Por Paulo Pimenta, no site Sul-21:
Muito se discute sobre o futuro do jornalismo no país e no mundo. Os grandes jornais brasileiros poderiam dar uma contribuição valiosa a esse debate, mudando o nome da seção “Erramos” para Mentimos.
Desde que a Presidenta Dilma Rousseff sancionou a lei do direito de resposta, de autoria do senador Roberto Requião (PMDB-PR), é possível observar que a seção “Erramos” dos grandes jornais está mais movimentada, e que o nariz da imprensa brasileira ficou mais exposto.
Normalmente, erra quem pretende acertar. Não é o caso de parte da imprensa brasileira – a chamada grande mídia, especialmente, quando o PT ou o ex-Presidente Lula são o centro de suas matérias. Nesses casos, não há qualquer compromisso com a verdade.
Assim, a má-fé corre solta, declarações são distorcidas e até inventadas, sem qualquer constrangimento por parte da imprensa. Mente-se por pré-disposição de mentir. Omite-se por determinação ideológica. E usa-se a autoridade e credibilidade conferida ao jornalismo para tentar manipular a opinião pública.
Basta o ex-Presidente Lula abrir a boca para que uma declaração sua seja distorcida, como ocorreu recentemente quando a Folha de S.Paulo, em uma versão “mal traduzida” do que dissera Lula em uma entrevista ao jornal espanhol El País, “errou”. Entre tantos “erros” que a grande imprensa vem cometendo contra o PT e Lula, nesta sexta-feira (22), o Instituto Lula se viu obrigado desmentir, mais uma vez, uma falsa informação.
Dessa vez, a Folha “errou” dizendo que “Lula foi intimado a prestar novo depoimento na Operação Zelotes”, aquela operação que iniciou para investigar a sonegação dos grandes anunciantes da mídia e a corrupção no Carf da Receita Federal e se transformou numa tentativa de envolver o ex-Presidente Lula por uma medida provisória que foi editada na época do governo do PSDB, de Fernando Henrique Cardoso. Lula não foi “intimado” como diz a Folha; ele foi arrolado como testemunha de defesa.
E quando Lula não fala? Aí, a grande mídia inventa e lhe atribui declarações ou intenções. Foi o que ocorreu quando o ex-Presidente esteve em uma reunião fechada com um pequeno grupo de parlamentares do PT, no final do ano passado, em Brasília. Antes mesmo de a reunião iniciar, os jornais já alardeavam que Lula estava ali “costurando acordo com o PT para salvar Cunha”.
Como estava presente a essa reunião, usei o Twitter para desmentir esse desejo da imprensa. De lá para cá, o PT fechou questão no Conselho de Ética contra o Presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e as invenções contra Lula, que estamparam as capas dos principais veículos do país, mais uma vez, não resistiram à prova do tempo.
Por outro lado, é difícil recordar algum “erramos” que diga respeito ao PSDB, Fernando Henrique, Aécio Neves, José Serra ou Geraldo Alckmin. Praticamente não existe. Curiosamente, os equívocos e gafes contra o PSDB são sempre favoráveis, como do tipo “podemos tirar se achar melhor”, sugestão para omitir a informação de que o DNA da corrupção na Petrobrás teve origem no governo FHC.
Como em sociedades arcaicas onde havia a “casta dos intocáveis”, a mídia garante toda imunidade ao PSDB. Eduardo Azeredo, conhecido como “pai do mensalão”, sabe bem como isso funciona. Recentemente, a revista Veja dedicou páginas de sua publicação não para falar do mensalão do PSDB nos governos de Minas Gerais, mas para se justificar por que não ia tratar do assunto.
O que se vê, mais do que nunca, é o uso do jornalismo para interferir e deformar a realidade em favor de alguém ou de algum grupo, sem qualquer compromisso com um jornalismo como meio de transformação social. Em “O Discurso das Mídias”, o linguista francês Patrick Charaudeau fala que a “a ideologia do selecionar faz com que se construa uma imagem fragmentada do espaço público, uma visão adequada aos objetivos das mídias, mas bem afastada de um reflexo fiel”. Segundo ele, o objetivo dessa manipulação é a construção de uma opinião pública alinhada aos valores e aos interesses econômicos e políticos da mídia. “As mídias não transmitem o que ocorre na realidade social, elas impõem o que constroem do espaço público”, diz.
Enquanto continuar contaminada e obstinada em criminalizar o Partido dos Trabalhadores e seus integrantes, parte da imprensa brasileira pouco vai errar, pois não está disposta a acertar e a realizar uma cobertura honesta.
* Paulo Pimenta é deputado federal pelo PT-RS e jornalista.
Muito se discute sobre o futuro do jornalismo no país e no mundo. Os grandes jornais brasileiros poderiam dar uma contribuição valiosa a esse debate, mudando o nome da seção “Erramos” para Mentimos.
Desde que a Presidenta Dilma Rousseff sancionou a lei do direito de resposta, de autoria do senador Roberto Requião (PMDB-PR), é possível observar que a seção “Erramos” dos grandes jornais está mais movimentada, e que o nariz da imprensa brasileira ficou mais exposto.
Normalmente, erra quem pretende acertar. Não é o caso de parte da imprensa brasileira – a chamada grande mídia, especialmente, quando o PT ou o ex-Presidente Lula são o centro de suas matérias. Nesses casos, não há qualquer compromisso com a verdade.
Assim, a má-fé corre solta, declarações são distorcidas e até inventadas, sem qualquer constrangimento por parte da imprensa. Mente-se por pré-disposição de mentir. Omite-se por determinação ideológica. E usa-se a autoridade e credibilidade conferida ao jornalismo para tentar manipular a opinião pública.
Basta o ex-Presidente Lula abrir a boca para que uma declaração sua seja distorcida, como ocorreu recentemente quando a Folha de S.Paulo, em uma versão “mal traduzida” do que dissera Lula em uma entrevista ao jornal espanhol El País, “errou”. Entre tantos “erros” que a grande imprensa vem cometendo contra o PT e Lula, nesta sexta-feira (22), o Instituto Lula se viu obrigado desmentir, mais uma vez, uma falsa informação.
Dessa vez, a Folha “errou” dizendo que “Lula foi intimado a prestar novo depoimento na Operação Zelotes”, aquela operação que iniciou para investigar a sonegação dos grandes anunciantes da mídia e a corrupção no Carf da Receita Federal e se transformou numa tentativa de envolver o ex-Presidente Lula por uma medida provisória que foi editada na época do governo do PSDB, de Fernando Henrique Cardoso. Lula não foi “intimado” como diz a Folha; ele foi arrolado como testemunha de defesa.
E quando Lula não fala? Aí, a grande mídia inventa e lhe atribui declarações ou intenções. Foi o que ocorreu quando o ex-Presidente esteve em uma reunião fechada com um pequeno grupo de parlamentares do PT, no final do ano passado, em Brasília. Antes mesmo de a reunião iniciar, os jornais já alardeavam que Lula estava ali “costurando acordo com o PT para salvar Cunha”.
Como estava presente a essa reunião, usei o Twitter para desmentir esse desejo da imprensa. De lá para cá, o PT fechou questão no Conselho de Ética contra o Presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e as invenções contra Lula, que estamparam as capas dos principais veículos do país, mais uma vez, não resistiram à prova do tempo.
Por outro lado, é difícil recordar algum “erramos” que diga respeito ao PSDB, Fernando Henrique, Aécio Neves, José Serra ou Geraldo Alckmin. Praticamente não existe. Curiosamente, os equívocos e gafes contra o PSDB são sempre favoráveis, como do tipo “podemos tirar se achar melhor”, sugestão para omitir a informação de que o DNA da corrupção na Petrobrás teve origem no governo FHC.
Como em sociedades arcaicas onde havia a “casta dos intocáveis”, a mídia garante toda imunidade ao PSDB. Eduardo Azeredo, conhecido como “pai do mensalão”, sabe bem como isso funciona. Recentemente, a revista Veja dedicou páginas de sua publicação não para falar do mensalão do PSDB nos governos de Minas Gerais, mas para se justificar por que não ia tratar do assunto.
O que se vê, mais do que nunca, é o uso do jornalismo para interferir e deformar a realidade em favor de alguém ou de algum grupo, sem qualquer compromisso com um jornalismo como meio de transformação social. Em “O Discurso das Mídias”, o linguista francês Patrick Charaudeau fala que a “a ideologia do selecionar faz com que se construa uma imagem fragmentada do espaço público, uma visão adequada aos objetivos das mídias, mas bem afastada de um reflexo fiel”. Segundo ele, o objetivo dessa manipulação é a construção de uma opinião pública alinhada aos valores e aos interesses econômicos e políticos da mídia. “As mídias não transmitem o que ocorre na realidade social, elas impõem o que constroem do espaço público”, diz.
Enquanto continuar contaminada e obstinada em criminalizar o Partido dos Trabalhadores e seus integrantes, parte da imprensa brasileira pouco vai errar, pois não está disposta a acertar e a realizar uma cobertura honesta.
* Paulo Pimenta é deputado federal pelo PT-RS e jornalista.
2 comentários:
‘Erramos’ ou Mentimos?
eu diria: mentimos e rimos.
Nas redações do PIG primeiro se edita o "ERRAMOS" encima dele se desenvolve a calunia da matéria.
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