quarta-feira, 22 de agosto de 2018

A tripla polarização nas eleições

Por Valter Pomar, em seu blog:

Todo mundo reconhece que as eleições deste ano já são as mais polarizadas desde 1989.

Mas nem todo mundo percebe que há três polarizações: uma em torno do golpe, outra em torno do programa e outra acerca do sistema político.

De um lado os golpistas, de outro quem luta contra o golpe.

De um lado os neoliberais, de outro os que defendem os interesses populares.

De um lado os candidatos do “sistema”, de outro os que são ou parecem ser anti-sistêmicos.

Lula lidera as pesquisas, entre outros motivos, porque polariza muito bem, aos olhos da massa, nos três vetores.

Lula é uma dupla vítima - do golpe e do “sistema” - e, ao mesmo tempo, seu nome é lido por parte do povo como um programa!

Nos três vetores, Lula desempenha melhor que Ciro e Boulos, que imaginavam crescer num vácuo que até agora não existiu.

Bolsonaro está em segundo lugar nas pesquisas eleitorais porque, ao mesmo tempo que polariza fortemente (e perde mais do que ganha, eleitoralmente, por isto) nos quesitos golpista e neoliberal, por outro lado se beneficia (ganha muito mais do que perde) ao ser visto por parte do povo como alguém anti-sistema.

Na resultante destes três vetores, Bolsonaro desempenha melhor que Alckmin, Meirelles, Álvaro, Marina e outras candidaturas da centro-direita, que perdem muitíssimo por serem golpistas e neoliberais, mas também perdem demais porque fedem a politica tradicional.

Esta situação causa desespero nas candidaturas de centro-direita, pois a combinação de vetores torna muito mais difícil tirar Lula e Bolsonaro da liderança das pesquisas.

A ação do governo e do parlamento golpista destacam espontaneamente o sentido programático da candidatura Lula. E cada passo que dão no sentido de impugnar Lula, o consolida como candidato anti-golpe e anti-sistema. E, pesadelo dos pesadelos, recupera a imagem pública do PT.

(Aliás, sobre o PT e Lula, vale lembrar aquele dito famoso: o anúncio de nossa morte foi prematuro.)

Por outro lado, dependendo de como a centro-direita tentar detonar Bolsonaro, há o risco da parcela “anti-sistema” de seus eleitores migrar para Lula.

(Aliás, a esquerda não pode cometer frente a Bolsonaro o erro crasso & clássico cometido por Cristovam Buarque contra Roriz. Não é desqualificando-o pessoalmente que vamos minar seu eleitorado, mas sim identificando-o com Temer.)

Moral da história: para gente como Alckmin, o problema é triplo. Precisam tirar Lula, precisam tirar Bolsonaro e precisam crescer no eleitorado. Mas como já foi dito, suas credenciais de golpista e neoliberal os puxam para baixo; e sua condição de políticos tradicionais piora ainda mais as coisas para o lado deles.

Já para o PT, o problema é simples: trata-se de continuar polarizando. E de polarizar cada vez mais.

Nosso programa é relativamente claro sobre isso: revogação das medidas golpistas, programa de emergência para gerar empregos e viabilizar direitos, Assembleia Constituinte.

Mas não basta programa no papel. É preciso um programa que o povão entenda. Lula as pessoas entendem.

Por isso sua ausência física precisa ser compensada por uma campanha Lula de extrema polarização: contra o golpe, contra o programa neoliberal do golpe e contra o apodrecimento do “sistema”. Para o povão, este é um triplex que faz sentido!

1 comentários:

Darcy Brasil Rodrigues da Silva disse...

Esse blog é testemunha de que alertei insistentemente para o perigo Bolsonaro, quando a maioria absoluta cria que sua candidatura derreteria. Disse que ele era aquele "novo" para o homem comum,uma candidatura que soava corresponder ao nojo contra os políticos e a política, contra o "sistema", lembrei também que fascistas podem tranquilamente ser apoiados pelo capital financeiro. Outra coisa que eu dizia era que, para derrotarmos o golpe, necessitávamos de uma Frente Ampla, apoiando uma candidatura única, que o grande objetivo dessas eleições era derrotar o golpe, e não necessariamente eleger um outro presidente do PT. Quem dera o processo eleitoral pudesse ser reduzido ao esquema de Pomar, que tem um apelo didático, mas tambem reducionasta, como se pudéssemos ter segurança do que se passa na cabeça do homem comum, que a esquerda deixou refletindo sozinho, valendo-se daquilo que pode alcançar com seu saber derivado do senso comum, espontaneísta, que escolhe a Lula e repele a Temer pelo método pragmático do homem comum, e não (infelizmente) por ser contra o neoliberalismo, por ser capaz de assumir-se defensor de uma ideologia de socialista e se opor ao neoliberslismo com base em conceitos abstratos, que só se permite p aos que dominam o método que Pomar usou para dedender a sua visão, e que eu uso para defender a minha. Infelizmente, sou obrigado a chamar a atenção que, no jogo de xadrez eleitoral, existe uma peça solta, que pode servir aos propósitos da direita, que não é percebida como uma candidatura do sistema pela maioria, e que, por muito pouco, não se credenciou a disputar o 2° turno com Dilma: refiro-me a Marina Silva. Se os estrategistas da direita concluírem, concordando com o pensamento de Valter Pomar, que Alckmin está fora e Bolsoonaro representa uma ameaça até de guerra civil, verão, com facilidade, que Marina poderia salvar a eleição para eles. Marina se adequa ao moralismo que penetrou grandes camadas da população, que se enojaram da política e dos políticos,se conforma ao que pensa a maioria da classe média, das tais classes C e D, que lhe deram expressiva votação em 2014. Para esses eleitores,Marina soa como antisistema, sobretudo para os eleitores femininos. Não é atoa que Gilberto Gil se declara seu apoiador. Marina é negra e é mulher. Marina venceu brilhantemente o último debate, defendendo as mulheres, representando-as ante o fascista do Bolsonaro. Se o "sistema" deliberar apoiá-la "por baixo do pano", conjugando esforços midiáticos para tanto, ela pode herdar votos inclusive de Lula, em quantidade bem superior aos que herda Bolsonaro. A própria pesquisa do Datafolha mostra Marina para quem quisar ver, como a que mais se aproximou de Bolsonaro, por conta de seu desempenho nos debates e da repercussão nas redes.