Por Mauricio Stycer, no Observatório da Imprensa:
Mais surpreendente do que o próprio episódio que resultou na eliminação de um candidato do BBB 12 por suspeita de estupro foi a tentativa da direção do programa de varrer a baixaria para debaixo do tapete.
A operação-abafa, urdida na manhã de domingo, 15/1, foi sustentada até o final da tarde do dia seguinte. Nesse meio-tempo, o diretor do programa, Boninho, desdobrou-se em entrevistas, dando versões desencontradas e, em alguns casos, inexatas sobre o que de fato ocorreu.
O ápice da tentativa de reescrever a história ocorreu na noite de domingo, um dos dias nobres do BBB.
A edição do programa não apenas deixou de mostrar as cenas mais picantes da noitada anterior como ainda deu a entender que Monique, a suposta vítima de Daniel, fez um jogo de “morde e assopra” com ele nos momentos que antecederam a suspeita movimentação do modelo sob o edredom.
A cereja do bolo desse momento foi a cínica intervenção do apresentador Pedro Bial, que resumiu tudo assim: “O amor é lindo”. O caso lembrou algumas das maiores escorregadas da Globo, como a deliberada confusão que fez na cobertura do comício das Diretas de 1984, transformando-o numa festa pelo aniversário de São Paulo.
Além de não mostrar as imagens que poderiam ajudar o espectador a julgar o episódio por conta própria, Boninho ainda tentou distrair a opinião pública com a carta do “racismo”. Também não funcionou.
É preciso ressaltar que o cuidado do programa em não acusar Daniel é correto. O BBB não é polícia nem Justiça. Mas isso é muito diferente da tentativa feita de iludir o público sobre o ocorrido.
As festas do BBB, regadas a quantidades industriais de bebidas alcoólicas, destinam-se basicamente a criar situações a serem exploradas posteriormente pelo programa. Gafes, gritarias, baixarias, beijos roubados, escorregões e gemidos sob o edredom fazem a alegria de quem edita a atração e, depois, do público que assiste.
2012 não é 1984
O episódio que envolveu Daniel e Monique, nesse sentido, não chega a ser surpreendente. Foi apenas um ponto fora da curva. Mais cedo ou mais tarde ocorreria.
A novidade é que a edição deixou escapar um vídeo de quatro minutos, que ganhou a internet e se espalhou em velocidade espantosa; 2012 não é 1984.
Foi essa difusão que transformou a operação-abafa de Boninho em pó, levou o governo federal a se manifestar e colocou a polícia no Projac.
Apesar do Ibope em queda, o BBB é um dos programas mais bem-sucedidos da Globo, respondendo por um faturamento da ordem de R$ 380 milhões em 2011.
Responsável direto por este sucesso, o diretor parece ter acreditado que, com seu toque de Midas, seria capaz, mais uma vez, de reescrever a história.
* Reproduzido da Folha de S. Paulo [18/1/12].
Mais surpreendente do que o próprio episódio que resultou na eliminação de um candidato do BBB 12 por suspeita de estupro foi a tentativa da direção do programa de varrer a baixaria para debaixo do tapete.
A operação-abafa, urdida na manhã de domingo, 15/1, foi sustentada até o final da tarde do dia seguinte. Nesse meio-tempo, o diretor do programa, Boninho, desdobrou-se em entrevistas, dando versões desencontradas e, em alguns casos, inexatas sobre o que de fato ocorreu.
O ápice da tentativa de reescrever a história ocorreu na noite de domingo, um dos dias nobres do BBB.
A edição do programa não apenas deixou de mostrar as cenas mais picantes da noitada anterior como ainda deu a entender que Monique, a suposta vítima de Daniel, fez um jogo de “morde e assopra” com ele nos momentos que antecederam a suspeita movimentação do modelo sob o edredom.
A cereja do bolo desse momento foi a cínica intervenção do apresentador Pedro Bial, que resumiu tudo assim: “O amor é lindo”. O caso lembrou algumas das maiores escorregadas da Globo, como a deliberada confusão que fez na cobertura do comício das Diretas de 1984, transformando-o numa festa pelo aniversário de São Paulo.
Além de não mostrar as imagens que poderiam ajudar o espectador a julgar o episódio por conta própria, Boninho ainda tentou distrair a opinião pública com a carta do “racismo”. Também não funcionou.
É preciso ressaltar que o cuidado do programa em não acusar Daniel é correto. O BBB não é polícia nem Justiça. Mas isso é muito diferente da tentativa feita de iludir o público sobre o ocorrido.
As festas do BBB, regadas a quantidades industriais de bebidas alcoólicas, destinam-se basicamente a criar situações a serem exploradas posteriormente pelo programa. Gafes, gritarias, baixarias, beijos roubados, escorregões e gemidos sob o edredom fazem a alegria de quem edita a atração e, depois, do público que assiste.
2012 não é 1984
O episódio que envolveu Daniel e Monique, nesse sentido, não chega a ser surpreendente. Foi apenas um ponto fora da curva. Mais cedo ou mais tarde ocorreria.
A novidade é que a edição deixou escapar um vídeo de quatro minutos, que ganhou a internet e se espalhou em velocidade espantosa; 2012 não é 1984.
Foi essa difusão que transformou a operação-abafa de Boninho em pó, levou o governo federal a se manifestar e colocou a polícia no Projac.
Apesar do Ibope em queda, o BBB é um dos programas mais bem-sucedidos da Globo, respondendo por um faturamento da ordem de R$ 380 milhões em 2011.
Responsável direto por este sucesso, o diretor parece ter acreditado que, com seu toque de Midas, seria capaz, mais uma vez, de reescrever a história.
* Reproduzido da Folha de S. Paulo [18/1/12].
1 comentários:
Boninho, num é aquele que protagonizou um episódio de atirar ovos nas pessoas que transitavam pela calçada de seu edifício????
Postar um comentário