quinta-feira, 2 de agosto de 2018

De Bolsonaros e bolsonaristas

Por Altair Freitas, no site da Fundação Mauricio Grabois:

Muita gente se escandaliza com as posições expressas por Jair Bolsonaro e adotadas por segmentos da sociedade brasileira nos últimos anos, anos de intensa crise econômica, política e social. Sua ida ao programa Roda Viva no dia 30 de julho, serviu para reafirmar o que vem dizendo há anos, só que agora para um público maior e mais disposto a ouvi-lo.

Crises agudas no capitalismo suscitam a circulação de ideias dispares sobre suas causas e saídas para elas. Bolsonaro, ao seu modo, dialoga com quem exatamente? Que saídas propõe? Qual o seu programa econômico para o país?

No Brasil existe uma parcela da população que não tem nenhum compromisso com a verdade mas apenas com seus próprios preconceitos, ódios e privilégios (ou o que considera privilégios). E preconceitos geralmente brotam da ignorância e da manutenção, por gerações, de privilégios e do consequente medo de ver espaços sociais que essa parte considera como de sua exclusividade "invadidos" por "gente inferior". E da junção da ignorância com o medo brota o ódio. E o ódio se alimenta da mentira, do permanente ato de negar, violentar e esconder a verdade, propagar mentiras absurdas e múltiplas irracionalidades.

É nesse micro universo que o ex capitão que bate continência para a bandeira ianque e defende o fim leis trabalhistas e a privatização de tudo navega e faz sucesso. Seu forte apelo junto a esse setor da sociedade está na realimentação permanente: ele mente descaradamente, insinua imbecilidades e promete uma catarse coletiva de violência estatal contra os diferentes e divergentes, e quanto mais faz isso, mais apoio de tipo messiânico, acrítico e violento, obtém de quem com ele concorda.

Ao adotar com virulência a pauta identitaria às avessas, urra contra gays, lésbicas, mulheres, negros (as) e a lógica da "meritocracia" para combater leis conquistadas ao custo de intensas lutas regadas com sangue da massa trabalhadora, busca esconder o seu verdadeiro papel no cenário político nacional, o de testa-de-ferro dos grandes capitalistas nacionais e estrangeiros, de quem ele adoraria ter apoio e respaldo político para vencer a eleição e governar o pais.

Para quem não entende a História, não percebe que essa equação foi exatamente a que permitiu a figuras como Hitler e Mussolini assumirem o poder em seus países. Para mudar suas sociedades? Não! Para reafirmar o poder dos conglomerados capitalistas, evitar revoluções sociais a partir das bases trabalhadoras utilizando o Estado como o supremo órgão super autoritário de defesa das bilionárias burguesias locais e manter pequenos privilégios da dita "classe média", a média burguesia que aspira ser grande, rica e se tornar classe dominante.

Alguma dúvida sobre o que o capitão defende para a economia? Vejam como ele votou nas reformas desastrosas do Temer e o que pretende fazer caso seja eleito: o mesmo - repito com ênfase, O MESMO! - programa dos tucanos, MDB, DEM e partidos assemelhados: privatizar ao máximo serviços e empresas estatais, diminuir direitos, cortar investimentos públicos na saúde, educação, etc, para garantir a remuneração criminosa do sistema financeiro, que consome a cada ano quase metade do orçamento da União. Esse é o programa dele, não porque eu ache que seja, mas pela simples observação das suas votações no congresso e o que ele mesmo vem dizendo em reuniões com o grande empresariado brasileiro e por quem o assessora na campanha.

No mais, ele não seria aprovado em uma uma prova de história do ensino fundamental II. Não porque professores de história sejam "comunistas", mas porque ele tenta reescrever a história humana e brasileira conforme o próprio ódio e ignorância factual. Suas "opiniões" sobre a história são tão insanas que seria o caso de gargalhar. Mas ele expressa a ideia de mundo e de Brasil de muita gente que aparece por aí fantasiada de "gente de bem", "bons cristãos" e "pais de família". Como os nazistas se afirmavam!

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