Do blog Viomundo:
Em comentários em programa da rádio Jovem Pan (aqui), o comentarista Marco Antônio Villa critica veementemente as universidades públicas criadas nos governos Lula e Dilma. Ele foca principalmente na Unilab - Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira e no curso de Pretagogia.
Segundo o reitor recentemente eleito da Unilab, o professor Afonso Ferreira Junior, os argumentos usados por Villa não condizem com a realidade dessas universidades públicas.
Por isso, decidiu responder as críticas do comentarista em carta aberta, que segue abaixo:
***
Porto, Distrito do Porto, Portugal
Ao comentarista Marco Villa,
Uma carta aberta,
Escrevo para um professor aposentado de uma universidade costaesilvista (Universidade Federal de São Carlos) ou de uma universidade do Emílio Garrastazu Médici (Universidade Federal de Ouro Preto).
Qualquer destas classificações, utilizando o seu próprio argumento, cairiam-lhe bem, mas seria desonesto com os meus amigos, colegas e adversos da UFSCar e da Ufop.
Fui professor de uma universidade lulista – denominação dada pelo senhor em entrevista sobre algumas universidades públicas – a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (a única do Norte de Minas) e sou professor de uma universidade que, segundo o senhor ninguém conhecia: a lulista Unilab - Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.
Não tenho como negar minha simpatia com essa alcunha a nosso doutor honoris causa e essa é a única parte que gosto em seus depoimentos, mas também seria descortesia acadêmica com vários de meus colegas, que pertencem a espectros políticos diferenciados, aceitar seu argumento.
É verdade que aqueles que defendem ditaduras, ou golpes, são poucos, mas sejamos sinceros, mesmo na velha casa, onde nos doutoramos, esses também são poucos. O senhor é um caso raro.
Vamos parar de falar de “nós”, de nossas opiniões folhetinescas e vamos falar da Unilab: a criação da Unilab é “um grande momento da história nordestina, onde os sertanejos lutaram para construir um mundo novo”.
Fiz um acochambrado na frase anterior para citar um historiador que, ao se aposentar, deve estar com alguma dificuldade.
Acho que esse historiador deveria ponderar o seu passado e a sua produção, um tanto quanto significativa, mas destruída pela sua briga política e midiática contra o Partido dos Trabalhadores.
Sei que essa briga começa lá na UFSCar e na Prefeitura de São Carlos, mas isso significa que, para questionar o projeto de um partido, o senhor vai questionar todas as universidades criadas por esses governos? Somos muitos. Não admira não poder visitar universidades nenhuma ultimamente.
Minha retórica ou a sua (panfletária, partidária, midiática) não pode associar uma universidade a um governo.
Isso é de um simplismo vulgar. Dizer que o Presidente da República é responsável por toda a produção intelectual de uma universidade, do contrário não seria universidade, seria apenas governo ou seu braço.
Lembro aqui que o ex-presidente Lula por vezes é acusado, por antipatizantes, de ser “analfabeto”.
Decidam-se. A Unilab propõe fazer integração internacional para além daquela que já existe e que foi objeto de nossa formação histórica: não sei se vale lembrar, mas se chama colonização.
Essa dúvida que o senhor não consegue entender, perceptível quando fala em outra universidade internacional (UNILA), envolve sim, no caso da Unilab, os Palop´s, o Brasil e o Timor-Leste, porque tivemos uma colonização em comum: a portuguesa.
A sua crítica à Pretagogia é fruto do racismo mais puro. É claro que o senhor participou dessas discussões e sabe que, ao dizer que somos ocidentais, exclui inclusive toda a África ocidental e remete à Europa como os países desenvolvidos.
Quantas categorias ruins mencionadas que para responder me bate muito cansaço.
O termo que o senhor diz que “não dá”, dá. Vai ter que dá porque estamos cansados de uma pedagogia apenas de brancos e para brancos.
Uma disciplina, em uma universidade do interior do Ceará e mesmo assim, não dá?
Isso é Universidade, Villa?
O senhor está preocupado com duas regiões sobre as quais faz chacota?
Está fazendo apenas graça com a produção intelectual de centenas de doutores? Se não faltou, deve ao menos ter escutado falar de um professor chamado Florestan Fernandes.
Lá, na escola dos franceses, ele falava de negros no mundo de brancos.
Esse termo, Pretagogia, para a sua ciência, foi cunhado na Universidade Federal do Ceará, nossa tutora, universidade varguista.
Dito isso, sua produção deveria indicar certo apreço pela Universidade Federal do Ceará, mas não.
O senhor também fere essa instituição como se toda a produção do mundo viesse da USP. Universidade que nunca o aceitou. Por isso, não a defende tanto assim.
Claro que nada disso é sua preocupação e não lhe interessa conhecer a Unilab, que assevera ter tomado conhecimento pesquisando na noite anterior ao programa.
Sua preocupação não é essa. O senhor precisa atingir o Lula e depois terminar seus dias como comentarista de rádio. Não mede atos, nem consequências. E um ex-professor da UFSCar ou um profissional das comunicações não pode ser inconsequente.
“Com tal gente, era melhor tê-lo deixado morrer só e heroicamente num ilhéu qualquer, mas levando para o túmulo inteiramente intacto o seu orgulho, a sua doçura, a sua personalidade moral, sem a mácula de um empenho que diminuísse a injustiça de sua morte, que de algum modo fizesse crer aos seus algozes que eles tinham direito de matá-lo.”
Permita-me utilizar um denominado na época como mestiço, Lima Barreto, para fazer um pouco de Pretagogia, preconizando o seu triste fim.
Não espalhe para ninguém, mas em um passado distante, eu já o citei. Por sorte, o sábio professor Fernando Novais, que me orientou no mestrado (Unicamp) e doutorado (USP) rasgou o meu projeto de mestrado e não existe registro desse fato.
Estou citando um professor em comum para questionar a sua estranheza em dedicarmos 120 horas para os estudos da diáspora, que não significa apenas escravidão.
Eu me pergunto, estudamos em programas vizinhos, que o senhor valoriza pela formação francesa, ou, através da missão de Claude Levi-Strauss e Fernand Braudel et alli, oui.
Eu lhe pergunto em belo sergipanês: gazeou as aulas, Villa?
Em determinado momento, a grande crítica do programa de História Social da USP era a carga dedicada ao estudo sobre escravidão e o senhor grosseiramente associa escravidão a toda a diáspora africana e acha uma carga horária em excesso? Jura, Villa?
Aqueles estudos com o Jobson não lhe renderam nada? Só eu e o senhor, naquele café da FFLCH, está de sacanagem?
Lição que aprendi com o Novais era sobre um professor que escrevia três dias por semana, passava três dias em programas de TV e rádio, no sétimo dia, como um Deus, descansava e se dedicava as coisas mundanas.
Vila, o senhor lê quando? O que a profa. Maria Lígia acharia da (des)importância que dedica à América Latina e à nossa co-irmã, a Unila? Quer matar a professora de desgosto?
Gostas tanto da Europa e dos países “desenvolvidos”, Villa, que não consegues compreender que isso aqui virou uma grande diáspora e as universidades europeias - neste momento, lhe escrevo de uma dessas - estão direcionando estudos para as diásporas e com a presença de um Centro de Estudos Africanos. Vou escrever aquilo que falo aos meus alunos: vá estudar, Villa.
Mais estranho ainda é um nacionalista sem igual, vestidor de camisa verde amarela, não questionar a filosofia do football, os estudos de música clássica, a filosofia da bola ao cesto ou basketball, mas questionar a filosofia do samba ou filosofia da capoeira.
Caia pra dentro da roda ,Villa, vou te mostrar meu pulo do gato: “quem não gosta de samba, bom sujeito não é; é ruim da cabeça ou doente dos pés”.
Essa é e será uma universidade diferente. Nem o campo de oliveiras da entrada da Acrópole, em Atenas, tem dúvidas de que existe algo além da filosofia grega. Vá estudar, Villa. “Meninos eu vi”! Sugiro Unilab ou Unila para aprender algo.
Fernando Afonso Ferreira Junior
Professor do Instituto de Humanidades e Letras da Unilab
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira.
Pós-doutorando do Centro de Estudos Africanos da Flup-Universidade do Porto
Doutor em Ciências (História Econômica) da FFLCH-USP.
Em comentários em programa da rádio Jovem Pan (aqui), o comentarista Marco Antônio Villa critica veementemente as universidades públicas criadas nos governos Lula e Dilma. Ele foca principalmente na Unilab - Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira e no curso de Pretagogia.
Segundo o reitor recentemente eleito da Unilab, o professor Afonso Ferreira Junior, os argumentos usados por Villa não condizem com a realidade dessas universidades públicas.
Por isso, decidiu responder as críticas do comentarista em carta aberta, que segue abaixo:
***
Porto, Distrito do Porto, Portugal
Ao comentarista Marco Villa,
Uma carta aberta,
Escrevo para um professor aposentado de uma universidade costaesilvista (Universidade Federal de São Carlos) ou de uma universidade do Emílio Garrastazu Médici (Universidade Federal de Ouro Preto).
Qualquer destas classificações, utilizando o seu próprio argumento, cairiam-lhe bem, mas seria desonesto com os meus amigos, colegas e adversos da UFSCar e da Ufop.
Fui professor de uma universidade lulista – denominação dada pelo senhor em entrevista sobre algumas universidades públicas – a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (a única do Norte de Minas) e sou professor de uma universidade que, segundo o senhor ninguém conhecia: a lulista Unilab - Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.
Não tenho como negar minha simpatia com essa alcunha a nosso doutor honoris causa e essa é a única parte que gosto em seus depoimentos, mas também seria descortesia acadêmica com vários de meus colegas, que pertencem a espectros políticos diferenciados, aceitar seu argumento.
É verdade que aqueles que defendem ditaduras, ou golpes, são poucos, mas sejamos sinceros, mesmo na velha casa, onde nos doutoramos, esses também são poucos. O senhor é um caso raro.
Vamos parar de falar de “nós”, de nossas opiniões folhetinescas e vamos falar da Unilab: a criação da Unilab é “um grande momento da história nordestina, onde os sertanejos lutaram para construir um mundo novo”.
Fiz um acochambrado na frase anterior para citar um historiador que, ao se aposentar, deve estar com alguma dificuldade.
Acho que esse historiador deveria ponderar o seu passado e a sua produção, um tanto quanto significativa, mas destruída pela sua briga política e midiática contra o Partido dos Trabalhadores.
Sei que essa briga começa lá na UFSCar e na Prefeitura de São Carlos, mas isso significa que, para questionar o projeto de um partido, o senhor vai questionar todas as universidades criadas por esses governos? Somos muitos. Não admira não poder visitar universidades nenhuma ultimamente.
Minha retórica ou a sua (panfletária, partidária, midiática) não pode associar uma universidade a um governo.
Isso é de um simplismo vulgar. Dizer que o Presidente da República é responsável por toda a produção intelectual de uma universidade, do contrário não seria universidade, seria apenas governo ou seu braço.
Lembro aqui que o ex-presidente Lula por vezes é acusado, por antipatizantes, de ser “analfabeto”.
Decidam-se. A Unilab propõe fazer integração internacional para além daquela que já existe e que foi objeto de nossa formação histórica: não sei se vale lembrar, mas se chama colonização.
Essa dúvida que o senhor não consegue entender, perceptível quando fala em outra universidade internacional (UNILA), envolve sim, no caso da Unilab, os Palop´s, o Brasil e o Timor-Leste, porque tivemos uma colonização em comum: a portuguesa.
A sua crítica à Pretagogia é fruto do racismo mais puro. É claro que o senhor participou dessas discussões e sabe que, ao dizer que somos ocidentais, exclui inclusive toda a África ocidental e remete à Europa como os países desenvolvidos.
Quantas categorias ruins mencionadas que para responder me bate muito cansaço.
O termo que o senhor diz que “não dá”, dá. Vai ter que dá porque estamos cansados de uma pedagogia apenas de brancos e para brancos.
Uma disciplina, em uma universidade do interior do Ceará e mesmo assim, não dá?
Isso é Universidade, Villa?
O senhor está preocupado com duas regiões sobre as quais faz chacota?
Está fazendo apenas graça com a produção intelectual de centenas de doutores? Se não faltou, deve ao menos ter escutado falar de um professor chamado Florestan Fernandes.
Lá, na escola dos franceses, ele falava de negros no mundo de brancos.
Esse termo, Pretagogia, para a sua ciência, foi cunhado na Universidade Federal do Ceará, nossa tutora, universidade varguista.
Dito isso, sua produção deveria indicar certo apreço pela Universidade Federal do Ceará, mas não.
O senhor também fere essa instituição como se toda a produção do mundo viesse da USP. Universidade que nunca o aceitou. Por isso, não a defende tanto assim.
Claro que nada disso é sua preocupação e não lhe interessa conhecer a Unilab, que assevera ter tomado conhecimento pesquisando na noite anterior ao programa.
Sua preocupação não é essa. O senhor precisa atingir o Lula e depois terminar seus dias como comentarista de rádio. Não mede atos, nem consequências. E um ex-professor da UFSCar ou um profissional das comunicações não pode ser inconsequente.
“Com tal gente, era melhor tê-lo deixado morrer só e heroicamente num ilhéu qualquer, mas levando para o túmulo inteiramente intacto o seu orgulho, a sua doçura, a sua personalidade moral, sem a mácula de um empenho que diminuísse a injustiça de sua morte, que de algum modo fizesse crer aos seus algozes que eles tinham direito de matá-lo.”
Permita-me utilizar um denominado na época como mestiço, Lima Barreto, para fazer um pouco de Pretagogia, preconizando o seu triste fim.
Não espalhe para ninguém, mas em um passado distante, eu já o citei. Por sorte, o sábio professor Fernando Novais, que me orientou no mestrado (Unicamp) e doutorado (USP) rasgou o meu projeto de mestrado e não existe registro desse fato.
Estou citando um professor em comum para questionar a sua estranheza em dedicarmos 120 horas para os estudos da diáspora, que não significa apenas escravidão.
Eu me pergunto, estudamos em programas vizinhos, que o senhor valoriza pela formação francesa, ou, através da missão de Claude Levi-Strauss e Fernand Braudel et alli, oui.
Eu lhe pergunto em belo sergipanês: gazeou as aulas, Villa?
Em determinado momento, a grande crítica do programa de História Social da USP era a carga dedicada ao estudo sobre escravidão e o senhor grosseiramente associa escravidão a toda a diáspora africana e acha uma carga horária em excesso? Jura, Villa?
Aqueles estudos com o Jobson não lhe renderam nada? Só eu e o senhor, naquele café da FFLCH, está de sacanagem?
Lição que aprendi com o Novais era sobre um professor que escrevia três dias por semana, passava três dias em programas de TV e rádio, no sétimo dia, como um Deus, descansava e se dedicava as coisas mundanas.
Vila, o senhor lê quando? O que a profa. Maria Lígia acharia da (des)importância que dedica à América Latina e à nossa co-irmã, a Unila? Quer matar a professora de desgosto?
Gostas tanto da Europa e dos países “desenvolvidos”, Villa, que não consegues compreender que isso aqui virou uma grande diáspora e as universidades europeias - neste momento, lhe escrevo de uma dessas - estão direcionando estudos para as diásporas e com a presença de um Centro de Estudos Africanos. Vou escrever aquilo que falo aos meus alunos: vá estudar, Villa.
Mais estranho ainda é um nacionalista sem igual, vestidor de camisa verde amarela, não questionar a filosofia do football, os estudos de música clássica, a filosofia da bola ao cesto ou basketball, mas questionar a filosofia do samba ou filosofia da capoeira.
Caia pra dentro da roda ,Villa, vou te mostrar meu pulo do gato: “quem não gosta de samba, bom sujeito não é; é ruim da cabeça ou doente dos pés”.
Essa é e será uma universidade diferente. Nem o campo de oliveiras da entrada da Acrópole, em Atenas, tem dúvidas de que existe algo além da filosofia grega. Vá estudar, Villa. “Meninos eu vi”! Sugiro Unilab ou Unila para aprender algo.
Fernando Afonso Ferreira Junior
Professor do Instituto de Humanidades e Letras da Unilab
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira.
Pós-doutorando do Centro de Estudos Africanos da Flup-Universidade do Porto
Doutor em Ciências (História Econômica) da FFLCH-USP.
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