sábado, 18 de setembro de 2010

O striptease da grande imprensa

Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no Blog da Cidadania:

A imprensa tem dedicado um espaço ridiculamente pequeno ao fato mais espantoso desta campanha eleitoral — um fato que as pesquisas de intenção de voto escancaram vez após outra: o eleitorado parece que pretende eleger mesmo Dilma Rousseff para o cargo de presidente da República. E em primeiro turno.

Qualquer um que preste atenção à política, por menos que seja, fica espantado com esse fato, admitindo ou não. A eleição da candidata do PT, se ocorrer, será, acima de tudo – até dos seus adversários diretos na disputa eleitoral –, contra a vontade da grande imprensa brasileira.

A bem da clareza, o autor destas mal traçadas linhas deve esclarecer o que entende por “grande imprensa”. A rigor, são os principais jornais, revistas e meios de comunicação eletrônicos (rádio, tevê e internet).

Mas por que esse fenômeno só ocorre em relação à “grande” imprensa? Afinal de contas, blogs, sites, rádios, tevês comunitárias – e até comerciais –, jornais e revistas de menor porte vêm ganhando cada vez mais credibilidade entre o seu público.

A escassez de explicações da grande imprensa para o fenômeno de ter suas recomendações eleitorais subliminares ignoradas deixa ver, antes de mais nada, um destaque ridiculamente tímido para um fato escandalosamente evidente, o que esclarece por que cada vez menos gente lhe dá crédito, sobretudo quando o assunto é política.

E quando tais explicações aparecem, vêm revestidas da mais pura conversa mole para boi dormir. Colunistas, editorialistas, analistas, articulistas, âncoras de telejornais e assemelhados que figuram na folha de pagamento desses grandes meios de comunicação, desandaram a insultar a sociedade por esta não lhes estar seguindo as orientações eleitorais.

Talvez devessem ser (ainda mais) explícitos quanto à mensagem que desejam passar ao público. Pelo menos é o que parecem pensar esses “formadores de opinião” ao irem aumentado – em vez de diminuir – a aplicação de uma medicina que julgam adequada à desinformação ou à debilidade moral de que pensam que padece a sociedade ao não pretender votar majoritariamente em José Serra.

A grande imprensa, porém, está mais para traficante do que para médico. Não se dá conta de que a droga que vem inoculando no eleitorado, a doses cada vez maiores e mais freqüentes, como toda droga vai fazendo efeito cada vez menor com o passar do tempo, simplesmente porque o paciente acaba criando resistência, ou anticorpos.

Os poucos cidadãos que visitam tão profundamente a grande imprensa a ponto de encontrarem nela explicações para o seu insucesso em convencer os brasileiros a votarem no candidato do PSDB a presidente, só encontram insultos como o de que não entenderam as denúncias que visam a candidata do PT por terem “baixa escolaridade”, ou o de que preferem se vender aos badulaques que este governo lhes permite comprar a votarem no “super-ético” e “ultra-competente” candidato tucano.

Então vale a pena verificar a última pesquisa Datafolha, publicada hoje (16 de setembro) em um dos braços dessa “grande imprensa”, no jornal Folha de São Paulo. Por essa pesquisa, Dilma Rousseff tem 51% das intenções de voto e Serra, 27%. Depois das novas denúncias, a petista subiu um ponto percentual e o tucano ficou onde estava.

Sobre esse dado, os “formadores de opinião” dizem que se deve ao “fato” de que são todos ignorantes subornados pelo Bolsa Família. Todavia, lendo um pouco mais a pesquisa, percebe-se que não é bem assim.

Entre os que têm nível superior de instrução, a taxa de intenção de votos de Dilma fica em 46% (contra os 51%no cômputo geral). Serra vai a 33% e Marina oscila para 14%. Ou seja, a maioria absoluta dos mais instruídos e informados não deu a menor bola para o que a grande imprensa vem tentando lhe vender.

Dos eleitores que essa imprensa considera aptos a votar por terem curso superior e que não vão mais votar em Dilma– e que, antes da campanha de denúncias pré-eleitorais contra a petista, afirmavam que pretendiam votar nela –, menos de 10% se deixaram seduzir pelo canto da sereia midiático.

Dizer que só os formados que pretendem votar em Serra foram capazes de compreender as denúncias, é palhaçada. A maioria dos que têm curso superior pretende votar em Dilma porque que não está dando a menor bola para as denúncias da grande imprensa, e não dá bola porque é justamente aquele cidadão mais informado, educado e atento que tem como perceber as manipulações, os favorecimentos escandalosos a Serra.

Algumas das muitas perguntas que a elite intelectual do país se faz sobre o noticiário:

- Será que é tudo perfeito em São Paulo a ponto de a imprensa não destacar praticamente nenhum aspecto negativo dos governos Serra no Estado e na capital paulista?

- Por que grandes tevês, rádios, jornais, revistas e portais de internet dão destaque às denúncias da Veja contra Dilma e escondem as denúncias da CartaCapital contra Serra?

- Por que tantas denúncias exatamente quando Dilma dispara nas pesquisas?

- Por que o PT sempre sofre acusações às vésperas de eleições?

São questões básicas que as pessoas se fazem enquanto se indignam com as acusações da grande imprensa de que só os ignorantes e desinformados pretendem votar em Dilma.
Pessoas preparadas, informadas, que estão a par de todos os fatos, sentem-se esbofeteadas e impotentes, pois algumas tomam iniciativa de escrever a jornais, por exemplo, para rebaterem essas mentiras, mas são sumariamente barradas, pois os espaços para cartas de leitores, nos jornais e revistas aliados de Serra, são dedicados, quase que exclusivamente, aos eleitores do tucano.

A grande imprensa vai censurando cada fato ou opinião de que não gosta diante da visão arguta do eleitorado mais escolarizado. Por conta disso, as intermináveis denúncias pré-eleitorais contra Dilma vêm produzindo efeito apenas entre uma escassa minoria entre os mais informados e instruídos. Uma minoria que se guia por preconceitos e não pela razão.

Deixar de votar numa candidata que representa tanto a continuidade que desejam brasileiros dos quatro cantos do país, dos dois gêneros, de todos os estratos sociais – com exceção dos mais ricos, que nem sempre são os mais instruídos e informados –, de todas as faixas de escolaridade e de todas as faixas etárias, só com provas.

Não se pode punir alguém por conta de acusações sem provas, ainda mais se feitas por seus inimigos políticos. Deixar de votar na candidata de Lula seria uma punição antecipada e irreversível. Portanto, injusta. É simples assim. E é por isso que ninguém está formando a opinião que a grande imprensa quer – porque não acredita nela.

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4 comentários:

Eason Nascimento disse...

Reproduzo aqui comentário já feito sobre o tema "liberdade de imprensa" no Brasil. Punir jornalistas iresponsáveis e caluniadores, com base na legislação atual, não é uma tarefa fácil.Qualquer tentativa nesse sentido esbarra na intitulada “ataque ao direito de imprensa e da liberdade de expressão”. O corporativismo midiático se torna mais duro que em outros segmentos da sociedade. Intitulada desta forma pela própria mídia no aparato de auto-defesa. Precisamos com urgência de uma Ley de Medios, a exemplo Argentino. Vai ser sangrento este debate mas terá que ser travado no país e o novo congresso deve ser pressionado para tanto.
http://easonfn.wordpress.com

a lesma lerda disse...

Acho que Os Melhores do Mundo nunca pensaram em suceder os Casseta na Globo (típico humor televisivo brasileiro, sempre debochando dos mais fracos, dos excluídos, dos deserdados) mas agora depois desse “debate”, suas chances são negativas, menos que zero..parabéns pra eles por isso..quem não viu perdeu...muito bom:
http://www.youtube.com/watch?v=OenHQHIailo&feature=player_embedded#!

Sérgio disse...

Prezad@s Amig@s:

Tenho acompanhado com atenção as notícias sobre as eleições de 2010, nos principais jornais do País. Não sei se compartilham dessa opinião, mas estou perplexo com a parcialidade das informações que tem sido apresentadas como se, de um lado, o governo Lula cometesse todo tipo de mazela e do outro um puro candidato Serra não pudesse conter sua revolta com a falta de ética de Dilma, de Lula ou de quem tiver ligação com o Governo Federal. As denúncias de uma pessoa que saiu há dois anos da cadeia por receptação de dinheiro falso e carga roubada - como é o caso Rudnei Quícoli, pivot do recente episódio que envolveu a Casa Civil da PR - são aceitas pelos "jornalões" como as de "um empresário" do ramo de energia. A "quebra de sigilo" na Receita Federal, durante uma semana, aparece em grandes manchetes e no Jornal Nacional da TV Globo como uma ação de militantes do PT "ligados à campanha de Dilma Roussef", até que a PF descobre que uma funcionária ganhava propina para "espionar" qualquer um. Ou seja, um crime sem nenhuma conotação política. Imediatamente o caso sai do noticiário e nova denúncia preenche seu lugar, sem reparo à desinformação até então prestada. Em contrapartida, a "grande imprensa" esconde, por exemplo, que a filha do Serra - uma das vítimas da "espionagem" na Receita - foi sócia de uma empresa que vendia informações de 60 milhões de correntistas de bancos no Brasil, conforme publicado detalhadamente na revista Carta Capital da semana passada.
Por fatos como os citados, tomei a liberdade de encaminhar-lhes um artigo com uma análise que me pareceu equilibrada e clara sobre a postura da "nossa" imprensa. Espero que @s ajude na reflexão pré-eleitoral. Se acharem interessante, sugiro que o reenviem para outros amigos.

Um abraço do

Sérgio

P.S.: Aproveito para sugerir o nome de sites que apresentam boas informações alternativas às disponíveil na "grande mídia": viomundo, blog do luis nassif, blog do miro (é o do Altamiro Borges), agência cartamaior etc. A partir destes, chega-se a vários outros, redigidos por jornalistas sérios (às vezes um pouco apaixonados), quase todos egressos das redações dos jornalões.

lesma lerda disse...

O PIG ainda vai fazer da palavra “jornalista” um palavrão dos mais cabeludos; exatamente como a ditadura fez com “militar” e o “empresário PC Farias” fez com “empresário”... E os advogados fizeram com... "advogado”... Pensando bem essa turma quase sempre está no mesmo ramo de negocio não é?