sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Bolsonaristas atacam diplomata francês

Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:

"Todo mundo sabe o que está acontecendo na França, é simplesmente insuportável viver em certos lugares da França. E a intolerância tende a continuar aumentando, e aqueles que foram para lá, o povo francês os acolheu da melhor maneira possível. Vocês sabem da história dessa gente. Eles têm algo dentro de si que não abandona suas raízes. Eles querem fazer valer sua cultura, os seus direitos lá de trás e seus privilégios. A França está sofrendo isso. Não queremos isso para o Brasil. Para entrar no país deve haver um critério rigoroso. No que depender de mim enquanto chefe de Estado, eles não entrarão" - Jair Bolsonaro, num de seus lives no Facebook

"63.880 homicídios no Brasil em 2017, 825 na França. Sem comentários" - Gérard Araud, embaixador da França nos Estados Unidos


No interior do Brasil seriam chamados de chucros. Mas, por educação e pelo fato de que receberam mandatos populares, Jair Bolsonaro e os filhos Flávio, Eduardo e Carlos podem ser definidos como medíocres, de baixo apego à verdade factual e arrogância inversamente proporcional à inteligência.

O Mito tem como modelo um astrólogo autointitulado filósofo, cujo apego à literatura é equiparável ao de Fernando Collor de Mello, que colocava livros sob o sovaco em suas caminhadas para parecer ilustrado aos telespectadores.

Foi neste espírito que o presidente eleito resolveu discorrer sobre os perigos da imigração, como se o Brasil fosse um poder colonial com a importância da França.

Bolsonaro, feito marionete, reproduziu os mesmos preconceitos de Donald Trump contra “essa gente”.

“Eles querem fazer valer sua cultura, seus direitos lá de trás e seus privilégios”, disse o presidente eleito.

Não explicou quais são “seus direitos lá de trás” nem os tais “privilégios”, simplesmente porque eles não existem, nem nunca existiram.

A colonização francesa, tanto quanto a britânica e a portuguesa, foi voltada para arrancar recursos naturais dos locais, sem qualquer tipo de direito ou privilégio.

No Congo, os belgas promoveram um massacre estimado em mais de 6 milhões de pessoas.

No que hoje é a Namíbia, a Alemanha exterminou etnias para roubar terras e transportou cabeças decepadas para Berlim para desenvolver a pseudociência que “provava” a superioridade dos brancos.

Os campos de concentração nasceram na África do Sul, quando os britânicos se impuseram sobre outros brancos, os colonizadores bôer.

Portanto, Bolsonaro espalha estupidez preconceituosa entre seus seguidores, abraçando como “ameaça” ao Brasil algo que não nos afeta, mas aos estadunidenses e franceses.

E há polêmica sobre isso, já que a mão-de-obra barata dos imigrantes ocupa funções que gringos não estão dispostos a desempenhar, além de derrubar a média salarial, beneficiando o patronato.

O discurso anti-imigração é uma forma tosca de Bolsonaro disseminar entre os brasileiros um sentimento de superioridade racial - logo entre quem é subproduto da mestiçagem e originário de uma colonização baseada no estupro de mulheres negras.

“Bolsonaro está tão desesperado para copiar Trump e outro líderes da Nova Direita da Europa que ele agora cospe retórica anti-imigração apesar do Brasil não ter quase controvérsias a respeito. Na verdade, mais gente deixa o Brasil do que entra. Ele é como uma criança imitando adultos”, escreveu no twitter o jornalista norte-americano Glenn Greenwald.

Ele reagiu a outro tweet, do repórter britânico Dom Phillips, que escreveu: “Mesmo com os venezuelanos chegando, mais brasileiros deixaram o Brasil este ano (252 mil) do que imigrantes chegaram (94 mil). Estudos mostram que os brasileiros acham que sua nação tem 30% de imigrantes, mas na verdade são menos de 1%”.

Porém, eleitores do Mito fizeram questão de passar vergonha.

Ao comentário do embaixador francês, um lembrou que o Brasil é pentacampeão mundial, mas a França ganhou a Copa apenas duas vezes.

Ao que outro, mais burro que o primeiro, disse que a França só ganhou dois títulos por usar jogadores nascidos em outros países - ou seja, justamente um argumento que FAVORECE a imigração.

“Que comparação estúpida, a França tem o tamanho de um estado brasileiro. O Brasil é catorze vezes maior que a França e você não aceita isso, mas nós entendemos, não é fácil ouvir as verdades do Bolsonaro”, escreveu um minion, num inglês macarrônico.

Uma terceira cavalgadura, possivelmente especialista em cálculo matemático, usou o mesmo argumento: era lógico o fato de o Brasil ter mais homicídios do que a França, já que a população brasileira é muito maior.

Provavelmente com dó da moça um internauta - certamente comunista -, rebateu:

Homicídios a cada 100 mil habitantes no Brasil: 30,3. Homicídios a cada 100 mil habitantes na França: 1,58. É uma conta básica de matemática, linda… Não seja burra igual ao nosso presidente.

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