Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
A ideia de organizar uma invasão estrangeira para derrubar o governo de Nicolas Maduro, na Venezuela, reapareceu no dia de hoje, através de um artigo do economista Ricardo Hausmann, ex-ministro no governo de Carlos Andrés Perez, publicado pela Folha e outros jornais.
Depois que a oposição venezuelana sofreu três derrotas eleitorais consecutivas em 2017, era razoável imaginar que o golpismo local estivesse adormecido pelo menos na entrada do Ano Novo. O ex-ministro, um quadro político com conexões acadêmicas e políticas na região, mostra que não.
Num descaramento poucas vezes visto na história das conspirações políticas de qualquer país, Hausmann chega a sugerir abertamente a intervenção de forças estrangeiras na Venezuela -- numa operação militar mais parecida com a gigantesca Guerra do Iraque, de George W Bush, no início da década, do que a invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, em 1961, durante o governo John Kennedy.
O calendário político venezuelano define que 2018 é um ano de eleições presidenciais -- e o próprio Hausmann não esconde que o quadro para a oposição é desfavorável. No artigo, admite, textualmente, que a "oposição política organizada está mais fraca do que estava em julho", quando a população venezuelana foi às urnas votar na Constituinte e abriu uma saída política para o país.
O raciocínio é simples: oposição fraca, golpe forte. Já vimos isso, certo?
Em seu artigo, Hausemann imagina o afastamento de Maduro em três fases. Na primeira, a Assembleia Nacional, única instituição federal controlada pela oposição, declara o "impedimento de Maduro". Na segunda, "indica "constitucionalmente o novo governo". Na terceira etapa, pede-se " ajuda militar a uma coalizão de países dispostos, incluindo latino-americanos, norte-americanos e europeus." Em seu raciocínio, embriagado no próprio otimismo, Hausmann sugere que a força externa "libertaria a Venezuela assim como canadenses, australianos, britânicos e norte-americanos libertaram a Europa em 1944-1945".
É interessante notar que, no esforço para embelezar uma condenável invasão de um país por tropas estrangeiras, sem qualquer justificativa do ponto de vista político ou diplomático, Hausmann deixa de mencionar que em 1944-1945 vários países da Europa estava ocupados por uma tropa estrangeira, a Alemanha nazista. Também esquece de mencionar o papel decisivo da União Soviética e particularmente da classe operária russa na derrota de Hitler, que teve início em Stalingrado e terminou com a chegada dos tanques soviéticos em Berlim.
No esquema para o golpe de Caracas e a invasão do país, tudo se passa como se fosse possível ignorar a base popular do governo Maduro, uma população que mantém-se fiel na defesa das conquistas obtidas no período chavista. Mesmo enfrentando uma crise real, que tem origem conhecida na queda do preço do petróleo e em erros do governo, mas é inseparável da guerra econômica contra o chavismo levada a cabo pelo mercado internacional, os venezuelanos demonstram com clareza sua vontade de resistir.
Uma das explicações para isso é que, mesmo vivendo um quadro social difícil, a maioria dos venezuelanos guarda uma memória de tempos ainda piores e mais sofridos do período anterior ao chavismo, como demonstram dados de subnutrição das Nações Unidas -- o que torna qualquer tentativa de confronto militar, ainda mais com ajuda estrangeira, uma perspectiva de violência descontrolada, capaz de desestabilizar o conjunto da região.
Personagem importante do conservadorismo venezuelano, com fortes conexões acadêmicas e políticas nos Estados Unidos, Hausmann confirma no artigo a fama de economista com ideias chamativas e nem sempre exequíveis e muito menos interessantes do ponto de vista da maioria da população.
No ano 2 000, foi um dos partidários radicais da dolarização das economias latino-americanas, medida que produziu o suicídio econômico da Argentina -- segunda maior economia da região na época -- no período. Também foi um aliado feliz do acordo de Fernando Henrique Cardoso com o FMI, um pacto tão ruim para o país que só foi confirmado, em Washington, depois que os principais candidatos da oposição em 2002 se comprometeram a não revogá-lo caso fossem eleitos.
Sua história não é muito diferente de tantas viúvas da oligarquia que Hugo Chávez derrotou nas urnas de 1998 e não conseguiu retornar ao palácio Miraflores pelas urnas. Ele foi ministro do Planejamento Econômico no governo de Carlos Andrés Perez, um presidente que, conforme se provou mais tarde, estava na lista de agentes remunerados da CIA e nessa condição foi um ator importante em operações secretas de Washington na América Central.
Antigo membro da Internacional Socialista, duas vezes presidente, Perez inaugurou seu segundo governo, em 1988, como homem de confiança do Fundo Monetário Internacional, baixando um pacote impopular tão cruel que provocou uma das revoltas históricas da América do Sul, conhecida como Caracazo. Afogada com 500 mortos, a insurreição está na origem da tentativa de golpe militar (fracassado) de Hugo Chávez um pouco mais tarde.
Depois que a oposição venezuelana sofreu três derrotas eleitorais consecutivas em 2017, era razoável imaginar que o golpismo local estivesse adormecido pelo menos na entrada do Ano Novo. O ex-ministro, um quadro político com conexões acadêmicas e políticas na região, mostra que não.
Num descaramento poucas vezes visto na história das conspirações políticas de qualquer país, Hausmann chega a sugerir abertamente a intervenção de forças estrangeiras na Venezuela -- numa operação militar mais parecida com a gigantesca Guerra do Iraque, de George W Bush, no início da década, do que a invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, em 1961, durante o governo John Kennedy.
O calendário político venezuelano define que 2018 é um ano de eleições presidenciais -- e o próprio Hausmann não esconde que o quadro para a oposição é desfavorável. No artigo, admite, textualmente, que a "oposição política organizada está mais fraca do que estava em julho", quando a população venezuelana foi às urnas votar na Constituinte e abriu uma saída política para o país.
O raciocínio é simples: oposição fraca, golpe forte. Já vimos isso, certo?
Em seu artigo, Hausemann imagina o afastamento de Maduro em três fases. Na primeira, a Assembleia Nacional, única instituição federal controlada pela oposição, declara o "impedimento de Maduro". Na segunda, "indica "constitucionalmente o novo governo". Na terceira etapa, pede-se " ajuda militar a uma coalizão de países dispostos, incluindo latino-americanos, norte-americanos e europeus." Em seu raciocínio, embriagado no próprio otimismo, Hausmann sugere que a força externa "libertaria a Venezuela assim como canadenses, australianos, britânicos e norte-americanos libertaram a Europa em 1944-1945".
É interessante notar que, no esforço para embelezar uma condenável invasão de um país por tropas estrangeiras, sem qualquer justificativa do ponto de vista político ou diplomático, Hausmann deixa de mencionar que em 1944-1945 vários países da Europa estava ocupados por uma tropa estrangeira, a Alemanha nazista. Também esquece de mencionar o papel decisivo da União Soviética e particularmente da classe operária russa na derrota de Hitler, que teve início em Stalingrado e terminou com a chegada dos tanques soviéticos em Berlim.
No esquema para o golpe de Caracas e a invasão do país, tudo se passa como se fosse possível ignorar a base popular do governo Maduro, uma população que mantém-se fiel na defesa das conquistas obtidas no período chavista. Mesmo enfrentando uma crise real, que tem origem conhecida na queda do preço do petróleo e em erros do governo, mas é inseparável da guerra econômica contra o chavismo levada a cabo pelo mercado internacional, os venezuelanos demonstram com clareza sua vontade de resistir.
Uma das explicações para isso é que, mesmo vivendo um quadro social difícil, a maioria dos venezuelanos guarda uma memória de tempos ainda piores e mais sofridos do período anterior ao chavismo, como demonstram dados de subnutrição das Nações Unidas -- o que torna qualquer tentativa de confronto militar, ainda mais com ajuda estrangeira, uma perspectiva de violência descontrolada, capaz de desestabilizar o conjunto da região.
Personagem importante do conservadorismo venezuelano, com fortes conexões acadêmicas e políticas nos Estados Unidos, Hausmann confirma no artigo a fama de economista com ideias chamativas e nem sempre exequíveis e muito menos interessantes do ponto de vista da maioria da população.
No ano 2 000, foi um dos partidários radicais da dolarização das economias latino-americanas, medida que produziu o suicídio econômico da Argentina -- segunda maior economia da região na época -- no período. Também foi um aliado feliz do acordo de Fernando Henrique Cardoso com o FMI, um pacto tão ruim para o país que só foi confirmado, em Washington, depois que os principais candidatos da oposição em 2002 se comprometeram a não revogá-lo caso fossem eleitos.
Sua história não é muito diferente de tantas viúvas da oligarquia que Hugo Chávez derrotou nas urnas de 1998 e não conseguiu retornar ao palácio Miraflores pelas urnas. Ele foi ministro do Planejamento Econômico no governo de Carlos Andrés Perez, um presidente que, conforme se provou mais tarde, estava na lista de agentes remunerados da CIA e nessa condição foi um ator importante em operações secretas de Washington na América Central.
Antigo membro da Internacional Socialista, duas vezes presidente, Perez inaugurou seu segundo governo, em 1988, como homem de confiança do Fundo Monetário Internacional, baixando um pacote impopular tão cruel que provocou uma das revoltas históricas da América do Sul, conhecida como Caracazo. Afogada com 500 mortos, a insurreição está na origem da tentativa de golpe militar (fracassado) de Hugo Chávez um pouco mais tarde.
Mesmo derrotado, o Caracazo marcou para sempre a reputação de Perez como "traidor" - um ano antes da posse, ele fizera uma campanha de denúncias radicais contra o mesmo FMI com o qual negociava em segredo. Hausmann assumiu Ministério do Planejamento no último ano do desastrado governo Perez, quando se fazia uma derradeira e inútil tentativa de salvar o presidente, que acabou condenado por denúncias de corrupção.
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