Por Liszt Vieira, no site Carta Maior:
Todo dia passamos vergonha com os desmandos do governo. O destaque desse desfile de sandices cabe ao presidente e seus três patetas, os três ministros “medievais” – Relações Exteriores, Direitos Humanos e Educação, este último recém demitido e substituído por um executivo do mercado financeiro. O carro chefe do desfile é o projeto neoliberal que tenta se impor tendo como abre alas a reforma da Previdência. Mas a cereja do bolo são as consequências políticas desastrosas das viagens internacionais do presidente.
Na viagem aos EUA, descobrimos não só que a CIA é a Disneylândia do Bolsonaro. Ficamos sabendo que o Steve Bannon e o Olavo de Carvalho querem “derrubar” o vice Mourão que, pelo visto, não reza na mesma cartilha. Segundo consta, os militares do Governo não gostaram do resultado da visita de Bolsonaro aos EUA: ele cedeu muito e não ganhou nada. Abriu mão estupidamente dos benefícios do Brasil na OMC.
A viagem a Israel foi ainda mais controvertida e pode deixar sequelas. Os empresários do agronegócio temem prejuízos comerciais com seus clientes árabes que não gostaram nada da decisão de instalar um escritório em Jerusalém. Bolsonaro rompeu com a tradição brasileira de política externa independente para defender os interesses dos EUA e de Israel.
O sociólogo espanhol Manuel Castells, em artigo recente (Diálogos do Sul), afirmou que Steve Bannon decidiu estender sua cruzada à Europa, aproveitando o crescimento da extrema direita e apostando em mobilização das nações cristãs. A agenda é a redução drástica da imigração, o enfrentamento com o Islã em defesa da Cristandade e a restauração do patriarcado tradicional, eliminando a proteção aos direitos de homossexuais e mulheres. Em suma, a ideologia racista, misógina e homofóbica do supremacismo branco.
Para isso, tem forjado alianças com o setor tradicionalista da Igreja católica e, em particular, com os poderosos cardeais Burke (EUA) e Martino (Itália), que estão liderando abertamente a rebelião doutrinal contra o Papa Francisco. E está lançando em Bruxelas uma fundação denominada “O Movimento” para dar cobertura a movimentos e governos de extrema direita, como o brasileiro.
Enquanto isso, o Brasil vai se tornando uma verdadeira Banana Republic para o capital multinacional. Chegou ao cúmulo de o presidente da EMBRAER dizer ao jornal Valor, em 24 de janeiro último, que a Boeing terá acesso a crédito do BNDES que só empresta dinheiro para empresas brasileiras investirem, no Brasil ou no exterior.
Todo dia passamos vergonha com os desmandos do governo. O destaque desse desfile de sandices cabe ao presidente e seus três patetas, os três ministros “medievais” – Relações Exteriores, Direitos Humanos e Educação, este último recém demitido e substituído por um executivo do mercado financeiro. O carro chefe do desfile é o projeto neoliberal que tenta se impor tendo como abre alas a reforma da Previdência. Mas a cereja do bolo são as consequências políticas desastrosas das viagens internacionais do presidente.
Na viagem aos EUA, descobrimos não só que a CIA é a Disneylândia do Bolsonaro. Ficamos sabendo que o Steve Bannon e o Olavo de Carvalho querem “derrubar” o vice Mourão que, pelo visto, não reza na mesma cartilha. Segundo consta, os militares do Governo não gostaram do resultado da visita de Bolsonaro aos EUA: ele cedeu muito e não ganhou nada. Abriu mão estupidamente dos benefícios do Brasil na OMC.
A viagem a Israel foi ainda mais controvertida e pode deixar sequelas. Os empresários do agronegócio temem prejuízos comerciais com seus clientes árabes que não gostaram nada da decisão de instalar um escritório em Jerusalém. Bolsonaro rompeu com a tradição brasileira de política externa independente para defender os interesses dos EUA e de Israel.
O sociólogo espanhol Manuel Castells, em artigo recente (Diálogos do Sul), afirmou que Steve Bannon decidiu estender sua cruzada à Europa, aproveitando o crescimento da extrema direita e apostando em mobilização das nações cristãs. A agenda é a redução drástica da imigração, o enfrentamento com o Islã em defesa da Cristandade e a restauração do patriarcado tradicional, eliminando a proteção aos direitos de homossexuais e mulheres. Em suma, a ideologia racista, misógina e homofóbica do supremacismo branco.
Para isso, tem forjado alianças com o setor tradicionalista da Igreja católica e, em particular, com os poderosos cardeais Burke (EUA) e Martino (Itália), que estão liderando abertamente a rebelião doutrinal contra o Papa Francisco. E está lançando em Bruxelas uma fundação denominada “O Movimento” para dar cobertura a movimentos e governos de extrema direita, como o brasileiro.
Enquanto isso, o Brasil vai se tornando uma verdadeira Banana Republic para o capital multinacional. Chegou ao cúmulo de o presidente da EMBRAER dizer ao jornal Valor, em 24 de janeiro último, que a Boeing terá acesso a crédito do BNDES que só empresta dinheiro para empresas brasileiras investirem, no Brasil ou no exterior.
O serviço público está sendo destruído pelo ministro Guedes que elimina cargos públicos do Governo e já disse que não fará concurso para repor a vaga dos aposentados. E anunciou nos EUA que vai privatizar tudo, quer reduzir o Estado ao mínimo. Esse é o objetivo dos Chicago Boys: destruir o Estado e impor a ditadura do mercado. Os prejudicados – a maioria da população – que se danem.
Muitos psicanalistas, analisando o nazismo, disseram que a sociedade alemã não se preocupou com a personalidade psicopática de Hitler porque, no fundo, apoiava sua proposta delirante de conquistar o mundo para a dominação germânica.
O filósofo italiano Norberto Bobbio disse certa vez que a eleição de Berlusconi diz muito sobre os italianos: “Frequentemente me pergunto se o berlusconismo não é uma espécie de autobiografia da nação, da Itália de hoje”.
A frase cai como uma luva na eleição de Bolsonaro: seus eleitores sabiam que votavam num sociopata. Pagaram pra ver, assustados com a ameaça de redistribuição de renda e redução da desigualdade social sinalizada pelo candidato do PT.
Pela pesquisa do IBOPE de 20/3/2019, muitos se arrependeram, face ao desastre do Governo que não imaginavam. A queda brusca na popularidade é inédita para princípio de governo. A avaliação do governo Ótimo ou Bom caiu de 49% para 34%. A avaliação Ruim ou Péssimo subiu de 11% para 24%.
Já pela pesquisa Data Folha de 7/4 último, o Governo é ruim ou péssimo para 30%, e ótimo ou bom para 32%. A tendência é de queda na aprovação do governo. Quando os eleitores perceberem que serão prejudicados com a reforma da Previdência – não se sabe quanto, o projeto vai sofrer muitas emendas no Congresso – a ficha vai cair. Sobrarão apenas os fanáticos fiéis e os que ganham dinheiro com o empobrecimento da sociedade brasileira.
Os primeiros são principalmente aqueles que odeiam os pobres e que se nutrem mais dos impulsos de morte (Tanatos) do que dos impulsos de amor (Eros). Os segundos são os eternos aproveitadores da miséria alheia, pois à custa dela enriquecem. Ganham dinheiro no mercado e não se preocupam se o regime político é uma democracia ou ditadura.
Pesquisa recente do Instituto Gallup, em parceria com a ONU, mostra que o sentimento de infelicidade aumentou no Brasil. De 15º país mais feliz em 2015, está hoje em 32º lugar. O sociólogo Laymert Garcia dos Santos, da UNICAMP, avalia que a felicidade do brasileiro vai continuar a cair com a "necropolítica" ou "política de morte" adotada pelo governo Bolsonaro. E na recente viagem aos Estados Unidos, Bolsonaro disse que “não veio (ao governo do Brasil) para construir, mas para desconstruir”. Ou seja, para destruir (RBA, 22/3/2019).
Em matéria da BBC de 8/4/2019, tomamos conhecimento de um estranho Índice (Econômico) de Infelicidade. Esse índice foi criado pelo economista americano Steve Hanke e reflete a soma das taxas de desemprego, inflação e empréstimos de um país, menos a variação percentual do Produto Interno Bruto (PIB) real per capita. Segundo esse Índice, o Brasil é o 4o. país mais infeliz do mundo.
O tratamento privilegiado concedido aos militares no projeto da reforma da Previdência vai contribuir para aumentar o desgaste do Governo, por mais que o presidente tire o corpo fora, como vem tentando fazer. E os conflitos institucionais, seja no interior do Governo ou fora, como, por exemplo, a queda de braço entre a Lava Jato e o STF, só vão dificultar a aprovação da reforma e agravar o desgaste com aliados, principalmente no mercado, já insatisfeito com as trapalhadas presidenciais.
Se o Governo conseguir aprovar uma reforma da Previdência palatável ao mercado, terá uma sobrevida política. Se não entregar a reforma como quer o mercado e a grande mídia, a tendência é despencar ainda mais a aprovação do Governo. Alguns jornais, como o Estadão e a Folha, já se comportam como oposição, namorando a possibilidade de o vice Mourão assumir a presidência. Se isso é ou não possível segundo a Constituição dependeria, como sempre, da interpretação do STF.
* Liszt Vieira é professor da PUC-Rio.
Muitos psicanalistas, analisando o nazismo, disseram que a sociedade alemã não se preocupou com a personalidade psicopática de Hitler porque, no fundo, apoiava sua proposta delirante de conquistar o mundo para a dominação germânica.
O filósofo italiano Norberto Bobbio disse certa vez que a eleição de Berlusconi diz muito sobre os italianos: “Frequentemente me pergunto se o berlusconismo não é uma espécie de autobiografia da nação, da Itália de hoje”.
A frase cai como uma luva na eleição de Bolsonaro: seus eleitores sabiam que votavam num sociopata. Pagaram pra ver, assustados com a ameaça de redistribuição de renda e redução da desigualdade social sinalizada pelo candidato do PT.
Pela pesquisa do IBOPE de 20/3/2019, muitos se arrependeram, face ao desastre do Governo que não imaginavam. A queda brusca na popularidade é inédita para princípio de governo. A avaliação do governo Ótimo ou Bom caiu de 49% para 34%. A avaliação Ruim ou Péssimo subiu de 11% para 24%.
Já pela pesquisa Data Folha de 7/4 último, o Governo é ruim ou péssimo para 30%, e ótimo ou bom para 32%. A tendência é de queda na aprovação do governo. Quando os eleitores perceberem que serão prejudicados com a reforma da Previdência – não se sabe quanto, o projeto vai sofrer muitas emendas no Congresso – a ficha vai cair. Sobrarão apenas os fanáticos fiéis e os que ganham dinheiro com o empobrecimento da sociedade brasileira.
Os primeiros são principalmente aqueles que odeiam os pobres e que se nutrem mais dos impulsos de morte (Tanatos) do que dos impulsos de amor (Eros). Os segundos são os eternos aproveitadores da miséria alheia, pois à custa dela enriquecem. Ganham dinheiro no mercado e não se preocupam se o regime político é uma democracia ou ditadura.
Pesquisa recente do Instituto Gallup, em parceria com a ONU, mostra que o sentimento de infelicidade aumentou no Brasil. De 15º país mais feliz em 2015, está hoje em 32º lugar. O sociólogo Laymert Garcia dos Santos, da UNICAMP, avalia que a felicidade do brasileiro vai continuar a cair com a "necropolítica" ou "política de morte" adotada pelo governo Bolsonaro. E na recente viagem aos Estados Unidos, Bolsonaro disse que “não veio (ao governo do Brasil) para construir, mas para desconstruir”. Ou seja, para destruir (RBA, 22/3/2019).
Em matéria da BBC de 8/4/2019, tomamos conhecimento de um estranho Índice (Econômico) de Infelicidade. Esse índice foi criado pelo economista americano Steve Hanke e reflete a soma das taxas de desemprego, inflação e empréstimos de um país, menos a variação percentual do Produto Interno Bruto (PIB) real per capita. Segundo esse Índice, o Brasil é o 4o. país mais infeliz do mundo.
O tratamento privilegiado concedido aos militares no projeto da reforma da Previdência vai contribuir para aumentar o desgaste do Governo, por mais que o presidente tire o corpo fora, como vem tentando fazer. E os conflitos institucionais, seja no interior do Governo ou fora, como, por exemplo, a queda de braço entre a Lava Jato e o STF, só vão dificultar a aprovação da reforma e agravar o desgaste com aliados, principalmente no mercado, já insatisfeito com as trapalhadas presidenciais.
Se o Governo conseguir aprovar uma reforma da Previdência palatável ao mercado, terá uma sobrevida política. Se não entregar a reforma como quer o mercado e a grande mídia, a tendência é despencar ainda mais a aprovação do Governo. Alguns jornais, como o Estadão e a Folha, já se comportam como oposição, namorando a possibilidade de o vice Mourão assumir a presidência. Se isso é ou não possível segundo a Constituição dependeria, como sempre, da interpretação do STF.
* Liszt Vieira é professor da PUC-Rio.
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