Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Além de uma votação bem inferior ao que era anunciado pelas pesquisas, não há nada a comemorar na vitória de um candidato conservador, Mario Abdo Benitez, nas eleições presidenciais do Paraguai.
Num continente que desde 2009 enfrenta uma sequencia de três golpes de Estado destinados a enfraquecer a democracia e derrubar governos comprometidos com os interesses da maioria, a eleição de um herdeiro dos esquemas criados ainda na ditadura de Alfredo Stroessner, a mais longa ditadura do região, é um acontecimento lamentável ainda que previsível. O Paraguai é um país que há 70 anos encontra-se sob domínio de uma mesma oligarquia política, com um único intervalo - o governo deposto de Fernando Lugo, que ocupou a presidência entre 2008 e 2012.
A vitória conservadora no Paraguai ocorre cinco meses depois que, dezembro de 2017, em Honduras, o presidente Juan Orlando Hernandez consolidou-se no poder após uma fraude escancarada. Em clara desvantagem nas urnas, conforme indicavam os números de uma apuração relativamente avançada, JOH conseguiu reverter o resultado depois que uma providencial pane no sistema de contagem de votos interrompeu os trabalhos por várias horas, garantindo a posse num ambiente de resistência popular e repressão violenta. Entidades de direitos humanos denunciam 33 assassinatos em manifestações de protesto, 22 presos políticos encarcerados e uma centena de lideranças de oposição ameaçadas de processo judicial.
No Brasil, o terceiro golpe afastou Dilma Rousseff sem crime de responsabilidade, o país que é líder da região prepara-se para uma eleição presidencial na qual está em jogo a tutela do Poder Judiciário.
Depois de condenar Lula, o candidato favorito em todas as pesquisas, a 12 anos e um mês de prisão em regime fechado, a Justiça já deixou claro que irá empregar todos os meios que estão a seu alcance para impedir sua candidatura presidencial.
Mesmo candidatos de outros partidos começam a ter suas campanhas inviabilizadas, num processo que pretende redesenhar o sistema político brasileiro a partir da vontade de quem tem a chave da prisão - e não pela vontade do eleitor.
Em 2009, dias depois da deposição de Manoel Zelaya, presidente de Honduras arrancado da cama por generais que o conduziram para fora do país, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reagiu com sábias palavras. Reconheceu que fora cometido um "golpe" e informou que reconhecia "Zelaya como presidente de Honduras". Obama também fez uma advertência de interesse geral. Disse que seria um "terrível precedente se começássemos a caminhar para trás, para uma era em que se viu golpes militares serem usados como meio de efetuar transições políticas, ao invés de eleições".
Em poucos dias, no entanto, a diplomacia norte-americana acertou-se com os novos senhores da situação, não se falou mais no "terrível precedente" e a Suprema Corte de Honduras vetou qualquer iniciativa que pudesse permitir o retorno de Zelaya ao posto.
A prioridade de Washington concentrou-se em procurar todos os meios de sabotar os governos Chavez-Maduro na Venezuela, com uma guerra econômica que lembra o boicote que deu combustível a deposição de Salvador Allende no Chile, em 1973. Entre 2009, o primeiro golpe na região, e 2016, o terceiro, passaram-se 7 anos. Um golpe a cada dois anos e quatro meses, em média.
Os resultados de Honduras e Paraguai tem uma importância inegável. Mostram que os golpes tiveram um impacto reconhecido para interromper um curso de mudanças positivas para o desenvolvimento e a distribuição de renda nesses países. Quando não serviram para reprimir diretamente as forças adversárias, ajudaram a deslocar e enfraquecer lideranças construídas com muito esforço.
Mas as grandes batalhas da América Latina estão a frente e envolvem o futuro das principais economias e as nações mais influentes.
Em maio, Nicolas Maduro tenta a reeleição na Venezuela, alvo prioritário das ações imperiais de Washington, reforçadas pela demagogia militarizada de Donald Trump. Em julho, ocorrem eleições no México, nas quais o favorito absoluto - em todas as pesquisas - é Andrés Manuel Lopez Obrador, candidato que tem apoio do movimento operário e é um adversário reconhecido do conservadorismo que domina a política mexicana há décadas. Em outubro, ocorrem eleições no Brasil. Será nesses três momentos, através dessas três disputas, que a guerra pelos destinos da América Latina irá enfrentar seus momentos decisivos.
Além de uma votação bem inferior ao que era anunciado pelas pesquisas, não há nada a comemorar na vitória de um candidato conservador, Mario Abdo Benitez, nas eleições presidenciais do Paraguai.
Num continente que desde 2009 enfrenta uma sequencia de três golpes de Estado destinados a enfraquecer a democracia e derrubar governos comprometidos com os interesses da maioria, a eleição de um herdeiro dos esquemas criados ainda na ditadura de Alfredo Stroessner, a mais longa ditadura do região, é um acontecimento lamentável ainda que previsível. O Paraguai é um país que há 70 anos encontra-se sob domínio de uma mesma oligarquia política, com um único intervalo - o governo deposto de Fernando Lugo, que ocupou a presidência entre 2008 e 2012.
A vitória conservadora no Paraguai ocorre cinco meses depois que, dezembro de 2017, em Honduras, o presidente Juan Orlando Hernandez consolidou-se no poder após uma fraude escancarada. Em clara desvantagem nas urnas, conforme indicavam os números de uma apuração relativamente avançada, JOH conseguiu reverter o resultado depois que uma providencial pane no sistema de contagem de votos interrompeu os trabalhos por várias horas, garantindo a posse num ambiente de resistência popular e repressão violenta. Entidades de direitos humanos denunciam 33 assassinatos em manifestações de protesto, 22 presos políticos encarcerados e uma centena de lideranças de oposição ameaçadas de processo judicial.
No Brasil, o terceiro golpe afastou Dilma Rousseff sem crime de responsabilidade, o país que é líder da região prepara-se para uma eleição presidencial na qual está em jogo a tutela do Poder Judiciário.
Depois de condenar Lula, o candidato favorito em todas as pesquisas, a 12 anos e um mês de prisão em regime fechado, a Justiça já deixou claro que irá empregar todos os meios que estão a seu alcance para impedir sua candidatura presidencial.
Mesmo candidatos de outros partidos começam a ter suas campanhas inviabilizadas, num processo que pretende redesenhar o sistema político brasileiro a partir da vontade de quem tem a chave da prisão - e não pela vontade do eleitor.
Em 2009, dias depois da deposição de Manoel Zelaya, presidente de Honduras arrancado da cama por generais que o conduziram para fora do país, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reagiu com sábias palavras. Reconheceu que fora cometido um "golpe" e informou que reconhecia "Zelaya como presidente de Honduras". Obama também fez uma advertência de interesse geral. Disse que seria um "terrível precedente se começássemos a caminhar para trás, para uma era em que se viu golpes militares serem usados como meio de efetuar transições políticas, ao invés de eleições".
Em poucos dias, no entanto, a diplomacia norte-americana acertou-se com os novos senhores da situação, não se falou mais no "terrível precedente" e a Suprema Corte de Honduras vetou qualquer iniciativa que pudesse permitir o retorno de Zelaya ao posto.
A prioridade de Washington concentrou-se em procurar todos os meios de sabotar os governos Chavez-Maduro na Venezuela, com uma guerra econômica que lembra o boicote que deu combustível a deposição de Salvador Allende no Chile, em 1973. Entre 2009, o primeiro golpe na região, e 2016, o terceiro, passaram-se 7 anos. Um golpe a cada dois anos e quatro meses, em média.
Os resultados de Honduras e Paraguai tem uma importância inegável. Mostram que os golpes tiveram um impacto reconhecido para interromper um curso de mudanças positivas para o desenvolvimento e a distribuição de renda nesses países. Quando não serviram para reprimir diretamente as forças adversárias, ajudaram a deslocar e enfraquecer lideranças construídas com muito esforço.
Mas as grandes batalhas da América Latina estão a frente e envolvem o futuro das principais economias e as nações mais influentes.
Em maio, Nicolas Maduro tenta a reeleição na Venezuela, alvo prioritário das ações imperiais de Washington, reforçadas pela demagogia militarizada de Donald Trump. Em julho, ocorrem eleições no México, nas quais o favorito absoluto - em todas as pesquisas - é Andrés Manuel Lopez Obrador, candidato que tem apoio do movimento operário e é um adversário reconhecido do conservadorismo que domina a política mexicana há décadas. Em outubro, ocorrem eleições no Brasil. Será nesses três momentos, através dessas três disputas, que a guerra pelos destinos da América Latina irá enfrentar seus momentos decisivos.
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