Por Jeferson Miola, no site Carta Maior:
Recentes pesquisas de opinião ajudam a entender a encruzilhada do PT e do governo Dilma nesta conjuntura crítica e perigosa para ambos.
A Vox Populi revela, em síntese, que o tamanho do ódio ao PT é menor que a sensação midiática criada; e, além disso, que os limites do antipetismo são maiores que aqueles que a mídia oposicionista desejaria que fossem: “apenas” 12% odeia o PT, 21% não vota no PT, 33% vota no PT e outros 33% podem - ou não - votar no PT. O povo humilde, a maioria absoluta da população brasileira, ainda acredita no PT.
As duas últimas pesquisas de avaliação do governo Dilma [Datafolha, 21/06 e CNI/IBOPE, 01/07], por seu turno, evidenciam a tendência de aplainamento da popularidade da presidente: atingiu apenas 9% de ótimo e bom, ante 68% ruim e péssimo. Inversamente à taxa de juros, o viés é de grande baixa da popularidade.
Parece que o PT ainda consegue se preservar um pouco nesta conjuntura mais pela reserva de confiança popular histórica que por iniciativa e inteligência política atual. Acometido por uma síndrome catatônica e com uma direção paralisada devido aos segredos nunca revelados das finanças internas que o impedem de responder assertivamente em relação à corrupção, o Partido perdeu inúmeras oportunidades para corrigir a trajetória errática e produzir respostas adequadas aos desafios deste complexo momento.
O 5º Congresso é a expressão viva da catatonia partidária e da falência da direção. E os últimos lances de Lula mostram que até mesmo o principal líder do PT está com a bússola desorientada. Faz um zig-zag que desorganiza e desarticula a reação política: numa ocasião, dispara petardos no PT e no governo. Alguns dias depois, convoca reunião de emergência com lideranças do PT e do PMDB e, surpreendentemente, baixa muitos decibéis do tom.
Nesta realidade confusa, as pesquisas indicam que a corrupção é um fator que ainda não afeta a confiança popular no PT na proporção em que [ii] a crise econômica prejudica a popularidade do governo. O aumento do desemprego, a perda do valor real dos salários, a suspensão dos investimentos e os juros altos – em suma, a profecia da crise econômica finalmente cumprida – é o veneno que corrói a popularidade da Dilma e a sujeita à governabilidade congressual ditada por um personagem doentio.
A presidente Dilma aposta nas escolhas econômicas do Ministro Levy, confiando que com elas o país retomará o crescimento rapidamente. Essa percepção, contudo, colide com a avaliação convergente de empresários, trabalhadores, economistas heterodoxos e liberais que alertam para o risco de continuidade de piora da economia por um período prolongado. Insistir na manutenção desta política poderá levar a popularidade da presidente a níveis críticos, comprometendo a própria continuidade do governo.
A corrupção é, evidentemente, um fator de vulnerabilidade, mas somente se converterá em vetor político para o golpe do impeachment se a economia continuar piorando a vida da maioria da população que elegeu Dilma em 2014. Caso nada seja feito urgentemente, o colapso do governo será uma hipótese realista, que sugaria junto Lula e o PT.
Em 2005, no episódio do chamado "mensalão", Lula conseguiu aplacar a ira reacionária que babava pelo o "fim da raça" dos petistas, acelerando as mudanças sociais e expandindo a atividade econômica, o emprego e a renda dos trabalhadores.
Existe uma interdependência complexa entre o PT, Dilma e Lula. Analistas políticos inferem que o fracasso individual de um dos componentes dessa tríade causaria o desastre de todos. Isso é fato, assim como é fato que a inoperância política pode ser fatal.
Não restam muitas alternativas para o PT nesta circunstância de urgência política com “cheiro de morte iminente” [Eric Hobsbawn em “Tempos fraturados”, sobre a queda e o declínio das vanguardas no século XX]: ou oferece à presidente Dilma uma proposta de outra política econômica para o desenvolvimento, elaborada a partir de um amplo debate na sociedade, ou será tragado pela crise.
Outro padrão de gestão política é também um imperativo da conjuntura. Não é crível que o governo de um país como o Brasil perca totalmente a capacidade de iniciativa política, de agendamento do debate público e de convocação da sociedade organizada para ficar refém de personagens tresloucados do parlamento.
Entre o governo e o programa com o qual o governo foi eleito, qual será a escolha do PT? Na Grécia, o primeiro-ministro Alex Tsipras renunciaria ao governo caso o plebiscito opte pela política de austeridade imposta pela troika [Alemanha, Banco Central Europeu e FMI], que obriga o pagamento da dívida imoral e ilegítima com o sacrifício do povo grego.
Estamos ingressando numa dinâmica histórica que pode se tornar irreversível. O PT e o governo têm cada vez menos governabilidade sobre a conjuntura; são expectadores, meros passageiros de um bonde que poderá conduzir ao cadafalso.
* Jeferson Miola é integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.
Recentes pesquisas de opinião ajudam a entender a encruzilhada do PT e do governo Dilma nesta conjuntura crítica e perigosa para ambos.
A Vox Populi revela, em síntese, que o tamanho do ódio ao PT é menor que a sensação midiática criada; e, além disso, que os limites do antipetismo são maiores que aqueles que a mídia oposicionista desejaria que fossem: “apenas” 12% odeia o PT, 21% não vota no PT, 33% vota no PT e outros 33% podem - ou não - votar no PT. O povo humilde, a maioria absoluta da população brasileira, ainda acredita no PT.
As duas últimas pesquisas de avaliação do governo Dilma [Datafolha, 21/06 e CNI/IBOPE, 01/07], por seu turno, evidenciam a tendência de aplainamento da popularidade da presidente: atingiu apenas 9% de ótimo e bom, ante 68% ruim e péssimo. Inversamente à taxa de juros, o viés é de grande baixa da popularidade.
Parece que o PT ainda consegue se preservar um pouco nesta conjuntura mais pela reserva de confiança popular histórica que por iniciativa e inteligência política atual. Acometido por uma síndrome catatônica e com uma direção paralisada devido aos segredos nunca revelados das finanças internas que o impedem de responder assertivamente em relação à corrupção, o Partido perdeu inúmeras oportunidades para corrigir a trajetória errática e produzir respostas adequadas aos desafios deste complexo momento.
O 5º Congresso é a expressão viva da catatonia partidária e da falência da direção. E os últimos lances de Lula mostram que até mesmo o principal líder do PT está com a bússola desorientada. Faz um zig-zag que desorganiza e desarticula a reação política: numa ocasião, dispara petardos no PT e no governo. Alguns dias depois, convoca reunião de emergência com lideranças do PT e do PMDB e, surpreendentemente, baixa muitos decibéis do tom.
Nesta realidade confusa, as pesquisas indicam que a corrupção é um fator que ainda não afeta a confiança popular no PT na proporção em que [ii] a crise econômica prejudica a popularidade do governo. O aumento do desemprego, a perda do valor real dos salários, a suspensão dos investimentos e os juros altos – em suma, a profecia da crise econômica finalmente cumprida – é o veneno que corrói a popularidade da Dilma e a sujeita à governabilidade congressual ditada por um personagem doentio.
A presidente Dilma aposta nas escolhas econômicas do Ministro Levy, confiando que com elas o país retomará o crescimento rapidamente. Essa percepção, contudo, colide com a avaliação convergente de empresários, trabalhadores, economistas heterodoxos e liberais que alertam para o risco de continuidade de piora da economia por um período prolongado. Insistir na manutenção desta política poderá levar a popularidade da presidente a níveis críticos, comprometendo a própria continuidade do governo.
A corrupção é, evidentemente, um fator de vulnerabilidade, mas somente se converterá em vetor político para o golpe do impeachment se a economia continuar piorando a vida da maioria da população que elegeu Dilma em 2014. Caso nada seja feito urgentemente, o colapso do governo será uma hipótese realista, que sugaria junto Lula e o PT.
Em 2005, no episódio do chamado "mensalão", Lula conseguiu aplacar a ira reacionária que babava pelo o "fim da raça" dos petistas, acelerando as mudanças sociais e expandindo a atividade econômica, o emprego e a renda dos trabalhadores.
Existe uma interdependência complexa entre o PT, Dilma e Lula. Analistas políticos inferem que o fracasso individual de um dos componentes dessa tríade causaria o desastre de todos. Isso é fato, assim como é fato que a inoperância política pode ser fatal.
Não restam muitas alternativas para o PT nesta circunstância de urgência política com “cheiro de morte iminente” [Eric Hobsbawn em “Tempos fraturados”, sobre a queda e o declínio das vanguardas no século XX]: ou oferece à presidente Dilma uma proposta de outra política econômica para o desenvolvimento, elaborada a partir de um amplo debate na sociedade, ou será tragado pela crise.
Outro padrão de gestão política é também um imperativo da conjuntura. Não é crível que o governo de um país como o Brasil perca totalmente a capacidade de iniciativa política, de agendamento do debate público e de convocação da sociedade organizada para ficar refém de personagens tresloucados do parlamento.
Entre o governo e o programa com o qual o governo foi eleito, qual será a escolha do PT? Na Grécia, o primeiro-ministro Alex Tsipras renunciaria ao governo caso o plebiscito opte pela política de austeridade imposta pela troika [Alemanha, Banco Central Europeu e FMI], que obriga o pagamento da dívida imoral e ilegítima com o sacrifício do povo grego.
Estamos ingressando numa dinâmica histórica que pode se tornar irreversível. O PT e o governo têm cada vez menos governabilidade sobre a conjuntura; são expectadores, meros passageiros de um bonde que poderá conduzir ao cadafalso.
* Jeferson Miola é integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.
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