quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A faca, a eleição e a mídia

Por Lidiane Vieira, Eduardo Barbabela e João Feres Jr., no site Manchetômetro:

Iniciado o período eleitoral há pouco mais de quinze dias, até mesmo aqueles cidadãos com baixo interesse no pleito tiveram sua atenção direcionada para os acontecimentos do dia 6 de setembro. O clima de imprevisibilidade que já permeava o ambiente foi amplificado após o atentado ao presidenciável Jair Bolsonaro em Juiz de Fora – MG, durante ato de campanha. Atingido por uma faca na altura do abdômen, que lesionou os dois intestinos e uma artéria, Bolsonaro foi atendido na Santa Casa da mesma cidade onde passou por procedimento cirúrgico. Na manhã do dia seguinte o candidato foi transferido para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde segue em recuperação até o momento. Preso em seguida ao atentado, Adélio Bispo (40) confessou o crime e disse ter agido sozinho e a mando de Deus.

O número de pessoas que tiveram contato direto com o acontecimento é bastante diminuto, ainda mais para um país com as dimensões demográficas e territoriais do nosso. A maioria dos cidadãos brasileiros, eleitores em pleno processo de campanha eleitoral, ficaram sabendo do ocorrido por meio dos meios de comunicação. Como a propriedade desses meios é aqui extremamente concentrada, os principais canais de comunicação foram, sem surpresas, os mesmos que produzem diariamente a quase totalidade do conteúdo da informação pública que circula no Brasil. Diante disso, convidamos o leitor para uma análise da cobertura do atentado nos jornais impressos de maior circulação nacional — Folha de São Paulo, O Globo, Estado de São Paulo — e no Jornal Nacional, programa noticioso televisivo campeão de audiência. Analisamos as narrativas veiculadas logo após o fato, na própria quinta-feira pelo telejornal e no dia seguinte pelos jornais impressos. Em seguida, examinamos a tendência assumida pela cobertura até a divulgação da pesquisa Datafolha, nos dias 10 e 11 de setembro.

Este recorte se justifica pela expectativa que a agressão a Bolsonaro criou de que os resultados da pesquisa eleitoral fossem alterados favoravelmente ao candidato. Ou seja, pretendemos analisar se a candidatura de Bolsonaro foi abordada a partir de uma perspectiva do”efeito tragédia”, uma narrativa favorável pela condição de vítima, e do “efeito de mídia”, que corresponde à ampliação da exposição em razão do atentado. Estas expectativas foram nutridas logo nas primeiras reações ao fato, ao ponto do filho do candidato do PSL afirmar em entrevista: “vocês acabaram de eleger o presidente, vai ser no primeiro turno “. O mercado financeiro se moveu no mesmo sentido, o índice Ibovespa, já em alta antes do fato, acelerou seu crescimento e o dólar finalizou a semana em baixa de 0,95%, cotado a R$ 4,1042 para venda.

Folha de São Paulo
Gráfico 1 – Cobertura Folha de São Paulo

Fonte: Manchetômetro

No dia 7 de Setembro o atentado a Jair Bolsonaro foi amplamente pautado pela Folha de São Paulo, com 29 textos registrados na coleta do Manchetômetro: 3 manchetes, 14 chamadas, 1 artigo de opinião, 9 colunas e 2 editoriais. O tema ocupou quase a totalidade da capa. De tom descritivo, a manchete apresentou as informações básicas sobre o ocorrido. A capa abriu espaço para pronunciamento do próprio Bolsonaro, “Nunca fiz mal a ninguém”, em tom de pacificação, e para declaração do presidente do PSL, Gustavo Bebbiano, em sentido diametralmente oposto: “agora é guerra” afirmou. O jornal também cedeu espaço à opinião de Dilma Rousseff, que comentou: “incentivar o ódio cria esse tipo de atitude”. Diferente da manchete, as chamadas apresentaram sentenças mais enfáticas e posicionadas, como é o caso da declaração do filho de Bolsonaro de que a eleição no primeiro turno estaria garantida e a nota que desvincula o ataque ao ódio político vivenciado no país.

Para além da capa, o assunto estendeu-se para as páginas de opinião, um editorial e colunas dedicaram-se ao atentado. Repudiando veementemente o que chamou de “estúpido ataque a Bolsonaro”, o editorial da Folha se compadece mais dos potenciais danos à democracia do que do candidato. O texto relembra a disposição do presidenciável de “fuzilar a petralhada” e ressalta o perigo do ocorrido transformar a figura do Bolsonaro em “combatente de cruzada regeneradora” ao reduzir a alta rejeição “que o torna bem menos competitivo nas simulações de segundo turno”. Criticando o discurso de vítima, que dizem ter “sido próprio da esquerda, em particular do PT”, os editores aspiram por um aprendizado decorrente deste episódio, o “apreço pela tolerância”.

Na coluna de Hélio Schwartsman o cerne da narrativa está no repúdio à violência política, não havendo uma defesa do candidato em si. O autor considera positivo, inclusive, que o atentado tenha sido criticado por todas as tendências do espectro político, “em termos menos ambíguos do que os registrados quando a caravana de Lula foi atacada no início do ano”. Seguindo o mesmo padrão argumentativo da anterior, a coluna assinada por Bruno Boghossian traz à tona a imagem negativa do candidato: “Pouco importa agora se Bolsonaro tem posições radicais ou se é intolerante; ou se o autor do atentado tem problemas psicológicos. A arena política saiu do controle”. Dedicado ao repúdio da belicosidade do ambiente político, o texto critica o posicionamento da ex-presidenta Dilma Rousseff, ou dos três principais aliados de Bolsonaro que “pisaram no acelerador”, o vice Hamilton Mourão, o senador Magno Malta e o advogado Gustavo Bebianno.

De maneira sutil, a chamada a respeito da reação do mercado e o editorial da Folha insinuavam uma possibilidade de que o atentado tivesse impacto eleitoral positivo para Jair Bolsonaro na pesquisa do Datafolha. Contudo, a pesquisa deu uma oscilação positiva de apenas dois pontos percentuais na pesquisa, dentro da margem de erro, e revelou aumento de sua rejeição. Vejamos como o jornal noticiou esses dados.

A manchete do dia 11, “Após ataque, Bolsonaro tem 24%…” sugere que o ataque lhe tenha sido proveitoso eleitoralmente. O subtítulo da manchete, no entanto, carrega tom negativo, acentuando sua maior rejeição e o fato de o ex-capitão perde no segundo turno para quase todos os oponentes. O editorial do dia faz uma análise global sobre as mudanças na última pesquisa eleitoral do Datafolha, ressaltando a manutenção da liderança de Bolsonaro, sem Lula na disputa, e a manutenção do candidato no topo da rejeição, chegando a 55% entre os mais jovens. O texto conclui que a ampliação dentro da margem de erro demonstra o baixo impacto eleitoral do atentado.

As colunas de Hélio Schwartsman e Bruno Boghossian tratam da ampliação da rejeição de Bolsonaro como fator mais determinante do que a oscilação de seu percentual das intenções de voto, já que, segundo os autores, esta condição o deixa em desvantagem em embates diretos. O primeiro colunista assevera que, ao analisar os cenários e as composições entre direita e esquerda, que Alckimin não tem outra alternativa senão “bater em Bolsonaro”, tarefa arriscada devido ao estado de saúde do adversário, ainda que não faltem “inconsistências na candidatura do militar reformado”. Em sua coluna, Pablo Ortellado preferiu culpar aqueles que identificam viés na mídia pela radicalização política, emendando a seguinte pérola: “se adota para aquilo que se condena uma postura hipercrítica e hipercética e para tudo aquilo que se defende uma credulidade ingênua.”

O Globo
Gráfico 2 – Cobertura O Globo

Fonte: Manchetômetro

Em O Globo o candidato do PSL esteve presente em 18 textos: 3 manchetes, 5 chamadas, 7 colunas e 3 editorias. A cobertura do jornal fluminense foi eminentemente neutra ao longo dos dias analisados, com alguns momentos de crítica. A capa do dia 7 destacou o atentado. Além da manchete sobre o tema, tivemos chamadas sobre a cirurgia, o momento após o ataque e o agressor. A coluna de Merval Pereira afirmava que o ataque tornava Bolsonaro um mártir e era o ápice da radicalização da política brasileira gestada por Lula e seus “interesses eleitoreiros”. Enquanto isso, o editorial do jornal do mesmo dia alertava para a necessidade de se combater o clima de intolerância, elogiava o pronunciamento de todos os presidenciáveis e líderes dos três poderes que repudiaram a ação e identificava a “inevitável impugnação legal da candidatura do ex-presidente Lula” como fonte de tensão da eleição.

No dia seguinte (8), a capa ainda continuava a destacar o desenrolar do atentado, apresentando a nova tática da campanha do PSL e apresentando dados de bastidores sobre a cirurgia sofrida pelo candidato. Nos textos de opinião, Merval Pereira discutia como os adversários de Bolsonaro iriam lidar com o atentado, destacando a possibilidade de as críticas ao candidato do PSL serem amenizadas.

No dia 9 de setembro, Jair Bolsonaro não mais foi manchete do jornal, embora estivesse presente em duas chamadas na capa: uma que destacava a mudança na postura dos adversários e outra que afirmava que o atentado melhoraria a imagem do candidato do PSL. Nos textos de opinião, Bernardo de Mello Franco discutia os possíveis resultados políticos do atentado, que poderiam ser capitalizados por Jair Bolsonaro, fosse em votos diretos, fosse em redução de sua rejeição. Franco também criticou a péssima atitude de correligionários do candidato do PSL de divulgar fake news, como as declarações de Hamilton Mourão, candidato à vice presidência na chapa e Silas Malafaia.

Na segunda feira (10), a capa traz uma nota sobre o estado clínico de Bolsonaro. Enquanto isso, editorial do jornal O Globo discutia a violência política, exemplificada no ataque a Bolsonaro, que teria sua mais nova origem com a perda do “monopólio do controle das ruas” pelo PT e seus aliados.

A manchete do dia 11 de setembro, o último dia de análise, ressalta a liderança de Bolsonaro na pesquisa do Datafolha. Há também uma chamada afirmando que a solidariedade pelo candidato não reduziu a sua rejeição. O editorial nesse dia cita o episódio do atentado relacionando-o às tensões eleitorais de 2018 combinadas com a “resistência do PT em aceitar a impossibilidade do ex-presidente Lula em ser candidato”. Merval Pereira em sua coluna destacava a frustração da campanha de Bolsonaro com os resultados do Datafolha, enquanto José Casado discutia se que os rumos do país estariam cada vez mais entre as candidaturas do PSL e PT.

Estado de São Paulo
Gráfico 3 – Cobertura Estado de São Paulo

Fonte: Manchetômetro

O jornal Estado de São Paulo foi aquele que menos publicou textos sobre o atentado, com apenas 15 entradas. Entretanto, em todos os dias desse período Jair Bolsonaro foi citado na manchete. No total foram 5 manchetes, 6 chamadas, 1 coluna e 3 editoriais que trataram do candidato do PSL.

A capa do jornal Estado de São Paulo do dia 7 de setembro trouxe Bolsonaro na manchete, com uma sequência de fotos do ataque e informações médicas. Ainda tivemos chamadas que apresentavam a reação dos demais presidenciáveis ao ataque, a reação positiva da Bolsa de Valores ao atentado e um perfil do agressor do candidato do PSL.

No dia seguinte (8), o Estadão publicou na manchete a informação de que os demais candidatos a Presidência decidiam adotar um tom de conciliação após o atentado, evitando ataques a Jair Bolsonaro. Além disso, a capa trazia mais duas chamadas: a afirmação de Flavio Bolsonaro, filho do candidato do PSL, de que seu pai não mais iria realizar campanha de rua, e a afirmação do agressor de Bolsonaro de que agira sozinho no ataque. Nesse dia o jornal também publicou editorial com a afirmação de que o ataque “altera profundamente o quadro da sucessão presidencial”. Bolsonaro é criticado por suas infelizes figuras de linguagem como “fuzilar a petralhada” e as afirmações de apoiadores do candidato do PSL que favoreciam o clima de beligerância que também resultaram no ataque à caravana do ex-presidente Lula em março deste ano. Contudo, segundo o texto, a origem da “degradação” política atual reside no “feroz discurso antidemocrático lulopetista que dividiu o Brasil em “nós” e “eles”, consolidado depois que o partido chegou ao poder com Lula”.

A edição do dia 9 de setembro estampava em sua capa uma foto de Jair Bolsonaro em seu quarto no hospital, ao lado de uma manchete que chamava para entrevista do general Eduardo Villas Bôas na qual ele afirmava que Bolsonaro não era “o candidato das Forças Armadas”.

O debate da TV Gazeta foi o tema da manchete do dia 10 de setembro e a ausência de Bolsonaro foi lembrada no subtítulo da mesma. O candidato do PSL também é citado em editorial que discutiu a rejeição dos candidatos à Presidência e os possíveis reflexos do ocorrido em Juiz de Fora nas próximas pesquisas de opinião que seriam divulgadas no dia seguinte.

No dia 11 de setembro a manchete do jornal destacou a retomada das críticas às ideias do candidato do PSL, sem citar as pesquisas de opinião à Presidência, além de brevemente citar o agressor de Bolsonaro. O candidato também é citado nos textos de opinião. Em sua coluna, Fernão Lara Mesquita lembrou os eventos que ocorreram como o incêndio do Museu Nacional e o atentado a Jair Bolsonaro. Além dele, o editorial do jornal destacou a importância das reações dos demais candidatos ao ataque ao candidato do PSL, em uma demonstração de que “a democracia segue sendo um valor inegociável”. O jornal também reproduziu trechos de declarações de Jair Bolsonaro em que o mesmo afirmava que o seria eleito nas urnas.

Jornal Nacional
Gráfico 4– Cobertura Jornal Nacional em porcentagem

Fonte: Manchetômetro

No telejornal da TV Globo, Jair Bolsonaro foi citado em 4 das 5 edições do jornal no período estudado[1]. Foram 3.255 segundos sobre o candidato divididos em 23 matérias, 860 segundos de matérias ambivalentes e 2.395 segundos de matérias neutras. O destaque ficou para o dia 7 de setembro quando o candidato esteve presente em 59,6% de todo o tempo do jornal.

Tanto o recurso de vídeo como a narrativa falada estende e complexifica a cobertura do Jornal Nacional, comparada aos veículos impressos. Além do acompanhamento imediato do desdobramento do atentado ao longo do dia, o programa veiculou a cobertura horas depois do ocorrido de forma narrativa, embora Renata Vasconcellos tenha afirmado em estilo editorial a indignação causada pelo atentado. Entre as notícias detalhadas sobre o ataque e o procedimento cirúrgico, o jornal também veiculou pronunciamentos de repúdio dos demais candidatos à presidência, de Rosa Weber, Rodrigo Maia, OAB e de Michel Temer, que totalizaram 522s. 

Até então nenhuma das abordagens poderiam ser classificadas com outra valência que não a neutra. Foi com a aparição da cobertura internacional que alterou essa tendência, com manchetes que retratavam a liderança nas pesquisas, a alta rejeição ou o perfil polêmico do candidato, que a matéria ganhou mais nuances a respeito de Bolsonaro. Parte da cobertura também foi dedicada a tratar do agressor, explorando seus antecedentes, como a filiação ao PSOL, suas redes sociais e familiares. É interessante comparar 9s de tempo em cada bloco de propaganda eleitoral gratuita que tem Bolsonaro com a exposição recebida devido ao incidentes. Foram 18s de entrevista exclusiva feita antes do atentado e 1.281s de matérias sobre o candidato, que ocuparam 30% da edição do telejornal. Na edição do dia seguinte, já depois da cirurgia, o tempo de fala do candidato foi de 83s, em reprodução de vídeo gravado por Magno Malta, ainda em Juiz de Fora: quase 10 vezes mais que o tempo de propaganda do presidenciável.

A exposição midiática intensa e repentina de Bolsonaro criaram expectativas quanto a suas consequências eleitorais. A cobertura do JN, de tendência neutra ao longo dos dias, manteve o padrão também na apresentação dos resultados da pesquisa Datafolha. Em matéria de 411s, as análises de intenções de votos foram descritas, com o resultado ambivalente de por um lado confirmarem a liderança do candidato do PSL, mas, por outro, registrarem seu baixo crescimento e alto índice de rejeição, que o levaria a ser derrotado no segundo turno por todos os principais candidatos, com exceção do empate técnico com Haddad, recém transformado em candidato à presidência pelo PT.

Conclusões
Gráfico 5 – Cobertura diária por jornal por quantidade de textos/inserções

Fonte: Manchetômetro

O gráfico 5 nos permite perceber a evolução da presença de Jair Bolsonaro nos diferentes veículos estudados. O grande pico acontece, obviamente, nos dias de divulgação do atentado (dia 6 no Jornal Nacional e 7 nos jornais impressos). O candidato esteve presente nos cinco dias estudados em 85 oportunidades somando os quatro veículos estudados. A Folha e o Jornal Nacional aparecem como os dois veículos que mais repercutiram a notícia, com destaque para o jornal paulista que teve o maior número de inserções, 29, seguido pelo jornal televisivo com 23.

Conforme pudemos perceber nos gráficos e nas análises apresentadas anteriormente a cobertura do atentado à Jair Bolsonaro seguiu tendência neutra, excetuando o jornal Folha de São Paulo que construiu uma narrativa bastante completa e complexa do caso. Não é possível registrar o “efeito tragédia” clássico, com narrativas mais favoráveis à vítima. De outra forma, encontramos uma tendência neutra dessa cobertura, com breves momentos contrários e favoráveis.

Entretanto, é fato que o ocorrido em Juiz de Fora deu ao candidato de PSL destaque inédito na cobertura midiática, ocupando a pauta principal do noticiário durante alguns dias, e lhe franqueou tempo de TV com espaço para externar suas posições sem que elas fossem submetidas a críticas, situação que não aconteceria na cobertura regular de campanha. Tratando especificamente do tempo de exposição no Jornal Nacional, Bolsonaro, que possui 9 segundos no Horário Eleitoral Gratuito, somou 3.255 segundos, ou 361,6 vezes seu tempo no HGPE. Ademais, é inegável que o tom dominantemente neutro da cobertura poderia ajudar Bolsonaro a dissociar parcialmente sua imagem daquela de radical beligerante, e assim ser eleitoralmente proveitoso para sua candidatura.

Não foi isso, contudo, que a pesquisa mostrou. O crescimento pífio de 2 pontos percentuais nas intenções de voto e o aumento de sua rejeição desafiam a tese de que exposição midiática que não é negativa se converte em votos. Em 2014, o Manchetômetro mostrou que ao sofrer um violento impulso de divulgação midiática, após a morte de Eduardo Campos, Marina Silva foi impulsionada ao topo das pesquisas de opinião. Por que isso parece não estar acontecendo com Bolsonaro?

Ainda é cedo para conclusões definitivas e seria necessário examinar os resultados das próximas pesquisas para averiguar se a tendência se cristaliza. Contudo, a chave da resposta parece estar no grau de conhecimento prévio e no índice de rejeição. Diferentemente de Marina na ocasião de sua nomeação à candidata, em 2014, o ex-capitão já é conhecido por 88% do eleitorado [1] e é campeão do índice de rejeição: 44% dos entrevistados dizem que não votam nele de modo algum, proporção que é praticamente metade daquela de Haddad, Alckmin e Gomes.

A grande mídia brasileira se notabilizou historicamente por defender candidatos à direita do espectro político. Na eleição de 2018, contudo, a situação parece mais confusa, e os grandes meios dão mostras de ainda não terem escolhido seu candidato. A cobertura do atentado contra Bolsonaro serviu de ensaio para testar o efeito da grande mídia nessas eleições. Intencional ou não, o aumento expressivo de cobertura neutra não surtiu grande efeito. Se a tradição imperar, devemos esperar para as próximas semanas jogadas mais ousadas do jornalismo nacional. A entrevista de Haddad para o Jornal Nacional, também analisada pelo Manchetômetro, deu sinal.

Notas

[1] O dia 09 de setembro foi um domingo, dia em que o Jornal Nacional não é veiculado.

[1] Dados da pesquisa do Datafolha colhidos nos dias 13 e 14 de setembro http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2018/09/17/501a65cd6ae31a1a0e3d0721f729ba69-cnmnt.pdf.

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