Por Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida, no site Outras Palavras:
É altamente provável que os acontecimentos de ontem para hoje contribuam para superar um debate entre as forças populares e democráticas, inclusive entre os que se proclamam mais à esquerda: desde o processo de deposição da presidenta Dilma Rousseff, está em curso um golpe de Estado. E, apesar de suas inegáveis vitórias imediatas, os golpistas, até porque envolvidos em disputas nas quais se denunciam reciprocamente por práticas muito pouco republicanas, se desmoralizam cada vez mais.
Daí a extrema dificuldade para encontrarem uma candidatura capaz de se sagrar vitoriosa contra seu principal adversário: o ex-presidente Lula. Gostando ou não deste, impõe-se reconhecer que, desde o início do golpe, foi o único político brasileiro que cresceu considerável e consistentemente, apesar da implacável perseguição que sofreu. A quantas anda o Aécio? E o Cunha? Quem diria que o inferno astral do Crivella começaria tão cedo? Por melhores que tenham sido as relações de Lula com as principais forças que implementaram e/ou se beneficiaram com seus dois mandatos, ele se tornou um grande obstáculo à consolidação eleitoral do golpe.
Até agora, as Forças Armadas mantiveram, via de regra, atuação discreta. Vincular-se a um governo cujos líderes recebem os codinomes de Caju, Angorá, Botafogo, Mineirinho e Todo Feio é muito difícil de convergir com qualquer coisa que passe por interesse estratégico nacional. Quando abandonaram esta posição, por exemplo, ao intervirem na Rocinha, o resultado só não foi mais desastroso porque ocorreu rápida mudança de rumo.
Em um país com cerca de doze milhões de desempregados, na iminência de voltar ao mapa da fome e com o nada casual incremento do número de bilionários (grande parte ligada à especulação), estrategistas pensam que basta aperfeiçoar (?) os mecanismos de repressão para assegurar a paz social?
Começou no Rio. Como termina?
O nosso lado é o da democracia. Mas “só” isto será difícil de empolgar o povo, pois os grandes meios de comunicação insistem o tempo todo na tecla da segurança, como se a maior parte da população brasileira, especialmente a de pele negra ou assemelhada, não vivesse sob permanente fogo cruzado. Não abrimos mão da luta pelo direito à vida digna, o que passa pelo acesso à moradia, ao ensino público de qualidade e pelo combate às retrogradas mudanças da legislação trabalhista e da previdência social. Como todos sabem, democracia não se resume a votar periodicamente, mas implica efetiva participação popular na vida política.
Resta saber o que e quem, mais uma vez e de modo muito mais grave, envolve as Forças Armadas nesta aventura que, por mais sucesso midiático que tenha no curto prazo, não resolverá problema algum (como ocorreu com a lava jato). As quais podem incorrer em um dilema atroz: ou fazem política de governo (deste governo!), no caso até eleitoral, ou fazem uma política de Estado que pode reforçar uma ordem ilegítima e aprofundar a mudança de regime. É lamentável que isto aconteça pari passu com a destruição da indústria de construção naval, a declarada intenção de desnacionalizar a Embraer e o esquartejamento da Petrobrás. Ou seja, políticas que favorecem empresas estrangeiras muito bem amparadas por seus respectivos Estados nacionais e, no Brasil, contribuem para aumentar o número de condenados da terra, sérios candidatos a vítimas de futuras operações de “segurança” que objetivamente contribuem para reproduzir o que se chama de “escravidão social”.
Sabemos como intervenções militares começam e como costumam terminar.
Cabe às forças democráticas, nacionais e populares manifestar nossa clara desaprovação.
É altamente provável que os acontecimentos de ontem para hoje contribuam para superar um debate entre as forças populares e democráticas, inclusive entre os que se proclamam mais à esquerda: desde o processo de deposição da presidenta Dilma Rousseff, está em curso um golpe de Estado. E, apesar de suas inegáveis vitórias imediatas, os golpistas, até porque envolvidos em disputas nas quais se denunciam reciprocamente por práticas muito pouco republicanas, se desmoralizam cada vez mais.
Daí a extrema dificuldade para encontrarem uma candidatura capaz de se sagrar vitoriosa contra seu principal adversário: o ex-presidente Lula. Gostando ou não deste, impõe-se reconhecer que, desde o início do golpe, foi o único político brasileiro que cresceu considerável e consistentemente, apesar da implacável perseguição que sofreu. A quantas anda o Aécio? E o Cunha? Quem diria que o inferno astral do Crivella começaria tão cedo? Por melhores que tenham sido as relações de Lula com as principais forças que implementaram e/ou se beneficiaram com seus dois mandatos, ele se tornou um grande obstáculo à consolidação eleitoral do golpe.
Bloquear sua candidatura é estratégico para as forças golpistas, a menos que estas consigam força e unidade para promover rápida mudança de regime ou forma de governo. Daí a condenação em segunda instância e velocidade máxima por três prodígios em leitura dinâmica, em um processo que gerou um misto de indignação e chacota, mesmo entre os jornais conservadores de outros países, a começar pelos EUA, tão elogiados pelos que apoiaram o golpe.
O problema é que, desde o início, as forças golpistas são heterogêneas e contraditórias. No dia seguinte à condenação, um festival de denúncias expôs os estreitos vínculos de heróis do judiciário com vantagens de escassa legitimidade que, aos olhos cada vez mais atentos de amplos contingentes das classes populares, apequenavam as acusações (jamais provada) que levaram à condenação (e possível prisão) do líder petista.
É muito difícil nos recordarmos de um governo tão envolvido em ostensivos expedientes de corrupção como o atual, que, para se manter, recorre a explícitas manobras que podem ser sintetizadas como mais das mesmas. Daí as piruetas inglórias dos grandes meios de comunicação brasileiros, os porta-vozes do golpe: denunciar as ladroeiras e, ao mesmo tempo, ungirem estes larápios com a nobre missão de adotarem políticas profundamente antidemocráticas, antipopulares e antinacionais, mas apresentadas como condições indispensáveis à salvação do país. Assim como ocorreu em relação ao apoio que deram à ditadura militar, mais tarde os grupos Folha e Globo farão autocrítica.
Neste processo, a impopularidade dos políticos profissionais, a começar pela do atual chefe do Executivo, despencou, o que dificulta a escolha de uma candidatura viável. Não por acaso, setores da grande finança se encantam com o Bolsonaro.
O problema é que, desde o início, as forças golpistas são heterogêneas e contraditórias. No dia seguinte à condenação, um festival de denúncias expôs os estreitos vínculos de heróis do judiciário com vantagens de escassa legitimidade que, aos olhos cada vez mais atentos de amplos contingentes das classes populares, apequenavam as acusações (jamais provada) que levaram à condenação (e possível prisão) do líder petista.
É muito difícil nos recordarmos de um governo tão envolvido em ostensivos expedientes de corrupção como o atual, que, para se manter, recorre a explícitas manobras que podem ser sintetizadas como mais das mesmas. Daí as piruetas inglórias dos grandes meios de comunicação brasileiros, os porta-vozes do golpe: denunciar as ladroeiras e, ao mesmo tempo, ungirem estes larápios com a nobre missão de adotarem políticas profundamente antidemocráticas, antipopulares e antinacionais, mas apresentadas como condições indispensáveis à salvação do país. Assim como ocorreu em relação ao apoio que deram à ditadura militar, mais tarde os grupos Folha e Globo farão autocrítica.
Neste processo, a impopularidade dos políticos profissionais, a começar pela do atual chefe do Executivo, despencou, o que dificulta a escolha de uma candidatura viável. Não por acaso, setores da grande finança se encantam com o Bolsonaro.
Até agora, as Forças Armadas mantiveram, via de regra, atuação discreta. Vincular-se a um governo cujos líderes recebem os codinomes de Caju, Angorá, Botafogo, Mineirinho e Todo Feio é muito difícil de convergir com qualquer coisa que passe por interesse estratégico nacional. Quando abandonaram esta posição, por exemplo, ao intervirem na Rocinha, o resultado só não foi mais desastroso porque ocorreu rápida mudança de rumo.
Em um país com cerca de doze milhões de desempregados, na iminência de voltar ao mapa da fome e com o nada casual incremento do número de bilionários (grande parte ligada à especulação), estrategistas pensam que basta aperfeiçoar (?) os mecanismos de repressão para assegurar a paz social?
Começou no Rio. Como termina?
O nosso lado é o da democracia. Mas “só” isto será difícil de empolgar o povo, pois os grandes meios de comunicação insistem o tempo todo na tecla da segurança, como se a maior parte da população brasileira, especialmente a de pele negra ou assemelhada, não vivesse sob permanente fogo cruzado. Não abrimos mão da luta pelo direito à vida digna, o que passa pelo acesso à moradia, ao ensino público de qualidade e pelo combate às retrogradas mudanças da legislação trabalhista e da previdência social. Como todos sabem, democracia não se resume a votar periodicamente, mas implica efetiva participação popular na vida política.
Resta saber o que e quem, mais uma vez e de modo muito mais grave, envolve as Forças Armadas nesta aventura que, por mais sucesso midiático que tenha no curto prazo, não resolverá problema algum (como ocorreu com a lava jato). As quais podem incorrer em um dilema atroz: ou fazem política de governo (deste governo!), no caso até eleitoral, ou fazem uma política de Estado que pode reforçar uma ordem ilegítima e aprofundar a mudança de regime. É lamentável que isto aconteça pari passu com a destruição da indústria de construção naval, a declarada intenção de desnacionalizar a Embraer e o esquartejamento da Petrobrás. Ou seja, políticas que favorecem empresas estrangeiras muito bem amparadas por seus respectivos Estados nacionais e, no Brasil, contribuem para aumentar o número de condenados da terra, sérios candidatos a vítimas de futuras operações de “segurança” que objetivamente contribuem para reproduzir o que se chama de “escravidão social”.
Sabemos como intervenções militares começam e como costumam terminar.
Cabe às forças democráticas, nacionais e populares manifestar nossa clara desaprovação.
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