Por Eliakim Araujo, no sítio Direto da Redação:
Quem poderia imaginar que um dos mais influentes e tradicionais jornais dos EUA, o Washington Post, seria vendido assim, de uma hora para outra. A venda foi anunciada nesta segunda-feira e o mais surpreendente é que o comprador individual é Jeff Bezos, o fundador e dono do Amazon.com.
Por que surpreendente? Porque Bezos é uma estrela da área de tecnologia – a principal responsável pela queda de leitores e anunciantes da mídia impressa.
Bezos é um bilionário – o número 19 na lista da Forbes – com uma fortuna aproximada de 25.2 bilhões de dólares. Portanto, pagar 250 milhões de dólares, em cash, pelo Washington Post não chega a torná-lo mais pobre. Mas a pergunta que não quer calar é essa: o que é que um homem da área tecnológica vai fazer com um jornal de papel (a redundância é proposital), coisa cada vez mais antiga e que tem os dias contados?
Junto com o NY Times, o Post é um jornal super respeitado nos EUA. Foram seus repórteres, Bob Woodward e Carl Bernstein, que investigaram e denunciaram o famoso escândalo de Watergate, em 1972, quando o Comitê Nacional Democrata, no Complexo Watergate, na capital dos Estados Unidos, foi invadido por espiões, provavelmente republicanos, que tentaram fotografar documentos e instalar aparelhos de escuta no local.
No final, caiu o presidente Richard Nixon e os dois repórteres viraram celebridades nacionais, até filme foi produzido em Hollywood contando a história levantada pelo Post.
O The Washington Post pertenceu à família Graham por mais de 80 anos. Mas o negócio do jornal impresso vinha despencando desde 2008, com a perda de 40 por cento da receita nos últimos cinco anos. A migração de leitores para a internet e outras mídias digitais é a causa primeira da derrocada do Post e de outros títulos nos EUA.
O bilionário Bezos já adiantou que não pretende fazer grandes modificações no comando do Post e tranquilizou funcionários e leitores prometendo que vai preservar a tradição jornalística da publicação:
“Eu entendo o papel crítico que o Post representa em Washington, DC e em nosso país, por isso esses valores não serão mudados”.
Do lado dos antigos donos, o executivo do Donald E. Graham, justificou a venda com a perda continuada de leitores e anunciantes: “pensando no que seria melhor para o jornal, decidimos vendê-lo a um homem de reconhecida competência na área tecnológica e um gênio dos negócios. Sua abordagem de longo prazo e sua decência pessoal fazem dele o homem ideal para o Post”.
A troca de dono do Washington Post ocorre poucos dias depois que o outro poderoso grupo jornalístico dos EUA, o New York Times, vendeu o Boston Globe, por 70 milhões de dólares, com um imenso prejuízo, pois pagou pelo mesmo 1.1 billhão de dólares há 20 anos. A tradicional revista semanal Newsweek está sendo vendida para uma empresa de notícias online, International Business Times, menos de um ano depois de ter terminado a publicação impressa e mudado para o formato digital. E várias outras publicações menores estão fechando as portas ou mudando de mãos ou migrando para a internet.
Por todos esses motivos, a compra de um jornal impresso, por mais poderoso que ele seja, por um ícone da era da tecnologia não encontra uma explicação plausível. A não ser que, como ironiza John Morton, um analista de mídia, “Bezos tem dinheiro suficiente para tornar o jornal um de seus passatempos, ele pode”.
Se o leitor perguntar por que a crise dos impressos aparentemente não chegou aos grandes jornalões brasileiros, a resposta já foi dada em vários artigos publicados aqui no DR.
Ao contrário dos EUA, no Brasil o governo federal atua decisivamente no mercado publicitário. Com suas fabulosas verbas, tenta comprar a simpatia e o apoio da grande mídia e, em troca, recebe uma banana. Estima-se em 70 por cento a fatia da verba federal que vai para os maiores, mas nem por isso os melhores, grupos de comunicação brasileiros, os de sempre, exatamente aqueles que, através de um noticiário ardiloso, tentam jogar a opinião pública contra o governo.
No caso da distribuição de suas verbas publicitárias, o governo me lembra os versos da Geni, de Chico Buarque:
"Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!"
Quem poderia imaginar que um dos mais influentes e tradicionais jornais dos EUA, o Washington Post, seria vendido assim, de uma hora para outra. A venda foi anunciada nesta segunda-feira e o mais surpreendente é que o comprador individual é Jeff Bezos, o fundador e dono do Amazon.com.
Por que surpreendente? Porque Bezos é uma estrela da área de tecnologia – a principal responsável pela queda de leitores e anunciantes da mídia impressa.
Bezos é um bilionário – o número 19 na lista da Forbes – com uma fortuna aproximada de 25.2 bilhões de dólares. Portanto, pagar 250 milhões de dólares, em cash, pelo Washington Post não chega a torná-lo mais pobre. Mas a pergunta que não quer calar é essa: o que é que um homem da área tecnológica vai fazer com um jornal de papel (a redundância é proposital), coisa cada vez mais antiga e que tem os dias contados?
Junto com o NY Times, o Post é um jornal super respeitado nos EUA. Foram seus repórteres, Bob Woodward e Carl Bernstein, que investigaram e denunciaram o famoso escândalo de Watergate, em 1972, quando o Comitê Nacional Democrata, no Complexo Watergate, na capital dos Estados Unidos, foi invadido por espiões, provavelmente republicanos, que tentaram fotografar documentos e instalar aparelhos de escuta no local.
No final, caiu o presidente Richard Nixon e os dois repórteres viraram celebridades nacionais, até filme foi produzido em Hollywood contando a história levantada pelo Post.
O The Washington Post pertenceu à família Graham por mais de 80 anos. Mas o negócio do jornal impresso vinha despencando desde 2008, com a perda de 40 por cento da receita nos últimos cinco anos. A migração de leitores para a internet e outras mídias digitais é a causa primeira da derrocada do Post e de outros títulos nos EUA.
O bilionário Bezos já adiantou que não pretende fazer grandes modificações no comando do Post e tranquilizou funcionários e leitores prometendo que vai preservar a tradição jornalística da publicação:
“Eu entendo o papel crítico que o Post representa em Washington, DC e em nosso país, por isso esses valores não serão mudados”.
Do lado dos antigos donos, o executivo do Donald E. Graham, justificou a venda com a perda continuada de leitores e anunciantes: “pensando no que seria melhor para o jornal, decidimos vendê-lo a um homem de reconhecida competência na área tecnológica e um gênio dos negócios. Sua abordagem de longo prazo e sua decência pessoal fazem dele o homem ideal para o Post”.
A troca de dono do Washington Post ocorre poucos dias depois que o outro poderoso grupo jornalístico dos EUA, o New York Times, vendeu o Boston Globe, por 70 milhões de dólares, com um imenso prejuízo, pois pagou pelo mesmo 1.1 billhão de dólares há 20 anos. A tradicional revista semanal Newsweek está sendo vendida para uma empresa de notícias online, International Business Times, menos de um ano depois de ter terminado a publicação impressa e mudado para o formato digital. E várias outras publicações menores estão fechando as portas ou mudando de mãos ou migrando para a internet.
Por todos esses motivos, a compra de um jornal impresso, por mais poderoso que ele seja, por um ícone da era da tecnologia não encontra uma explicação plausível. A não ser que, como ironiza John Morton, um analista de mídia, “Bezos tem dinheiro suficiente para tornar o jornal um de seus passatempos, ele pode”.
Se o leitor perguntar por que a crise dos impressos aparentemente não chegou aos grandes jornalões brasileiros, a resposta já foi dada em vários artigos publicados aqui no DR.
Ao contrário dos EUA, no Brasil o governo federal atua decisivamente no mercado publicitário. Com suas fabulosas verbas, tenta comprar a simpatia e o apoio da grande mídia e, em troca, recebe uma banana. Estima-se em 70 por cento a fatia da verba federal que vai para os maiores, mas nem por isso os melhores, grupos de comunicação brasileiros, os de sempre, exatamente aqueles que, através de um noticiário ardiloso, tentam jogar a opinião pública contra o governo.
No caso da distribuição de suas verbas publicitárias, o governo me lembra os versos da Geni, de Chico Buarque:
"Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!"
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