Por Luis Nassif, no Jornal GGN:
O último vazamento da Lava Jato pelo Estadão mostra nitidamente a estratégia de criar escândalos em torno do nada, visando trazer a operação para 2014.
O título da matéria é “E-mails indicam ‘atuação direta’ de cartel no governo”. O que significa? Que o cartel operou com outros órgãos de governo. Segundo a reportagem, com a Casa Civil e a Fazenda. E, mais grave ainda: este ano.
A reportagem traz detalhes de dois personagens com os quais a “organização criminosa” se reuniu:
“Em um desses informativos, referente ao dia 2 de julho, Tourinho Neto escreve: “Casa Civil – Valdir Simão e Felipe Borim.” Ambos ocupam cargos de confiança e foram indicados em 2014 pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Trata-se de Valdir Moysés Simão, secretário executivo da Casa Civil, que trabalhava como coordenador do Gabinete Digital da presidente Dilma Rousseff”.
Se fossem reuniões normais, haveria razão para a qualificação dos funcionários? É evidente que não. O normal não é notícia. No entanto, os e-mails reportam reuniões absolutamente normais entre empresas e associações do setor, Casa Civil e Fazenda, visando aprimorar o sistema de obras no país.
A reportagem é típica de um certo tipo de jornalismo policial que tende a criminalizar qualquer espirro de suspeito.
Que tal uma matéria com essa manchete: “Empresas suspeitas bancam cadernos especiais nos jornalões, depois da eclosão da Lava Jato”. A lógica da reportagem é a mesma.
Todas as empresas do cartel são grandes clientes do setor público, incumbidas das grandes obras de engenharia do país. Como tal, mantem contato com todos os setores relevantes do governo. Alguns setores, elas corrompem; em outros, discutem institucionalmente o aprimoramento das condições de construção.
Para o jornalismo-policial, tanto faz. Nuremberg, iceberg, é tudo a mesma coisa, lembrando a piadinha.
Os e-mails suspeitos, que servem de base para a reportagem se referem a um Grupo de Trabalho interministerial incumbido de melhorar o ambiente de construção. É uma ata de uma reunião que juntou a Casa Civil, a ABDIB (Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Indústria de Base), o Sinicon entre outros.
De acordo com o e-mail suspeito, o GT está discutindo os seguintes temas
1. Licenciamento ambiental.
2. Desapropriações.
3. Regulamentação do PMI (gerenciamento de projetos).
4. Análise de propostas de mudanças na 8666.
“O arquivo de Léo Pinheiro abarca temas como obras, nomes de contatos nos ministérios da Casa Civil e da Fazenda, bem como indicativos de que o grupo era consultado por setores do governo antes que decisões internas fossem tomadas – todas relacionadas a obras de infraestrutura no País”.
É um notável furo jornalístico constatar que governo consultava a ABDIB e as grandes empreiteiras sobre obras de infraestrutura.
O jornalismo policial identifica um código suspeito no espaço “assunto” do e-mail:
“No espaço “assunto”, o autor do e-mail escreveu “Comunicado GT Interministerial”. Seus interlocutores são 13 executivos das empreiteiras – a maioria deles a Lava Jato mandou para a cadeia no dia 14 de novembro, quando foi desencadeada a histórica Operação Juízo Final”.
Dali, as suspeitas vão para a Fazenda:
“Para que o andamento de cada intel do Oportunidades possa ser acompanhado pelas empresas, pela Abdib e pelo Sinicon, no que couber a cada um, emitiremos informativos, sempre que houver alguma novidade”, destaca o interlocutor ao grupo de executivos já denunciados pela força-tarefa da Lava Jato por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa”.
É o mesmo grupo que anunciou pesadamente nos jornais depois da Lava Jato. Os jornais são cúmplices?
Para aprimorar a acusação, os policiais identificaram acesso do grupo a informações privilegiadas. E quais são as informações privilegiadas?
“Entre os temas apontados nos e-mails há tópicos que, pelo teor dos textos, indicam para a Polícia Federal o acesso a informações privilegiadas por parte do grupo dentro do governo. No primeiro item, por exemplo, com o tema “Licenciamento ambiental”, está escrito: “Sendo preparada Portaria Interministerial para centralizar no Ibama a coordenação de processo de licenciamento, com determinação de prazos para cada órgão se manifestar.”
De posse dessa informação privilegiada, o mercado de ações deitaria e rolaria... de rir.
No final da matéria, bem escondidinho, o aviso:
“Não há ilícitos aparentes no material apreendido, mas a PF faz uma análise rigorosa sobre todo o conteúdo de correspondências capturadas nos computadores de Léo Pinheiro e dos outros executivos das empreiteiras sob suspeita da Juízo Final”.
Ou seja, era uma não-matéria.
O título da matéria é “E-mails indicam ‘atuação direta’ de cartel no governo”. O que significa? Que o cartel operou com outros órgãos de governo. Segundo a reportagem, com a Casa Civil e a Fazenda. E, mais grave ainda: este ano.
A reportagem traz detalhes de dois personagens com os quais a “organização criminosa” se reuniu:
“Em um desses informativos, referente ao dia 2 de julho, Tourinho Neto escreve: “Casa Civil – Valdir Simão e Felipe Borim.” Ambos ocupam cargos de confiança e foram indicados em 2014 pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Trata-se de Valdir Moysés Simão, secretário executivo da Casa Civil, que trabalhava como coordenador do Gabinete Digital da presidente Dilma Rousseff”.
Se fossem reuniões normais, haveria razão para a qualificação dos funcionários? É evidente que não. O normal não é notícia. No entanto, os e-mails reportam reuniões absolutamente normais entre empresas e associações do setor, Casa Civil e Fazenda, visando aprimorar o sistema de obras no país.
A reportagem é típica de um certo tipo de jornalismo policial que tende a criminalizar qualquer espirro de suspeito.
Que tal uma matéria com essa manchete: “Empresas suspeitas bancam cadernos especiais nos jornalões, depois da eclosão da Lava Jato”. A lógica da reportagem é a mesma.
Todas as empresas do cartel são grandes clientes do setor público, incumbidas das grandes obras de engenharia do país. Como tal, mantem contato com todos os setores relevantes do governo. Alguns setores, elas corrompem; em outros, discutem institucionalmente o aprimoramento das condições de construção.
Para o jornalismo-policial, tanto faz. Nuremberg, iceberg, é tudo a mesma coisa, lembrando a piadinha.
Os e-mails suspeitos, que servem de base para a reportagem se referem a um Grupo de Trabalho interministerial incumbido de melhorar o ambiente de construção. É uma ata de uma reunião que juntou a Casa Civil, a ABDIB (Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Indústria de Base), o Sinicon entre outros.
De acordo com o e-mail suspeito, o GT está discutindo os seguintes temas
1. Licenciamento ambiental.
2. Desapropriações.
3. Regulamentação do PMI (gerenciamento de projetos).
4. Análise de propostas de mudanças na 8666.
“O arquivo de Léo Pinheiro abarca temas como obras, nomes de contatos nos ministérios da Casa Civil e da Fazenda, bem como indicativos de que o grupo era consultado por setores do governo antes que decisões internas fossem tomadas – todas relacionadas a obras de infraestrutura no País”.
É um notável furo jornalístico constatar que governo consultava a ABDIB e as grandes empreiteiras sobre obras de infraestrutura.
O jornalismo policial identifica um código suspeito no espaço “assunto” do e-mail:
“No espaço “assunto”, o autor do e-mail escreveu “Comunicado GT Interministerial”. Seus interlocutores são 13 executivos das empreiteiras – a maioria deles a Lava Jato mandou para a cadeia no dia 14 de novembro, quando foi desencadeada a histórica Operação Juízo Final”.
Dali, as suspeitas vão para a Fazenda:
“Para que o andamento de cada intel do Oportunidades possa ser acompanhado pelas empresas, pela Abdib e pelo Sinicon, no que couber a cada um, emitiremos informativos, sempre que houver alguma novidade”, destaca o interlocutor ao grupo de executivos já denunciados pela força-tarefa da Lava Jato por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa”.
É o mesmo grupo que anunciou pesadamente nos jornais depois da Lava Jato. Os jornais são cúmplices?
Para aprimorar a acusação, os policiais identificaram acesso do grupo a informações privilegiadas. E quais são as informações privilegiadas?
“Entre os temas apontados nos e-mails há tópicos que, pelo teor dos textos, indicam para a Polícia Federal o acesso a informações privilegiadas por parte do grupo dentro do governo. No primeiro item, por exemplo, com o tema “Licenciamento ambiental”, está escrito: “Sendo preparada Portaria Interministerial para centralizar no Ibama a coordenação de processo de licenciamento, com determinação de prazos para cada órgão se manifestar.”
De posse dessa informação privilegiada, o mercado de ações deitaria e rolaria... de rir.
No final da matéria, bem escondidinho, o aviso:
“Não há ilícitos aparentes no material apreendido, mas a PF faz uma análise rigorosa sobre todo o conteúdo de correspondências capturadas nos computadores de Léo Pinheiro e dos outros executivos das empreiteiras sob suspeita da Juízo Final”.
Ou seja, era uma não-matéria.
0 comentários:
Postar um comentário