sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Mídia e a imbecilização do Brasil

Do sítio: http://www.gentedigital.es/
Por Mino Carta, na revista CartaCapital:

Há muito tempo o Brasil não produz escritores como Guimarães Rosa ou Gilberto Freyre. Há muito tempo o Brasil não produz pintores como Candido Portinari. Há muito tempo o Brasil não produz historiadores como Raymundo Faoro. Há muito tempo o Brasil não produz polivalentes cultores da ironia como Nelson Rodrigues. Há muito tempo o Brasil não produz jornalistas como Claudio Abramo, e mesmo repórteres como Rubem Braga e Joel Silveira. Há muito tempo…

Os derradeiros, notáveis intérpretes da cultura brasileira já passaram dos 60 anos, quando não dos 70, como Alfredo Bosi ou Ariano Suassuna ou Paulo Mendes da Rocha. Sobra no mais um deserto de oásis raros e até inesperados. Como o filme O Som ao Redor, de Kleber Mendonça, que acaba de ser lançado, para os nossos encantos e surpresa.

Nos últimos dez anos o País experimentou inegáveis progressos econômicos e sociais, e a história ensina que estes, quando ocorrem, costumam coincidir com avanços culturais. Vale sublinhar, está claro, que o novo consumidor não adquire automaticamente a consciência da cidadania. Houve, de resto, e por exemplo, progressos em termos de educação, de ensino público? Muito pelo contrário.

E houve, decerto, algo pior, o esforço concentrado dos senhores da casa-grande no sentido de manter a maioria no limbo, caso não fosse possível segurá-la debaixo do tacão. Neste nosso limbo terrestre a ignorância é comum a todos, mas, obviamente, o poder pertence a poucos, certos de que lhes cabe por direito divino. Indispensável à tarefa, a contribuição do mais afiado instrumento à disposição, a mídia nativa. Não é que não tenha servido ao poder desde sempre. No entanto, nas últimas décadas cumpriu seu papel destrutivo com truculência nunca dantes navegada.

Falemos, contudo, de amenidades do vídeo. De saída, para encaminhar a conversa. Falemos do Big Brother Brasil, das lutas do MMA e do UFC, dos programas de auditório, de toda uma produção destinada a educar o povo brasileiro, sem falar das telenovelas, de hábito empenhadas em mostrar uma sociedade inexistente, integrada por seres sem sombra. Deste ponto de vista, a Globo tem sido de uma eficácia insuperável.

O espetáculo de vulgaridade e ignorância oferecido no vídeo não tem similares mundo afora, enquanto eu me colho a recordar os programas de rádio que ouvia, adolescente, graciosas, adoráveis peças de museu como a PRK30, ou anos verdolengos habitados pelos magistrais shows de Chico Anysio. Cito exemplos, mas há outros. Creio que a Globo ocupe a vanguarda desta operação de imbecilização coletiva, de espectro infindo, na sua capacidade de incluir a todos, do primeiro ao último andar da escada social.

O trabalho da imprensa é mais sutil, pontiagudo como o buril do ourives. Visa à minoria, além dos donos do poder -real, que, além do mais, ditam o pensamento único, fixam-lhe os limites e determinam suas formas de expressão. O alvo é a chamada classe média alta, os aspirantes, a segunda turma da classe A, o creme que não chegou ao creme do creme. E classe B também. Leitores, em primeiro lugar, dos editoriais e colunas destacadas dos jornalões, e da Veja, a inefável semanal da Editora Abril. Alguns remediados entram na dança, precipitados na exibição, de verdade inadequada para eles.

Aqui está a bucha do canhão midiático. Em geral, fiéis da casa-grande encarada como meta de chegada radiosa, mesmo quando ancorada, em termos paulistanos, às margens do Rio Pinheiros, o formidável esgoto ao ar livre. E, em geral, inabilitados ao exercício do espírito crítico. Quem ainda o pratica, passa de espanto a espanto, e o maior, se admissível a classificação, é que os próprios editorialistas, colunistas, articulistas etc. etc. acabem por acreditar nos enredos ficcionais tecidos por eles próprios, quando não nas mentiras assacadas com heroica impavidez.

O deserto cultural em que vivemos tem largas e evidentes explicações, entre elas, a lassidão de quem teria condições de resistir. Agrada-me, de todo modo, o relativo otimismo de Alfredo Bosi, que enriquece esta edição. Mesmo em épocas medíocres pode medrar o gênio, diz ele, ainda que isto me lembre a Península Ibérica, terra de grandes personagens solitárias em lugar de escolas do saber. Um músico e poeta italiano do século passado, Fabrizio de André, cantou: “Nada nasce dos diamantes, do estrume nascem as flores”. E do deserto?

3 comentários:

cleber pereira da costa disse...

Vale a pena ler no "NOVO JORNAL " :Aécio Neves : " PROTOCOLO DE INTENÇÕES " criou " CARTEL DAS EMPREITEIRAS " . ACORDA BRASIL !!!!!! LEVANTA BRASIL !!!!!!!

Anônimo disse...

UM EXEMPLO DE DIÁLOGO QUE FAZ-NOS CHORAR O FRACASSO! VITÓRIA DA MÍDIA NATIVA?!...

A - ... Nestes últimos 10 anos, o Brasil não melhorou em absolutamente nada!...

B- ... O teu pai, egresso da mesma classe média baixa da qual eu faço parte, ainda mantém a assinatura da 'veja'?!...

A- Claro, meu tio, a 'veja' é a melhor revista semanal do Brasil!...

B- E tu continuas sorvendo as páginas da 'veja' e os editorias do Merval transvestidos de comentários como se fossem a Bíblia dos protestantes, Silas MalaFALSA, entre outros?!...

A- e o senhor acredita, ainda, que o mensalão não existiu?!

B- Do ponto de vista semântico, o mensalão seria um pagamento mensal a outrem...

A - Então?!...

B- Na minha época, os jovens universitários exerciam a reflexão e a crítica; prevalentemente, uma massa de contestadores da (des)ordem institucionalizada...

A - tietes de Lênin, 'Che', Fidel...

B- Já assistiu ao filme Lincoln?! Não precisa se preocupar com uma eventual "conjuntivite de etiologia 3D"!...

Questão de esclarecimento: lamentavelmente, este diálogo não é mero exercício de elucubração! ... Considere 'A' como sendo um filho de um casal, digamos, emergente; B, o próprio matuto, que escreve para liberar as angústias, parodiando o poeta Ferreira Gullar, "outro que migrou para outro espectro"!...

(... Para aqueles que, oficialmente, não estão sob a égide do horário de verão, acompanhar a programação da TV da Casa Grande é uma MERDA!...)

AINDA HÁ TEMPO?!: Parabéns, visionário e egrégio pensador Mino Carta!

República de 'Nois' Bananas
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo

Anônimo disse...


... E POR FALAR EM IMBECIALIDADE!...

Há cerca de dois meses, o PIGuento Demétrio Magnoli, prognosticou "para o orgasmo do 'seleto' público assinante (sic) da 'grobonews'!": "... O [Hugo] Chávez tem o mais o que pela frente?! No máximo, mais uns dez dias de vida!..."

NOTA FÚNEBRE: imbecil, aquele que desconhece que a morte previsível traz no "peito" o crachá da imprevisibilidade cronológica...


República da DIREITONA OPOSIÇÃO AO BRASIL, despudorada, fascista eterna, MENTEcapta, histriônica, aloprada, alienada, impunemente terrorista, entreguista, antinacionalista, corrupta, golpista de meia-tigela, “estúpida, despreza as próprias ignorâncias”, lembrando o enunciado lapidar do eminente e humanista pensador uruguaio Eduardo Galeano …

Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo