Por Luiz Carlos Famadas Jr., na revista CartaCapital:
“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro. A real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”, afirmou Platão.
Quando uma famosa atriz brasileira, no distante ano de 2002, disse em rede nacional de tevê que sentia medo de Lula e do PT como justificativa para votar em José Serra, mal percebia que utilizava um tipo de marketing pouco criativo.
Na verdade, o que havia de diferente naquela declaração era a forma crua e transparente como o medo foi utilizado. Normalmente isso ocorre no cotidiano sem que muitos percebamos.
O medo, na maioria das vezes, é uma reação de nossa mente muito importante para a nossa defesa. É ele que nos faz olhar para ambos os lados antes de atravessar uma rua. É ele que, aliado às experiências negativas e à correta informação, não permite que se caia no mesmo golpe pela enésima vez.
Quando não é fruto de algum transtorno psicológico, o medo pode ser até mesmo saudável. Mas se não estiver cercado da informação correta e imparcial, pode surtir efeito contrário, possibilitando-se, inclusive, seu uso como arma de controle.
No fim dos anos 1930, quando Orson Welles provocou pânico na população dos EUA ao narrar pelas ondas do rádio uma invasão alienígena fictícia, o mundo ainda não tinha a real dimensão do estrago que a imputação do medo poderia causar.
Quando utilizado de forma maliciosa por indivíduos ou meios de comunicação, pode nos levar a tomar atitudes equivocadas em nome de uma suposta segurança, muitas vezes desnecessária. Um ótimo exemplo foi uma campanha numa pequena cidade dos EUA nos anos 1960 que alertava a população sobre os riscos do uso de escadas rolantes. Justamente no momento que naquela cidade uma loja de departamentos era aberta e sua principal atração consistia em... uma escada rolante.
A nova loja impactaria o comércio local com quedas nas vendas. O dono do jornal e da rádio da cidade era, não por acaso, dono de parte dos estabelecimentos comerciais prejudicados com a chegada do novo empreendimento.
Mais recentemente, ainda no primeiro mandato de Dilma Rousseff, o Brasil assistiu ao bombardeio de seu governo, patrocinado pela velha mídia encabeçada pela Globo. Consistia em alertas nos telejornais diários sobre uma crise que iria se abater sobre o País muito em breve.
Naquela ocasião, o Brasil ainda vivia um bom momento econômico. É certo que um índice ou outro poderiam mostrar pequenas variações em nossa economia, mas nada que não pudesse ser ajustado. E seria.
É também certo que a Globo não tinha o poder de premonição. A tática da velha mídia naquele momento era criar na população e no empresariado aquilo que poderíamos chamar de “mentalidade de crise”.
De fato, quem planejavam viajar ou adquirir bens, principalmente com pagamento a prazo, desistiu. Empresários demitiam com medo dos tempos sombrios preconizados pela mídia. Todas essas mudanças de hábito também eram fartamente noticiadas pela mesma mídia. Isso criava um efeito dominó.
Basta ligarmos a tevê ou o rádio, principalmente durante os telejornais, para constatarmos a intensidade das informações negativas. Violência, doenças, acidentes de trânsito, entre outras desgraças, desestimulam a locomoção, principalmente nas grandes cidades.
Isso aumenta bastante o número de cidadãos reclusos em suas casas, sem contar com a disparada no número de casos de crises de pânico e depressivas. População trancada em casa, não sai às ruas para protestar contra um governo. Muitos dirão que essas tragédias noticiadas realmente acontecem e que a mídia não cria esses fatos. Mas o que se discute é o foco nesse tipo de notícia.
Por analogia, podemos ter em casa fotografias de momentos agradáveis e de momentos trágicos, mas escolhemos para expor em nossos porta-retratos apenas as fotos que nos trazem boas lembranças.
Por essa razão, podemos concluir que o fim desse ciclo vicioso está em nossas mãos. Ao escolher a forma correta de acesso às informações daremos um primeiro passo. Para isso, a internet é um campo farto de fontes de notícias. Também é importante desenvolver nosso poder de análise e não aceitar qualquer lixo.
Boa parte do medo espalhado vem de fontes não confiáveis, as famosas fake news. A mídia dominante tenta nos convencer de que as notícias falsas são exclusividade das redes sociais, para com isso trazer de volta o público que bebia de sua fonte.
Na verdade, as mentiras compartilhadas por parentes e amigos podem ser desmentidas quase imediatamente, ao contrário daquelas destacadas nas primeiras páginas dos jornais e desmentidas (quando desmentidas) em uma notinha interna. Assim, apoiada no medo como arma, a classe dominante oprime, desde que o mundo é mundo.
Quando uma famosa atriz brasileira, no distante ano de 2002, disse em rede nacional de tevê que sentia medo de Lula e do PT como justificativa para votar em José Serra, mal percebia que utilizava um tipo de marketing pouco criativo.
Na verdade, o que havia de diferente naquela declaração era a forma crua e transparente como o medo foi utilizado. Normalmente isso ocorre no cotidiano sem que muitos percebamos.
O medo, na maioria das vezes, é uma reação de nossa mente muito importante para a nossa defesa. É ele que nos faz olhar para ambos os lados antes de atravessar uma rua. É ele que, aliado às experiências negativas e à correta informação, não permite que se caia no mesmo golpe pela enésima vez.
Quando não é fruto de algum transtorno psicológico, o medo pode ser até mesmo saudável. Mas se não estiver cercado da informação correta e imparcial, pode surtir efeito contrário, possibilitando-se, inclusive, seu uso como arma de controle.
No fim dos anos 1930, quando Orson Welles provocou pânico na população dos EUA ao narrar pelas ondas do rádio uma invasão alienígena fictícia, o mundo ainda não tinha a real dimensão do estrago que a imputação do medo poderia causar.
Quando utilizado de forma maliciosa por indivíduos ou meios de comunicação, pode nos levar a tomar atitudes equivocadas em nome de uma suposta segurança, muitas vezes desnecessária. Um ótimo exemplo foi uma campanha numa pequena cidade dos EUA nos anos 1960 que alertava a população sobre os riscos do uso de escadas rolantes. Justamente no momento que naquela cidade uma loja de departamentos era aberta e sua principal atração consistia em... uma escada rolante.
A nova loja impactaria o comércio local com quedas nas vendas. O dono do jornal e da rádio da cidade era, não por acaso, dono de parte dos estabelecimentos comerciais prejudicados com a chegada do novo empreendimento.
Mais recentemente, ainda no primeiro mandato de Dilma Rousseff, o Brasil assistiu ao bombardeio de seu governo, patrocinado pela velha mídia encabeçada pela Globo. Consistia em alertas nos telejornais diários sobre uma crise que iria se abater sobre o País muito em breve.
Naquela ocasião, o Brasil ainda vivia um bom momento econômico. É certo que um índice ou outro poderiam mostrar pequenas variações em nossa economia, mas nada que não pudesse ser ajustado. E seria.
É também certo que a Globo não tinha o poder de premonição. A tática da velha mídia naquele momento era criar na população e no empresariado aquilo que poderíamos chamar de “mentalidade de crise”.
De fato, quem planejavam viajar ou adquirir bens, principalmente com pagamento a prazo, desistiu. Empresários demitiam com medo dos tempos sombrios preconizados pela mídia. Todas essas mudanças de hábito também eram fartamente noticiadas pela mesma mídia. Isso criava um efeito dominó.
Basta ligarmos a tevê ou o rádio, principalmente durante os telejornais, para constatarmos a intensidade das informações negativas. Violência, doenças, acidentes de trânsito, entre outras desgraças, desestimulam a locomoção, principalmente nas grandes cidades.
Isso aumenta bastante o número de cidadãos reclusos em suas casas, sem contar com a disparada no número de casos de crises de pânico e depressivas. População trancada em casa, não sai às ruas para protestar contra um governo. Muitos dirão que essas tragédias noticiadas realmente acontecem e que a mídia não cria esses fatos. Mas o que se discute é o foco nesse tipo de notícia.
Por analogia, podemos ter em casa fotografias de momentos agradáveis e de momentos trágicos, mas escolhemos para expor em nossos porta-retratos apenas as fotos que nos trazem boas lembranças.
Por essa razão, podemos concluir que o fim desse ciclo vicioso está em nossas mãos. Ao escolher a forma correta de acesso às informações daremos um primeiro passo. Para isso, a internet é um campo farto de fontes de notícias. Também é importante desenvolver nosso poder de análise e não aceitar qualquer lixo.
Boa parte do medo espalhado vem de fontes não confiáveis, as famosas fake news. A mídia dominante tenta nos convencer de que as notícias falsas são exclusividade das redes sociais, para com isso trazer de volta o público que bebia de sua fonte.
Na verdade, as mentiras compartilhadas por parentes e amigos podem ser desmentidas quase imediatamente, ao contrário daquelas destacadas nas primeiras páginas dos jornais e desmentidas (quando desmentidas) em uma notinha interna. Assim, apoiada no medo como arma, a classe dominante oprime, desde que o mundo é mundo.
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