Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Já estava pegando mal, dando muito na vista.
Após quatro anos de Operação Lava Jato, enquanto a cúpula do PT era dizimada, os tucanões denunciados continuavam voando livres, leves e soltos, condenando a corrupção alheia.
De repente, uma notícia aqui e outra acolá, muito discretamente, alguns figurões do PSDB começaram a aparecer no noticiário político-jurídico-policial que ocupa todos os espaços e horários mais nobres.
O presidenciável Geraldo Alckmin, o senador e ex-candidato a presidente Aécio Neves e o onipresente operador tucano Paulo Preto, um a um eles foram entrando na roda.
Na terça-feira, a força-tarefa da Lava Jato em São Paulo, enviou um ofício ao vice-procurador geral da República, Luciano Mariz Maia, pedindo pressa ao STJ, onde corriam as investigações sobre Alckmin, que perdeu o foro privilegiado na última sexta-feira ao deixar o cargo de governador:
“Solicitamos que as investigações sob atribuição de Vossa Excelência sejam encaminhadas a esta força-tarefa com urgência, tendo em vista o andamento avançado de outras apurações correlatas sob nossa responsabilidade”.
Aberto no STJ em novembro do ano passado, o inquérito investiga se o ex-governador recebeu R$ 10,7 milhões da Odebrecht, como denunciaram três executivos da empresa na delação premiada.
Carlos Armando Paschoal contou que deu R$ 2 milhões ao cunhado de Alckmin, o empresário Adhemar Cesar Ribeiro, em acerto do qual o tucano teria participado diretamente.
No mesmo dia, o Supremo Tribunal Federal marcou para a próxima terça-feira o julgamento de uma denúncia da Procuradoria Geral da República contra Aécio Neves feita em junho do ano passado, quando o senador mineiro foi flagrado ao pedir R$ 2 milhões em propina ao empresário Joesley Batista, da JBS.
Vídeos entregues à PGR comprovaram a entrega do dinheiro. Quer dizer, neste caso havia provas contundentes contra o tucano, o chamado batom na cueca.
Em sua denúncia, o então procurador geral Rodrigo Janot acusou Aécio por corrupção passiva e obstrução à Justiça.
Aécio é investigado em outros nove inquéritos no STF, mas não se tem notícia sobre o andamento dos processos.
A repentina ofensiva contra os tucanos começou na sexta-feira com a prisão de Paulo Preto, como é conhecido Paulo Vieira de Souza, notório arrecadador de recursos para campanhas do PSDB, que foi denunciado por Dilma Rousseff em debate com José Serra na campanha presidencial de 2010.
O motivo da prisão preventiva do operador foi o desvio de R$ 7,7 milhões nas obras do Rodoanel, mas em março deste ano ele já havia sido denunciado pela Lava Jato por formação de quadrilha e peculato por manter o equivalente a R$ 113 milhões em quatro contas na Suíça.
Nomeado para a Dersa, empresa do governo paulista responsável pelas obras do Rodoanel por Geraldo Alckmin, Paulo Preto era homem de confiança dos senadores José Serra e Aloísio Nunes Ferreira.
Para completar o cerco aos tucanões, na mesma terça-feira o STJ negou pedido de liminar do ex-senador Eduardo Azeredo, condenado a mais de 20 anos de prisão pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais por comandar o esquema do mensalão tucano em 1998, um caso que só foi revelado em 2005, mesmo ano do mensalão do PT.
O caso de Azeredo é emblemático de como são tratados os processos contra tucanos nos nossos tribunais superiores, como lembra Josias de Souza em sua coluna do UOL:
“Em 27 de março de 2014, o Supremo chancelou um deboche: remeteu à primeira instância do Judiciário, comarca de Belo Horizonte, os 50 volumes que compunham o processo sobre o mensalão mineiro. Ex-presidente nacional do PSDB, Azeredo renunciara ao mandato de deputado federal no mês anterior. E embora o processo estivesse pronto para ser julgado, com tendência de condenação, prevaleceu no Supremo o entendimento de que a renúncia de Azeredo extinguira a competência da Corte para julgá-lo”.
Só agora, o último recurso de Eduardo Azeredo será julgado, no próximo dia 24, pelo TJ-MG. Se for indeferido, finalmente o ex-governador irá para a prisão, às vésperas da prescrição do crime de vinte anos atrás.
Quatro anos depois de virar o país de cabeça para baixo em nome do combate à corrupção, a Lava Jato já colocou o ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva na cadeia, mas até agora o STF não conseguiu sequer levar algum tucaninho emplumado a julgamento, só para disfarçar.
E os adoradores de Sergio Moro ainda garantem que a Justiça brasileira não é partidária nem seletiva.
Vida que segue.
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