quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A mídia e as ideias dominantes

Por Laurindo Lalo Leal Filho, na Revista do Brasil:

O resultado do primeiro turno da eleição presidencial, especialmente em São Paulo, é exemplar. No estado mais rico do país, os números indicam e os contatos de rua confirmam, a existência do voto comum entre o magnata abastado do Jardins e os trabalhadores modestos, moradores das periferias. Na mídia está a explicação para essa comunhão no voto de vidas tão distantes. Ela unifica o discurso, apelando para mensagens de fácil assimilação e passa a repeti-las de forma incessante. Nesta campanha eleitoral os temas em destaque foram a tragédia de uma morte inesperada e a corrupção corroendo o país.

O acidente aéreo, diante da fragilidade da oposição, serviu para impulsionar uma candidatura alternativa que, depois, provou-se inconsistente. Restou a tarefa, executada pela mídia, de inculcar na população a ideia de que o PT teria de ser retirado do poder a qualquer custo, uma vez que seria o responsável pelo maior surto de corrupção já visto no país. As duas candidaturas oposicionistas abraçaram essa bandeira com sofreguidão.

Assim como fizeram os opositores de Getúlio Vargas e de João Goulart. Na atual campanha, as entrevistas realizadas pelos telejornais da Rede Globo e os debates realizados pelas emissoras tornaram-se canais de difusão de propaganda política travestida de jornalismo. Basta citar como exemplo uma pergunta feita a candidata Dilma Rousseff pelo apresentador do Jornal Nacional. Nela, a palavra corrupção foi repetida sete vezes. Ali o conteúdo da pergunta era o de menos, o que interessava era vincular a entrevistada ao mote repisado pelo entrevistador.

No debate da Bandeirantes, as perguntas dos jornalistas nada mais foram do que um resumo dos editoriais da empresa para a qual trabalham. É conhecido o repúdio dos donos da emissora ao MST e à fiscalização do trabalho escravo. Além de rejeitarem qualquer forma de participação social mais democrática e, lógico, uma lei de meios que amplie a liberdade de expressão. Essas posições políticas foram embutidas nas perguntas feitas aos candidatos. Por exemplo: “O governo federal criou por decreto o Conselho de Participação Social. É uma instância direta vista com apreensão por muitos setores. Seria uma ameaça ao Congresso Nacional e, consequentemente, ao equilíbrio institucional. Seria uma bolivarização do Brasil nos moldes chavistas (...)”. 

Outra pergunta editorializada: “Por considerar um assunto importante e grave, que envolve a liberdade no país, vou voltar à questão do controle social da mídia. O partido da presidenta, o PT, insiste num plano de censura à imprensa, que eufemisticamente chama de democratização da mídia (...)” A reforma política tão necessária ao país deve incorporar um conjunto de regras capazes de pôr fim a essas distorções.

Para começar os debates eleitorais não podem seguir filtrados apenas pelos interesses da mídia comercial. Devem ser produzidos e realizados por emissoras públicas e realizados em espaços públicos, num campus universitário, por exemplo, como ocorre nos Estados Unidos. Transmitidos nos chamados horários nobres do rádio e da TV, com tempo suficiente para que os candidatos exponham ideias e propostas, sem as interrupções constantes, vistas por aqui. Afirmações, réplicas e tréplicas fragmentadas servem apenas para fazer do debate um espetáculo televisivo, sem relação com a possibilidade de esclarecimento do eleitor.

A contaminação do debate pelas pesquisas eleitorais é outro fator de distorção que necessita ser banido. Essas enquetes não podem servir de referência para a presença dos candidatos diante das câmeras. E muito menos serem divulgadas nos dias que antecedem as eleições, fato que contamina a decisão soberana do eleitor.

2 comentários:

Jair disse...

Por que ficarmos à mercê da rede Globo





Estamos na reta final de uma campanha eleitoral das mais disputadas há muitas décadas. E, mais uma vez, a gente se vê naquele estado de incerteza, sem saber o que as corporações midiáticas (em especial a rede Globo) vai aprontar nestes instantes finais para influir no processo e fazer vingar seus (da mídia) interesses.



Não bastasse o controle quase que absoluto que essas corporações exercem sobre quais informações o país vai receber, quais informações seram mantidas fora de seu alcance, e como será transmitido aquilo que as corporações acharem que deve ser divulgado, vamos ficar outra vez na dependência do último debate a ser promovido pela rede Globo, depois de que todas as outras instâncias de expressão das campanhas já estiverem fechadas.



É por isso que a gente constata que o medo está presente em muitos de nós, mesmo sabendo que nosso/a candidato/a se apresentou melhor durante todo o trajeto anterior. Ficamos com aquela perguntinha atormentadora: O que será que poderá vir em forma de bala de prata num momento em que já não for mais possível reagir a seus efeitos? Isto nunca poderá servir como exemplo da vitalidade de uma democracia, muito pelo contrário. Aí temos a prova de que todo nosso futuro fica a mercê de um pequeno grupo de privilegiados, o qual parece estar acima dos comuns dos mortais.



Não concordo com quem aceita passivamente este estado de coisas. Compartilho sim a opinião daqueles que dizem que a liberdade de expressão é um direito humano inalienável que deve ser defendido com unhas e dentes. Mas, esclareço, a liberdade de expressão deve ser para toda a sociedade, não apenas para aqueles que detêm poder econômico suficiente para possuir e comandar uma grande estrutura midiática que impede a participação ativa no fluxo de informações da maioria da população.



Por isso, todo candidato do campo popular deveria defender como prioritária uma profunda reforma da atual estrutura midiática prevalecente no país, lutando pela efetivação de uma lei de meios de comunicação que permita que a democracia, por fim, chegue até aí.



Sou dos que não dão grande valor aos debates promovidos pelas corporações midiáticas entre os candidatos considerados mais fortes para uma determinada eleição. Da forma como tais debates são realizados, não há como os espectadores ficarem mais bem informados sobre a capacidade ou incapacidade de alguém para gerir os destinos do governo. Nos poucos minutos que um candidato tem para expressar sua proposta, ou refutar à de seu concorrente, o único que lhe permite sair-se melhor que os outros é sua facilidade de expressão oral e sua capacidade de exercer sua malandragem. E, todos sabemos, os malandros, quase sempre, são bons de bico.



Sei que há gente de bem (não gente de bens) que diverge de mim neste aspecto e crê que esses debates são contribuições positivas à democracia. Ok, tudo bem! Mas, não dá para aceitar que toda nossa sorte fique na dependência do que a rede Globo vai fazer com o último debate da campanha, aquele que só acontece quando já não há mais tempo para reagir a nada porque, depois do tal debate, já estará em vigor a proibição de fazer campanha através dos meios de comunicação rádio-televisivos.



Queria apelar a todos os candidatos do campo popular a que, para as eleições vindouras, se recusem a aceitar entregar à rede Globo (ou a outra qualquer) este monstruoso poder de manter em suspense a toda uma nação, com a possibilidade de tergiversar as coisas de maneira a fazer prevalecer seus interesses (os das corporações midiáticas e dos grupos que elas representam) por sobre os do conjunto da nação. Que o último debate televisivo não se dê nunca com menos de uma semana antes do fim do período legal de campanha.


Não haverá democracia de verdade sem a democratização do acesso aos meios de comunicação.

Unknown disse...

MUITO ESTRANHO OS INSTITUTOS DE PESQUISA SE COMPROMETEREM A NÃO REALIZAR PESQUISA DE BOCA DE URNA NO DOMINGO DIA 26! ISTO NÃO TÁ CHEIRANDO BEM! E AINDA TEM O “ imparcial “ DEBATE NA REDE GLOBO DA 6@. CUIDADO COM A & CIA! DIVULGUEM! TEMOS QUE EXIGIR A PESQUISA DA BOCA DE URNA PELO IBOPE E DATA FOLHA NO DIA DA ELEIÇÃO, POIS COM A URNA ELETRÔNICA DO TSE & CIA TODO O CUIDADO É POUCO!