Por Vanessa Martina Silva, de Buenos Aires, no site Opera Mundi:
Após a vitória da oposição que encerrou os 12 anos de governos kirchneristas, os movimentos sociais e correntes políticas que apoiaram a Frente para a Vitória, do candidato derrotado Daniel Scioli, começam a planejar a reorganização e as estratégias futuras para “impedir um retrocesso” nas políticas sociais e de direitos humanos no país.
“Temos que trabalhar muito para ver como reunificamos o movimento popular e nos tornamos uma única força para enfrentar o governo” do presidente recém-eleito Mauricio Macri, resume ao Opera Mundi o legislador da Cidade de Buenos Aires Quito Aragón.
A união entre os diversos movimentos que compõem o peronismo de esquerda e o kirchnerismo é outra tônica presente na atual conjuntura do país. “Será necessário que estejamos mais organizados do que nunca. O movimento peronista tem que se unificar para fazer contrapeso às políticas neoliberais [do novo governo]. O momento é de tomar as ruas de volta, porque o neoliberalismo vai querer recuperar o espaço que perdeu nos últimos anos”, diz o Secretário Geral do Centro de Estudantes da Faculdade de Filosofia e Letras da UBA (Universidade Autônoma de Buenos Aires), Jorge Villanueva.
O momento é também de autocrítica. “A partir de agora se abre um debate sobre quais são as circunstâncias nas quais a direita pôde propiciar essa derrota ao movimento popular", acredita o Secretário de Relações Políticas do Partido Comunista da Argentina, Alejandro Ferni. "Vamos enfrentar a direita nas ruas e vamos ser vigilantes para que não haja retrocesso”.
Nesse mesmo sentido, Vicky Esquerdo, do Movimento Diversidade do agrupamento La Cámpora, considera que há um temor de que haja “ataques aos direitos conquistados durante a gestão de Néstor e Cristina Kirchner”, quando o país avançou em questões como o casamento igualitário e a lei de identidade de gênero, por exemplo. Ela afirma que seguirá trabalhando “pelos direitos e conquistas que faltam e estaremos mais unidos do que nunca”.
Cenário nacional
Esta é a primeira vez na história democrática da Argentina que a presidência do país não será ocupada por um peronista ou um radical, embora os radicais da UCR integrem a aliança Cambiemos de Macri e tenham sido fundamentais para a inserção nacional do empresário.
Ferni observa que “nos últimos 100 anos os setores conservadores sempre se valeram das Forças Armadas e da colonização de forças populares, com o radicalismo ou peronismo, mas nunca construíram uma força política própria como agora”, que chegam à presidência com uma coligação nova e declaradamente neoliberal. Segundo ele, “essa força tem um revanchismo com relação às conquistas sociais, o que é muito preocupante”.
Há ainda por parte dos militantes pró-Scioli um receio devido ao fato de que, como Macri não terá maioria nem no Congresso, nem no Senado, o presidente governe via decretos. Sobre isso, Aragón, que é legislador na capital, é taxativo e diz não ter “dúvida de que o macrismo sabe governar sem maiorias, ao governar com decretos como faz com a cidade” de Buenos Aires, há oito anos sob seu mandato.
Política internacional
Devido ao protagonismo regional que tem na América Latina e principalmente no cone sul e no Mercosul, a política exterior argentina é acompanhada de perto pelos demais países.
De acordo com Ferni, o cenário para a “política internacional é muito desfavorável”. Com relação à sinalização de Macri de que vai se aproximar da Aliança do Pacífico, Ferni avalia que “a Argentina não pode ir para a Aliança do Pacífico porque não tem saída para esse mar. O que pode haver é uma articulação regional com Chile e Peru e começar a ameaçar o desenvolvimento do Mercosul”.
“Esse resultado é desfavorável para os movimentos sociais e pode ter impacto tanto no Brasil, que é nosso principal sócio comercial, como também em outros países da região, fundamentalmente em Bolívia e Venezuela”, acredita o Secretário do Partido Comunista.
Aragon considera que deve "desculpas" à América Latina pela vitória de Macri: “não conseguimos ser o freio ao processo de avanço do império na região, então pedimos desculpa a todos os companheiros latino-americanos, porque lamentavelmente não fomos capazes”.
Otimista, Ferni conclui: “se esse processo deixa alguma lição para a América Latina é que temos que seguir avançando com a integração latino-americana e com a articulação política dos movimentos populares, com programas de transformação mais profundos, mais estruturais e temos que trabalhar melhor a batalha de ideias”.
“Temos que trabalhar muito para ver como reunificamos o movimento popular e nos tornamos uma única força para enfrentar o governo” do presidente recém-eleito Mauricio Macri, resume ao Opera Mundi o legislador da Cidade de Buenos Aires Quito Aragón.
A união entre os diversos movimentos que compõem o peronismo de esquerda e o kirchnerismo é outra tônica presente na atual conjuntura do país. “Será necessário que estejamos mais organizados do que nunca. O movimento peronista tem que se unificar para fazer contrapeso às políticas neoliberais [do novo governo]. O momento é de tomar as ruas de volta, porque o neoliberalismo vai querer recuperar o espaço que perdeu nos últimos anos”, diz o Secretário Geral do Centro de Estudantes da Faculdade de Filosofia e Letras da UBA (Universidade Autônoma de Buenos Aires), Jorge Villanueva.
O momento é também de autocrítica. “A partir de agora se abre um debate sobre quais são as circunstâncias nas quais a direita pôde propiciar essa derrota ao movimento popular", acredita o Secretário de Relações Políticas do Partido Comunista da Argentina, Alejandro Ferni. "Vamos enfrentar a direita nas ruas e vamos ser vigilantes para que não haja retrocesso”.
Nesse mesmo sentido, Vicky Esquerdo, do Movimento Diversidade do agrupamento La Cámpora, considera que há um temor de que haja “ataques aos direitos conquistados durante a gestão de Néstor e Cristina Kirchner”, quando o país avançou em questões como o casamento igualitário e a lei de identidade de gênero, por exemplo. Ela afirma que seguirá trabalhando “pelos direitos e conquistas que faltam e estaremos mais unidos do que nunca”.
Cenário nacional
Esta é a primeira vez na história democrática da Argentina que a presidência do país não será ocupada por um peronista ou um radical, embora os radicais da UCR integrem a aliança Cambiemos de Macri e tenham sido fundamentais para a inserção nacional do empresário.
Ferni observa que “nos últimos 100 anos os setores conservadores sempre se valeram das Forças Armadas e da colonização de forças populares, com o radicalismo ou peronismo, mas nunca construíram uma força política própria como agora”, que chegam à presidência com uma coligação nova e declaradamente neoliberal. Segundo ele, “essa força tem um revanchismo com relação às conquistas sociais, o que é muito preocupante”.
Há ainda por parte dos militantes pró-Scioli um receio devido ao fato de que, como Macri não terá maioria nem no Congresso, nem no Senado, o presidente governe via decretos. Sobre isso, Aragón, que é legislador na capital, é taxativo e diz não ter “dúvida de que o macrismo sabe governar sem maiorias, ao governar com decretos como faz com a cidade” de Buenos Aires, há oito anos sob seu mandato.
Política internacional
Devido ao protagonismo regional que tem na América Latina e principalmente no cone sul e no Mercosul, a política exterior argentina é acompanhada de perto pelos demais países.
De acordo com Ferni, o cenário para a “política internacional é muito desfavorável”. Com relação à sinalização de Macri de que vai se aproximar da Aliança do Pacífico, Ferni avalia que “a Argentina não pode ir para a Aliança do Pacífico porque não tem saída para esse mar. O que pode haver é uma articulação regional com Chile e Peru e começar a ameaçar o desenvolvimento do Mercosul”.
“Esse resultado é desfavorável para os movimentos sociais e pode ter impacto tanto no Brasil, que é nosso principal sócio comercial, como também em outros países da região, fundamentalmente em Bolívia e Venezuela”, acredita o Secretário do Partido Comunista.
Aragon considera que deve "desculpas" à América Latina pela vitória de Macri: “não conseguimos ser o freio ao processo de avanço do império na região, então pedimos desculpa a todos os companheiros latino-americanos, porque lamentavelmente não fomos capazes”.
Otimista, Ferni conclui: “se esse processo deixa alguma lição para a América Latina é que temos que seguir avançando com a integração latino-americana e com a articulação política dos movimentos populares, com programas de transformação mais profundos, mais estruturais e temos que trabalhar melhor a batalha de ideias”.
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