quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Capez, Moita e a máfia da merenda

Por Altamiro Borges

A imprensa falsamente moralista adora uma Comissão Parlamentar de Inquérito. A escandalização da política aumenta a tiragem dos jornais e a audiência da tevê – o que garante mais publicidade e mais grana aos barões da mídia. Mas mesmo com estes ganhos econômicos, a CPI só obtém os holofotes quando também cumpre os objetivos políticos das elites. Se ataca o PT e as forças de esquerda, ela é noticiada quase todos os dias. Já quando afeta os partidos da oligarquia, ela some do noticiário. É o caso da CPI da máfia da merenda, instalada pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que apura desvio de recursos públicos no reinado dos tucanos. A operação-abafa para esconder a mutretas do governador Geraldo Alckmin é descarada. Mas nem sempre a blindagem midiática funciona.

Nos últimos dias, graves denúncias vieram a público. Em sua delação premiada aos procuradores da Operação Alba Branca, o lobista Marcel Júlio confirmou que pagou propina ao deputado Fernando Capez (PSDB), presidente da Alesp e homem de confiança do "picolé de chuchu".  Segundo o tímido noticiário, nos autos do processo aparece a informação de que o tucano agiu em favor dos interesses da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf) junto à Secretaria da Educação do Estado. "Em troca, Capez teria recebido R$ 450 mil para a sua campanha de reeleição, em 2014. A Cooperativa também teria cedido um carro para o comitê de Capez", relata o Estadão nesta terça-feira (11).

Apesar da gravidade da denúncia, os jornalões preferiram dar maior destaque à resposta do presidente da Alesp. Ainda de acordo com o Estadão, "o deputado Fernando Capez (PSDB) afirmou nesta terça-feira que é vítima de uma 'onda difamatória' e que não intercedeu em favor da Coaf, apontada como carro-chefe das fraudes em contratos de merenda escolar em dezenas de prefeituras e que mirava também a Secretaria da Educação do governo Alckmin... Em nota pública, Capez disse que 'repudia com indignação a tentativa de seu envolvimento na operação Alba Branca e considera absurda a afirmação de que teve qualquer tratativa de dinheiro com membros da Coaf'".

Também nos últimos dias veio à tona a denúncia de que o sinistro Luiz Roberto dos Santos, o "Moita", ex-chefe de gabinete da Casa Civil de Geraldo Alckmin – outro investigado na Operação Alba Branca –, recebia salário acima do teto do funcionalismo. Segundo matéria da Folha, o homem de confiança do tucanato "ganhou acima do teto de março a setembro de 2015, quando era chefe de gabinete, e foi dispensado pelo governo, em agosto deste ano, de repor a quantia indevida. Ele deixou a Casa Civil em janeiro, um dia antes da Alba Branca ser deflagrada pela Polícia Civil. Hoje, ele atua na CPTM (estatal de trens)". O teto para servidores do Executivo é R$ 21.631, mas ele recebia acima do valor.

"A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) não informou quanto Moita recebeu a mais. O governo afirmou que o processo que o dispensou de devolver os valores 'está sendo revisto'. Segundo a Alba Branca, Moita foi flagrado em um grampo orientando a Coaf – cooperativa suspeita de fraudar licitações e pagar propinas – sobre um contrato com a Secretaria Estadual da Educação para fornecer suco de laranja a escolas da rede", complementa a também tímida reportagem.

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