Por André Barrocal, na revista CartaCapital:
Alegados problemas de saúde salvaram outro personagem bolsonarista de depor. O PM aposentado Fabrício Queiroz, amigo e ex-motorista do clã Bolsonaro, deveria ter prestado esclarecimentos nesta quarta-feira, 19, ao Ministério Público sobre suas finanças suspeitas. Duas semanas depois de sua história vir a público, Queiroz segue em silêncio.
No início de dezembro, quem tinha deixado de ir ao MP se explicar havia sido o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, investigado por suspeita de crimes contra o sistema financeiro.
Saúde à parte, será que o caso de Queiroz, depositante de 24 mil reais na conta da futura primeira-dama e funcionário de um dos filhos de Jair Bolsonaro quando movimentava 1,2 milhão de reais em um banco, estará sepultado quando o novo Congresso tomar posse, em fevereiro?
Os subterrâneos do Legislativo fervem desde já. Por ali, já há político de olho em problemas na cozinha do próximo presidente, a fim de usar isso para fazer jogo duro mais adiante e mostrar-lhe que não haverá moleza na relação com os parlamentares.
O que ninguém quer, por ora, é botar a cara em público contra um presidente que ainda nem tomou posse e que desperta esperança popular. “Tenho ouvido muita gente me aconselhar a não falar mal do Bolsonaro agora, me aconselhar que eu diga que vou ajudar o Brasil. Engraçado como isso mudou. Em 2014, não foi assim”, afirma um deputado do MDB.
Entre os brasileiros, 75% acham que Bolsonaro e sua anunciada equipe estão no caminho certo. Os otimistas com o futuro governo são 64%. Números de uma pesquisa Ibope divulgada em 13 de dezembro pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
No Parlamento, a fé não é do mesmo tamanho. “O problema do Bolsonaro será o Congresso”, diz um deputado do PSDB.
Seu colega de bancada Marcos Pestana, secretário-geral tucano, acrescenta: “O Bolsonaro fez uma coisa importante e necessária, mudou o padrão de relação com os partidos, não partiu para a cooptação com cargos. Mas como reagirá o Congresso?”
“Se o Bolsonaro der certo, vai mudar alguns paradigmas na política no Brasil, e precisa mudar mesmo. Mas vai dar? O Brasil é um país muito complicado, há muitos entes federados, muitas corporações”, diz o deputado petista Vicente Cândido, que não se reelegeu e agora será o diretor de Relações Institucionais do Corinthians.
Sobram incomodados no Congresso com a falta de “cooptação” na montagem do futuro ministério, feita por Bolsonaro sem ouvir os partidos.
Tome-se a indicação para ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Damares Alves era assessora do senador em fim de mandato Magno Malta, do PR capixaba. Bolsonarista da gema, Malta não só ficou sem cargo, como ainda viu a ex-assessora ser nomeada sem que ele tivesse opinado.
Há também o caso do DEM. Bolsonaro pinçou três deputados demistas para sua equipe – Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Onix Lorenzoni (Casa Civil) e Tereza Cristina (Agricultura) – mesmo que o partido tenha até agora preferido uma posição de neutralidade em relação a seu governo.
A escolha de Mandetta foi vista como uma tentativa de enfraquecer o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, como polo de poder no DEM e de construção de um outro polo.
Maia gostaria de se reeleger para o comando da Câmara. Bolsonaro torce o nariz para ele, no entanto, talvez pela boa relação de Maia com o PT e o PCdoB. O bolsonarismo, como se sabe, quer destruir a esquerda.
“O Rodrigo é favorito hoje, vai ter voto de quem é Bolsonaro porque este pessoal quer dar um recado ao governo”, teoriza um deputado tucano. “O Bolsonaro não conversa com ninguém, tem um grupo dele e só.”
A eleição para as mesas diretoras da Câmara e do Senado tem potencial para causar confusão e será decisiva na relação de Bolsonaro com o Legislativo, segundo Marcus Pestana.
Flávio Bolsonaro, o contratante do desaparecido amigo de sua família, Fabrício Queiroz, na Assembleia do Rio, será senador em 2019. Ele já se declarou contrário ao plano do experiente Renan Calheiros, do MDB, de concorrer de novo ao comando da Casa.
Questionado por CartaCapital dias atrás quanto à hipótese de o caso do motorista influenciar o ambiente político do futuro governo, Calheiros ergueu bandeira branca. “São fatos anteriores ao mandato. Não é papel do Senado julgar as pessoas. Nós temos que ajudar o Brasil.”
Declarações a soar um pouco como aquele político aconselhado a não falar mal de Bolsonaro por enquanto e a falar que vai “ajudar o Brasil”.
Certo é que há quem torça mesmo é pelo pior, para poder cobrar alto pelo apoio mais adiantes. Dias desse, o deputado e ex-ministro da Saúde Ricardo Barros, do PP, ex-partido de Bolsonaro, comentou com um colega: “Nós vamos ficar um ano na arquibancada olhando, daí o Bolsonaro vai ter de refundar o governo”.
Será?
Alegados problemas de saúde salvaram outro personagem bolsonarista de depor. O PM aposentado Fabrício Queiroz, amigo e ex-motorista do clã Bolsonaro, deveria ter prestado esclarecimentos nesta quarta-feira, 19, ao Ministério Público sobre suas finanças suspeitas. Duas semanas depois de sua história vir a público, Queiroz segue em silêncio.
No início de dezembro, quem tinha deixado de ir ao MP se explicar havia sido o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, investigado por suspeita de crimes contra o sistema financeiro.
Saúde à parte, será que o caso de Queiroz, depositante de 24 mil reais na conta da futura primeira-dama e funcionário de um dos filhos de Jair Bolsonaro quando movimentava 1,2 milhão de reais em um banco, estará sepultado quando o novo Congresso tomar posse, em fevereiro?
Os subterrâneos do Legislativo fervem desde já. Por ali, já há político de olho em problemas na cozinha do próximo presidente, a fim de usar isso para fazer jogo duro mais adiante e mostrar-lhe que não haverá moleza na relação com os parlamentares.
O que ninguém quer, por ora, é botar a cara em público contra um presidente que ainda nem tomou posse e que desperta esperança popular. “Tenho ouvido muita gente me aconselhar a não falar mal do Bolsonaro agora, me aconselhar que eu diga que vou ajudar o Brasil. Engraçado como isso mudou. Em 2014, não foi assim”, afirma um deputado do MDB.
Entre os brasileiros, 75% acham que Bolsonaro e sua anunciada equipe estão no caminho certo. Os otimistas com o futuro governo são 64%. Números de uma pesquisa Ibope divulgada em 13 de dezembro pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
No Parlamento, a fé não é do mesmo tamanho. “O problema do Bolsonaro será o Congresso”, diz um deputado do PSDB.
Seu colega de bancada Marcos Pestana, secretário-geral tucano, acrescenta: “O Bolsonaro fez uma coisa importante e necessária, mudou o padrão de relação com os partidos, não partiu para a cooptação com cargos. Mas como reagirá o Congresso?”
“Se o Bolsonaro der certo, vai mudar alguns paradigmas na política no Brasil, e precisa mudar mesmo. Mas vai dar? O Brasil é um país muito complicado, há muitos entes federados, muitas corporações”, diz o deputado petista Vicente Cândido, que não se reelegeu e agora será o diretor de Relações Institucionais do Corinthians.
Sobram incomodados no Congresso com a falta de “cooptação” na montagem do futuro ministério, feita por Bolsonaro sem ouvir os partidos.
Tome-se a indicação para ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Damares Alves era assessora do senador em fim de mandato Magno Malta, do PR capixaba. Bolsonarista da gema, Malta não só ficou sem cargo, como ainda viu a ex-assessora ser nomeada sem que ele tivesse opinado.
Há também o caso do DEM. Bolsonaro pinçou três deputados demistas para sua equipe – Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Onix Lorenzoni (Casa Civil) e Tereza Cristina (Agricultura) – mesmo que o partido tenha até agora preferido uma posição de neutralidade em relação a seu governo.
A escolha de Mandetta foi vista como uma tentativa de enfraquecer o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, como polo de poder no DEM e de construção de um outro polo.
Maia gostaria de se reeleger para o comando da Câmara. Bolsonaro torce o nariz para ele, no entanto, talvez pela boa relação de Maia com o PT e o PCdoB. O bolsonarismo, como se sabe, quer destruir a esquerda.
“O Rodrigo é favorito hoje, vai ter voto de quem é Bolsonaro porque este pessoal quer dar um recado ao governo”, teoriza um deputado tucano. “O Bolsonaro não conversa com ninguém, tem um grupo dele e só.”
A eleição para as mesas diretoras da Câmara e do Senado tem potencial para causar confusão e será decisiva na relação de Bolsonaro com o Legislativo, segundo Marcus Pestana.
Flávio Bolsonaro, o contratante do desaparecido amigo de sua família, Fabrício Queiroz, na Assembleia do Rio, será senador em 2019. Ele já se declarou contrário ao plano do experiente Renan Calheiros, do MDB, de concorrer de novo ao comando da Casa.
Questionado por CartaCapital dias atrás quanto à hipótese de o caso do motorista influenciar o ambiente político do futuro governo, Calheiros ergueu bandeira branca. “São fatos anteriores ao mandato. Não é papel do Senado julgar as pessoas. Nós temos que ajudar o Brasil.”
Declarações a soar um pouco como aquele político aconselhado a não falar mal de Bolsonaro por enquanto e a falar que vai “ajudar o Brasil”.
Certo é que há quem torça mesmo é pelo pior, para poder cobrar alto pelo apoio mais adiantes. Dias desse, o deputado e ex-ministro da Saúde Ricardo Barros, do PP, ex-partido de Bolsonaro, comentou com um colega: “Nós vamos ficar um ano na arquibancada olhando, daí o Bolsonaro vai ter de refundar o governo”.
Será?
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