quarta-feira, 22 de agosto de 2018

As apostas de Skaf, o chefão da Fiesp

Por Laura Castanho, na revista CartaCapital:

“Nunca tive padrinhos na política. Estou aqui como presidente do Sesi, do Senai, fazendo uma revolução na cultura e nos esportes. Serei governador por isso.” A declaração de Paulo Skaf (MDB) no debate dos candidatos a governador de São Paulo, na Bandeirantes, sinaliza que ele deverá manter o discurso das duas tentativas anteriores de comandar o estado mais rico do país.

Tanto em 2014, pelo PMDB, e em 2010, pelo PSB, Skaf usou como vitrine a Fiesp, o Sesi e o Senai, órgãos que preside desde 2004. Apesar de representar entidades patronais da indústria há mais de uma década, ele não ganha a vida como industrial desde 2001, quando foi demitida a última funcionária da Skaf Indústria Têxtil Ltda.

Considerados “paraestatais”, os órgãos integram o chamado sistema S e são sustentados com contribuições compulsórias da indústria sobre a folha de pagamento. “Aquilo é tudo falido, né, tu sabe. CNI, Fiesp, não sei o quê, é tudo falido mesmo, nenhum deles tem indústria mais. Vive todo do sistema S”, comentou o candidato à presidência da República Ciro Gomes (PDT), em entrevista a CartaCapital, na semana passada.

Skaf está mais discreto neste ano. Ele é alvo de uma investigação no Ministério Público que o acusa de fazer propaganda eleitoral antecipada por meio de três inserções publicitárias do Sesi e do Senai veiculadas na TV aberta, no início do ano. Sua assessoria de campanha negou todas as acusações.

A opção por manter o mesmo discurso das campanhas anteriores indica que Skaf deverá aproveitar o desgaste de imagem de seu principal adversário nas pesquisas, João Doria (PSDB), com quem está tecnicamente empatado. Ambos pontuaram 16% de intenções de voto na última pesquisa CNT/MDA, lançada em 8 de agosto.

“O PSDB já quase não tem mais o que mostrar em São Paulo, tamanho o tempo que está no poder”, disse Humberto Dantas, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP). “O Skaf é uma alternativa minimamente estruturada, aos olhos do eleitor. Não é exatamente um eleitorado do Skaf, mas é um eleitorado cansado dessa polarização e disposto a acreditar em novas oportunidades.”

É o que também pensa Márcio França, atual governador do estado. Mesmo tendo sido eleito na chapa de Geraldo Alckmin em 2014, o candidato do PSB ao Palácio dos Bandeirantes acredita que seu principal adversário é o “voto Skaf”, que definiu como uma espécie de voto útil do eleitor de centro.

“A pessoa fala, ‘Não gosto do PT’, ‘Não gosto do Doria’, meio que cai no que eu conheço, que é o Skaf”, disse. “Tenho certeza que terei votos do PT e do PSDB, e não serão poucos. Porque as pessoas [falam] ‘Se é pra ganhar você, prefiro que ganhe o Márcio’. [Sou] uma espécie de segunda opção.”

França já foi aliado de Skaf em 2010, quando o presidente da Fiesp concorreu ao governo de São Paulo pelo PSB. “Preste atenção nesse cara”, ele diz em um vídeo da campanha, repetindo o slogan pensado pelo marqueteiro Duda Mendonça. Esse ano, pretende se diferenciar de Skaf e Doria por ter origem em uma família de classe média, o que não é o caso de seus adversários: Skaf herdou a indústria do pai, e Doria é filho de um publicitário de prestígio.

Mesmo sem ter propriamente uma militância, Skaf deve concentrar esforços no público que melhor compra a imagem da Fiesp como exemplo de progresso paulista: os eleitores do interior. “Por mais importante que [a máquina do sistema S] seja na capital, na capital os cidadãos têm outras tantas opções e alternativas. Pelo interior essa máquina pesa mais”, explica Humberto Dantas, da FESP-SP.

Isolamento


Em um aspecto central, a campanha de Skaf deste ano difere das anteriores: sem alianças a nível estadual, ele disputa o governo sozinho. Em 2014, integravam sua chapa o PROS, PSD, PP, PDT; em 2010, ele foi apoiado pelo nanico PSL, atual partido do presidenciável Jair Bolsonaro.

Segundo levantamento do jornal “O Estado de S. Paulo”, Skaf deverá ter 14% do tempo de televisão para a disputa estadual, o que o deixa atrás de Márcio França (que se coligou com outros 14 partidos) e João Doria (coligado com cinco) — e o empata com o candidato petista, Luiz Marinho.

Até o momento, Skaf optou por embalar esse fato em um discurso higienista. “Não aceitei coligações porque são troca-troca. Preferi não ter compromisso para poder montar o melhor governo que São Paulo já viu”, afirmou no debate da Band.

Pesa contra ele, no entanto, seu próprio partido. Tanto a imprensa como seus adversários têm apontado a contradição de um candidato contra a troca de favores, mas que integra o mesmo partido de Michel Temer, Geddel Vieira Lima, Eduardo Cunha e Sérgio Cabral — os últimos três dos quais estão atualmente presos por crimes de corrupção. “Quem é candidato sou eu, não os outros”, rebateu Skaf quando questionado sobre isso, em entrevista à Rádio Eldorado.

Contatados por CartaCapital, a coordenação de campanha de Skaf não quis comentar sua estratégia para a reportagem. O presidente licenciado da Fiesp negou pedido de entrevista.

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