Por Tarso Genro, no site Sul-21:
Libertem Lula e deixem o país em paz! A miséria política, jurídica e moral – para não falar na miséria econômica – na qual o bloco liberal-rentista jogou o nosso país, terá consequências dramáticas, para as novas gerações de brasileiros. Ao embarcar na canoa furada do neoliberalismo, pela qual bastaria reduzir o “tamanho” do estado, cortar os subsídios para o desenvolvimento, ajustar o orçamento sonegando recursos para saúde-educação-segurança, privatizar bens públicos e falsificar o combate à corrupção -ao embarcar nesta canoa – os setores (majoritários) das classes dominantes brasileiras lideraram um vasto movimento político baseado em ilusões. E na natureza, onde os mais fortes no mercado sobreviveriam como “espécies” naturais superiores.
Estas ilusões foram cientificamente manipuladas pelo oligopólio da mídia e seus especialistas de proveta, até criar a “máxima ilusão”, que caracterizou as correntes fascistas, em diversas épocas da História: primeiro, que bastaria tirar a esquerda do Governo (no caso o PT) para o país andar; segundo, que as soluções são simples; terceiro, que o “político” e os “políticos”, são desnecessários para redimir a nação dos seus erros: bastaria instrumentalizar alguns cretinos, colocando-os à frente do poder e “nós operaremos com técnicos competentes”, para fazer as coisas andar, no mercado e na vida.
Se tivessem algum senso limitado de História teriam considerado que – mesmo dentro de uma democracia capitalista típica – as esquerdas sempre foram necessárias para, representando partes importantes da sociedade comporem um sentido de nação, pois ela é o espaço cultural, econômico e territorial, no qual os projetos democráticos se realizam; teriam concebido, estes grupos golpistas – ingênuos ou não – que nada é “simples” em política e economia, e que a visão simplista para o enfrentamento da complexidade social, leva para desastres complexos e tragédias sociais dramáticas; teriam entendido, estes “chefes” – escondidos nos escaninhos do oligopólio da mídia e nos armários dos partidos tradicionais – que a instrumentalização de “cretinos”, para assumirem postos de governo, já vem comprometida pela própria eliminação do espaço da política, feita no próprio episódio cretino do golpe.
A necessidade de libertação do Presidente Lula é o que simboliza, nos dias de hoje, a decadência e a senilidade do Golpe, bem como representa a possibilidade de – se libertado por uma decisão do Supremo a qualquer momento- começarmos a encaminhar o retorno à normalidade política do país, à retomada do contencioso democrático, a elisão da Guerra Civil não declarada, que já está em andamento no Rio de Janeiro e na periferia de outras grandes cidades. A radicalização do processo político pela via autoritária – no contexto atual – só beneficia aqueles que querem fazer do país um laboratório do fascismo pós-moderno, que transforma o ódio de classe em política de Estado e a informação, em mercadoria, para a formação de pessoas que não pensam e espumam ódio – por todos os poros – contra quem não tem as mesmas opiniões.
No discurso “Uma longa viagem na memória e na poesia” – quando Pablo Neruda recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1971- o poeta narrou a sua travessia dos Andes – décadas antes – em fuga como perseguido político. O brilho costumeiro das suas metáforas, ao narrar travessia de rios caudalosos, gargantas de montanhas batidas pelo vento gelado, penhascos ameaçadores, chega a momentos de beleza absoluta, nos quais o poeta flagra quando a “natureza” e o “humano”, se fundem e se separam, como se fizessem uma antevisão do futuro.
Assim diz Neruda, no seu mais brilhante parágrafo, daquele discurso misto de epopeia e poesia “A cada lado do rastro contemplei – naquela desolação selvagem – algo parecido como uma construção humana”. É o que estamos contemplando nas ruínas do naturalismo de mercado, imposto pelo dogma liberal, que o golpismo pós-moderno nos fez herdar: uma terrível construção humana, na qual se confundem a volta pobreza extrema, a submissão completa do Estado e da Política aos mercados financeiros, a dilapidação criminosa dos nossos recursos naturais e a ascensão da brutalidade fascista como viabilidade eleitoral.
Libertem Lula e deixem o país em paz!. Caso isso não ocorra, o Brasil provavelmente terá um Presidente ilegítimo – no próximo período – e o país poderá mergulhar numa longa noite de agonia, cujos desfechos são imprevisíveis. E o nosso rastro deixará uma desolação selvagem, como construção humana, onde só os mais fortes e os mais ricos -os poucos – sufocarão a vida e voz de milhões. Lula hoje, com seus defeitos, grandezas, brilhos e limites, é o Brasil aprisionado. Libertem Lula e deixem o país em paz!
* Tarso Genro foi Governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, Ministro da Justiça, Ministro da Educação e Ministro das Relações Institucionais do Brasil.
Libertem Lula e deixem o país em paz! A miséria política, jurídica e moral – para não falar na miséria econômica – na qual o bloco liberal-rentista jogou o nosso país, terá consequências dramáticas, para as novas gerações de brasileiros. Ao embarcar na canoa furada do neoliberalismo, pela qual bastaria reduzir o “tamanho” do estado, cortar os subsídios para o desenvolvimento, ajustar o orçamento sonegando recursos para saúde-educação-segurança, privatizar bens públicos e falsificar o combate à corrupção -ao embarcar nesta canoa – os setores (majoritários) das classes dominantes brasileiras lideraram um vasto movimento político baseado em ilusões. E na natureza, onde os mais fortes no mercado sobreviveriam como “espécies” naturais superiores.
Estas ilusões foram cientificamente manipuladas pelo oligopólio da mídia e seus especialistas de proveta, até criar a “máxima ilusão”, que caracterizou as correntes fascistas, em diversas épocas da História: primeiro, que bastaria tirar a esquerda do Governo (no caso o PT) para o país andar; segundo, que as soluções são simples; terceiro, que o “político” e os “políticos”, são desnecessários para redimir a nação dos seus erros: bastaria instrumentalizar alguns cretinos, colocando-os à frente do poder e “nós operaremos com técnicos competentes”, para fazer as coisas andar, no mercado e na vida.
Se tivessem algum senso limitado de História teriam considerado que – mesmo dentro de uma democracia capitalista típica – as esquerdas sempre foram necessárias para, representando partes importantes da sociedade comporem um sentido de nação, pois ela é o espaço cultural, econômico e territorial, no qual os projetos democráticos se realizam; teriam concebido, estes grupos golpistas – ingênuos ou não – que nada é “simples” em política e economia, e que a visão simplista para o enfrentamento da complexidade social, leva para desastres complexos e tragédias sociais dramáticas; teriam entendido, estes “chefes” – escondidos nos escaninhos do oligopólio da mídia e nos armários dos partidos tradicionais – que a instrumentalização de “cretinos”, para assumirem postos de governo, já vem comprometida pela própria eliminação do espaço da política, feita no próprio episódio cretino do golpe.
A necessidade de libertação do Presidente Lula é o que simboliza, nos dias de hoje, a decadência e a senilidade do Golpe, bem como representa a possibilidade de – se libertado por uma decisão do Supremo a qualquer momento- começarmos a encaminhar o retorno à normalidade política do país, à retomada do contencioso democrático, a elisão da Guerra Civil não declarada, que já está em andamento no Rio de Janeiro e na periferia de outras grandes cidades. A radicalização do processo político pela via autoritária – no contexto atual – só beneficia aqueles que querem fazer do país um laboratório do fascismo pós-moderno, que transforma o ódio de classe em política de Estado e a informação, em mercadoria, para a formação de pessoas que não pensam e espumam ódio – por todos os poros – contra quem não tem as mesmas opiniões.
No discurso “Uma longa viagem na memória e na poesia” – quando Pablo Neruda recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1971- o poeta narrou a sua travessia dos Andes – décadas antes – em fuga como perseguido político. O brilho costumeiro das suas metáforas, ao narrar travessia de rios caudalosos, gargantas de montanhas batidas pelo vento gelado, penhascos ameaçadores, chega a momentos de beleza absoluta, nos quais o poeta flagra quando a “natureza” e o “humano”, se fundem e se separam, como se fizessem uma antevisão do futuro.
Assim diz Neruda, no seu mais brilhante parágrafo, daquele discurso misto de epopeia e poesia “A cada lado do rastro contemplei – naquela desolação selvagem – algo parecido como uma construção humana”. É o que estamos contemplando nas ruínas do naturalismo de mercado, imposto pelo dogma liberal, que o golpismo pós-moderno nos fez herdar: uma terrível construção humana, na qual se confundem a volta pobreza extrema, a submissão completa do Estado e da Política aos mercados financeiros, a dilapidação criminosa dos nossos recursos naturais e a ascensão da brutalidade fascista como viabilidade eleitoral.
Libertem Lula e deixem o país em paz!. Caso isso não ocorra, o Brasil provavelmente terá um Presidente ilegítimo – no próximo período – e o país poderá mergulhar numa longa noite de agonia, cujos desfechos são imprevisíveis. E o nosso rastro deixará uma desolação selvagem, como construção humana, onde só os mais fortes e os mais ricos -os poucos – sufocarão a vida e voz de milhões. Lula hoje, com seus defeitos, grandezas, brilhos e limites, é o Brasil aprisionado. Libertem Lula e deixem o país em paz!
* Tarso Genro foi Governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, Ministro da Justiça, Ministro da Educação e Ministro das Relações Institucionais do Brasil.
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