quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Alckmin e o não-efeito Centrão

Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:

Estamos desde a semana passada às voltas com a novela da falta de vices para vários candidatos mas eles, ou elas, não produzirão alterações no quadro eleitoral.

O fato realmente relevante desta reta final, capaz de alterar a correlação de forças, foi o apoio do Centrão ao pré-candidato do PSDB Geraldo Alckmin. E embora seja muito cedo para avaliar o seu impacto, a primeira pesquisa nacional posterior ao fato, do Instituto Paraná Pesquisas, manteve o tucano no mesmo lugar.

Isso não tira a relevância do apoio recebido mas sugere que ele não afetou a disposição subjetiva do eleitor. Seus efeitos serão indiretos, e virão através de vantagens que ainda se farão sentir, como o maior tempo de televisão.

Uma outra pesquisa também conhecida ontem é reveladora da angustiante expectativa do mercado financeiro, em seu coração paulista, de que seu preferido comece logo a colher os benefícios do apoio do Centrão.

Por encomenda da consultoria XP, o IPESPE fez uma pesquisa sobre a eleição presidencial restrita ao estado de São Paulo, apurando que ali já existe uma polarização direta entre Alckmin e Bolsonaro, que estariam empatados no cenário sem Lula.

Aos números
Antes da decisão do Centrão, outro fato importante foi o vexame do Judiciário no solta-não-solta Lula, no dia 8 passado.

A pesquisa Vox Populi, divulgada no último dia 26, confirmou os presságios de que Lula cresceria no rastro daquele imbróglio que fez o juiz Sérgio Moro despachar nas férias para manter preso seu réu de estimação.

Lula passa de 39%, na pesquisa de maio da série Vox, para 41%. Bolsonaro aparece com 12%, Ciro Gomes, com 5%, Marina, em queda para 4%, mesmo índice de Alckmin.

Por ter a CUT como contratante, a pesquisa Vox é vista com reservas pela mídia política e analistas.

Por outro lado, há uma estranha demora dos outros institutos em irem a campo aferir o impacto destes dois fatos importantes: o solta-não-solta e o apoio do Centrão ao tucano.

Passemos ao quadro inalterado trazido pela sondagem do Paraná Pesquisas, instituto que também pede reservas por conta de resultados muito discrepantes apresentados em 2014, a favor do candidato Aécio Neves.

Na pesquisa nacional realizada entre os dias 25 e 30 de julho, no cenário sem o nome de Lula, o não-voto é favorito, com 29,4%, seguido de Bolsonaro (23,6%), Marina Silva (14,4%), Ciro Gomes (10,7%), Alckmin (7,8%) e Álvaro Dias (5,0%).

Os demais têm menos que isso. No cenário com Lula, ele lidera com 29,2%, seguido do não-voto (19,1%), de Bolsonaro (21,8%), Marina (9,2%), Alckmin (6,2%) e Ciro (6,0%). Os demais ficam abaixo disso.

Nada mudou, portanto, para o candidato tucano, após a decisão do Centrão, anunciada no dia 19 passado.

Não quer dizer que nada mudará mas os benefícios do apoio terão que ser cavados pelo candidato, explorando o tempo de TV e os acordos regionais, que não estão se revelando tão favoráveis. Em muitos estados, o DEM, por exemplo, manterá candidaturas próprias a governador ou arranjos a favor de concorrentes.

A pesquisa XP, no cenário sem Lula, traz Bolsonaro com 21%, em animador empate técnico com Alckmin, com 20%.

A seguir vêm Marina (10%), Ciro (8%) e o petista Fernando Haddad (5%). É notável também esta queda por Haddad como substituto de Lula. É sempre ele que aparece como candidato do PT nos cenários sem Lula, na série Ipespe-XP.

No cenário com Lula, ele aparece empatado com Bolsonaro, ambos com 20%, seguidos de Alckmin, num honroso terceiro lugar, com 19%. O resultado pode ser animador para a infantaria paulista de Alckmin e do mercado mas, como São Paulo não é o Brasil, o significado da pesquisa é muito relativo.

Linhas da vida
Chico Buarque e Martinho da Vila visitam Lula amanhã.

A trajetória de Chico é uma homenagem à coerência, ao ter lado na vida, não importa como o vento sopre.

Helio Bicudo, que partiu ontem, não perde os créditos que angariou na vida com a defesa dos direitos humanos.

Mas podia ter partido sem a lembrança do cavalo-de-pau: fundador do PT, municiou os que ganharam a disputa eleitoral no tapetão do impeachment em 2016.

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