Da revista CartaCapital:
Quando o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi eleito presidente da Câmara, em julho de 2016, seu nome era visto com simpatia pelo Palácio do Planalto. Michel Temer e seu círculo íntimo de apoiadores tinham trabalhado pela vitória de Rogério Rosso (PSD-DF), um integrante do "centrão", o grupo outrora liderado por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas o nome de Maia era aceitável. Naquele momento, a eleição do deputado servia para firmar a parceria entre o centrão, articulado ao redor de Temer, e a antiga oposição ao PT, comandada pelo PSDB e integrada pelo DEM de Maia.
Com o agravamento da crise provocado pelas denúncias de corrupção contra Temer e diversos de seus auxiliares, a separação entre o centrão e a antiga oposição ao PT vai ficando evidente. E Maia se torna rapidamente o pivô da derrubada de Temer, papel que Temer executou sem galhardia alguma a partir de dezembro de 2015, quando "vazou" uma famigerada carta do então vice-presidente para Dilma Rousseff, na qual ele choramingava o desprestígio direcionado ele pela petista.
O nome de Maia vinha sendo propalado aos poucos. Em maio, CartaCapital contou que a eleição indireta de Rodrigo Maia agradava uma fatia razoável da base governista, majoritária na Câmara. PSDB e DEM topavam e o “centrão” simpatiza. Se o próximo presidente for um nome da Câmara, e não de fora, tudo certo, contava a reportagem. Por quê? “Para continuar o serviço do Michel”, disse um parlamentar. Tradução: tentar enterrar a Lava Jato.
Na quinta-feira, 7, o presidente em exercício do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE), falou abertamente sobre sua ascensão ao Planalto. O substituto de Temer, disse o tucano ao jornal O Estado de S.Paulo, "tem que ser alguém que dê governabilidade" para o País até a eleição de 2018. "Isso não é algo difícil de se encontrar", afirmou.
Jereissati trabalha com a hipótese de Temer ser afastado pela Câmara por seis meses, o que ocorrerá caso 342 deputados deem sinal verde para o Supremo Tribunal Federal (STF) analisar a denúncia por corrupção passiva contra Temer apresentada pela Procuradoria-Geral da República.
"Na travessia, se vier, tem várias opções. Se vier um afastamento pela Câmara, ele [Maia] é presidente por seis meses. Se Temer renunciasse já seria diferente, mas, se passar a licença para a denúncia, aí ele [Maia] é presidente por seis meses e tem condições de fazer, até pelo cargo que possui na Câmara, de juntar os partidos ao redor com um mínimo de estabilidade para o País", disse.
Outro tucano que jogou Temer aos leões e defendeu a ascensão de Maia foi o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). Em fala a um grupo de investidores na quinta-feira 6, o tucano afirmou, segundo a Folha de S.Paulo, que "o governo caiu" e que se depender do processo na Câmara, “dentro de 15 dias o País terá um novo presidente”.
Na manhã desta sexta-feira 7, Cunha Lima continuou atirando contra Temer e insistiu no desembarque do PSDB do governo. "Existem vozes que defendem permanecer no governo Temer mas essas vozes são cada vez menos representativas dentro do PSDB", afirmou em entrevista ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha.
Uma dessas vozes é a do senador Aécio Neves (MG). Presidente licenciado do PSDB, o senador está também acossado por denúncias de corrupção e conta a guarida do governo para escapar. Na quinta-feira 6, foi salvo de um processo de cassação no Conselho de Ética pela base de Temer.
"É um governo caracterizado pela impopularidade e isso pode levar o Brasil para uma situação de paralisia", disse Cunha Lima. "O presidente está perdendo apoio dentro do próprio partido e isso tem efeito cascata sobre as demais legendas", afirmou. A frase é uma referência à escolha de Sergio Zveiter (PMDB-RJ) como relator da denúncia contra Temer na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Ele é visto como próximo a Maia e pode apresentar um parecer favorável à aceitação da denúncia, o que complicaria, e muito, a situação de Temer.
O PSDB, com sua notória relação com o empresariado brasileiro, chama de "estabilidade" o cenário em que as reformas trabalhista e da Previdência sejam aprovadas. Para o partido, Maia é a figura capaz de garantir esse cenário. No evento de quinta-feira 6, segundo a Folha, Cunha Lima teria dito que Maia deus sinais de que não mexerá na equipe econômica se assumir o governo. “Maia deverá apresentar mais estabilidade.”
A manutenção da equipe econômica vai ao encontro de apuração publicada nesta sexta-feira 7 pelo site Poder 360. De acordo com a reportagem, o ministério de Rodrigo Maia já está em formação e Henrique Meirelles seria mantido na Fazenda.
A expectativa de permanência da equipe econômica vai ao encontro, também, das declarações da própria equipe econômica. Em maio, Meirelles já dizia que permaneceria no governo mesmo sem Temer. Declaração idêntica deu o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, no fim de junho. Tendo em vista que o presidente da República nomeia tanto o ministro da Fazenda quanto o presidente do BC, seria o caso de perguntar como Meirelles e Goldfajn sabem que permanecerão no governo em caso de queda de Temer. Talvez Rodrigo Maia tenha a resposta.
Nesta sexta-feira, o presidente da Câmara foi às redes sociais para se manifestar sobre a situação do País. "Precisamos ter muita tranquilidade e prudência neste momento. Em vez de potencializar, precisamos ajudar o Brasil a sair da crise", escreveu no Twitter, antes de postar a hashtag "#reformas". "Temos que estabelecer o mais rápido possível a agenda da Câmara dos Deputados. Não podemos estar satisfeitos apenas com a reforma trabalhista. Temos Previdência, Tributária e mudanças na legislação de segurança pública", continuou.
Os próximos capítulos dessa história serão vistos na semana que vem. Sergio Zveiter pode apresentar seu relatório na CCJ na próxima segunda-feira e já defendeu que o próprio procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vá à Câmara defender a denúncia. Por certo, seria um evento devastador para Temer.
Falta saber se Maia de fato conseguirá trazer a "estabilidade" pregada pelo PSDB. Convém lembrar que o deputado do DEM, presidente da Câmara, é figurinha carimbada nas delações da Odebrecht. Foi citado por delatores da empreiteira como receptor de propina sob os codinomes "Botafogo" e "volante", apelido dos deputados federais, do "Fluminense", referência ao DEM, seu partido. Assim como Temer, Rodrigo Maia nega envolvimento em casos de corrupção.
Quando o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi eleito presidente da Câmara, em julho de 2016, seu nome era visto com simpatia pelo Palácio do Planalto. Michel Temer e seu círculo íntimo de apoiadores tinham trabalhado pela vitória de Rogério Rosso (PSD-DF), um integrante do "centrão", o grupo outrora liderado por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas o nome de Maia era aceitável. Naquele momento, a eleição do deputado servia para firmar a parceria entre o centrão, articulado ao redor de Temer, e a antiga oposição ao PT, comandada pelo PSDB e integrada pelo DEM de Maia.
Com o agravamento da crise provocado pelas denúncias de corrupção contra Temer e diversos de seus auxiliares, a separação entre o centrão e a antiga oposição ao PT vai ficando evidente. E Maia se torna rapidamente o pivô da derrubada de Temer, papel que Temer executou sem galhardia alguma a partir de dezembro de 2015, quando "vazou" uma famigerada carta do então vice-presidente para Dilma Rousseff, na qual ele choramingava o desprestígio direcionado ele pela petista.
O nome de Maia vinha sendo propalado aos poucos. Em maio, CartaCapital contou que a eleição indireta de Rodrigo Maia agradava uma fatia razoável da base governista, majoritária na Câmara. PSDB e DEM topavam e o “centrão” simpatiza. Se o próximo presidente for um nome da Câmara, e não de fora, tudo certo, contava a reportagem. Por quê? “Para continuar o serviço do Michel”, disse um parlamentar. Tradução: tentar enterrar a Lava Jato.
Na quinta-feira, 7, o presidente em exercício do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE), falou abertamente sobre sua ascensão ao Planalto. O substituto de Temer, disse o tucano ao jornal O Estado de S.Paulo, "tem que ser alguém que dê governabilidade" para o País até a eleição de 2018. "Isso não é algo difícil de se encontrar", afirmou.
Jereissati trabalha com a hipótese de Temer ser afastado pela Câmara por seis meses, o que ocorrerá caso 342 deputados deem sinal verde para o Supremo Tribunal Federal (STF) analisar a denúncia por corrupção passiva contra Temer apresentada pela Procuradoria-Geral da República.
"Na travessia, se vier, tem várias opções. Se vier um afastamento pela Câmara, ele [Maia] é presidente por seis meses. Se Temer renunciasse já seria diferente, mas, se passar a licença para a denúncia, aí ele [Maia] é presidente por seis meses e tem condições de fazer, até pelo cargo que possui na Câmara, de juntar os partidos ao redor com um mínimo de estabilidade para o País", disse.
Outro tucano que jogou Temer aos leões e defendeu a ascensão de Maia foi o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). Em fala a um grupo de investidores na quinta-feira 6, o tucano afirmou, segundo a Folha de S.Paulo, que "o governo caiu" e que se depender do processo na Câmara, “dentro de 15 dias o País terá um novo presidente”.
Na manhã desta sexta-feira 7, Cunha Lima continuou atirando contra Temer e insistiu no desembarque do PSDB do governo. "Existem vozes que defendem permanecer no governo Temer mas essas vozes são cada vez menos representativas dentro do PSDB", afirmou em entrevista ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha.
Uma dessas vozes é a do senador Aécio Neves (MG). Presidente licenciado do PSDB, o senador está também acossado por denúncias de corrupção e conta a guarida do governo para escapar. Na quinta-feira 6, foi salvo de um processo de cassação no Conselho de Ética pela base de Temer.
"É um governo caracterizado pela impopularidade e isso pode levar o Brasil para uma situação de paralisia", disse Cunha Lima. "O presidente está perdendo apoio dentro do próprio partido e isso tem efeito cascata sobre as demais legendas", afirmou. A frase é uma referência à escolha de Sergio Zveiter (PMDB-RJ) como relator da denúncia contra Temer na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Ele é visto como próximo a Maia e pode apresentar um parecer favorável à aceitação da denúncia, o que complicaria, e muito, a situação de Temer.
O PSDB, com sua notória relação com o empresariado brasileiro, chama de "estabilidade" o cenário em que as reformas trabalhista e da Previdência sejam aprovadas. Para o partido, Maia é a figura capaz de garantir esse cenário. No evento de quinta-feira 6, segundo a Folha, Cunha Lima teria dito que Maia deus sinais de que não mexerá na equipe econômica se assumir o governo. “Maia deverá apresentar mais estabilidade.”
A manutenção da equipe econômica vai ao encontro de apuração publicada nesta sexta-feira 7 pelo site Poder 360. De acordo com a reportagem, o ministério de Rodrigo Maia já está em formação e Henrique Meirelles seria mantido na Fazenda.
A expectativa de permanência da equipe econômica vai ao encontro, também, das declarações da própria equipe econômica. Em maio, Meirelles já dizia que permaneceria no governo mesmo sem Temer. Declaração idêntica deu o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, no fim de junho. Tendo em vista que o presidente da República nomeia tanto o ministro da Fazenda quanto o presidente do BC, seria o caso de perguntar como Meirelles e Goldfajn sabem que permanecerão no governo em caso de queda de Temer. Talvez Rodrigo Maia tenha a resposta.
Nesta sexta-feira, o presidente da Câmara foi às redes sociais para se manifestar sobre a situação do País. "Precisamos ter muita tranquilidade e prudência neste momento. Em vez de potencializar, precisamos ajudar o Brasil a sair da crise", escreveu no Twitter, antes de postar a hashtag "#reformas". "Temos que estabelecer o mais rápido possível a agenda da Câmara dos Deputados. Não podemos estar satisfeitos apenas com a reforma trabalhista. Temos Previdência, Tributária e mudanças na legislação de segurança pública", continuou.
Os próximos capítulos dessa história serão vistos na semana que vem. Sergio Zveiter pode apresentar seu relatório na CCJ na próxima segunda-feira e já defendeu que o próprio procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vá à Câmara defender a denúncia. Por certo, seria um evento devastador para Temer.
Falta saber se Maia de fato conseguirá trazer a "estabilidade" pregada pelo PSDB. Convém lembrar que o deputado do DEM, presidente da Câmara, é figurinha carimbada nas delações da Odebrecht. Foi citado por delatores da empreiteira como receptor de propina sob os codinomes "Botafogo" e "volante", apelido dos deputados federais, do "Fluminense", referência ao DEM, seu partido. Assim como Temer, Rodrigo Maia nega envolvimento em casos de corrupção.
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