sábado, 16 de outubro de 2010

O crime eleitoral do Bispo de Guarulhos



Gráfica na capital paulista imprime, a pedido do bispo da igreja católica de Guarulhos, milhões de exemplares de jornal contra a candidata Dilma Rousseff. O caso é grave. É crime eleitoral. O bispo merecia ser processado e até preso

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As falcatruas do homem-bomba do Serra

Reproduzo matéria publicada no blog Cloaca News:

O ex-diretor de engenharia da Dersa, Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, acusado de tráfico de influência, desvio de dinheiro público e improbidade administrativa, capitaneou algumas das principais obras do governo de José Serra. Ele foi o responsável pela medição e pagamentos a empreiteiras contratadas para construir o trecho sul do Rodoanel, pela expansão da avenida Jacu-Pêssego e pela reforma na Marginal Tietê.

No currículo do engenheiro constam 11 anos de serviços prestados ao PSDB. Trabalhou no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso como assessor especial da Presidência, no programa Brasil Empreendedor Rural. Assumiu a diretoria da Dersa em 2005, primeiro de Relações Institucionais e, depois, de Engenharia.

O ex-governador José Serra, após ter refrescado sua memória e reconhecido que, sim, sabia quem era Paulo Preto, fez questão de frisar que seu ex-funcionário havia recebido, em 2009, o prêmio Engenheiro do Ano, do Instituto de Engenharia. Porém, o que Paulo Preto deixou para a população paulista foram obras repletas de irregularidades, que, inclusive, já ocasionaram a morte de duas pessoas.

Rodoanel

O trecho sul do Rodoanel custou R$ 5 bilhões e é alvo de suspeitas e denúncias de instituições fiscalizadoras como o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público, que apontam a obra como um gigantesco ninho de superfaturamento e irregularidades de todo tipo.

Essa obra teve seu processo de construção acelerado para uso na campanha eleitoral. Sem uma efetiva fiscalização por parte do Estado, houve ajustes frequentes de preços ao longo da execução, alteração nos materiais utilizados e no projeto da obra.

Pelo projeto básico, por exemplo, deveriam ser usadas fundações de concreto conhecidas como tubulões para sustentar os vãos livres dos viadutos do trecho sul do Rodoanel. Mas os construtores trocaram esse material por duas mil vigas pré-moldadas, mais baratas – como as que desabaram sobre a Rodovia Régis Bittencourt em 13 de novembro de 2009, poucas horas depois de instaladas, esmagando três veículos e ferindo três pessoas.

A troca de material usado na construção, contudo, foi apenas uma das 79 irregularidades classificadas como “graves” em relatório emitido pelo Tribunal de Contas da União, em 29 de setembro de 2009, com base em duas auditorias feitas em 2007 e 2008, nos cinco lotes da obra.

Até hoje, seis meses depois de inaugurado, o trecho sul segue com problemas. Além da ausência de barreiras e acessos, falta de sinalização, câmeras de monitoramento, telefones de emergência, sistema de drenagem. A questão da segurança foi negligenciada. Há também o problema da iluminação, que ainda é obtida através de geradores. Duas pessoas já morreram em acidentes agravados por esses problemas.

Nova Marginal

"Pode ser mortal", diz o engenheiro Sergio Ejzenberg, mestre em Transportes pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em referência aos riscos de acidentes provocados pela falta de guardrails nas novas pistas da Marginal do Tietê, inauguradas há seis meses.

A chamada Nova Marginal Tietê foi entregue praticamente sem sinalização e monitoramento nas vias. A falta de faixas e placas confundiam os motoristas e os colocam em risco de acidentes.

O líder da Bancada do PT na Assembleia, deputado Antonio Mentor, inclusive conseguiu a anulação das multas aplicadas na Nova Marginal devido à falta de sinalização.

Os motoristas enfrentam ainda um outro problema na Nova Marginal, que é ausência de iluminação em alguns trechos. Até agora, o sistema foi instalado em apenas 12,9 dos 23 quilômetros.

Também faltam acessos. No Complexo do Tatuapé, por exemplo, falta mais uma ponte para o trânsito de veículos que saem da Avenida Salim Farah Maluf em direção às rodovias Castelo Branco ou Ayrton Senna. A previsão de entrega dessa ponte é somente para o final do ano.

Vale lembrar também que ao anunciar o projeto de construção da Nova Marginal, o governador José Serra disse que o custo seria de R$ 800 milhões. Depois a obra passou para R$ 1,3 bilhão e finalmente, foi anunciado que a obra vai custar R$ 1,9 bilhão, ou seja, 137% a mais do revelado inicialmente.

Jacu-Pêssego

O prolongamento da avenida Jacu-Pêssego se arrasta desde 1996. A previsão inicial era abrir para o tráfego junto com a inauguração do trecho sul do Rodoanel, em abril, mas foi adiada por várias vezes.

No final de setembro, o jornal O Estado de S. Paulo percorreu a obra, orçada em R$1,9 bilhão, e verificou que ainda não estava finalizada. Apesar de parte da sinalização já estar pintada no chão, não havia placas nem semáforos. No canteiro central, o cenário era de muitas pedras. A via também não tinha retornos e as entradas para outras avenidas não estavam prontas.

Também não havia faixa para pedestres e as duas passarelas estavam em construção. Por fim, a iluminação estava deficiente e, em alguns trechos, postes ainda estavam sendo instalados.

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O aborto e o casal Monica e José Serra

Reproduzo mensagem enviada pelo amigo jornalista Alipio Freire:

Até este momento, nenhum de vocês me viu escrever sobre o aborto que teria feito a senhora Monica Serra.

Antes de tudo, porque considero que a privacidade das pessoas deve ser respeitada e preservada – princípio que aprendi ainda em criança, em minha casa, com os meus pais, e que os anos de militância e de vida, apenas reforçaram e consolidaram, dando-lhe contornos políticos mais claros e precisos.

Aprendi que transformar a privacidade das pessoas em espetáculo público é uma prática fascista, como é igualmente fascista todo ato de despolitizar e desqualificar o debate político (política = luta de classes, segmentos e grupos sociais em defesa dos seus interesses), substituindo esse debate pela discussão da privacidade e intimidade dos indivíduos [*].

Como muito bem afirma o filósofo Jean-Paul Sartre sobre a questão da tortura, penso igualmente a respeito do fascismo: "Não são os fascistas que produzem os fascismo. São as práticas fascistas que produzem homens e mulheres fascistas".

Sou intolerante com esse tipo de assunto.

E creio que devamos ser todos.

Com as últimas informações, ficou claro para mim que a única responsável por haver transformado em espetáculo público sua intimidade (aborto realizado aos quatro meses de gravidez) foi a própria senhora Monica Serra, esposa do candidato à Presidência da República, senhor José Serra, que o fez publicamente para suas alunas, e em diversas aulas e ocasiões. A mesma senhora que, em campanha pela eleição do seu esposo, afirmou que a candidata à Presidência Dilma Rousseff “vai matar as criancinhas”.

A auto-exposição pública, além de todas as mazelas já apontadas neste texto, ainda carrega as virtudes do narcisismo e da egolatria.

Enquanto a senhora Monica age dessa maneira (hipócrita, duplamente mentirosa, vulgar, narcísica, ególatra e fascista), a campanha do seu esposo – senhor José Serra – contrata um serviço de telemarketing para difundir que a candidata Dilma Rousseff, uma vez eleita, legalizaria o aborto em nosso país.

De acordo com o jornal “Correio Braziliense”, os telefonemas são dados por funcionárias mulheres do telemarketing, acrescentando: “Elas ligam em horário comercial no telefone fixo e procuram saber se há eleitor de Marina Silva (PV) na residência. Caso haja, as atendentes insistem na tecla de que a petista é a favor do aborto e que ela hoje se diz contrária apenas para ludibriar o eleitor”.

Por essas e outras, organizei alguns materiais que recebi de diversas fontes acerca do assunto, e que lhes repasso no pé desta mensagem e em arquivo.

Há uns dois dias, a candidata Dilma Rousseff assinou um documento público, no qual afirma que, durante sua gestão, a questão do aborto permanecerá tal qual está definida legalmente hoje.

Ainda que defensor da descriminalização do aborto e entender que esta é uma questão de políticas públicas – de Saúde e de Direitos Humanos – sinto-me na obrigação (ética e política) de declarar que concordo com este gesto da candidata Dilma Rousseff: a descriminalização do aborto é um assunto por demais sério e a quantidade de preconceitos que envolve (e que vêm sendo explorados calhordamente e de forma crapulosa nestas eleições pelo candidato José Serra, sua família e a frente DEM-Tucanos que ele representa), e que a atual correlação de forças impede qualquer avanço nessa direção. Depois de toda essa campanha, orquestrada pelo que há de mais podre em nossa sociedade, garantir os pequenos avanços conquistados a esse respeito, já é uma vitória.

Aos que ficam indignados com esta decisão da candidata Dilma Rousseff, chamo a atenção para quatro aspectos da questão:

Primeiro: a luta de classes (o fazer política) não se limita aos processos eleitorais – as eleições são um importante momento da política, mas não resumem ou substituem todas as manifestações do fazer político. Mais que as eleições, é a capacidade de mobilização e organização dos trabalhadores e dos demais explorados e oprimidos, quem tem a maior possibilidade de mudar a correlação de forças na sociedade, em favor dos interesses da maioria.

Segundo: hoje, derrotar a aliança DEM-Tucanos é mais importante do que discutir a questão do aborto, uma vez que a derrota das forças que apóiam o candidato José Serra deve ser, neste momento, nestas eleições, a questão prioritária, a questão principal. Desta derrota, depende a possibilidade de avançarmos em várias questões (pontuais ou não), inclusive aquelas relativas às diversas políticas públicas.

Terceiro: os rumos mais à esquerda ou à direita de qualquer governo dependerão sempre da nossa capacidade de pressão, da nossa capacidade de sermos sujeitos políticos: e só o somos, coletivamente. Ou seja, somente organizados somos um sujeito político capaz de enfrentar adversários e inimigos – o resto será sempre radicalismo-de-gogó, radicalidade inconseqüente. Necessitamos ser o suficientemente fortes em termos de organização e capacidade de mobilização, para empurrarmos os poderes da República na direção do atendimento dos nossos interesses.

Por exemplo: se cercássemos a sede do Supremo Tribunal Federal – STF, no momento de votações de assuntos substantivos para os nossos interesses, dificilmente os bípedes togados que ali decidem sobre destinos do país se sentiriam à vontade para agir como agem. Se cercássemos com milhões de pessoas o STJ, dificilmente personagens como o doutor Gilmar Mendes estariam compondo essa importante instância de poder. Sairiam de lá enxotados e sob nossas vaias. O mesmo serve para o Congresso.

Quarto: enquanto prosseguirmos esperando que os nossos representantes que compõem esses poderes (por melhores e honestos que sejam) sejam capazes sozinhos de responderem às nossas reivindicações e exigências, ou colheremos derrotas, ou os estimularemos a alianças por nós indesejadas, e mesmo a graves práticas não republicanas, como o suborno, a compra de votos, os desvios de dinheiros públicos, as chantagens dos dossiês e a toda essas práticas que negamos, que execramos e que devemos continuar a execrar.

Por fim, com esta minha mensagem e o material que segue espero ter contribuído para colocarmos a discussão do assunto aborto no seu mais adequado rumo, fugindo pelo menos da armadilha fascista que a santa aliança DEM-Tucanos propõem a todos nós.

Mais ainda, espero que, se vier a ser lida por dirigentes do Partido dos Trabalhadores, companheiros com responsabilidades no atual governo e/ou coordenadores da campanha da candidata Dilma Rousseff, inspire medidas política e/ou legais sobre o problema do telemarketing, e outras barbaridades que vêm sendo cometidas.

[*] A esse respeito, sugiro a leitura de “A honra perdida de Katharina Blum”, do escritor alemão Heinrich Böll, ou assistam o filme “A honra perdida de uma mulher”, do diretor Volker Schlöndorff (baseado no livro de Böll). Leiam e/ou assistam o filme, e insistam para que os seus filhos e outros jovens também leiam e/ou assistam o filme.

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