O governo Temer não consegue fazer avançar o Programa Mais Médicos. O número de médicos no Programa caiu de 18.240 em 2016 para 17.584 ao final de 2017, ou seja, 656 profissionais a menos no atendimento à população. Isto significa que pelo menos 2,2 milhões de pessoas no país foram prejudicadas no seu atendimento, seja enfrentando filas maiores, ou não sendo atendidas.
Do total de médicos atuais, os profissionais cubanos representam 48,7% (8.557 médicos), os brasileiros 48,1% (8.459) e os demais estrangeiros 3,2% (568). Umas das dificuldades identificadas no país e para a qual o Programa se atentou é que os profissionais brasileiros, em geral, procuram não ir trabalhar em áreas muito distantes ou periféricas, algo que os médicos estrangeiros apresentam bem menos resistência, ou nenhuma.
Uma recente preocupação com o Programa advém do interesse divulgado pelo Ministério da Saúde em desligar cerca de 1,2 mil médicos cubanos, reduzindo-os para 7,4 mil profissionais. Caso isto não seja feito com o planejamento adequado, outros quatro milhões de pacientes seriam prejudicados.
Ainda há grande demanda populacional pela expansão do Programa. Antes de sua implantação, o número de médicos no país representava a proporção de 1,8 médicos para cada mil habitantes. Com a implantação do Programa esta proporção subiu para 2,1, número ainda inferior a países como Canadá (2,4), Reino Unido (2,7), Espanha (3,5) ou Argentina (3,9).
Todavia, a real situação do Programa pode ser ainda pior: os dados recém divulgados pelo Ministério da Saúde não apresentam total confiabilidade. Quando se procura por informação no site, encontra-se apenas o número de vagas existentes nos municípios, e não o total efetivo de profissionais. Segundo reportou ao jornal Valor Econômico o médico Hêider Pinto, ex-diretor de atenção básica do Ministério da Saúde de 2011 a 2014, os números do orçamento da Saúde, que aumentaram abaixo do nível da inflação nos últimos dois anos, escondem o fato de que o Mais Médicos está diminuindo. Na estimativa do médico, em abril de 2017, “o número de médicos estava em torno de dezesseis mil, e o de municípios atendidos caído a 3,8 mil, voltando, portanto, ao patamar de 2014".
Apesar de tudo, o Programa demonstrou ser uma política de sucesso. Muito combatido no início pela classe médica brasileira e suas entidades representantes, o Programa recebeu nota 9 de seus usuários em pesquisa realizada pela UFMG em mais de setecentos municípios brasileiros. Cerca de 85% dos entrevistados informou que o atendimento melhorou desde a implantação do Programa e 84% que não tiveram dificuldade de comunicação por conta da língua de origem do profissional. O atendimento mais humanizado, interessado e paciencioso, com presença diária dos médicos nas unidades básicas foram os elogios mais citados. Embora tenham indicado que melhorou, as críticas ficaram por conta da dificuldade em retirar remédios e pela infraestrutura física dos postos de saúde.
Com estes resultados consistentes e percebidos pela população, em uma atuação universalista e que combate a desigualdade social e a dificuldade de acesso a serviços públicos básicos, o Programa Mais Médicos merece uma maior atenção e melhor gestão por parte do atual governo, para que não regrida ainda mais na atenção primária à saúde e prejudique, em consequência, um número cada vez maior de brasileiros.
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