Editorial do site Vermelho:
Um abismo chama outro. O axioma explica bem o declínio da indústria brasileira, que poderia estar em outra situação se o governo atuasse para libertar a vasta área de consumo que padece com a falta de renda. Sem renda, não há consumo. Sem consumo, a produção trava. Sem essa dinâmica, o desenvolvimento do país não se realiza.
No 1º bimestre do ano, 54% da indústria apresentou queda, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). A situação mais grave é a do setor de bens intermediários (bens produzidos e utilizados na produção de outros bens), considerado o “coração” da indústria.
É certo que a perda de espaço da indústria na economia brasileira vem de há muito tempo, um fenômeno que ganhou impulso com as políticas de desnacionalização que passou por diferentes fases, desde a ditadura militar. Como explicou recentemente o cientista Rogério Cezar de Cerqueira Leite, em artigo no jornal Folha de S. Paulo, as pressões externas aniquilaram a nascente indústria digital brasileira.
Ele citou o fim da reserva de mercado de informática; o projeto Sivam, que alijou a tecnologia nacional de radares e sensores; e a lei da propriedade industrial, que extinguiu 1.050 estações de produção do setor de química fina, e 350 novos projetos foram abandonados. Mas pode-se falar também do consumo de massas que, além de elevar o nível de conforto material — consumir mais e melhor significa também fruir arte, absorver informação, ter acesso ao patrimônio cultural da humanidade — puxaria a demanda industrial.
As travas em relação ao consumo estão no fato de que ele sempre foi privilégio de poucos. A arquitetura social brasileira é caracterizada por políticas públicas tímidas e insuficientes. A força da ideologia liberal à brasileira, com traços escravistas, é a causa dessa imutabilidade social. Agora mesmo o país passa por mais um “ajuste fiscal” que, se concretizado, agravará ainda mais a situação. Seu abre-alas é a tensionada “reforma” da Previdência Social, que terá efeito imediato no consumo de massa — além do vil arrocho no mecanismo de reajuste do salário mínimo.
A grande propulsora dessa lógica é a roda-viva financeira, que impede a evolução da curva do desenvolvimento. Ela é apresentada como estudos “científicos” que são verdadeiras metafísicas econômicas, contendo uma falsa e vaga representação do mundo real. É uma moda que faz das teorias conservadoras verdades absolutas. A transformação de suas teses em algo “científico” e universal se dá, no melhor dos casos, em apresentar o evidente em termos complicados.
É óbvio que tal prática deforma a natureza dos reais problemas da economia brasileira. Os números são manipulados a todo instante com a finalidade de desqualificar a importância do Estado no processo de aceleração dos ritmos do desenvolvimento econômico. Eles não servem para definir a alma dos problemas nacionais: desenvolvimento econômico, melhoria dos níveis de renda, investimentos e consumo.
A hegemonia que essas teses angariaram decorre do fato de que toda teoria econômica tem, falando no sentido social, profunda base partidária. Ou seja: as interpretações econômicas correspondem a um jogo de disputa ou defesa de posições. Atrás das cifras estereotipadas, das fórmulas matemáticas sem matéria do neoliberalismo, escondem-se os interesses do mundo financeiro.
Comentando o assunto no jornal Folha de S. Paulo em 13 de junho de 1999, o economista Celso Furtado escreveu que com essa política "o país começou a projetar a imagem de uma economia distorcida que se endivida no exterior para financiar o crescimento do consumo e investimentos especulativos". "É sabido que essa nova política foi concebida nos Estados Unidos, com a colaboração de técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI)", escreveu ele.
Segundo Furtado, para enfrentar essa situação o Brasil tem aliados potenciais internos: os grupos industriais esmagados pelas taxas de juros exorbitantes e a classe trabalhadora, vítima do desemprego generalizado. Essa opinião oferece uma importante pista para a formação de um movimento com força e unidade capaz de suplantar a política de terra arrasada do bolsonarismo, com resultados já bem visíveis.
Um abismo chama outro. O axioma explica bem o declínio da indústria brasileira, que poderia estar em outra situação se o governo atuasse para libertar a vasta área de consumo que padece com a falta de renda. Sem renda, não há consumo. Sem consumo, a produção trava. Sem essa dinâmica, o desenvolvimento do país não se realiza.
No 1º bimestre do ano, 54% da indústria apresentou queda, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). A situação mais grave é a do setor de bens intermediários (bens produzidos e utilizados na produção de outros bens), considerado o “coração” da indústria.
É certo que a perda de espaço da indústria na economia brasileira vem de há muito tempo, um fenômeno que ganhou impulso com as políticas de desnacionalização que passou por diferentes fases, desde a ditadura militar. Como explicou recentemente o cientista Rogério Cezar de Cerqueira Leite, em artigo no jornal Folha de S. Paulo, as pressões externas aniquilaram a nascente indústria digital brasileira.
Ele citou o fim da reserva de mercado de informática; o projeto Sivam, que alijou a tecnologia nacional de radares e sensores; e a lei da propriedade industrial, que extinguiu 1.050 estações de produção do setor de química fina, e 350 novos projetos foram abandonados. Mas pode-se falar também do consumo de massas que, além de elevar o nível de conforto material — consumir mais e melhor significa também fruir arte, absorver informação, ter acesso ao patrimônio cultural da humanidade — puxaria a demanda industrial.
As travas em relação ao consumo estão no fato de que ele sempre foi privilégio de poucos. A arquitetura social brasileira é caracterizada por políticas públicas tímidas e insuficientes. A força da ideologia liberal à brasileira, com traços escravistas, é a causa dessa imutabilidade social. Agora mesmo o país passa por mais um “ajuste fiscal” que, se concretizado, agravará ainda mais a situação. Seu abre-alas é a tensionada “reforma” da Previdência Social, que terá efeito imediato no consumo de massa — além do vil arrocho no mecanismo de reajuste do salário mínimo.
A grande propulsora dessa lógica é a roda-viva financeira, que impede a evolução da curva do desenvolvimento. Ela é apresentada como estudos “científicos” que são verdadeiras metafísicas econômicas, contendo uma falsa e vaga representação do mundo real. É uma moda que faz das teorias conservadoras verdades absolutas. A transformação de suas teses em algo “científico” e universal se dá, no melhor dos casos, em apresentar o evidente em termos complicados.
É óbvio que tal prática deforma a natureza dos reais problemas da economia brasileira. Os números são manipulados a todo instante com a finalidade de desqualificar a importância do Estado no processo de aceleração dos ritmos do desenvolvimento econômico. Eles não servem para definir a alma dos problemas nacionais: desenvolvimento econômico, melhoria dos níveis de renda, investimentos e consumo.
A hegemonia que essas teses angariaram decorre do fato de que toda teoria econômica tem, falando no sentido social, profunda base partidária. Ou seja: as interpretações econômicas correspondem a um jogo de disputa ou defesa de posições. Atrás das cifras estereotipadas, das fórmulas matemáticas sem matéria do neoliberalismo, escondem-se os interesses do mundo financeiro.
Comentando o assunto no jornal Folha de S. Paulo em 13 de junho de 1999, o economista Celso Furtado escreveu que com essa política "o país começou a projetar a imagem de uma economia distorcida que se endivida no exterior para financiar o crescimento do consumo e investimentos especulativos". "É sabido que essa nova política foi concebida nos Estados Unidos, com a colaboração de técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI)", escreveu ele.
Segundo Furtado, para enfrentar essa situação o Brasil tem aliados potenciais internos: os grupos industriais esmagados pelas taxas de juros exorbitantes e a classe trabalhadora, vítima do desemprego generalizado. Essa opinião oferece uma importante pista para a formação de um movimento com força e unidade capaz de suplantar a política de terra arrasada do bolsonarismo, com resultados já bem visíveis.
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