quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Um novo golpe midiático?

Por Pedrinho Guareschi, no site Carta Maior:

O que me leva a escrever esse texto é a sensação muito fundamentada de que estamos correndo sério risco de um novo golpe midiático nesse momento no Brasil. Já adianto que não sou alarmista, nem adiro a teorias conspiratórias. Não sou determinista, acredito na esperança e na consciência crítica das pessoas, e que a história somos nós que a fazemos (não exatamente como gostaríamos), mas podemos influenciá-la.

O porquê de minha suspeita: Passamos um ano (2017) pesquisando a questão das novas mídias, junto com mais 12 pesquisadores/as num seminário do PPG de Psicologia da UFRGS. Enfrentamos o desafio de poder compreender 4 grandes questões diante das quais todo mundo se perguntava admirado: “Mas como? Como foi possível? Não dá para entender!” Essas questões eram: 

1- Como foi possível a Trump ganhar a eleição? (Mais de 50 psicólogos e psiquiatras, num livro que publicaram, são praticamente unânimes em afirmar que ele é uma pessoa com sérias perturbações mentais). 

2- Como explicar a saída da Inglaterra da Comunidade Européia (o Brexit)? 

3- Como foi possível que o acordo de Paz, discutido por mais de 10 anos, entre o Governo da Colômbia e as FARC tenha sido rejeitado sem possíveis razões? 

4- E, finalmente como foi possível um golpe no Brasil, sem nenhum fato e nenhuma culpa comprovados – o que agora já é admitido por todos? (O livro tem 12 ensaios, 4 são dedicados a esses 4 temas). 

Vou ao ponto agora: Entrevejo outro golpe midiático se avizinhando. Nos 4 casos acima, as mídias sociais tiveram papel fundamental, decisivo. No caso do Brexit e Trump a Analytical Cambridge, uma empresa especializada em manipular eleições, comprou algoritmos (perfis psicológicos de pessoas) – no caso Trump foram 80 milhões -, do Facebook e através de mensagens, a maioria delas falsas, “fake news”, estrategicamente elaboradas, dirigidas a grupos segmentados de acordo com suas “crenças” e “convicções”, conhecidas devido às postagens que todos eles (e todos nós!) colocamos nas mídias sociais (Facebook, Whatsapp, cartões de crédito, etc. (Halpern, no The Guardian: “A campanha veiculava 50 mil variantes de propaganda dependendo do desempenho, com/sem sub-títulos, anúncios estáticos ou em vídeo. No último dia foram 175 mil variações, para audiências segmentadas”). Apesar de Zuckerberg, ter afirmado numa entrevista (sem que ninguém lhe perguntasse!) que o Facebook não iria interferir nas eleições brasileiras, está ficando cada vez mais evidente que algo está acontecendo. A invasão de crakers no site das mulheres contra B é um sinal bem claro dessa guerra midiática. Esse é um caso concreto e exige um posicionamento claro e imediato do STE e o STF para examinar esse crime.

Mas o mais sério vem agora: por trás disso tudo está Paulo Guedes, o ministro anunciado da economia de B. Como mostra Christiane Zalazar (analisando suas próprias entrevistas) Guedes é um dos fundadores do Instituto Millennium, que financiou, desde 2009, a formação de lideranças e grupos que foram para a rua derrubar Dilma. Através de propagandas, artigos, palestras, uma rede de crakers e apoio de grandes corporações da mídia como Globo, Estadão, Abril, FSP e bancos, o Millennium tem detonado líderes contrários a seu projeto e tem obtido sucesso com a criação do MBL, Vem pra Rua. blogs, sites e grandes empresários. Junto está o Instituto Mises, liberais de extrema direita, com sede nos EE.UU. (o representante do Mises aqui é o dono dos postos Ipiranga). Atrás de B está Paulo Guedes e uma imensa estrutura que vem sendo preparada há muitos anos para eleger o primeiro presidente de extrema direita com a missão de manter a ordem a qualquer custo. Não quero ser alarmista. Baseio-me prudentemente em dados e estudos sérios feitos dos últimos acontecimentos políticos aqui no Brasil e outras partes do mundo. Os fatos vistos acima já aconteceram! Não adianta depois de tudo feito vir pedir desculpas, ou chorar diante do leite derramado. 

Sabemos que a era pós-verdade se guia por paixões e afetos, mais que pela razão. Nossa paixão é um Brasil fraterno, amoroso, com inclusão de todos. O silêncio é uma derrota dos bons. É preciso uma voz contraria ao ódio, determinada, lúcida, crítica e informativa. Acima de tudo essa é uma questão ética. Aos que lerem esse texto pediria que não acreditassem simplesmente no que está escrito. Mas pediria também que por amor ao Brasil, que todos dizem defender, se informassem. O livro que organizamos durante um ano de pesquisa e reflexão é “Psicologia, Comunicação e Pós-Verdade”, Editora Abrapso, 2018 (2ª ed), 360pp. Está anunciado em diversos sites. Em Porto Alegre, na Livraria Palmarinca, R. Jerônimo Coelho, 281).

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