Por Emir Sader, na Rede Brasil Atual:
A política nunca foi um território infenso ao poder do dinheiro. Não por acaso os Congressos sempre foram conservadores. No Brasil, um partido sem mensagem, sem ideologia, que se soma a quem é mais forte, sem lideranças nacionais, tornou-se o partido mais forte, o que tem as maiores bancadas, juntando lobbies de todo tipo e até gente progressista.
Os presidentes tinham de contar com um grande apoio dos partidos tradicionais, da mídia, do grande empresariado, para poderem fazer grandes campanhas e se elegerem. O caso do Fernando Collor, no início dos anos 1990, foi típico. Um político desconhecido, que vinha da ditadura, conseguiu, contando com tudo isso e, também pelo dinheiro, com um bom marketing, projetar a imagem de salvador do país.
No neoliberalismo, a crítica ao Estado, sua redução às suas dimensões mínimas, substituído pela centralidade do mercado, chegou diretamente à política. O financiamento privado das campanhas passou a significar, sem intermediários, nem subterfúgios, comprar os mandatos dos parlamentares, para que eles votem conforme os interesses dos seus financiadores. Mecanismo imoral, de corrupção aberta da política. No caso de Collor tudo ficou bem claro. Mas esse mecanismo funcionou sempre nas eleições parlamentares.
O custo avultado das campanhas eleitorais, que tinham na contratação milionária de marqueteiros um elemento que foi se tornando indispensável, foi corrompendo de vez a democracia. Mesmo um candidato popular como Lula teve de apelar para um marqueteiro competente, que tirasse dele a imagem catastrófica, de quem sempre denuncia desastres próximos, para projetar a imagem do “Lulinha, paz e amor” e finalmente triunfasse em 2002.
O último Congresso é apenas a imagem mais exacerbada desse poder corruptor do dinheiro, que subverte a democracia e a representação da vontade popular. Pela primeira vez todo o grande empresariado estava contra o governo, preferia Aécio Neves ou Marina Silva a Dilma Rousseff. E jogou todos os seus recursos na caixinha do Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A revelação da Odebrecht de que deu dinheiro, a pedido da direção do PMDB para eleger a bancada de 140 parlamentares do Eduardo Cunha, foi apenas o elo que faltava para ficar clara toda a trama.
Nunca um Congresso foi tão oposto à sociedade real. Ao invés de representá-la, tornou-se o seu inverso. Uma bancada de ruralistas que, diz-se, tem mais de 200 parlamentares, e apenas uns três representantes dos trabalhadores rurais, que são a imensa maioria no campo brasileiro. Bancadas enormes da educação e da saúde privadas, e poucos representantes da educação e da saúde pública. Apenas para dar exemplos, que podem se multiplicar ao infinito. Um Congresso de homens, adultos, brancos, ricos, num pais de maioria de mulheres, negras, pobres, jovens.
O envolvimento do PT em casos de corrupção – reais, além dos inventados por juízes a serviço do poder da direita endinheirada – tem também a ver com o financiamento privado e seu corolário, o caixa 2. O partido teve revertida sua imagem de partido da ética na política para a de partido envolvido em casos de corrupção, imagem que o afeta profundamente em termos políticos.
O fim do financiamento empresarial é um passo para minimizar esse poder do dinheiro. Mas ainda não foi regulamentado, do que se valem gente como o ministro do STF Gilmar Mendes para querer reverter a decisão, alegando que tudo fica sem controle, sem regulamentação. É preciso avançar nessa direção.
Isso é fundamental para que a representação parlamentar e nos governos seja democrática, seja resultado de campanhas baseadas nas propostas e nas visões da sociedade e não no poder do dinheiro e nas manipulações marqueteiras. Sem congressos que representem de forma transparente a sociedade, não há democracia.
Mas, especialmente no caso dos partidos de esquerda, a única garantia é uma profunda consciência e compromisso com a ética pública, que vale também, profundamente, pelo cuidado com os recursos públicos no exercício de governos. Qualquer afrouxamento nesse tema, qualquer forma de instrumentalização do dinheiro e dos recursos públicos visando a objetivos supostamente positivos, descamba para a corrupção, material e moral, das pessoas.
Lutar contra o neoliberalismo é lutar contra a concepção que o preside, de que tudo tem preço, tudo se compra, tudo se vende, até mesmo governos e parlamentares. Faz parte dessa luta a preservação da imagem de Lula e Dilma das falsas acusações que fazem contra eles, para tentar igualá-los aos outros políticos. A imagem ética deles é um grande patrimônio da luta e dos movimentos populares.
Os presidentes tinham de contar com um grande apoio dos partidos tradicionais, da mídia, do grande empresariado, para poderem fazer grandes campanhas e se elegerem. O caso do Fernando Collor, no início dos anos 1990, foi típico. Um político desconhecido, que vinha da ditadura, conseguiu, contando com tudo isso e, também pelo dinheiro, com um bom marketing, projetar a imagem de salvador do país.
No neoliberalismo, a crítica ao Estado, sua redução às suas dimensões mínimas, substituído pela centralidade do mercado, chegou diretamente à política. O financiamento privado das campanhas passou a significar, sem intermediários, nem subterfúgios, comprar os mandatos dos parlamentares, para que eles votem conforme os interesses dos seus financiadores. Mecanismo imoral, de corrupção aberta da política. No caso de Collor tudo ficou bem claro. Mas esse mecanismo funcionou sempre nas eleições parlamentares.
O custo avultado das campanhas eleitorais, que tinham na contratação milionária de marqueteiros um elemento que foi se tornando indispensável, foi corrompendo de vez a democracia. Mesmo um candidato popular como Lula teve de apelar para um marqueteiro competente, que tirasse dele a imagem catastrófica, de quem sempre denuncia desastres próximos, para projetar a imagem do “Lulinha, paz e amor” e finalmente triunfasse em 2002.
O último Congresso é apenas a imagem mais exacerbada desse poder corruptor do dinheiro, que subverte a democracia e a representação da vontade popular. Pela primeira vez todo o grande empresariado estava contra o governo, preferia Aécio Neves ou Marina Silva a Dilma Rousseff. E jogou todos os seus recursos na caixinha do Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A revelação da Odebrecht de que deu dinheiro, a pedido da direção do PMDB para eleger a bancada de 140 parlamentares do Eduardo Cunha, foi apenas o elo que faltava para ficar clara toda a trama.
Nunca um Congresso foi tão oposto à sociedade real. Ao invés de representá-la, tornou-se o seu inverso. Uma bancada de ruralistas que, diz-se, tem mais de 200 parlamentares, e apenas uns três representantes dos trabalhadores rurais, que são a imensa maioria no campo brasileiro. Bancadas enormes da educação e da saúde privadas, e poucos representantes da educação e da saúde pública. Apenas para dar exemplos, que podem se multiplicar ao infinito. Um Congresso de homens, adultos, brancos, ricos, num pais de maioria de mulheres, negras, pobres, jovens.
O envolvimento do PT em casos de corrupção – reais, além dos inventados por juízes a serviço do poder da direita endinheirada – tem também a ver com o financiamento privado e seu corolário, o caixa 2. O partido teve revertida sua imagem de partido da ética na política para a de partido envolvido em casos de corrupção, imagem que o afeta profundamente em termos políticos.
O fim do financiamento empresarial é um passo para minimizar esse poder do dinheiro. Mas ainda não foi regulamentado, do que se valem gente como o ministro do STF Gilmar Mendes para querer reverter a decisão, alegando que tudo fica sem controle, sem regulamentação. É preciso avançar nessa direção.
Isso é fundamental para que a representação parlamentar e nos governos seja democrática, seja resultado de campanhas baseadas nas propostas e nas visões da sociedade e não no poder do dinheiro e nas manipulações marqueteiras. Sem congressos que representem de forma transparente a sociedade, não há democracia.
Mas, especialmente no caso dos partidos de esquerda, a única garantia é uma profunda consciência e compromisso com a ética pública, que vale também, profundamente, pelo cuidado com os recursos públicos no exercício de governos. Qualquer afrouxamento nesse tema, qualquer forma de instrumentalização do dinheiro e dos recursos públicos visando a objetivos supostamente positivos, descamba para a corrupção, material e moral, das pessoas.
Lutar contra o neoliberalismo é lutar contra a concepção que o preside, de que tudo tem preço, tudo se compra, tudo se vende, até mesmo governos e parlamentares. Faz parte dessa luta a preservação da imagem de Lula e Dilma das falsas acusações que fazem contra eles, para tentar igualá-los aos outros políticos. A imagem ética deles é um grande patrimônio da luta e dos movimentos populares.
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