Por Flavio Aguiar, na Rede Brasil Atual:
Este meu artigo foi parcialmente pela resenha que li do futuro livro de Tales Ab’Saber, "Michel Temer e o fascismo comum", pela Editora Hedra. Diz que a edição impressa estará pronta em 21 de agosto. Ainda não li o livro, mas já gostei.
Confesso que eu já vinha pensando em algo parecido a um dos conteúdos principais do livro, pelo que li na resenha. Qual seja, a análise de como a mediocridade é parte inerente, suficiente, auto-imune, do estilo Michel Temer e do fascismo que invade, como metástase, a cena política brasileira (e mundial, eu acrescento, depois justifico).
Ao contrário da inteligência, que cativa por si só e por seu brilho, a mediocridade é narcísica: ela precisa da constante aprovação dos outros, particularmente de seus pares medíocres, para se auto-afirmar internamente a quem a pratica e cultiva. Mas como a inteligência, a mediocridade é contagiosa. O medíocre gosta de semear mediocridades, e sempre tem público à disposição.
Encontrei Michel Temer ao vivo e a cores pela primeira vez nos idos dos anos 80, quando, por azares e sortes da vida, eu fazia parte de uma assessoria a alguns deputados progressistas na Comissão de Educação da Câmara Federal, entre eles Florestan Fernandes (como se ele precisasse de assessoria!…). Temer não fazia parte da Comissão, mas por questões de constitucionalidade e de justiça, terminamos por ter que falar com ele. Já naquele momento deixou esta impressão: medíocre, cheio de uma retórica sebosa e vazia. Desde então só fez piorar. E depois de assaltar o poder graças ao golpe de 2016, entortou de vez.
"Dali de onde nada se espera, é que não sai nada mesmo", reza a máxima do Barão de Itararé. E com Temer é assim. O livro de Tales, segundo a resenha que li, diz isto mesmo, com outras palavras. Citando ainda Dante, pode-se dizer: se vais falar com ele, deixa de lado qualquer esperança. Muitos comparam Temer a um vampiro (inclusive aquele famoso e carnavalesco carro alegórico). Mas convenhamos: num filme, Temer seria apenas um vampiro de quinta categoria, despido da grandiosidade trágica de um Drácula, de um Nosferatu, encarnada tão bem por atores como Cristopher Lee, Bela Lugosi, Klaus Kinsky, Ferdy Mayne et alii. No baile dos vampiros Temer seria no máximo um dos garçons, satisfazendo-se com sangue aguado e propinas por parte dos bailarinos.
Acontece que Temer não é o único culpado: ele apenas encarna o ideal de mediocridade que assola a parte ressentida da classe média brasileira, a burguesia desprovida de espinha dorsal que infesta nossa economia, o jornalismo provinciano e anacrônico da nossa mídia mainstream, os juízes e procuradores que manipulam teses e citações mal digeridas, políticos ávidos de prebendas e sinecuras, e assemelhados em todos os quadrantes da vida brasileira. Até um juiz que era brilhante, defensor dos direitos humanos, se enquadrou na mediocridade generalizada ao ascender aos píncaros do aparato judicial brasileiro.
Olhando os mentores e administradores do golpe de 2016 e hoje de suas consequências, o que se vê é um permanente assalto destruidor contra a inteligência. Lembra uma versão descorada da famosa frase atribuída a um general franquista diante da bravura de Miguel de Unamuno. A frase era "Viva a morte, abaixo a inteligência", ou algo assim. A versão aguada que nos é servida diariamente é "abaixo a inteligência, viva a desfaçatez, o caradurismo, a impunidade, a grossura auto-satisfeita".
Os corolários de Temer são Bolsossauro, Chuchu e Chicote, este cabo ex-bombeiro, ex-Psol, que agora sobre o Monte das Oliveiras como se Jesus fosse e por aí se vai. Vivemos assim uma paródia lúgubre e rebaixada da "aurea mediocritas" do pensamento clássico antigo. A "aurea mediocritas" elogiava a ideia de que entre os extremos se encontra a virtude. Já a presente versão diz que a sua virtude está no meio, entre nada e coisa nenhuma. Todos os figurantes desta tragicomédia que é o golpe de 2016, a prisão de Lula e a farsa em que pretendem transformar a eleição que se avizinha, se auto-proíbem qualquer comentário inteligente. Tudo tem que ser medíocre, rastaquera, tudo tem que pisotear a lógica mais primária.
Mas não se pense que isto seja exclusividade brasileira. Olhemos o mundo: Le Pen, Matteo Salvitti, Mariano Rajoy (este em via de extinção política), Viktor Orban, Horst Seehofer, Macri, Boris Johnson, os líderes do AfD alemão, a direita austríaca, etc. – e ponha etc. nisto.
Hoje a mediocridade impera, com apoio no ressentimento e no medo. Embora seja um dos líderes nesta matéria, O Brasil não está sozinho no naufrágio.
Confesso que eu já vinha pensando em algo parecido a um dos conteúdos principais do livro, pelo que li na resenha. Qual seja, a análise de como a mediocridade é parte inerente, suficiente, auto-imune, do estilo Michel Temer e do fascismo que invade, como metástase, a cena política brasileira (e mundial, eu acrescento, depois justifico).
Ao contrário da inteligência, que cativa por si só e por seu brilho, a mediocridade é narcísica: ela precisa da constante aprovação dos outros, particularmente de seus pares medíocres, para se auto-afirmar internamente a quem a pratica e cultiva. Mas como a inteligência, a mediocridade é contagiosa. O medíocre gosta de semear mediocridades, e sempre tem público à disposição.
Encontrei Michel Temer ao vivo e a cores pela primeira vez nos idos dos anos 80, quando, por azares e sortes da vida, eu fazia parte de uma assessoria a alguns deputados progressistas na Comissão de Educação da Câmara Federal, entre eles Florestan Fernandes (como se ele precisasse de assessoria!…). Temer não fazia parte da Comissão, mas por questões de constitucionalidade e de justiça, terminamos por ter que falar com ele. Já naquele momento deixou esta impressão: medíocre, cheio de uma retórica sebosa e vazia. Desde então só fez piorar. E depois de assaltar o poder graças ao golpe de 2016, entortou de vez.
"Dali de onde nada se espera, é que não sai nada mesmo", reza a máxima do Barão de Itararé. E com Temer é assim. O livro de Tales, segundo a resenha que li, diz isto mesmo, com outras palavras. Citando ainda Dante, pode-se dizer: se vais falar com ele, deixa de lado qualquer esperança. Muitos comparam Temer a um vampiro (inclusive aquele famoso e carnavalesco carro alegórico). Mas convenhamos: num filme, Temer seria apenas um vampiro de quinta categoria, despido da grandiosidade trágica de um Drácula, de um Nosferatu, encarnada tão bem por atores como Cristopher Lee, Bela Lugosi, Klaus Kinsky, Ferdy Mayne et alii. No baile dos vampiros Temer seria no máximo um dos garçons, satisfazendo-se com sangue aguado e propinas por parte dos bailarinos.
Acontece que Temer não é o único culpado: ele apenas encarna o ideal de mediocridade que assola a parte ressentida da classe média brasileira, a burguesia desprovida de espinha dorsal que infesta nossa economia, o jornalismo provinciano e anacrônico da nossa mídia mainstream, os juízes e procuradores que manipulam teses e citações mal digeridas, políticos ávidos de prebendas e sinecuras, e assemelhados em todos os quadrantes da vida brasileira. Até um juiz que era brilhante, defensor dos direitos humanos, se enquadrou na mediocridade generalizada ao ascender aos píncaros do aparato judicial brasileiro.
Olhando os mentores e administradores do golpe de 2016 e hoje de suas consequências, o que se vê é um permanente assalto destruidor contra a inteligência. Lembra uma versão descorada da famosa frase atribuída a um general franquista diante da bravura de Miguel de Unamuno. A frase era "Viva a morte, abaixo a inteligência", ou algo assim. A versão aguada que nos é servida diariamente é "abaixo a inteligência, viva a desfaçatez, o caradurismo, a impunidade, a grossura auto-satisfeita".
Os corolários de Temer são Bolsossauro, Chuchu e Chicote, este cabo ex-bombeiro, ex-Psol, que agora sobre o Monte das Oliveiras como se Jesus fosse e por aí se vai. Vivemos assim uma paródia lúgubre e rebaixada da "aurea mediocritas" do pensamento clássico antigo. A "aurea mediocritas" elogiava a ideia de que entre os extremos se encontra a virtude. Já a presente versão diz que a sua virtude está no meio, entre nada e coisa nenhuma. Todos os figurantes desta tragicomédia que é o golpe de 2016, a prisão de Lula e a farsa em que pretendem transformar a eleição que se avizinha, se auto-proíbem qualquer comentário inteligente. Tudo tem que ser medíocre, rastaquera, tudo tem que pisotear a lógica mais primária.
Mas não se pense que isto seja exclusividade brasileira. Olhemos o mundo: Le Pen, Matteo Salvitti, Mariano Rajoy (este em via de extinção política), Viktor Orban, Horst Seehofer, Macri, Boris Johnson, os líderes do AfD alemão, a direita austríaca, etc. – e ponha etc. nisto.
Hoje a mediocridade impera, com apoio no ressentimento e no medo. Embora seja um dos líderes nesta matéria, O Brasil não está sozinho no naufrágio.
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