Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:
Estamos a apenas 100 dias da eleição, mas, para alguns, parece que ela só vai acontecer daqui a um ano. São os que continuam a imaginar mudanças radicais no quadro que as pesquisas mostram, apesar de a experiência ensinar serem elas improváveis.
Improvável, de fato, não é sinônimo de impossível e temos de admitir que alterações no quadro atual podem ocorrer. Mas também é fato que nenhuma eleição presidencial no Brasil moderno era completamente imprevisível à distância que estamos da próxima. Em todas elas as pesquisas de intenção de voto feitas em momento semelhante apontavam com clareza o fundamental.
Apenas para lembrar: em 1989, na mais competitiva das disputas que tivemos desde o fim da ditadura, quem aguardava a “reação” de Mario Covas, por exemplo (ou de qualquer um dos muitos candidatos que estavam abaixo dele e dos três mais bem colocados), ficou a ver navios.
A eleição foi travada entre Fernando Collor (que liderava há meses), Lula e Leonel Brizola, que estavam embolados no segundo e terceiro lugar, e assim permaneceram até a véspera do primeiro turno.
Foi também o que ocorreu nas eleições seguintes, seja as de prognóstico fácil, seja as complicadas. Nestas, talvez nem tudo estivesse inteiramente definido, mas os resultados mais importantes podiam ser antecipados.
Quem mais se equivocou na compreensão da eleição que vamos fazer em outubro foram os especialistas da “grande” mídia. Alguns foram contidos nas elucubrações, errando com mais discrição. Outros, aqueles que achavam saber de tudo, pisaram feio na bola.
Cômicos foram os “analistas” que decretaram o fim de Lula e do PT. Devem estar até agora procurando entender como o ex-presidente permanece favorito a ganhar a eleição e continua a ser respeitado e querido pela vasta maioria da população, em que pese a perseguição implacável de seus inimigos no Judiciário, no sistema político e na mídia corporativa.
A tarefa não é fácil, até porque, para compreender o caso de Lula em 2018, serão forçados a admitir que muitas das coisas em que creem, como a “força da Globo”, são miragens.
Igualmente equivocada foi a ilusão de que Jair Bolsonaro seria uma espécie de Celso Russomano na eleição presidencial, um candidato que começa bem, mas que, quando chega a hora da verdade, desmorona.
Houve quem escrevesse que o capitão estava “guardando lugar” para “candidatos mais sólidos”, supondo que Geraldo Alckmin, por sua hipotética “consistência”, teria essa característica. Hoje, o quadro é oposto: Bolsonaro apresenta nítida tendência de crescimento, enquanto o tucano definha, patinando com menos de um terço das intenções de voto do adversário.
Alguém se lembra das fantasias a respeito do governo de Michel Temer e seus candidatos? Aqueles que cresceriam quando a economia melhorasse e em quem o eleitorado votaria para assegurar a continuidade de tudo de bom que estaria experimentando?
É até ridículo ver em que isso deu, candidatos que mal saem de 1% e um governo detestado por quase todo mundo. E os que achavam que esta seria a eleição dos “novos”? Quem apostou nisso deve estar perplexo, constatando que, somados, os dez candidatos que se apresentaram como “novos” mal chegam a 2% das intenções de voto.
Restam os que torceram por Marina Silva e Ciro Gomes, supondo que, talvez, esta seria a eleição em que poderiam ter sucesso, depois de algumas tentativas. Verdade seja dita: muita gente progressista imaginou que Ciro talvez crescesse herdando votos de Lula e do PT, depois da prisão do ex-presidente. Até agora, no entanto, nada sustenta a hipótese (ou a torcida): Ciro não sobe e Lula está firme.
A 100 dias da eleição, o quadro mais provável é o mesmo que podia ser antevisto nas pesquisas feitas há meses. Tudo indica que a atual polarização entre a candidatura do PT e Jair Bolsonaro será mantida e que o segundo turno será travado entre eles.
Só há, hoje, uma possibilidade para que isso não aconteça: um dos dois (ou ambos) desista da disputa, cometendo um despropositado haraquiri político.
Não era difícil estimar esse cenário, pois bastava ouvir com respeito a voz dos eleitores. Enganaram-se os que não quiseram ouvi-los, por arrogância ou ignorância.
Improvável, de fato, não é sinônimo de impossível e temos de admitir que alterações no quadro atual podem ocorrer. Mas também é fato que nenhuma eleição presidencial no Brasil moderno era completamente imprevisível à distância que estamos da próxima. Em todas elas as pesquisas de intenção de voto feitas em momento semelhante apontavam com clareza o fundamental.
Apenas para lembrar: em 1989, na mais competitiva das disputas que tivemos desde o fim da ditadura, quem aguardava a “reação” de Mario Covas, por exemplo (ou de qualquer um dos muitos candidatos que estavam abaixo dele e dos três mais bem colocados), ficou a ver navios.
A eleição foi travada entre Fernando Collor (que liderava há meses), Lula e Leonel Brizola, que estavam embolados no segundo e terceiro lugar, e assim permaneceram até a véspera do primeiro turno.
Foi também o que ocorreu nas eleições seguintes, seja as de prognóstico fácil, seja as complicadas. Nestas, talvez nem tudo estivesse inteiramente definido, mas os resultados mais importantes podiam ser antecipados.
Quem mais se equivocou na compreensão da eleição que vamos fazer em outubro foram os especialistas da “grande” mídia. Alguns foram contidos nas elucubrações, errando com mais discrição. Outros, aqueles que achavam saber de tudo, pisaram feio na bola.
Cômicos foram os “analistas” que decretaram o fim de Lula e do PT. Devem estar até agora procurando entender como o ex-presidente permanece favorito a ganhar a eleição e continua a ser respeitado e querido pela vasta maioria da população, em que pese a perseguição implacável de seus inimigos no Judiciário, no sistema político e na mídia corporativa.
A tarefa não é fácil, até porque, para compreender o caso de Lula em 2018, serão forçados a admitir que muitas das coisas em que creem, como a “força da Globo”, são miragens.
Igualmente equivocada foi a ilusão de que Jair Bolsonaro seria uma espécie de Celso Russomano na eleição presidencial, um candidato que começa bem, mas que, quando chega a hora da verdade, desmorona.
Houve quem escrevesse que o capitão estava “guardando lugar” para “candidatos mais sólidos”, supondo que Geraldo Alckmin, por sua hipotética “consistência”, teria essa característica. Hoje, o quadro é oposto: Bolsonaro apresenta nítida tendência de crescimento, enquanto o tucano definha, patinando com menos de um terço das intenções de voto do adversário.
Alguém se lembra das fantasias a respeito do governo de Michel Temer e seus candidatos? Aqueles que cresceriam quando a economia melhorasse e em quem o eleitorado votaria para assegurar a continuidade de tudo de bom que estaria experimentando?
É até ridículo ver em que isso deu, candidatos que mal saem de 1% e um governo detestado por quase todo mundo. E os que achavam que esta seria a eleição dos “novos”? Quem apostou nisso deve estar perplexo, constatando que, somados, os dez candidatos que se apresentaram como “novos” mal chegam a 2% das intenções de voto.
Restam os que torceram por Marina Silva e Ciro Gomes, supondo que, talvez, esta seria a eleição em que poderiam ter sucesso, depois de algumas tentativas. Verdade seja dita: muita gente progressista imaginou que Ciro talvez crescesse herdando votos de Lula e do PT, depois da prisão do ex-presidente. Até agora, no entanto, nada sustenta a hipótese (ou a torcida): Ciro não sobe e Lula está firme.
A 100 dias da eleição, o quadro mais provável é o mesmo que podia ser antevisto nas pesquisas feitas há meses. Tudo indica que a atual polarização entre a candidatura do PT e Jair Bolsonaro será mantida e que o segundo turno será travado entre eles.
Só há, hoje, uma possibilidade para que isso não aconteça: um dos dois (ou ambos) desista da disputa, cometendo um despropositado haraquiri político.
Não era difícil estimar esse cenário, pois bastava ouvir com respeito a voz dos eleitores. Enganaram-se os que não quiseram ouvi-los, por arrogância ou ignorância.
1 comentários:
Ficou sem ser esclarecido quem o analista considera ser o candidato do PT que polariza com Bolsonaro. Se esse candidato for Lula, até mesmo os minerais, diria outro analista, confirmariam a sua análise, e acrescentariam que Haddad, Glesi e Celso Amorim exibiriam números inferiores aos de Ciro, se figurassem em uma pesquisa em que fossem concorrentes do ex-presidente Lula. A opção Ciro Gomes não se aplica no caso de Lula poder concorrer. Seria tolice imperdoável da esquerda deixar de apoiar a candidatura que a direita colocou na cadeia, ckndenando-o sem provas, precisamente para impedir que vencesse mais uma eleição. Lula é o nome ideal para derrotar os golpistas e liderar uma Frente Ampla. A questão a ser resolvida, entretanto, é a de qual seria o melhor nome para derrotar a direita golpista, considerando-se a hipótese, mais previsível até que as sinalizadas pela pesquisa de intenção de voto, de Lula não poder ser candidato. Quem é o melhor nome, capaz de ampliar o espectro de apoios necessários na sociedade para derrotar o imenso poder do capital financeiro que, na falta de outo nome, certamente, não terá dúvidas em apoiar Bolsonaro, colocando a serviço dessa candidatura fascista a mesma máquina política e eleitoral que, por pouco, não derrotou a candidatura Dilma em 2014? Esse nome capaz de substituir o de Lula não se encontrará no mundo da fantasia e dos desejos, mas através de uma análise política profunda, que não poderia substituir as Ciências Políticas pela probabilidade estatística.
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