segunda-feira, 15 de junho de 2015

Alckmin, os professores e os derrotados

Por Altamiro Borges

Na sexta-feira (12), após 89 dias em greve, os professores da rede pública de São Paulo aprovaram em assembleia o retorno ao trabalho. Neste longo período, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) esbanjou truculência, recusando-se a negociar com o sindicato, cortando o ponto dos grevistas e fazendo inúmeras ameaças. Recém-lançado na convenção estadual do PSDB como presidenciável para as eleições de 2018, o “picolé de chuchu” mostrou mais uma vez como despreza a educação e como trata os trabalhadores. A mais longa greve da categoria também serviu para desmascarar de vez a postura da mídia chapa-branca, que abocanha volumosos recursos em publicidade do Palácio dos Bandeirantes. No sábado, toda a imprensa patronal festejou “a derrota dos professores”.

Durante a paralisação, jornalões, revistonas e emissoras de rádio e tevê fizeram de tudo para derrotar os docentes e o sindicato da categoria, a Apeoesp. Seguindo o mesmo roteiro de outros movimentos grevistas, num primeiro momento a mídia empresarial tentou invisibilizar a paralisação. As escolas sem aula e as passeatas massivas não foram manchetes dos jornais nem destaque dos telejornais. Na sequência, com o aumento da adesão ao movimento, o noticiário tratou de criminalizar os grevistas, realçando o congestionamento do trânsito em dias de assembleia e tentando jogar a população contra os professores. Em editoriais, os dois principais jornais de São Paulo, Folha e Estadão, exigiram abertamente o aumento da repressão à greve.

A postura explicitamente patronal e tucana da velha mídia revoltou a categoria. Nas assembleias, ela passou a ser o principal alvo da crítica dos professores, juntamente com o ditador Geraldo Alckmin. A Apeoesp chegou a enviar um documento oficial ao diretor de jornalismo da TV Globo, Ali Kamel, condenando a cobertura manipulada da emissora privada – que explora uma concessão pública. Nas ruas da capital paulista, os grevistas repetiram inúmeras vezes o “Fora Rede Globo, o povo não é bobo”. Folha, Estadão e Veja – neste caso, a partir do fascistóide Reinaldo Azevedo – também foram duramente rechaçados pelas lideranças do professorado. Em certo sentido, a mídia patronal saiu bem chamuscada e “derrotada” da mais longa greve dos professores de São Paulo.

Como enfatizou Maria Izabel Noronha, presidenta da Apeoesp, a paralisação não obteve qualquer vitória econômica, mas serviu para demonstrar a força da categoria e para desmascarar os verdadeiros inimigos da educação. “Ninguém vai sair de cabeça baixa”, afirmou na assembleia de sexta-feira. Ela lembrou que a greve teve a adesão de 75% das escolas e só entrou em refluxo após o corte do ponto dos servidores. Os professores retornam ao trabalho e compensarão os dias sem aula. Mas a categoria hoje está mais consciente do papel nefasto dos tucanos e da sua mídia chapa-branca.

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