Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
A única boa noticia produzida pelos milionários que fundaram o Partido Novo é que, pelo menos nas eleições de 2018, seu candidato a presidência não tem a mais remota chance de chegar ao Planalto. Nem de passar para o segundo turno.
A má notícia é que essa legenda, que de Novo tem apenas o nome, é expressão de uma forma de atuação típica da ruína de uma democracia produzida pelo flagelo Michel Temer e aliados que pretendem dar sequência a obra - como o PSDB de Geraldo Alckmin e a banda de milionários que sustenta o fascismo de Bolsonaro.
A principal característica desse período histórico é a construção de um poder oligárquico a partir da destruição sistemática dos espaços públicos que em passado recente permitiram à sociedade brasileira influenciar nas decisões políticas, debater seus problemas e encontrar soluções a partir de um respeito -- sempre relativo, vamos admitir -- à soberania popular e à igualdade fundamental entre cidadãos. O jogo agora é outro.
Como nos tempos do Império, a atividade política faz parte de um universo no qual seu elemento essencial - a linha de corte - encontra-se na fortuna privada de empresas e cidadãos.
Não custa lembrar. No regime em vigor no país do século XIX, típico de um universo onde a legislação trabalhista se resume à chibata e ao pelourinho, e a exclusão na pobreza extrema constitui o destino inevitável da grande maioria, a atividade política só pode ser exercida longe das multidões, no interior de clubes de acesso exclusivo.
No Brasil do império, era preciso ter patrimônio respeitável para votar e para ser votado. O mínimo exigido para um cidadão exercer o direito a voto era possuir patrimônio de 100 000 reais. Para ser eleito, era preciso reunir uma fortuna três vezes maior.
Nesta segunda década do século XXI, após a entrega de fatias imensas da riqueza do país ao controle privado, a maioria comandada do exterior, o Brasil passa a conviver com traços que guardam uma tenebrosa semelhança com um passado que se imaginava definitivamente superado.
A privatização de setores essenciais transfere para a iniciativa privada o poder de decisão sobre prioridades, projetos nacionais e grandes planos de desenvolvimento.
Com o fim da legislação trabalhista, acompanhada da privatização sem limites e da quebra de conquistas sociais históricas, a urna eleitoral perdeu a condição de principal instrumento de ação política e local de disputa por direitos e influência.
A equação é elementar. A cada redução na esfera pública, diminui-se o espaço aberto para a voz dos cidadãos.
O grande campo de batalha, agora, é o mercado, no qual cidadãos e cidadãs foram substituídos por operadores, lobistas e investidores milionários. Após a privatização da economia, ocorre a privatização do poder político.
Não se trata de um fenômeno brasileiro, é bom reconhecer.
Em entrevista ao portal Sul21, o jurista argentino Eugenio Raul Zaffaroni, dono de uma influência intelectual muito além das fronteiras de seu país e do próprio continente, descreve o poder de grandes corporações multinacionais como a grande ameaça às democracias contemporâneas.
Zaffaroni fala de um poder que atua como "organização criminosa", movido por uma "pulsão totalitária" cujo objetivo é "impor sociedades com 30% de incorporados e 70% de excluídos".
Nesse processo, diz, o que se busca é "enfraquecer os Estados, que são o lugar da política. Eles querem ocupar o lugar da política".
Alguma dúvida?
A única boa noticia produzida pelos milionários que fundaram o Partido Novo é que, pelo menos nas eleições de 2018, seu candidato a presidência não tem a mais remota chance de chegar ao Planalto. Nem de passar para o segundo turno.
A má notícia é que essa legenda, que de Novo tem apenas o nome, é expressão de uma forma de atuação típica da ruína de uma democracia produzida pelo flagelo Michel Temer e aliados que pretendem dar sequência a obra - como o PSDB de Geraldo Alckmin e a banda de milionários que sustenta o fascismo de Bolsonaro.
A principal característica desse período histórico é a construção de um poder oligárquico a partir da destruição sistemática dos espaços públicos que em passado recente permitiram à sociedade brasileira influenciar nas decisões políticas, debater seus problemas e encontrar soluções a partir de um respeito -- sempre relativo, vamos admitir -- à soberania popular e à igualdade fundamental entre cidadãos. O jogo agora é outro.
Como nos tempos do Império, a atividade política faz parte de um universo no qual seu elemento essencial - a linha de corte - encontra-se na fortuna privada de empresas e cidadãos.
Não custa lembrar. No regime em vigor no país do século XIX, típico de um universo onde a legislação trabalhista se resume à chibata e ao pelourinho, e a exclusão na pobreza extrema constitui o destino inevitável da grande maioria, a atividade política só pode ser exercida longe das multidões, no interior de clubes de acesso exclusivo.
No Brasil do império, era preciso ter patrimônio respeitável para votar e para ser votado. O mínimo exigido para um cidadão exercer o direito a voto era possuir patrimônio de 100 000 reais. Para ser eleito, era preciso reunir uma fortuna três vezes maior.
Nesta segunda década do século XXI, após a entrega de fatias imensas da riqueza do país ao controle privado, a maioria comandada do exterior, o Brasil passa a conviver com traços que guardam uma tenebrosa semelhança com um passado que se imaginava definitivamente superado.
A privatização de setores essenciais transfere para a iniciativa privada o poder de decisão sobre prioridades, projetos nacionais e grandes planos de desenvolvimento.
Com o fim da legislação trabalhista, acompanhada da privatização sem limites e da quebra de conquistas sociais históricas, a urna eleitoral perdeu a condição de principal instrumento de ação política e local de disputa por direitos e influência.
A equação é elementar. A cada redução na esfera pública, diminui-se o espaço aberto para a voz dos cidadãos.
O grande campo de batalha, agora, é o mercado, no qual cidadãos e cidadãs foram substituídos por operadores, lobistas e investidores milionários. Após a privatização da economia, ocorre a privatização do poder político.
Não se trata de um fenômeno brasileiro, é bom reconhecer.
Em entrevista ao portal Sul21, o jurista argentino Eugenio Raul Zaffaroni, dono de uma influência intelectual muito além das fronteiras de seu país e do próprio continente, descreve o poder de grandes corporações multinacionais como a grande ameaça às democracias contemporâneas.
Zaffaroni fala de um poder que atua como "organização criminosa", movido por uma "pulsão totalitária" cujo objetivo é "impor sociedades com 30% de incorporados e 70% de excluídos".
Nesse processo, diz, o que se busca é "enfraquecer os Estados, que são o lugar da política. Eles querem ocupar o lugar da política".
Alguma dúvida?
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